Baseada em texto de Paulo Mangabeira Albernaz
Afrânio do Amaral
nasceu em 1º de dezembro de 1894, em Belém do Pará, onde fez o curso primário.
Mudou-se para Salvador, onde cursou o Ginásio da Bahia, recebendo o título de
Bacharel em Ciências e Letras, após curso brilhante, aprovado com distinção em
1910. Antes de diplomado já dava cursos de Latim e Grego.
Em 1911, entrou na
Faculdade de Medicina da Bahia, onde colou grau em 1916, quando sua tese sobre
filariose recebeu o Prêmio Alfredo Brito. Aluno laureado, tem seu retrato no
Panteão daquela Faculdade. Recebeu o Prêmio de viagem para especialização no
exterior, com a incumbência recebida pela Faculdade de estudar quatro temas:
vitaminas; soro-reações diagnósticas de sífilis; ensino de Fisiologia e
Medicina Experimental nos Estados Unidos; sistema universitário na Europa e
América do Norte. Os resultados seriam aplicados em nosso meio.
Durante o curso de
Doutorado em Medicina e Cirurgia, já eram evidentes suas qualidades de líder, e
assim foi presidente da Beneficência Acadêmica, quando a seu convite, fez parte
da Diretoria, como secretário da mesma, o Prof. Dr. Paulo Mangabeira Albernaz,
em cujo texto embasamos esta biografia.
Logo que terminou o
curso, Dr. Amaral transferiu sua residência para São Paulo. Em vez de dedicar-se
à prática clínica, em sendo cirurgião que tinha sido interno de confiança do
Prof. Antonio Borja, preferiu concorrer a uma vaga no Instituto Butantã, em
fase de expansão. Passou a frequentar o Instituto, trabalhando sob a orientação
de Vital Brazil, Florêncio Gomes e Artur Neiva. Aí começou sua verdadeira vida
científica, dando início a trabalhos experimentais e clínicos importantes.
Em 1917, iniciou a
carreira como médico auxiliar, passando a sub-assistente em 1918, assistente e
assistente-chefe (Seção de Ofiologia e Zoologia Médica em 1919). Com a
aposentadoria de Vital Brazil, foi comissionado no cargo de diretor em 1921. Em
1919-1921 coordenou a primeira reorganização do Instituto, dando início, como
editor, à publicação das “Memórias” e dos “Anexos das Memórias” reservados a
trabalhos originais de sua autoria sobre ofidismo.
Após receber, em
1921, do Governo Federal o “prêmio de viagem ao exterior”, foi à Europa, ao
Canadá e aos Estados Unidos, onde permaneceu por perto de três anos,
dedicando-se a estudos de aperfeiçoamento em vários laboratórios universitários
e institutos científicos, atento ao temário que lhe fora confiado pela
Faculdade da Bahia. Tendo ainda obtido uma bolsa de estudos concedida pelo
Conselho Internacional de Saúde, prolongou sua estada fora do país,
inscrevendo-se na nova Escola de Saúde Pública e Medicina Tropical da
Universidade de Harvard, em colaboração com o Instituto Tecnológico de
Cambridge, sempre trabalhando 14 horas por dia, o que lhe permitiu publicar em
inglês 16 estudos nesse período. Recebeu ao final a aprovação por distinção com
louvor em defesa de tese, conquistando o
duplo diploma de doutor em Saúde Pública e Medicina Tropical.
Em fins de 1925,
foi convidado pela Universidade de Harvard a fazer parte de seu corpo docente,
recebendo então a incumbência de organizar e dirigir os serviços anti-ofídicos.
De regresso a São Paulo em 1928, deixou fundado o “Antivenin Institute of America” com laboratórios em Harvard e em
outras instituições, além de estações em diversas localidades do país e da
América Central. Os méritos destes trabalhos foram de tal destaque que lhe foi
conferido o afamado “Prêmio John Scott” pela Academia de Ciências e pelo
Conselho Municipal de Filadélfia.
Foi chamado pelo
governo do Estado de São Paulo para organizar o Instituto Butantã em 1928.
Passou depois a superintendente e, afinal, a diretor técnico científico.
Ao atualizar o
Instituto, tratou de transformá-lo no primeiro Centro de Medicina Experimental na
América Latina, com os respectivos laboratórios.
Posta em marcha
esta modificação, voltou aos Estados Unidos para ministrar, na Universidade de
Harvard, seu curso de aperfeiçoamento, após o qual partiu para a Europa, onde
contratou um grupo de cientistas para auxiliá-lo no Butantã, juntamente como
colegas brasileiros da nova geração.
Pouco depois do
seu retorno, foi chamado a tomar parte nas comissões de introdução do sistema
universitário em nosso meio e de planejamento da Cidade Universitária na “fazenda”
do Butantã.
Em 1933, foi
chamado para fazer parte do grupo fundador da Escola Paulista de Medicina. Teve
parte ativa nessa fase de organização. Coube-lhe a tarefa de organizar o
Regimento Interno e foi-lhe indicada a Cátedra de Higiene.
Em 1934-1936,
dedicou-se à reorganização e restauração da Cruz Vermelha e à reabertura do
Hospital de Crianças.
A seguir, tratou
do aperfeiçoamento e padronização internacional dos produtos biológicos a cargo
da organização internacional que mais tarde viria a ser a Organização Mundial
de Saúde, o Comitê de Higiene da Liga das Nações, onde, a convite, passou a
exercer o cargo de consultor científico.
Em 1935, indicado
pela Universidade de Harvard e pela Smithsonian Institution, foi, pelo plenário
do XII Congresso Internacional de Zoologia (reunido em Lisboa), eleito membro
da Comissão Internacional de Nomenclatura Zoológica (para representar os
especialistas de Língua Portuguesa), passando a membro da Diretoria em 1948
(XIII Congresso, em Paris) e membro do Conselho em 1963 (XV Congresso em
Washington).
Como cientista de
renome internacional, foi colaborador de vários tratados e enciclopédias, tais
como: Nelson – Loose Leaf Medicine,
Cecil e Loeb; A Textbook of Medicine,
Jordan e Falk; The Newer Knowledge of
Bacteriology and Immunology, Brennemann e Kelly; Practice of Pediatrics, Piersol e Sejous; Encyclopedia of Medicine, Gradwohl e outros; Clinical Tropical Medicine, Altman e Dittmer; Biological Data Book, Coon; Current
Therapy, etc.
Baseado nos
estudos que fez em 1922, orientado pelo Prof. E. V. McCollum (Universidade
Johns Hopkins), sobre Química da Nutrição, praticou a tecnologia da soja e
aproveitamento de seus aminoácidos na alimentação popular, assunto de que se
fez pioneiro em nosso meio. Como coroamento dessa nova atividade, recebeu o “Prêmio
Nacional da Alimentação” de 1950. Em sua oração de agradecimento perante o
Ministério do Trabalho, tratou de sintetizar os aspectos técnico-científicos a
par dos econômico-comerciais de tão complexo problema. Nesse período surgiu
como pioneiro no consumo de frutas nas refeições dos brasileiros, bem como
promotor da desidratação dos alimentos.
Seus inúmeros
trabalhos científicos se caracterizavam pela originalidade; por exemplo, em
1921, estudando os ofídios do Brasil, descreveu quatro novas espécies.
Dotado de cultura
humanística invulgar, profundo conhecedor do Latim e do Grego, dedicou-se à
linguagem médica, tendo publicado inúmeros trabalhos, entre os mais
documentados do ponto de vista filológico, publicados em língua portuguesa.
Portanto, publicou
sobre os mais variados assuntos, mas principalmente sobre ofidiologia e
nomenclatura científica (principalmente médica), com 447 trabalhos.
Figurando entre os
fundadores da Escola Paulista de Medicina, foi um dos mais ativos e eficientes
trabalhadores da primeira época. Em 27 de junho de 1933 foi escolhido para
reger a Cátedra de Higiene. Quando o Diretor, Prof. Octavio de Carvalho, entrou
em negociações para adquirir um novo prédio para a Instituição, ele fez parte
da Comissão encarregada de estudar o problema. No entanto, a 5 de março de
1934, por diferenças com os demais fundadores, pediu demissão da Escola Paulista
de Medicina. Continuou, porém, como membro efetivo da Sociedade Paulista para o
Desenvolvimento da Medicina, prestando valiosos serviços.
Foi membro de
diversas sociedades científicas e sociedades literárias e filológicas nacionais
e internacionais, tendo sido editor da Folha Filológica. Também foi Membro Titular
da Academia Paulista de Letras e Diretor da Seção de Lexicografia.
O Prof. Afrânio do
Amaral faleceu na cidade de São Paulo, no ano de 1982.
Fonte bibliográfica: Albernaz, P. M. – Afrânio do Amaral in A Escola Paulista de Medicina – Dados
Comemorativos de seu 40º Aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes. José
Ribeiro do Valle. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, São Paulo, 1977,
páginas 11 a 15.
Boa Noite, Aqui é Mauro Romero Leal Passos, médico, professor titular, chefe do Setor de Doenças Sexualmente Transmissíveis da Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ. Estudo sífilis e sua história. Assim, conheci incrível obra de Afrânio do Amaral: Siphilis, moléstia e termo através da história. Assim, desejo entrar em contato com familiares e/ou pessoa que tenha mais sobre sua obra envolvendo sífilis. Meus contatos, maurodst@gmail.com ; 21 99888-2897
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