A partir de texto de Carlos de Oliveira Bastos
José Barbosa
Correa nasceu em São Paulo em 1899. Após ter um bom desempenho no curso
secundário, em 1918 entrou na então chamada Faculdade de Medicina e Cirurgia de
São Paulo, onde formou-se em 1923, por uma turma que legou vários professores
ao ensino da Medicina.
Filiou-se à
Segunda Cadeira de Clínica Médica dessa mesma Faculdade, chamada também de
Cátedra de Rubião Meira. Nela, já figurava com destaque Lemos Torres. José
Barbosa Correa foi alçado a Segundo Assistente da Cadeira, depois Primeiro
Assistente. Em 1936, após concurso público, tornou-se Livre-Docente de Clínica
Médica.
Já era então
conhecido por sua dedicação ao ensino, seu interesse pela verdade científica e
seus métodos pedagógicos que utilizava em suas aulas regulares, bem como em cursos
particulares, nos quais aprofundava técnicas e táticas da Propedêutica Médica e
da Clínica Geral.
Teve participação ativa nos trabalhos preparatórios para a fundação da Escola Paulista de Medicina. Por esta, a partir de indicação de seu Corpo Docente inicial, foi designado em 1934 como Professor de Cardiologia, área ainda de configuração recente, à qual ele dedicava especial atenção [Bastos escreveu este texto bem posteriormente aos fatos e provavelmente não quis dizer Cardiologia no sentido de Disciplina].
Mais especificamente em relação à Cardiologia, podemos observar na edição do Jornal O Estado de São Paulo de 26 de novembro de 1939 a seguinte notícia:
"Realizou-se ontem, no Restaurante da Casa Anglo-Brasileira, um almoço em homenagem ao Prof. José Barbosa Correa, orientador clínico da turma de médicos cardiologistas que frequentaram durante dois anos o curso de especialização em cardiologia organizado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em 1937, por iniciativa daquele livre-docente. Em regozijo pela terminação desse curso, efetuou-se o ágape em apreço, ao qual compareceram diversos professores e o reitor da Universidade. O Prof. José Barbosa Correa foi saudado pelo Dr. Reynaldo Kuntz Bush, ao qual respondeu agradecido".
Com a morte
de seu mestre, Lemos Torres, em 1942, após concurso de títulos, foi indicado
como Professor da Segunda Cadeira de Clínica Médica da Escola Paulista de
Medicina, cargo que exerceu com dedicação até sua morte prematura em 1948.
Em sua carreira
participou de numerosos cursos, trabalhos científicos, palestras, conferências,
sociedades e teses que orientou. Além disso, tinha especial ao estudo da língua
portuguesa e à Filologia, dominando também alemão, inglês, grego e latim, de
modo que foi designado, em 1936, para Professor na Cadeira de Latim do Colégio
Universitário de São Paulo. Tinha, portanto polimorfa cultura humanística e
filosófica que empregava em suas aulas.
Quando de seu
falecimento em 1948, seu discípulo Carlos de Oliveira Bastos publicou em 3 de
dezembro desse ano, no jornal “Gazeta” um necrológio do qual foi extraída a
seguinte parte:
“Dos diletos discípulos de Lemos Torres, foi Barbosa Correa
quem o sucedeu na cátedra. Permitiam-lhe as disposições regimentais o acesso à
Segunda Cadeira de Clínica Médica, para a qual se credenciara, em concurso de títulos,
pelo excepcional realce de seu passado no magistério superior e dignificante
exercício da profissão”.
“Fora, aliás, sempre o seu sonho, acalentado terna e
docemente desde os dias da mocidade, a regência do ensino de Clínica Médica,
disciplina na qual já se celebrizara, quando assistente de Rubião Meira, na
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. E, para tanto, vinha de
longa data aprimorando os dotes de sua invejável cultura médica e alevantado
saber humanístico”.
“Elevado à cátedra da Escola Paulista, põe-lhe a serviço as
inigualáveis virtudes de sua polimorfa personalidade. Espírito lúcido,
rutilante inteligência, caráter ilibado, perspicaz e ativo, culto e douto,
trabalhador incansável, senhor de princípios, firme nas convicções, bom, puro e
santo homem, tornou a Cadeira a razão de ser de sua atribulada e já doentia
existência”.
“Do que foi o seu professorado e de quanto dignificou o
ensino médico, atestem-no as numerosas turmas de doutorandos, que lhe ouviram
as sábias lições; proclamem-no todos quantos, assistentes, médicos, internos e
alunos, o viram, dispneico e ofegante, proferir suas esclarecidas aulas, e
digam aqueles, as testemunhas de seus inauditos esforços, em não desmerecer dos
altos deveres de um mestre de consciência”.
“Tão combalido já andava nos últimos tempos que chegara a
solicitar de seus respeitosos alunos que lhe permitissem prelecionar sentado,
pois a postura ereta, que sempre fora a sua, já se lhe tornara demasiado penosa”.
“Fez sempre ouvidos moucos aos conselhos dos que o queriam e
amavam para restringir a incrível atividade profissional e didática. Eram-lhe o
trabalho e o estudo preciosos lenitivos, que em vida soubera encontrar”.
“Foi-lhe a Escola Paulista a menina dos olhos. Para tê-la
sempre à vista e mais próxima de seu magnânimo coração, transferiu e edificou
sua residência em terreno fronteiriço ao Hospital...”
Fontes bibliográficas:
Bastos, C.O. José Barbosa Correa (1899-1948) in A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º Aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes. Organizador: José Ribeiro do Valle. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, pp.171-174.
Acervo do Jornal O Estado de São Paulo. Edição de 26 de novembro de 1939.