A partir de texto de Arnaldo Calleiro Sandoval
Fausto Guerner
nasceu em 18 de abril de 1903, em São Paulo, filho de Alfredo Guerner e Idalga
de Almeida. Desde menino distinguia-se pelo amor ao estudo e pendor pela
Medicina. Terminado o curso de Humanidades, partiu para o Rio de Janeiro,
vencendo facilmente a barreira do vestibular na tradicional Faculdade Nacional
de Medicina, da Praia Vermelha. Fez o curso médico com distinção e louvor e, mais
tarde, em 1935, defendeu com raro brilho tese versando sobre a pneumoencefalografia
e o tratamento da epilepsia. Durante o período acadêmico frequentou o Serviço
de Rocha Vaz, um dos precursores de estudos endocrinológicos no nosso meio, e,
a seguir, ligou-se à Cadeira de Psiquiatria, sob a orientação de Henrique Roxo
e, depois à Neurologia, então dominada pela figura inconfundível de Antônio
Austregésilo, um dos grandes especialistas da época. Com tais mestres,
inteiramente dedicado à psiconeurologia, depois aos estudos de histopatologia
do sistema nervoso, alicerçou as bases para ulterior aproveitamento nos
melhores centros da Europa dirigidos, por exemplo, por Claude Guillain, De
Clerambault, Babinski e Bertrand, em Paris. De volta ao Brasil, fixa residência
em São Paulo e se associa a Enjolras Vampré, considerado o líder da Neurologia
Paulista e A. C. Pacheco e Silva, então diretor do Hospital do Juquery.
Alienista da Assistência Geral a Psicopatas do Estado de São Paulo, Fausto
Guerner desenvolve intensa atividade, quer como psiquiatra, quer como
neurologista. Em 1933, assina o manifesto de fundação da Escola Paulista de
Medicina, tendo sido escolhido para a regência da Cátedra de Clínica
Neurológica.
Fausto Guerner
escreveu cerca de quarenta trabalhos em revistas médicas e participou
ativamente de reuniões e congressos. Estava sempre acompanhando a Ciência de
sua época e publicava, difundia e discutia novos conceitos de sua área. Fez
estudos inovadores com André Teixeira Lima. Também estudou as alterações
psíquicas ligadas ao hipertireodismo, chamando a atenção para o diagnóstico
diferencial entre estes quadros e os de natureza psicogênica. Foi grande
estudioso das manifestações psíquicas de quadros orgânicos. Assim também
estudava epilepsia e suas nuances em relação a diagnósticos diferenciais, acentuando
a necessidade do exame eletroencefalográfico.
Estimulava seus
companheiros e assistentes à pesquisa. Orientou as teses: Silvio Ribeiro de
Souza, sobre a encefalite epidêmica; de Mário Yahn, sobre a sulfopiretoterapia
na paralisia geral; de Edmur da Costa Pimentel, sobre a pneumoencefalografia; e
de Edmur de Aguiar Whitaker. Todas aprovadas com distinção.
Fausto Guerner faleceu
aos 35 anos, em 1938. Foi casado com Maria de Lourdes Pedroso, também médica, e
o casal não deixou descendentes. Mesmo adoentado, chegou a dar as primeiras
aulas de Neurologia na Escola Paulista de Medicina, conforme foi registrado em
fala de Pacheco e Silva e Thomé Alvarenga na Seção de Neuropsiquiatria da
Associação Paulista de Medicina de 5 de maio de 1938, no mesmo dia de seu
sepultamento.
Por sugestão de
Mário Yahn e de Paulo Pinto Pupo ao então diretor Lemos Torres, a chefia da
Cátedra passou a Paulino Watt Longo, importante colaborador de Enjolras Vampré.
Fonte bibliográfica:
Sandoval, AC – Fausto Guerner (1903-1938) in A Escola Paulista de Medicina – Dados
Comemorativos de seu 40º Aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes. JR do
Valle. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, pgs. 68-70.