A partir de texto do Prof. Octavio Lemmi
Paulino Longo
nasceu em São Paulo no dia 7 de junho de 1903. Após bacharelar-se em Ciências e
Letras pelo Ginásio do Estado, ingressou na então assim chamada Faculdade de
Medicina e Cirurgia de São Paulo, em fevereiro de 1920, diplomando-se em 1926,
quando apresentou tese inaugural que versou sobre “Contribuição ao Estudo da
Esclerose Lateral Amiotrófica”. Esse seria o marco inicial de sua trajetória de
neurologista, destinada a inexcedível brilho.
Logo colaborou como
voluntário nos trabalhos assistenciais e didáticos da então Clínica Neurológica
e Psiquiátrica, dirigida pelo mestre Enjolras Vampré – o criador da Escola
Neurológica Paulista –, tendo sido nomeado assistente já em 1928, cargo que
exerceu com assiduidade e dedicação exemplares durante dez anos. Nesse período,
realizou intensa atividade clínica e publicou mais de trinta trabalhos sobre a
especialidade.
Em 1938, com o
falecimento de Fausto Guerner, professor e chefe da Clínica Neurológica da
Escola Paulista de Medicina, foi Paulino Longo convidado para reger
interinamente essa Cátedra, a qual seria por ele conquistada um ano após, em
memorável concurso de títulos e provas.
Desde logo
surgiriam as múltiplas facetas de sua personalidade. Pelo seu magnetismo
pessoal, traduzido em bondade, simplicidade constante bom humor e cordialidade,
viu se agregarem em torno de si inúmeros jovens sequiosos de aprender a
especialidade, os quais, com o decorrer dos anos, deveriam formar a sua escola
neurológica. A eles transmitiu aulas e ensinamentos preciosos, caracterizados
por objetividade e pelo seu espírito prático, baseados em cultura neurológica,
profunda experiência e na preocupação constante de aliviar a dor e a angústia
de seus pacientes.
A todos os seus
discípulos e companheiros dedicou incondicional amizade. Exultava com seus
sucessos, mesmo os mais simples, e sentia-se feliz, nessas ocasiões, em poder
reunir seus colaboradores, do mais credenciado ao mais jovem, em um restaurante
simples, onde, num ambiente de alegria e animação, dirigia-lhes palavras de
elogio e estímulo. Da mesma forma, compartilhava de seus problemas e angústias,
e procurava ajudar sempre que possível. Quantas vezes aproximava-se de algum
companheiro para cuidadosamente perguntar: “Você anda triste, o que está
acontecendo? Você está doente? Precisa de dinheiro?”.
Seus assistentes o
homenagearam em seu 50º aniversário, em sua casa de Campos de Jordão,
presenteando-o com uma série de trabalhos que viriam a ser publicados nos
Arquivos de Neuro-Psiquiatria em dois números especiais. Seu colega e amigo
Oswaldo Lange, professor de Neurologia e editor dessa revista disse que “melhor
homenagem não poderia esperar quem vem, há longos anos, orientando grupo coeso
de neurologistas, ao qual se deve, sem a menor dúvida, boa parte do progresso
da Neurologia em nosso país”.
Prof. Lemmi dizia
que Paulino Longo sempre se colocava pronto a ajudar, mesmo em ocasiões em que
sofresse algum prejuízo, ou que tivesse sido incompreendido. Prof. José Geraldo
de Camargo Lima disse que, certa vez, ainda jovem neurologista, quando foi para
Congresso em Buenos Aires de ônibus, surpreendeu-se com a presença do Prof.
Longo que lhe deu um abraço. Depois no ônibus descobriu que Longo colocou
dinheiro em seu bolso.
Paulino Longo foi
também um líder. Como afirmou no dia de sua morte seu amigo Prof. Deolindo Couto:
“ele foi um líder da Neurologia paulista e brasileira, ligado que estava a
todos os momentos da especialidade, graças a seu desprendimento, à sua
inteligência, ao seu espírito gregário que unia e sensibilizava, e
principalmente graças a seu amor ao trabalho”.
Participou na
fundação e nas atividades de sua sociedade médica e na criação de revistas especializadas.
Publicou mais de 250 artigos. Participou na organização de diversos congressos médicos
nacionais e internacionais. Participou de várias bancas, inclusive de 14
professores catedráticos em neurologia e 31 livre-docentes. Recebeu a Ordem do
Mérito Médico concedida por decreto do Presidente da República, e o título de
Professor Emérito concedido pela Congregação da Escola Paulista de Medicina.
Em 1966 aposentou-se dizendo que devia dar
lugar aos mais novos, tendo mantido frequência nas atividades acadêmicas. Em 15
de setembro de 1967 faleceu de um quadro cardíaco agudo. Seus discípulos fizeram-lhe um busto que fica á frente da Enfermaria da Neurologia do Hospital São Paulo.
Fontes bibliográficas:
Lemmi, O – Paulino Watt Longo in A Escola Paulista de
Medicina – dados comemorativos de seu 40º aniversário (1933-1973) e anotações
recentes. Organizado por José Ribeiro do Valle. Empresa Gráfica da Revista dos
Tribunais, 1977, páginas 208-211.
Depoimento pessoal do Prof. Dr. José Geraldo de Camargo Lima.