A partir de texto de Raymundo Martins de Castro
Abrahão Rotberg nasceu
em Odessa, em 12 de janeiro de 1912, e ainda criança emigrou com seus pais para
o Brasil. Fez as primeiras letras no Rio de Janeiro e o curso secundário no
tradicional Colégio Pedro II dessa cidade.
Ingressou na então
Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo em 1928. Formou-se em 1933. Desde
a vida acadêmica, interessou-se pelo Mal de Hansen. Nas enfermarias do então
Sanatório São Bento, coletou o material para sua tese de doutorado: “Intradermorreação
de Mitsuda-Hayashi”. Essa tese marcou época, pois eram confusos os
conhecimentos sobre formas graves e formas benignas do Mal de Hansen. Sua tese
foi um dos elementos que possibilitaram a F. E. Rabelo e J. M. Fernandez
imporem perante a ciência mundial a classificação sul-americana do Mal de
Hansen.
Rotberg formou-se
em época um tanto peculiar para a Dermatologia paulista, na década de 1930. A
esse tempo, o antigo Departamento de Profilaxia da Lepra, dirigido por
(conforme Raymundo M. de Castro) personalidade “doublé” de cirurgião e
sanitarista, possibilitou a Rotberg e vários outros, entre os quais dois
colegas de sua turma, Luís Marino Beccheli e Luís Baptista, meios para se
aperfeiçoarem em Leprologia e Dermatologia. Foi esta uma espécie da fase áurea
da Leprologia paulista e São Paulo tornou-se um tipo de “Meca da Leprologia
mundial”.
Rotberg
complementou sua formação dermatológica como assistente de Dermatologia da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, na cátedra então regida
pelo Prof. João de Aguiar Pupo. Aí, pouco permaneceu como assistente. A
Constituição de 1937 proibia a acumulação de cargos públicos e Rotberg optou
pelo Departamento de Lepra, tal era o prestígio dessa instituição nessa época.
Em estágio nos
Estados Unidos aperfeiçoou-se em Alergia, tendo sido um dos pioneiros nesse
assunto no Brasil. Em 1939, apresentou trabalho em Congresso de Ciência do
Pacífico em S. Francisco, e de lá rumou para o Skin Cancer Hospital em Nova
York.
Com a instalação
da Clínica Dermatológica do Hospital das Clínicas, Aguiar Pupo convidou Rotberg
para integrar o quadro de médicos auxiliares. Cumprindo exemplarmente suas
funções de ensino, pesquisa e assistência em 1951, obteve a Venia Docendi,
em brilhante concurso no qual defendeu tese sobre intradermorreação de
Montenegro.
Após a prematura
morte de Nicolau Rossetti e o curto tempo que Newton Guimarães regeu a cátedra
na Escola Paulista de Medicina (1957), Rotberg assumiu a regência da cátedra,
em 1958, nela permanecendo até 1970.
Implantou novos
métodos de ensino e, sobretudo, possibilitou diálogo franco e leal entre
professor e aluno. Desse diálogo resultou ser homenageado por quase todas as
turmas que lecionou.
É coautor,
juntamente com Luiz Marino Becchelli, de um compêndio de Leprologia. Essa obra,
publicada em 1956, foi importante texto para os dermatologistas e os então
leprologistas.
Foi diretor do
Departamento de Profilaxia da Lepra e, após a reforma administrativa da
Secretaria da Saúde, com a criação da Coordenadoria de Serviços Técnicos
Especializados, passou a exercer o cargo de Coordenador.
Ao tempo da
escrita do texto sobre ele, de Raymundo Martins de Castro, nos anos 1970, ele
continuava sua renhida campanha para a adoção do nome “hanseníase” em
substituição a lepra, visando atenuar o estigma sobre a doença. Nessa sua luta,
já contava com apoio de especialistas nacionais e estrangeiros, de escolas
médicas, de sociedades médicas, de governos estaduais e também do governo federal.
Em 1971 tornou-se
o supervisor científico da publicação “Hanseníase”, órgão oficial da Divisão de
Hansenologia e Dermatologia Sanitária da Secretaria da Saúde.
Quando na direção
do Departamento Nacional de Profilaxia da Lepra, em 1967, propôs abolir o
isolamento compulsório, bem como lançou a ideia de usar-se o nome “hanseníase”.
Em 1975, esse termo foi adotado oficialmente pelo Ministério da Saúde do
Brasil. Rotberg foi fundamental para criação do termo, sua substituição e para
o fim das colônias de isolamento da moléstia.
Trabalhou em seu
consultório até 2003, com 91 anos. Faleceu no dia 1 de novembro de 2006 em São
Paulo.
Fontes bibliográficas:
1 – Castro, R. M. – “Abrahão Rotberg” in A Escola
Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º aniversário (1933-1973) e
anotações recentes. Organizado por José Ribeiro do Valle. Empresa Gráfica da
Revista dos Tribunais, 1977, pg 153-155.
2 – Obituário de A. Rotberg. Anais Brasileiros de
Dermatologia, vol. 81, nº 6, Rio de Janeiro, nov/dec, 2006.