segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Biografia de José Bonifácio Medina


A partir de texto de Octaviano Alves de Lima Filho e de texto Carlos Alberto Salvatore.

     José Medina nasceu em São Paulo em 20 de abril de 1900. Graduou-se em Ciências e Letras pelo Ginásio de São Paulo. Formou-se pela Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo em 1923, com a tese “Levantar Precoce das Laparotomizadas”, aprovada com distinção.
     O seu pendor pela Ginecologia manifestou-se ainda nos bancos acadêmicos, quando cursava o quarto ano médico. Foi o memorável concurso de seu ilustre antecessor, o Professor  Nicolau de Moraes Barros, legítimo fundador da Escola Ginecológica Paulista, na renhida disputa da cátedra, em 1921, que tanto o fascinou e o fez enveredar pelo terreno da especialidade da qual  veio a tornar-se devotado cultor e lídimo representante em nosso meio.
     O seu ulterior com Moraes de Barros, na Faculdade de Medicina, primeiro como aluno, depois como assistente, fez crescer, dia após dia, a sua admiração pelos invulgares predicados de inteligência, cultura e caráter de seu mestre, ao mesmo tempo que o incentivava ao estudo da especialidade a que tem dedicado, com extrema devoção e infatigável carinho, toda a sua vida profissional.
     Após a colação de grau como assistente voluntário, assistente extranumerário, em seguida como segundo assistente e, finalmente, a partir de 1934, como primeiro assistente e chefe de Clínica da Cadeira de Clínica Ginecológica da Faculdade de Medicina de São Paulo, função que desempenhou, ininterruptamente, com reconhecida competência e admirável alento, durante dez anos, foi nomeado, em 1944, Professor Interino de Clínica Ginecológica, cargo no qual se manteve até prestar concurso, no ano seguinte, para a cátedra vaga com a compulsória do Professor Moraes Barros.
     Nesse espaço de 20 anos, soube José Medina amealhar sólidos conhecimentos em todos os setores da especialidade e não tardou em se firmar como valor dos mais expressivos e respeitados de nosso ambiente universitário. Tendo forjado toda a sua formação de especialista na escola de Moraes de Barros, deste mestre herdou os predicados de clareza na exposição de ideias e na transmissão de conhecimentos, um apurado senso clínico e grande destreza cirúrgica. Além disso, destacou-se sua capacidade, como professor, de formar escola, em ambiente de elevado valor científico e espírito de colaboração. Inúmeros foram os que contaram com sua orientação e estímulo na Faculdade de Medicina e na Escola Paulista de Medicina. Além disso, numerosos discípulos que não seguiram a carreira universitária levaram seus conhecimentos a rincões os mais variados.
     Tornou-se livre-docente em Ginecologia na Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro, em 1938. Em 1945, Moraes de Barros atingiu a aposentadoria compulsória. Em concurso de títulos e provas, em maio do mesmo ano, José Medina conquistou a cátedra, com nota máxima em todas as provas e com a tese “Carcinoma do Corpo do Útero e Hiperplasia Basal do Endométrio”.
     Em 20 de outubro de 1948 instalou a Clínica Ginecológica do Hospital das Clínicas. Deu início a campanhas de prevenção do câncer de colo do útero pela colposcopia e citologia vaginal oncótica. Iniciou com seu assistente, Paulo Gorga, a laparoscopia. Com seu chefe de Clínica, José Galucci, montou os setores de Endocrinologia, Infanto-Puberal, Patologia Mamária, Urologia Ginecológica, Psicossomática em Ginecologia.
     Em 1961 foi criado o Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, que José Medina dirigiu como catedrático, após concurso de títulos. Alcançado pela aposentadoria compulsória e, 1970, foi substituído na direção da Disciplina de Clínica Ginecológica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo pelo seu discípulo Carlos Alberto Salvatore, após concurso de títulos e provas.
     Na Escola Paulista de Medicina seu nome está inscrito entre os fundadores. Catedrático de Clínica Ginecológica, dirigiu com proficiência e dignidade o ensino e as atividades da disciplina de 1938 a 1966, quando teve de afastar-se por força da compulsória. Esta, em obediência às leis federais de então, ocorria cinco anos antes da então idade da aposentadoria compulsória, que era de setenta anos. Por isso, pareceu a seus discípulos uma regra drástica e cruel, pois apanhou o mestre em pleno fulgor de sua capacidade intelectual.
     Octaviano Alves de Lima Filho conta que o curso de Ginecologia da primeira turma, em 1938, era ministrado no subsolo de velha mansão situada na Rua Conde de Pinhal, onde funcionavam, temporariamente, os serviços de ambulatório. Com a posterior construção do Hospital São Paulo, as várias disciplinas foram instalando suas enfermarias no mesmo. As atividades da Ginecologia, no entanto, continuaram no ambulatório “acanhado”, “de impressionante pobreza”, conforme o autor. Mas o Prof. Medina fez uso de proventos próprios, além da ajuda de entidades civis e estatais, de modo que conseguiu instalar, em 1941, no terceiro andar do Hospital São Paulo, a Enfermaria de Ginecologia com 12 leitos. Todo o material foi praticamente de doação do Prof. Medina, conforme afirmou o Prof. Octaviano. Este veio a substituir o Prof. Medina em 1966, inicialmente como livre-docente e em 1968 como Professor Titular.
     O Prof. José Medina publicou mais de uma centena de trabalhos. Conquistou o Prêmio Alvarenga da Academia Nacional de Medicina, em 1933, com o trabalho “Metropatia Hemorrágica Ovariana” e o Prêmio Arnaldo Vieira de Carvalho, da Associação Paulista de Medicina, em 1940, com o trabalho “Fisiopatologia Menstrual”. Além de artigos em revistas nacionais e estrangeiras, publicou diversos livros sobre a especialidade, como “Propedêutica Ginecológica” (1933 e 1954), “Como Tratar Anexites” (1935), “Patologia do Colo Uterino” (1945), “Hiperplasia da Camada Basal do Endométrio, Endometriose Interna e Carcinoma do Corpo do Útero” (1945), “Fisiopatologia Menstrual” (1969).
     Participou de oito bancas examinadoras de concursos para catedrático em Ginecologia e em Obstetrícia, nas principais escolas médicas do Brasil, além de integrar mais de cinquenta comissões julgadoras de concursos de livre-docência e defesas de tese de doutorado.
     Foi grande incentivador dos cursos de especialização e atualização em Ginecologia e Obstetrícia. Promovia-os anualmente com afluência de profissionais de todo o país.
    Membro das principais sociedades tocoginecológicas nacionais e internacionais, foi ativo participante de conclaves científicos da especialidade, tendo presidido congressos brasileiros de Ginecologia e Obstetrícia em São Paulo, em 1954 e 1969. Foi condecorado com a “Ordem do Mérito Médico”, na classe Grã-Cruz, conferida pelo Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira.
     O Prof. José Medina herdou de Moraes Barros a filosofia ginecológica alemã, de mod que dificilmente concordava com outras escolas. Preparou excelentes assistentes na Faculdade de Medicina: José Galucci, René Mendes de Oliveira, Paulo Gorga, Franz Muller, Armando Bozzini, Mário Nóbrega, Cosme Guarnieri Neto, Álvaro Cunha Bastos, José Roberto Azevedo, Hans Halbe, Carlos Alberto Salvatore. Na Escola Paulista de Medicina foi sucedido pelo Prof. Octaviano Alves de Lima Filho.
    Na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, o Prof. José Medina aposentou em 20 de abril de 1970. Faleceu em 31 de março de 1993, com quase 93 anos de idade.

Fontes bibliográficas:

1 – “José Medina” escrito por Carlos Alberto Salvatore, com adaptações de Hélio Begliomini no site da Academia de Medicina de São Paulo, acessado em
https://www.academiamedicinasaopaulo.org.br/biografias/157/BIOGRAFIA-JOSE-MEDINA.pdf

º2 – “José Bonifácio Medina” por Octaviano Alves de Lima in A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º Aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes. Organizado por José Ribeiro do Valle. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, págs. 99-103.