Baseada em texto de José Leal Prado
Dorival Cardoso nasceu em 14 de julho de 1907 em São Paulo.
Formou-se em Medicina em 1930, pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Lá,
foi influenciado pelo Instituto de Manguinhos (Curso de Química) e dos irmãos
Ozório de Almeida. Pouco depois de sua graduação, iniciou carreira científica
no Instituto Biológico de São Paulo. Nesse local desenvolveu uma série de trabalhos,
alguns dos quais sob a inspiração de Paulo Enéas Galvão. Estes trabalhos, cerca
de dezessete, versaram sobre permeabilidade muscular, vitaminas A, B e C,
avitaminoses e endocrinologia experimental, e ocorreram num período aproximado
de 20 anos (1930-1950).
Em 1934, Dorival Cardoso tornou-se o primeiro professor de
Química Fisiológica da Escola Paulista de Medicina e, com exceção do ano de
1940, em que o curso foi ministrado por J. Papaterra Limongi, o Prof. Cardoso
ministrou regularmente a maioria das aulas teóricas desta disciplina do curso
médico até 1942.
Em 1943, quando o Dr. José Leal Prado foi convidado por
Cardoso e por Ribeiro do Valle para ser Assistente de Química Fisiológica, essa
disciplina estava aos cuidados de João Pereira Junior, então colaborador do
Prof. Galvão em seus trabalhos experimentais no Instituto Biológico de São
Paulo. Em 1944, Dorival Cardoso voltou a ministrar algumas aulas teóricas, mas
já estava mais interessado em desenvolver nova etapa na vida profissional
ligada à indústria farmacêutica. Suas aulas teóricas eram curtas, conforme
testemunho do Prof. Leal Prado, e a ele pareciam refletir alguém voltado para
outras preocupações.
O curso prático de Química Fisiológica consistia em algumas
demonstrações para grupos de alunos, em sala acanhada, o que contrastava com a
intensidade dos exercícios práticos individuais a que o Prof. Leal Prado estava
acostumado no curso da Faculdade de Minas Gerais.
Conforme Leal Prado, apesar das qualidades e conhecimentos do
Prof. Cardoso, ele não pode desenvolver satisfatoriamente a disciplina de
Química Fisiológica na EPM, por ser uma escola privada que lutava com
dificuldades financeiras. Mas o Prof. Cardoso demonstrou desprendimento em sua
posição de professor, porque não constituiu obstáculo a novas condições que
viriam a lançar as bases para as atividades científicas se tornassem permanentes
nas disciplinas básicas do ensino médico.
Ainda conforme Leal Prado, no transcorrer de quarenta anos a
EPM transformou-se de escola profissional pura em um centro médico misto, onde
também se cria conhecimento novo. No entender do Prof. Prado, em 1977, ao escrever
o texto base para esta biografia, o sucessor de Dorival Cardoso, na disciplina
que passou a ser chamada de Bioquímica é que veria a transformação da EPM em um
pleno centro médico-biológico de pesquisa e ensino. Este parecia já ser um
sonho dos fundadores da EPM, já que convidaram para as disciplinas básicas pesquisadores
promissores ou já realizados.
A partir de 1944, o espírito pragmático de Dorival Cardoso levou-o
a desempenhar importante papel no
desenvolvimento de uma indústria brasileira de antibióticos e de outros
produtos farmacêuticos, a Indústria Brasileira de Produtos Químicos S.A., em
São Paulo, da qual foi diretor científico. Para dedicar-se a esse cargo, deixou
sua ligação com o Instituto Biológico de São Paulo. Em sua própria indústria
dedicou-se à investigação científica. Por exemplo, verificou que a redução do
azul de metileno pode ser empregada na padronização do BCG (D.M. Cardoso e W.F.
Almeida. Revista Brasileira de Tuberculose, 18:633, 1950); posteriormente
descreveu um método bioquímico simples e rápido para padronização do BCG,
baseado na capacidade redutora dos bacilos vivos sobre um sal de tetrazolio:
ficou demonstrada uma relação linear entre quantidades de BCG vivos e o
formazan obtido, de cor vermelha (D.M. Cardoso; G. Nazario; J. P. Amaral e W.
F. Almeida, Revista Brasileira de Tuberculose, 20: 583-592, 1952). Artigo de
1960 registrou que em seminário internacional sobre tuberculose foi aceita a
correlação entre redução do tetrazólio, contagem de bacilos e reações
intradérmicas.
Em 1958, voltando a seu interesse pelas vitaminas, Cardoso
observou que o teor da vitaminas B12 das fezes e rúmen varia com as condições
varia com as condições alimentares dos bovinos, demonstrando correlação entre número
de ciliados no rúmen e sua riqueza em vitamina B12.
Seu último trabalho versou sobre o tratamento do choque
anafilático provocado pela injeção de soro equino na cobaia; foram apresentadas
evidências da eficácia da associação de um anti-histamínico, de um corticoide e
da adrenalina na prevenção desse tipo de choque experimental.
O Prof. Cardoso também se envolveu na administração da
Associação Médica Brasileira durante 10 anos (1951-1961). A 15 de fevereiro de
1966 faleceu na cidade de São Paulo aos 59 anos de idade. A 21 do mesmo mês o
Jornal da Associação Médica Brasileira publicou sua vida profissional e a lista
de 27 trabalhos.
Fonte bibliográfica:
Prado, J. L. – Dorival Macedo Cardoso in A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º
Aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes, de José Ribeiro do Valle. Empresa
Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, pags. 61-64.
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