terça-feira, 1 de outubro de 2024

Biografia de Luiz Pereira Barreto Neto

 

          Luiz Pereira Barreto Neto nasceu em São Paulo em 10 de setembro de 1898. Formou-se pela Faculdade de Medicina de São Paulo em 1922. Após ter-se formado, ele ficou algum tempo em Londres aprimorando seus estudos. Em 1923 defendeu tese de doutoramento aprovada com distinção com o título “Febre Tifoide e Proteinoterapia”.

          Por 35 anos trabalhou intensamente no Hospital Emílio Ribas. Inicialmente como aluno de graduação, nos últimos dois anos do curso médico. Depois como médico interno, fixando residência no próprio recinto do hospital, em um formato que já lembrava a futura Residência Médica. Em 1950 foi nomeado Diretor desse Hospital, cargo em que ficou até a aposentadoria em 1957.

          Em março de 1929 foi nomeado médico interno da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, trabalhando em regime de plantões de 24 horas, às sextas-feiras. Durante a Revolução de 1932, ele trabalhou dia e noite nesse hospital para atender a feridos. Permaneceu trabalhando na Santa Casa até novembro de 1966, quando recebeu o título de “cirurgião honorário” desse mesmo hospital.

          Em 1937, foi convidado pela Congregação da Escola Paulista de Medicina, na qual assumiu a Cátedra de “Doenças Infecciosas e Parasitárias”, inaugurada nesse mesmo ano para a primeira turma de alunos da EPM. Foi professor dessa instituição por 31 anos, de modo que se aposentou em 1968.

          Foi escolhido como paraninfo por quatro vezes em formaturas da EPM, em 1939, em 1952, em 1958 e em 1964. Várias vezes foi convidado para Secretário da Saúde do Estado de São Paulo, sempre declinando desse cargo. Ele dizia que “o livro da Medicina não tem fim e devemos percorrê-lo toda a vida”. Dizia também “não há Medicina sem Filosofia”, pois segundo ele, “existe a patologia individual, a psicopatologia, a patologia familiar, a patologia social, a patologia universal”. Desse modo, sugeria ao médico aconselhar para além da doença, e considerava a educação geral como fundamental para a saúde da população.

          O Prof. Dr. Jair Xavier Guimarães foi o Primeiro Assistente do Prof. Dr. Pereira Barreto Neto desde 1939, de modo que passou a substituí-lo nessa cadeira a partir de 1968.  

          O Prof. Dr. Luiz Pereira Barreto Neto faleceu em 12 de agosto de 1971, deixando viúva dona Odete Pinto de Souza Barreto e os filhos Maria Cecília Pereira Barreto Sheldon, Luiz Eduardo Pereira Barreto e Raul Carlos Pereira Barreto.


Fontes bibliográficas:

Guimarães, JX. Luiz Pereira Barreto Neto (1898-1971) in A Escola Paulista de Medicina – dados comemorativos de seu 40º aniversário (1933-1973) e anotações recentes. Organizador: José Ribeiro do Vale. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, pp. 190-192.

Acervo do jornal “O Estado de São Paulo”

 

terça-feira, 9 de julho de 2024

Biografia do Prof. José Barbosa Correa

 A partir de texto de Carlos de Oliveira Bastos


          José Barbosa Correa nasceu em São Paulo em 1899. Após ter um bom desempenho no curso secundário, em 1918 entrou na então chamada Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, onde formou-se em 1923, por uma turma que legou vários professores ao ensino da Medicina.

          Filiou-se à Segunda Cadeira de Clínica Médica dessa mesma Faculdade, chamada também de Cátedra de Rubião Meira. Nela, já figurava com destaque Lemos Torres. José Barbosa Correa foi alçado a Segundo Assistente da Cadeira, depois Primeiro Assistente. Em 1936, após concurso público, tornou-se Livre-Docente de Clínica Médica.

         Já era então conhecido por sua dedicação ao ensino, seu interesse pela verdade científica e seus métodos pedagógicos que utilizava em suas aulas regulares, bem como em cursos particulares, nos quais aprofundava técnicas e táticas da Propedêutica Médica e da Clínica Geral.

         Teve participação ativa nos trabalhos preparatórios para a fundação da Escola Paulista de Medicina. Por esta, a partir de indicação de seu Corpo Docente inicial, foi designado em 1934 como Professor de Cardiologia, área ainda de configuração recente, à qual ele dedicava especial atenção [Bastos escreveu este texto bem posteriormente aos fatos e provavelmente não quis dizer Cardiologia no sentido de Disciplina]. 

             Mais especificamente em relação à Cardiologia, podemos observar na edição do Jornal O Estado de São Paulo de 26 de novembro de 1939 a seguinte notícia:

"Realizou-se ontem, no Restaurante da Casa Anglo-Brasileira, um almoço em homenagem ao Prof. José Barbosa Correa, orientador clínico da turma de médicos cardiologistas que frequentaram durante dois anos o curso de especialização em cardiologia organizado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em 1937, por iniciativa daquele livre-docente. Em regozijo pela terminação desse curso, efetuou-se o ágape em apreço, ao qual compareceram diversos professores e o reitor da Universidade. O Prof. José Barbosa Correa foi saudado pelo Dr. Reynaldo Kuntz Bush, ao qual respondeu agradecido".   

          Com a morte de seu mestre, Lemos Torres, em 1942, após concurso de títulos, foi indicado como Professor da Segunda Cadeira de Clínica Médica da Escola Paulista de Medicina, cargo que exerceu com dedicação até sua morte prematura em 1948.

         Em sua carreira participou de numerosos cursos, trabalhos científicos, palestras, conferências, sociedades e teses que orientou. Além disso, tinha especial ao estudo da língua portuguesa e à Filologia, dominando também alemão, inglês, grego e latim, de modo que foi designado, em 1936, para Professor na Cadeira de Latim do Colégio Universitário de São Paulo. Tinha, portanto polimorfa cultura humanística e filosófica que empregava em suas aulas.

        Quando de seu falecimento em 1948, seu discípulo Carlos de Oliveira Bastos publicou em 3 de dezembro desse ano, no jornal “Gazeta” um necrológio do qual foi extraída a seguinte parte:

“Dos diletos discípulos de Lemos Torres, foi Barbosa Correa quem o sucedeu na cátedra. Permitiam-lhe as disposições regimentais o acesso à Segunda Cadeira de Clínica Médica, para a qual se credenciara, em concurso de títulos, pelo excepcional realce de seu passado no magistério superior e dignificante exercício da profissão”.

“Fora, aliás, sempre o seu sonho, acalentado terna e docemente desde os dias da mocidade, a regência do ensino de Clínica Médica, disciplina na qual já se celebrizara, quando assistente de Rubião Meira, na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. E, para tanto, vinha de longa data aprimorando os dotes de sua invejável cultura médica e alevantado saber humanístico”.

“Elevado à cátedra da Escola Paulista, põe-lhe a serviço as inigualáveis virtudes de sua polimorfa personalidade. Espírito lúcido, rutilante inteligência, caráter ilibado, perspicaz e ativo, culto e douto, trabalhador incansável, senhor de princípios, firme nas convicções, bom, puro e santo homem, tornou a Cadeira a razão de ser de sua atribulada e já doentia existência”.

“Do que foi o seu professorado e de quanto dignificou o ensino médico, atestem-no as numerosas turmas de doutorandos, que lhe ouviram as sábias lições; proclamem-no todos quantos, assistentes, médicos, internos e alunos, o viram, dispneico e ofegante, proferir suas esclarecidas aulas, e digam aqueles, as testemunhas de seus inauditos esforços, em não desmerecer dos altos deveres de um mestre de consciência”.

“Tão combalido já andava nos últimos tempos que chegara a solicitar de seus respeitosos alunos que lhe permitissem prelecionar sentado, pois a postura ereta, que sempre fora a sua, já se lhe tornara demasiado penosa”.

“Fez sempre ouvidos moucos aos conselhos dos que o queriam e amavam para restringir a incrível atividade profissional e didática. Eram-lhe o trabalho e o estudo preciosos lenitivos, que em vida soubera encontrar”.

“Foi-lhe a Escola Paulista a menina dos olhos. Para tê-la sempre à vista e mais próxima de seu magnânimo coração, transferiu e edificou sua residência em terreno fronteiriço ao Hospital...”

 

Fontes bibliográficas:

Bastos, C.O. José Barbosa Correa (1899-1948) in A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º Aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes. Organizador: José Ribeiro do Valle. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, pp.171-174. 

Acervo do Jornal O Estado de São Paulo. Edição de 26 de novembro de 1939.  

 


quinta-feira, 13 de junho de 2024

Biografia de Edgar de Melo Mattos Barrozo do Amaral (1904-1974)


A partir de texto de Wilson da Silva Sasso

 

          Edgar de Melo Mattos Barrozo do Amaral formou-se em 1925 pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, tendo se doutorado um ano depois pela mesma faculdade. Em 1931, foi contratado como Assistente de Biologia no Serviço de Febre Amarela da Fundação Rockfeller. De março a dezembro de 1933, fez estágio na Fundação Curie.

          Em 1934, trabalhou com André Dreyfus, como Segundo Assistente da Cátedra de Histologia e Embriologia da Escola Paulista de Medicina. Em maio de 1935, foi nomeado Primeiro Assistente, em substituição a Nelson Planet. Em 1936, foi convidado para o cargo de Assistente de Biologia Geral, da recém-inaugurada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. Em 1937, deixou o cargo de Primeiro Assistente para substituir a Dreyfus e ser contratado pela Escola Paulista de Medicina como Professor Catedrático de Histologia e Embriologia, cargo esse que ocupou até 1952. Até essa época, Barrozo do Amaral havia sido o único professor que havia permanecido contratado pelo transcorrer de dezoito anos em uma escola médica brasileira.

          Nesse ano de 1952, o Prof. Barrozo do Amaral afastou-se da Escola Paulista de Medicina a fim de poder colaborar na formação da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, tendo sido o seu primeiro professor de Histologia. Nesse processo de formação da Faculdade, foi realçada a sua participação direta na contratação de cinco professores estrangeiros para as Cadeiras de Anatomia, Histologia, Patologia, Psicologia Médica e Fisiologia, sendo que dois deles, os professores Fritz Koeberle de Patologia e Lucien Lison de Histologia e Histoquímica permaneceram como Professores Titulares na Faculdade.

          Nos dezoito anos em que o Prof. Barrozo do Amaral ocupou a Cátedra de Histologia e Embriologia da Escola Paulista de Medicina, devem ser destacados os doutorados realizados sob sua orientação, dos ex-alunos da EPM José de Paula e Silva, que fez a primeira Tese de Doutorado da EPM, e do Dr. Wilson da Silva Sasso. Ambos eram Assistentes da Histologia no ano de seu afastamento, em 1952.

         Durante o seu período de magistério fez parte das bancas de diversos concursos: 1 - de Nylceo Marques de Castro, para Livre-Docência da EPM, Livre-Docência na Faculdade de Farmácia e Odontologia da USP, e para a Cátedra da EPM; 2 – de Lucien Lison, para a Cátedra da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP; 3 – de Octavio Della Serra, para Livre-Docência e Cátedra na Faculdade de Farmácia e Odontologia da USP; 4 – de Clodoaldo Pavan, para Livre-Docência na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP; 5 – de Fernando Aberceb, para a Livre-Docência na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da Bahia; 6 – de Bruno Alípio Lobo, para Livre-Docência na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro; 7 – de Luiz Carlos Uchôa Junqueira, para Livre-Docência e Cátedra da Faculdade de Medicina da USP; 8 – de Eduardo Ozório Cisalpino, para Livre-Docência na Faculdade de Farmácia e Odontologia da UFMG; 9 – de Milton Picosse, para a Livre-Docência na Faculdade de Farmácia e Odontologia da USP; 10 –  de Wilson da Silva Sasso, para a Livre-Docência na Faculdade de Farmácia e Odontologia da USP.

          Em 1939, concomitantemente a seu trabalho na EPM, o Prof. Barrozo do Amaral prestou concurso de Livre-Docência de Histologia na Faculdade de Medicina da então designada Universidade do Brasil.

         Em 1940, o Prof. Barrozo do Amaral prestou concurso para a Cátedra de Histologia e Embriologia da Faculdade de Farmácia e Odontologia da USP. Até se aposentar nessa Faculdade, em 1961, foram seus assistentes: Nylceo Marques de Castro, na Histologia e Embriologia da EPM; Wilson da Silva Sasso no Instituto de Ciências Biomédicas da USP e na EPM; José Merzel, na Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Unicamp; Roberto Domingos Andreucci na Faculdade de Odontologia de São José dos Campos; Eduardo Katchburian, na Faculdade de Medicina da Universidade de Londres.

          Em relação à sua linha de pesquisa, se destacam trabalhos sobre a origem das células intersticiais do ovário e do testículo, que resultaram em suas teses para Livre-Docência e para a Cátedra. A primeira foi defendida na Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil e intitulada “Células do Hilo do Ovário (células de Berger)” e representa a primeira tese brasileira onde foram utilizados métodos histoquímicos. A segunda também fez uso de métodos histoquímicos, intitulada “Contribuição para o estudo da origem e natureza das células de Leydig”.  Esta foi apresentada no Concurso para Cátedra de Histologia e Embriologia da Faculdade de Farmácia e Odontologia da USP.

         O Prof. Barrozo do Amaral colaborou ainda para a instalação da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília, onde ocupou o cargo de Diretor por dois anos.

         Conforme informação do Prof. Sasso, o Prof. Barrozo do Amaral tinha espírito inquieto e entusiasta pela docência e pela organização universitária, de modo que sabia guiar e estimular seus alunos no estudo da Histologia.   

 

Fonte Bibliográfica:

Sasso, W. S. Edgard de Melo Mattos Barrozo do Amaral in A Escola Paulista de Medicina – dados comemorativos de seu 40º aniversário (1933-1973) e anotações recentes. José Ribeiro do Valle (org). Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, São Paulo, 1977, pp. 167-170.                                                                                                                                        

      

 

          

 

      

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Origem do Emblema da Escola Paulista de Medicina



Origem do Emblema da Escola Paulista de Medicina

Fonte bibliográfica: 
Borges, Durval Rosa. De Quanto Tal Viagem Pede e Manda. Volume 6 da Série Fragmentos de Memória (1969-1975). Kato Editorial, 2019, p. 158.

 

domingo, 19 de novembro de 2023

Biografia do Prof. Dr. Azarias de Andrade Carvalho




A partir de texto de Mauro Zucato e complementos de outras fontes

 

          Azarias de Andrade Carvalho nasceu em Araraquara, aos 19 de julho de 1915. Fez o curso primário no Colégio Mackenzie de sua cidade natal e o secundário no Ginásio São Luiz de Jaboticabal. Ingressou na Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil em 1933, tendo se diplomado em 1938. Seu interesse pela Pediatria surgiu durante o Curso, de modo que, no sexto ano, estagiou como Acadêmico no Serviço de Pediatria da Policlínica de Botafogo.

          Em maio de 1939 iniciou sua carreira universitária, ingressando como Assistente extranumerário da Cadeira de Clínica Pediátrica Médica e Higiene Infantil da Escola Paulista de Medicina. Demonstrando grande pendor pela carreira universitária, foi logo galgando novos escalões, sendo que, em 1942, passou a terceiro Assistente e, em 1944, a segundo Assistente da referida Clínica, onde permaneceu até dezembro de 1946. Exerceu ainda as funções de Assistente da Clínica Pediátrica da Escola Paulista de Enfermagem, no período de 1940 a 1946, e de Professor de Puericultura da Escola de Serviço Social, funcionando então como Instituto Complementar da Pontifícia Universidade Católica, nos anos de 1945 a 1961. Foi também Professor de Puericultura do Curso de Formação Familiar mantido pelo Centro de Estudos e Ação Social, nos anos de 1944 a 1947 e de Puericultura e Clínica Pediátrica da Escola de Enfermagem “São Francisco de Assis”, reconhecida pelo Governo Federal, até a sua transferência para Sorocaba.

          Deixando a Clínica Pediátrica da Escola Paulista de Medicina em 1947, o Prof. Dr. Azarias entrou na Clínica Pediátrica da Universidade de São Paulo, onde defendeu tese de Livre-Docência em concurso realizado de 19 a 24 de novembro de 1956, tendo obtido o título com distinção.

          A partir de junho de 1958 voltou à Escola Paulista de Medicina na qualidade de Professor Interino de Clínica Pediátrica e Higiene Infantil, tendo permanecido nessas funções até 1964, quando, após brilhante concurso realizado em 1963, passou a Professor Catedrático e, posteriormente, Titular e Chefe do Departamento de Pediatria da Escola Paulista de Medicina. Nesse Departamento, revelou-se emérito professor, demonstrando ainda qualidades de liderança e organização. Reestruturou o Departamento, melhorou consideravelmente o curso de graduação, tornando-o um dos melhores cursos de Pediatria do país e organizou o curso de Residência Médica à altura do que é desenvolvido nas melhores faculdades.

          Mostrou-se grande entusiasta no setor de Pediatria Social, estimulando seu desenvolvimento através de cursos especializados e criação de Serviço de Pediatria Social Rural no Departamento que dirigiu.

          Foi Presidente da Sociedade Paulista para o Desenvolvimento da Medicina, de 1967 a 1970. De 1968 a 1970 foi Superintendente do Hospital São Paulo, tendo demonstrado grande pendor para esta função, pois ao fim do seu mandato havia conseguido superar grandes dificuldades enfrentadas pelo Hospital.

          Com grande prestígio junto à classe pediátrica de São Paulo, foi eleito Presidente do Departamento de Pediatria da Associação Paulista de Medicina, em 1951.

          Em 1963, foi eleito Alternate Chairman do XI Distrito (Capítulo Brasileiro) da American Academy of Pediatrics, sendo que, em 1968, passou a Chairman da referida Academia e tornou-se Membro do International Committee of Child Health da AAP.

          Com a finalidade de aprimorar seus conhecimentos, em 1968, esteve por três meses no estrangeiro, tendo frequentado as escolas médicas de Yale, Nova York, Clínica Mayo, Denver, e Oklahoma, nos Estados Unidos e de Cali, na Colômbia.

          Num gesto de reconhecimento pelas suas qualidades humanas e de organização frente ao Departamento de Pediatria, foi diversas vezes homenageado pelos alunos e eleito paraninfo da turma de formandos do ano de 1963.

          Na qualidade de pesquisador, no decorrer da sua vida universitária, publicou diversos trabalhos, tendo conseguido diversos prêmios, entre eles, Nestlé 1953, Margarido Filho 1954, Miguel Couto 1955, Diogo Faria 1955 e, posteriormente, outros próprios ou em colaboração com elementos do Departamento de Pediatria da Escola Paulista de Medicina. Mereceram especial destaque seus trabalhos realizados sobre a etiopatogenia da anemia ancilostomótica na criança.   

          Em 1974, o Dr. Azarias foi o responsável pela criação do setor de Gastroenterologia Pediátrica da EPM. O setor cresceu e, a partir de 1982, deu início à formação de Mestres e Doutores, de modo que, em 1985, foi criada oficialmente a Disciplina de Gastroenterologia Pediátrica do Departamento de Pediatria da EPM.

          No início da década de 60, ele criou uma área incialmente chamada de Setor de Higiene Mental, no qual procurava-se atender crianças até 12 anos e adolescente grávidas de 10 a 19 anos.

          Em 1993, o Prof. Azarias criou o Centro de Atendimento e de Apoio ao Adolescente (CAAA). Contando com equipe multiprofissional, tal centro, nos seis anos iniciais, contou apenas com o Dr. Azarias, Dr. Antonio da Silva Queiroz e dois estagiários.

          O Prof. Dr. Azarias de Carvalho relatou que não foi fácil reestruturar a Pediatria na EPM. Para a construção do Departamento de Pediatria, foi necessário esclarecer junto à Congregação a importância da atenção à saúde da criança: “Era preciso mostrar que os cuidados eram diferentes, que existem peculiaridades especiais diferentes das do adulto, que devem ser integradas no preparo do médico. Não foi tranquila a luta para reestruturar a Pediatria, em face do destaque que, na época, era dado aos problemas e patologias do adulto, menosprezando as crianças e os jovens, que alguns resumiam, jocosamente, a mamadeira, diarreia e birras. Esqueciam-se, ou não levavam em consideração, que, no Brasil, os menores de 15 anos, os futuros adultos, representavam mais de 45% da população e a mortalidade infantil oscilava entre 100 e 200 casos a cada mil nascidos, chegando, em muitas regiões, a bem mais”, recordava Azarias.

          Como fruto da conscientização progressiva da direção da EPM, houve renovação curricular com aumento substancial da carga horária dedicada ao ensino de Pediatria e oportunidade para melhor aproveitamento dos ensinamentos. Dizia ele: “Assim, o ensino da Pediatria começava na quarta série e o sexto ano transformou-se em Internato”.

          Após reestruturar o Departamento de Pediatria, Azarias criou três disciplinas: Pediatria Clínica, Puericultura-Pediatria Social e Neonatologia. “Um dos ponto difíceis foi a reconquista do direito dos docentes da Pediatria assistirem os recém-nascidos. Por desavenças anteriores, não podiam ingressar no berçário, domínio absoluto da cátedra de Obstetrícia. Com paciência e calma, conseguimos autorização para tal”, disse Azarias.

          A especialidade cresceu e foram implantados Internato, Residência, Mestrado e Doutorado. Ainda, segundo o professor, a pós-graduação em senso estrito em Pediatria foi a segunda ou terceira a ser implantada na área Clínica na EPM e a quarta no Brasil.  

          Seguem ainda aqui duas declarações do Prof. Dr. Azarias de Carvalho:

          Sobre o cargo de Chefe do Departamento: “A Chefia do Departamento deve atuar ativamente nos colegiados da instituição para defender as necessidades de seu Departamento no que se refere à assistência aos doentes, ao ensino e à pesquisa e aos docentes, alunos e funcionários, sabendo compreender e respeitar as possibilidades e dificuldades da instituição como um todo. Foi isso que procurei fazer”.

          E ainda sobre seu trabalho: “Pedi a aposentadoria antes da idade compulsória, que seria em 1982. Voltei, então, a ocupar a posição confortável e gratificante de docente voluntário desta Escola amiga, posição esta que exerci no início de minha carreira universitária e que até hoje exerço com prazer e satisfação”.

          O Prof. Dr. Azarias de Andrade Carvalho teve seis filhos, dois netos e dois bisnetos e faleceu em 17 de maio de 2008, aos 92 anos.

 

Fontes bibliográficas:

Zucato, M. – Azarias de Andrade Carvalho in Valle, J.R. – A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º Aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes, Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, pp. 159-161.

Cremesp – Homenagem Azarias de Andrade Carvalho, um dos mais importantes pediatras brasileiros, Edição 214, junho de 2005. Localizável em https://www.cremesp.org.br/?siteAcao=Jornal&id=529

Folha de São Paulo – Cotidiano – Azarias de Andrade Carvalho (1915-2008) Localizável em https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2905200831.htm

 

        

quinta-feira, 13 de julho de 2023

Um fundador da Escola Paulista de Medicina na Segunda Guerra Mundial: Prof. Dr. Alípio Correia Neto.


Homenagem da Escola Paulista de Medicina ao Prof. Dr. Alípio Correia Neto, um dos fundadores da EPM, antes de partir para a Segunda Guerra Mundial em torno de 1943/44. 
Ao lado da bandeira, o mais alto em estatura, é o então diretor da EPM, Prof. Dr. Álvaro Guimarâes Filho. Do lado esquerdo do Prof. Alípio está o Prof. Dr. Marcos Lindenberg. 
Ambos os professores também são fundadores da EPM.

Fonte: Acervo Iconográfico do Centro de História e Filosofia das Ciências da Saúde da EPM-Unifesp. 

 

segunda-feira, 5 de junho de 2023

90 anos da Escola Paulista de Medicina - Famílias Epemistas

 

         É comum designar-se a “Comunidade Epemista” também como uma “Família Epemista”, e isso serve tanto para o sentido simbólico como para o sentido literal do termo, pois diversos foram os familiares que acabaram fazendo parte da Escola Paulista de Medicina (EPM), tanto como estudantes, como professores, médicos e outras categorias profissionais.

         Uma dessas famílias foi a Raposo do Amaral e seus descendentes. Como aqui já foi mencionado o Prof. Dr. José Raposo do Amaral (1923-2006) formou-se na EPM em 1949 (foto 1). Por sua vez, seu sobrinho, Dr. Júlio Raposo do Amaral (1933-2016) formou-se na EPM em 1959 (foto 2), uma turma que depois teve vários professores da Escola, como Benjamin Kopelman, Kalil Farhat, José Kerbauy, Luiz Kulay, Fernando Braga, entre outros.

Fotos 1 e 2

 

        Além disso, a Sra. Consuelo Bordini, cunhada do Prof. José Raposo, foi secretária e técnica de laboratório no Departamento de Patologia, tendo começado seu trabalho na EPM muito jovem, em 1953. Iniciou na Patologia Geral com o Prof. Marcos Lindemberg. Depois trabalhou na Anatomia Patológica com o Prof. Pasqualucci e depois com o Prof. Michalany. Após isso, trabalhou também na Patologia Clínica com o Prof. Sílvio Carvalhal e depois com o Prof. Saad. Em 1990, aposentou-se (foto 3).



         A mesma família Raposo do Amaral tem proximidades com os familiares dos antigos proprietários do terreno em que se instalou a EPM. Eles têm contatos com o Sr. Luiz Antonio Paiga, neto do psiquiatra Dr. Joaquim Basílio Pennino; este, por sua vez, era genro do antigo proprietário da futura área da EPM, Sr. Schiffini.

Dessa forma podemos aqui apresentar a foto do Sr. Luigi Schiffini, proprietário da Chácara Thereza Schiffini, nome de sua filha (esposa do Dr. Pennino), onde depois ficaram as instalações da EPM e do Hospital São Paulo (HSP) (foto 4).

 

 

       Também temos a foto da Residência do Dr. Joaquim B. Pennino, dentro dessa mesma área, que em 1937 foi transformada no Pavilhão Maria Thereza (por doações da Sra. Maria Thereza Azevedo). Tal local foi o primeiro espaço da internação de pacientes da EPM e HSP (foto 5).

 

      Apresentamos, a seguir, a foto do Dr. Joaquim B. Pennino, acompanhado de sua esposa, Sra. Thereza Schiffini Pennino, filha do Sr. Luigi Schiffini (foto 6).

 


 O Dr. Pennino era psiquiatra e desenvolveu terapia baseada em estudos de Carl Gustav Jung. Nessa linha, o estabelecimento que antecedeu a EPM era uma espécie de escola de pessoas “excepcionais”, conforme a terminologia de então, que procurava integrá-los à sociedade. A esposa do Dr. Pennino, Thereza, conhecia a língua alemã e ficava lendo os livros de Jung para seu marido. Segundo informam, existe até uma carta do Dr. Jung dizendo que a terapia do Dr. Pennino estava certa.

         No intuito de integrar os pacientes à sociedade, a Sra. Thereza levava grupos de até oito alunos/pacientes dessa escola ao restaurante Fasano, então no centro da cidade, para tomarem chá.

     Podemos ver abaixo a casa que ficava na esquina da Rua Botucatu com a Pedro de Toledo por outro ângulo em uma foto com o Sr. Luigi Schiffini, sua esposa Antonia Salerno Schiffini e sua filha Thereza (foto 7).

 


 

Conforme informações do Sr. Paiga, bisneto do Sr. Schiffini, todo o quarteirão pertencia à propriedade do Sr. Schiffini e, por sua vez, a instituição era organizada pelo Dr. Pennino. O endereço de então correspondia à Rua Botucatu, número 90, conforme podemos ler na informação do Dr. Octavio de Carvalho em sua História da EPM, à página 7. Esse endereço levou a certa confusão com uma outra instituição, o Colégio Ypiranga, que usava dois endereços, na Rua Domingos de Moraes, nº76 e na Rua Botucatu, 90 (hoje, número 720). Na verdade, conforme o Sr. Paiga, esse duplo endereço pode ter sido usado quando o próprio Sr. Schiffini foi também dono desse referido colégio.

Na foto 8, pode ser observada uma piscina que ficava dentro do quarteirão que era usada para as atividades de apoio e terapêuticas do Dr. Pennino em sua instituição.


Seguindo a tradição da família Amaral, a qual iniciou este texto, Ana Maria do Amaral Antonio, sobrinha-neta do Prof. Dr. José Raposo e sobrinha do Dr. Júlio Raposo, também se formou médica na EPM, em 1986 (turma 49), especializando-se em Patologia, sendo que, posteriormente, cursou a pós-graduação também na EPM-Unifesp (foto 9).

 

Fontes bibliográficas:

Família Amaral. Depoimentos e fotos.

Luiz Antonio Paiga. Depoimentos e fotos.

Carvalho, Octavio. História da Escola Paulista de Medicina – Curriculum Vitae. Editor Borsol, RJ, 1969.