segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Biografia do Prof. André Dreyfus


A partir de texto do Prof. Edgard Barroso do Amaral

     André Dreyfus nasceu em Pelotas, no Rio Grande do Sul, a 5 de julho de 1897. Fez cursos primário e secundário naquela cidade e pelos idos de 1912 mudou-se com a família para o Rio de Janeiro. Formou-se em 1919, pela Faculdade de Medicina da Praia Vermelha, onde logo passou a trabalhar como assistente de Histologia, e como analista do Laboratório da Colônia Juliano Moreira de pacientes psiquiátricos. Em 1923, instalou curso particular de Biologia e Embriologia pelo qual passaram muitos alunos até 1927. Nesse ano, foi insistentemente convidado pelo Prof. Pedro Dias da Silva, então Diretor da Faculdade de Medicina de São Paulo, para onde se transferiu e iniciou atividades didáticas como assistente de Carmo Lordy, catedrático de Histologia, em tempo integral. Permaneceu na Faculdade de Medicina até 1933, dando cursos extraordinários, iniciando suas célebres conferências sobre Hereditariedade e Genética, não só para alunos e médicos, mas também para intelectuais e cientistas. A partir de 1934 passa a professor catedrático de Histologia da Faculdade de Farmácia e Odontologia, acumulando, no mesmo ano, a regência da Cadeira de Histologia e Embriologia Geral da Escola Paulista de Medicina. Permaneceu na Escola Paulista até fevereiro de 1938, quando, após brilhante concurso, foi efetivado como professor em tempo integral, de Biologia Geral da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. Consolidou-se então o seu nome como professor atuante e conferencista de mérito excepcional. O seu crescente prestígio conduziu-o contra a sua vontade, em 1943, por insistência do então Reitor Jorge Americano à direção da Faculdade de Filosofia. Marcou fundo a sua passagem no cargo pela reforma fundamental e de grande amplitude dos cursos; pelo contrato de professores estrangeiros de mérito e pelas iniciativas visando o avanço da ciência e da cultura também em outras faculdades de Filosofia do país. Dele escreveu Zeferino Vaz, um de seus melhores amigos: “Já descrevi certa vez o entusiasmo juvenil que se notava em Dreyfus com a presença de Dobzhansky em seu laboratório, ensinando a ele e a seus assistentes as mais recentes técnicas de pesquisa citogenética e todos os segredos de captura, identificação, cultura e cruzamento de Drosófilas. Era a primeira vez que ele encontrava um orientador, ele que tudo teve que fazer por si, sentindo quanto pode um mestre abreviar o caminho da ciência... Em verdade, nada havia no Brasil em matéria de Genética antes de Dreyfus. Nem sequer se conhecia o nome de Mendel e todavia, em contraste envaidecedor, quando morreu, e graças a ele, passamos a constituir o maior centro de genética animal da América Latina, e um dos mais respeitados do mundo... André Dreyfus foi sempre extremamente sensível à produção artística. A música, a pintura, a escultura e a literatura o empolgavam e a seu culto dedicava todas as horas que conseguia roubar à ciência... A sua obra científica era exposta oralmente ou por escrito com clareza e em estilo puro, empolgante e persuasivo... Escreveu certa vez que a Ciência, por divertida, poderosa, útil e bela que seja, não é tudo, porque o homem não pode viver apenas da razão. Só a generosidade, o altruísmo e o desprendimento tornam a vida digna de ser vivida e a mais caracteristicamente humana das qualidades é a amizade. Certamente poucos homens terão praticado um culto tão elevado da amizade quanto André Dreyfus. Aos discípulos prestava carinhosa assistência afetiva, procurando auxiliá-los na solução dos mais íntimos problemas pessoais, além de inexcedível dedicação, contínuos ensinamentos e estímulos ao trabalho científico”.
     Conforme o Prof. Amaral, até sua morte por acidente vascular cerebral em São Paulo, em 15 de fevereiro de 1952, André Dreyfus foi incansável no cumprimento de sua tarefa e de sua missão como mestre e formador de discípulos.  

Fonte bibliográfica:
Edgard Barroso do Amaral - André Dreyfus (1897-1952) in A Escola Paulista de Medicina - dados comemorativos de seu 40º aniversário (1933-1973) e anotações recentes. Organizado por Ribeiro do Valle. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, pgs. 156-158.