Biografia embasada em texto do Prof. Dr. Henrique A. Paraventi
Nascido em São
Paulo, a 29 de agosto de 1901, Álvaro Guimarães Filho fez seus estudos em São
Paulo e no Rio de Janeiro, no Colégio de São Bento e no Ginásio Oswaldo Cruz.
Graduou-se pela
Faculdade de Medicina de São Paulo em 1925. Durante o curso médico, foi interno
da segunda enfermaria de Homens da Santa Casa de São Paulo, Cátedra de Clínica
Médica dirigida por Rubião Meira, ali trabalhando com Álvaro Lemos Torres. Essa
segunda enfermaria de homens da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo já era
então renomado centro de estudos médicos e dela sairiam vários professores da
Escola Paulista de Medicina.
Durante o 6º ano
médico, foi também interno efetivo da “Assistência Policial de São Paulo”. Foi
eleito vice e posteriormente presidente do “Centro Acadêmico Oswaldo Cruz”, e,
nessa época, chefiando delegação de universitários paulistas, levou ao 1º Congresso
Interestadual de Medicina o trabalho “Estudo clínico do carcinoma primitivo do esôfago”.
Depois de formado,
defendeu tese inaugural, a 23 de março de 1926, intitulada “Higiene mental e
sua importância em nosso meio”. Nesse mesmo ano viajou para a Europa,
estagiando em Paris, na maternidade Baudelocque e no Hospital Broca, recebendo
ensinamento de Couvelaire e Faure. Em Berlim, fez cursos de aperfeiçoamento com
Strassman, Straus e Kristeller. Ainda em Viena frequentou na Universidade a
segunda “Frauenklinik”, sob a orientação de Kermauner.
Após meses de
permanência nesses centros médicos, retornou ao Brasil em 1927, onde foi
admitido como assistente voluntário na Clínica Obstétrica da Faculdade de
Medicina de São Paulo, sob a chefia de Raul C. Briquet. Ali organizou o serviço
Pré-Natal, e a seção de urologia feminina, assim como o departamento de Radiodiagnóstico
Obstétrico. Em 1933 atingia a chefia clínica nessa disciplina.
Suas atividades
didáticas, no entanto, iniciaram-se em 1931, quando foi nomeado Professor de
Enfermagem Cirúrgica na Escola de Obstetrícia e Enfermagem Especializada de São
Paulo, anexa à Clínica Obstétrica da Faculdade de Medicina.
Em 1932, por
ocasião do movimento Constitucionalista, exerceu função de auxiliar médico da
Superintendência dos Serviços Auxiliares de Saúde.
Em 1933, foi
encarregado por Paula Souza de organizar o serviço de Higiene Pré-Natal, no
Centro de Saúde do então Instituto de Higiene de São Paulo, primeira
organização desse gênero instalada no Brasil. Nesse mesmo ano é designado
Professor Catedrático de Clínica Obstétrica da recém-fundada Escola Paulista de
Medicina.
Participa como
sócio fundador de nova entidade associativa dos médicos de São Paulo, a Associação
Paulista de Medicina, onde exerceu a presidência do Departamento de Obstetrícia
e Ginecologia.
Em 1935 foi laureado
pela Academia Nacional de Medicina, conjuntamente com Álvaro Lemos Torres e
Jairo Ramos com o prêmio e medalha de ouro “Madame Durocher”, pelo trabalho “Coração
na Gravidez”, em que firmam a conduta aplicada à gestante cardiopata.
Desde o início de
sua carreira no magistério superior, através de atividades didáticas,
publicações em revistas especializadas e palestras proferidas nas várias
entidades médicas, deu grande realce aos métodos de proteção materna e
infantil, preocupando-se com o problema da mortalidade e morbidade maternas e
perinatais. A semiologia obstétrica, a fisiologia da parturição e a orientação
nutricional da gestante encontram nele fervoroso cultor.
Em 1937, após
brilhante concurso, é o primeiro a galgar o degrau de livre docência de Clínica
Obstétrica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Os problemas
éticos e morais na formação de médicos, enfermeiras e parteiras encontraram
sempre em Álvaro Guimarães Filho devoto divulgador e defensor.
Com a criação da Faculdade de Higiene e
Saúde Pública da Universidade de São Paulo, foi empossado como professor
catedrático da cadeira de Higiene Materna, onde permaneceu até a aposentadoria
compulsória, ocupando também o cargo de diretor da Faculdade. Durante três
períodos, integrou o Conselho Universitário de São Paulo, afastando-se somente
pela aposentadoria compulsória. Nessa faculdade orientou inúmeros médicos, enfermeiras, educadoras
sanitárias, assistentes sociais, administradores hospitalares e nutricionistas,
transmitindo-lhes com seu saber e dedicação ideias básicas de proteção materna.
Para divulgação
dos ensinamentos da especialidade fundou e dirigiu muitos anos a “Revista de
Ginecologia e Obstetrícia de São Paulo”.
Foi membro do
Conselho Superior de Administração da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, por designação de sua Eminência, o Grande Chanceler, D. Carlos Carmelo,
Cardeal Motta.
Foi perito para
questões matrimoniais do Tribunal Eclesiástico da Arquidiocese de São Paulo e
um dos organizadores da Maternidade “Pró-Matre Paulista”.
Na Escola Paulista
de Medicina iniciou o curso regular de Clínica Obstétrica em 1938, permanecendo
até a aposentadoria compulsória.
Falar de Álvaro
Guimarães Filho nessa fase de afirmação da Escola Paulista de Medicina seria
desnecessário, tal o conhecimento público de sua profícua e intensa atuação.
Nessa época, por
solicitação de Lemos Torres, funda a “Escola de Enfermeiras do Hospital São
Paulo” e com grupo de senhoras da sociedade paulista o Amparo Maternal. Com
pertinácia, colabora intensamente na reativação das obras do Hospital São
Paulo, que foi o primeiro hospital de ensino universitário criado no Brasil.
Com o inopinado
desaparecimento do Professor Lemos Torres, ocorrido em 1942, foi eleito diretor
da Escola. Durante 14 anos teve a si o cargo de consolidar a instituição dando
plenamente à Escola Paulista de Medicina o entusiasmo de sua juventude, o
equilíbrio de sua maturidade e a energia do seu caráter. Apesar dos afazeres
administrativos, jamais abandonou sua atividade didática e de pesquisa clínica
a que sempre esteve afeito.
Tomou parte ativa nos cursos regulares e de
extensão universitária da sua Cadeira, não abandonando as atividades cirúrgicas
e assistenciais de sua clínica. Foi inúmeras vezes solicitado para bancas
examinadoras de provimento de cátedras e docências livres em quase todas as
escolas médicas do Brasil.
Durante sua gestão
na diretoria da Escola Paulista de Medicina, alguns fatos devem ser lembrados:
a ampliação do prédio da Escola e a conclusão do Hospital São Paulo, após
árduas lutas e reivindicações junto ao Governo Federal, para conseguir o
resgate da dívida do Hospital perante a Caixa Econômica Federal, terminado no
ato público e festivo de doação do Hospital São Paulo à Escola Paulista de Medicina,
através da Lei Federal 939 de 1 de dezembro de 1949 e sancionada pelo
presidente da República Marechal Eurico Gaspar Dutra, sendo ministro da
Educação e Cultura o Prof. Dr. Clemente Mariani e cabendo ao Deputado Federal
paulista Dr. Horácio Lafer a feliz interferência nessa conquista.
Ainda sob sua orientação
foi construído o pavilhão de Patologia Médica, batizado em homenagem a Lemos
Torres.
Ao atingir, em
1966, a idade limite, foi jubilado após tantos esforços, dedicação e lutas para
conservar bem alto os ideais dos fundadores da Escola Paulista de Medicina.
Até bem pouco
tempo [meados dos anos 1970] esteve à frente da primeira maternidade social
criada em São Paulo, em plena atividade, no “Amparo Maternal de Vila Clementino”.
Fonte bibliográfica: “Álvaro Guimarães Filho”, pelo Prof. Dr.
Henrique A. Paraventi, in A Escola
Paulista de Medicina – Dados comemorativos de seu 40º aniversário (1933-1973) e
anotações recentes – Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, págs, 24 a
28.