A partir de texto de Octaviano Alves de Lima Filho e de texto Carlos Alberto Salvatore.
José Medina nasceu
em São Paulo em 20 de abril de 1900. Graduou-se em Ciências e Letras pelo
Ginásio de São Paulo. Formou-se pela Faculdade de Medicina e Cirurgia de São
Paulo em 1923, com a tese “Levantar Precoce das Laparotomizadas”, aprovada com
distinção.
O seu pendor pela Ginecologia
manifestou-se ainda nos bancos acadêmicos, quando cursava o quarto ano médico.
Foi o memorável concurso de seu ilustre antecessor, o Professor Nicolau de Moraes Barros, legítimo fundador da
Escola Ginecológica Paulista, na renhida disputa da cátedra, em 1921, que tanto
o fascinou e o fez enveredar pelo terreno da especialidade da qual veio a tornar-se devotado cultor e lídimo
representante em nosso meio.
O seu ulterior com
Moraes de Barros, na Faculdade de Medicina, primeiro como aluno, depois como
assistente, fez crescer, dia após dia, a sua admiração pelos invulgares
predicados de inteligência, cultura e caráter de seu mestre, ao mesmo tempo que
o incentivava ao estudo da especialidade a que tem dedicado, com extrema
devoção e infatigável carinho, toda a sua vida profissional.
Após a colação de
grau como assistente voluntário, assistente extranumerário, em seguida como
segundo assistente e, finalmente, a partir de 1934, como primeiro assistente e
chefe de Clínica da Cadeira de Clínica Ginecológica da Faculdade de Medicina de
São Paulo, função que desempenhou, ininterruptamente, com reconhecida
competência e admirável alento, durante dez anos, foi nomeado, em 1944, Professor
Interino de Clínica Ginecológica, cargo no qual se manteve até prestar
concurso, no ano seguinte, para a cátedra vaga com a compulsória do Professor
Moraes Barros.
Nesse espaço de 20
anos, soube José Medina amealhar sólidos conhecimentos em todos os setores da
especialidade e não tardou em se firmar como valor dos mais expressivos e
respeitados de nosso ambiente universitário. Tendo forjado toda a sua formação
de especialista na escola de Moraes de Barros, deste mestre herdou os predicados
de clareza na exposição de ideias e na transmissão de conhecimentos, um apurado
senso clínico e grande destreza cirúrgica. Além disso, destacou-se sua
capacidade, como professor, de formar escola, em ambiente de elevado valor
científico e espírito de colaboração. Inúmeros foram os que contaram com sua
orientação e estímulo na Faculdade de Medicina e na Escola Paulista de
Medicina. Além disso, numerosos discípulos que não seguiram a carreira universitária
levaram seus conhecimentos a rincões os mais variados.
Tornou-se
livre-docente em Ginecologia na Faculdade Nacional de Medicina do Rio de
Janeiro, em 1938. Em 1945, Moraes de Barros atingiu a aposentadoria
compulsória. Em concurso de títulos e provas, em maio do mesmo ano, José Medina
conquistou a cátedra, com nota máxima em todas as provas e com a tese “Carcinoma
do Corpo do Útero e Hiperplasia Basal do Endométrio”.
Em 20 de outubro
de 1948 instalou a Clínica Ginecológica do Hospital das Clínicas. Deu início a
campanhas de prevenção do câncer de colo do útero pela colposcopia e citologia
vaginal oncótica. Iniciou com seu assistente, Paulo Gorga, a laparoscopia. Com
seu chefe de Clínica, José Galucci, montou os setores de Endocrinologia,
Infanto-Puberal, Patologia Mamária, Urologia Ginecológica, Psicossomática em
Ginecologia.
Em 1961 foi criado
o Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo, que José Medina dirigiu como catedrático, após
concurso de títulos. Alcançado pela aposentadoria compulsória e, 1970, foi substituído
na direção da Disciplina de Clínica Ginecológica da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo pelo seu discípulo Carlos Alberto Salvatore, após
concurso de títulos e provas.
Na Escola Paulista
de Medicina seu nome está inscrito entre os fundadores. Catedrático de Clínica
Ginecológica, dirigiu com proficiência e dignidade o ensino e as atividades da
disciplina de 1938 a 1966, quando teve de afastar-se por força da compulsória.
Esta, em obediência às leis federais de então, ocorria cinco anos antes da
então idade da aposentadoria compulsória, que era de setenta anos. Por isso,
pareceu a seus discípulos uma regra drástica e cruel, pois apanhou o mestre em
pleno fulgor de sua capacidade intelectual.
Octaviano Alves de
Lima Filho conta que o curso de Ginecologia da primeira turma, em 1938, era
ministrado no subsolo de velha mansão situada na Rua Conde de Pinhal, onde
funcionavam, temporariamente, os serviços de ambulatório. Com a posterior
construção do Hospital São Paulo, as várias disciplinas foram instalando suas
enfermarias no mesmo. As atividades da Ginecologia, no entanto, continuaram no
ambulatório “acanhado”, “de impressionante pobreza”, conforme o autor. Mas o
Prof. Medina fez uso de proventos próprios, além da ajuda de entidades civis e
estatais, de modo que conseguiu instalar, em 1941, no terceiro andar do
Hospital São Paulo, a Enfermaria de Ginecologia com 12 leitos. Todo o material
foi praticamente de doação do Prof. Medina, conforme afirmou o Prof. Octaviano.
Este veio a substituir o Prof. Medina em 1966, inicialmente como livre-docente
e em 1968 como Professor Titular.
O Prof. José
Medina publicou mais de uma centena de trabalhos. Conquistou o Prêmio Alvarenga
da Academia Nacional de Medicina, em 1933, com o trabalho “Metropatia
Hemorrágica Ovariana” e o Prêmio Arnaldo Vieira de Carvalho, da Associação
Paulista de Medicina, em 1940, com o trabalho “Fisiopatologia Menstrual”. Além
de artigos em revistas nacionais e estrangeiras, publicou diversos livros sobre
a especialidade, como “Propedêutica Ginecológica” (1933 e 1954), “Como Tratar
Anexites” (1935), “Patologia do Colo Uterino” (1945), “Hiperplasia da Camada
Basal do Endométrio, Endometriose Interna e Carcinoma do Corpo do Útero”
(1945), “Fisiopatologia Menstrual” (1969).
Participou de oito
bancas examinadoras de concursos para catedrático em Ginecologia e em
Obstetrícia, nas principais escolas médicas do Brasil, além de integrar mais de
cinquenta comissões julgadoras de concursos de livre-docência e defesas de tese
de doutorado.
Foi grande
incentivador dos cursos de especialização e atualização em Ginecologia e
Obstetrícia. Promovia-os anualmente com afluência de profissionais de todo o
país.
Membro das
principais sociedades tocoginecológicas nacionais e internacionais, foi ativo
participante de conclaves científicos da especialidade, tendo presidido congressos
brasileiros de Ginecologia e Obstetrícia em São Paulo, em 1954 e 1969. Foi
condecorado com a “Ordem do Mérito Médico”, na classe Grã-Cruz, conferida pelo
Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira.
O Prof. José
Medina herdou de Moraes Barros a filosofia ginecológica alemã, de mod que
dificilmente concordava com outras escolas. Preparou excelentes assistentes na Faculdade
de Medicina: José Galucci, René Mendes de Oliveira, Paulo Gorga, Franz Muller,
Armando Bozzini, Mário Nóbrega, Cosme Guarnieri Neto, Álvaro Cunha Bastos, José
Roberto Azevedo, Hans Halbe, Carlos Alberto Salvatore. Na Escola Paulista de
Medicina foi sucedido pelo Prof. Octaviano Alves de Lima Filho.
Na Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo, o Prof. José Medina aposentou em 20 de abril de 1970. Faleceu em 31
de março de 1993, com quase 93 anos de idade.
Fontes bibliográficas:
1 – “José Medina” escrito por Carlos Alberto Salvatore, com
adaptações de Hélio Begliomini no site da Academia de Medicina de São Paulo,
acessado em
https://www.academiamedicinasaopaulo.org.br/biografias/157/BIOGRAFIA-JOSE-MEDINA.pdf
º2 – “José Bonifácio Medina” por Octaviano Alves de Lima in A Escola Paulista de Medicina – Dados
Comemorativos de seu 40º Aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes.
Organizado por José Ribeiro do Valle. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais,
1977, págs. 99-103.