A partir de texto do Prof. Edgard Barroso do Amaral
André Dreyfus nasceu
em Pelotas, no Rio Grande do Sul, a 5 de julho de 1897. Fez cursos primário e
secundário naquela cidade e pelos idos de 1912 mudou-se com a família para o
Rio de Janeiro. Formou-se em 1919, pela Faculdade de Medicina da Praia Vermelha,
onde logo passou a trabalhar como assistente de Histologia, e como analista do Laboratório
da Colônia Juliano Moreira de pacientes psiquiátricos. Em 1923, instalou curso
particular de Biologia e Embriologia pelo qual passaram muitos alunos até 1927.
Nesse ano, foi insistentemente convidado pelo Prof. Pedro Dias da Silva, então
Diretor da Faculdade de Medicina de São Paulo, para onde se transferiu e
iniciou atividades didáticas como assistente de Carmo Lordy, catedrático de
Histologia, em tempo integral. Permaneceu na Faculdade de Medicina até 1933,
dando cursos extraordinários, iniciando suas célebres conferências sobre
Hereditariedade e Genética, não só para alunos e médicos, mas também para intelectuais
e cientistas. A partir de 1934 passa a professor catedrático de Histologia da
Faculdade de Farmácia e Odontologia, acumulando, no mesmo ano, a regência da Cadeira
de Histologia e Embriologia Geral da Escola Paulista de Medicina. Permaneceu na
Escola Paulista até fevereiro de 1938, quando, após brilhante concurso, foi
efetivado como professor em tempo integral, de Biologia Geral da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. Consolidou-se então
o seu nome como professor atuante e conferencista de mérito excepcional. O seu
crescente prestígio conduziu-o contra a sua vontade, em 1943, por insistência
do então Reitor Jorge Americano à direção da Faculdade de Filosofia. Marcou
fundo a sua passagem no cargo pela reforma fundamental e de grande amplitude
dos cursos; pelo contrato de professores estrangeiros de mérito e pelas
iniciativas visando o avanço da ciência e da cultura também em outras
faculdades de Filosofia do país. Dele escreveu Zeferino Vaz, um de seus
melhores amigos: “Já descrevi certa vez o entusiasmo juvenil que se notava em
Dreyfus com a presença de Dobzhansky em seu laboratório, ensinando a ele e a
seus assistentes as mais recentes técnicas de pesquisa citogenética e todos os
segredos de captura, identificação, cultura e cruzamento de Drosófilas. Era a
primeira vez que ele encontrava um orientador, ele que tudo teve que fazer por
si, sentindo quanto pode um mestre abreviar o caminho da ciência... Em verdade,
nada havia no Brasil em matéria de Genética antes de Dreyfus. Nem sequer se
conhecia o nome de Mendel e todavia, em contraste envaidecedor, quando morreu,
e graças a ele, passamos a constituir o maior centro de genética animal da
América Latina, e um dos mais respeitados do mundo... André Dreyfus foi sempre
extremamente sensível à produção artística. A música, a pintura, a escultura e
a literatura o empolgavam e a seu culto dedicava todas as horas que conseguia
roubar à ciência... A sua obra científica era exposta oralmente ou por escrito
com clareza e em estilo puro, empolgante e persuasivo... Escreveu certa vez que
a Ciência, por divertida, poderosa, útil e bela que seja, não é tudo, porque o
homem não pode viver apenas da razão. Só a generosidade, o altruísmo e o
desprendimento tornam a vida digna de ser vivida e a mais caracteristicamente humana
das qualidades é a amizade. Certamente poucos homens terão praticado um culto
tão elevado da amizade quanto André Dreyfus. Aos discípulos prestava carinhosa
assistência afetiva, procurando auxiliá-los na solução dos mais íntimos problemas
pessoais, além de inexcedível dedicação, contínuos ensinamentos e estímulos ao
trabalho científico”.
Conforme o Prof.
Amaral, até sua morte por acidente vascular cerebral em São Paulo, em 15 de
fevereiro de 1952, André Dreyfus foi incansável no cumprimento de sua tarefa e de
sua missão como mestre e formador de discípulos.
Fonte bibliográfica:
Edgard Barroso do Amaral - André Dreyfus (1897-1952) in A Escola Paulista de Medicina - dados comemorativos de seu 40º aniversário (1933-1973) e anotações recentes. Organizado por Ribeiro do Valle. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, pgs. 156-158.