A partir de texto de Carlos da Silva Lacaz
Flávio Fonseca
nasceu na cidade do Rio de Janeiro, a 12 de setembro de 1900. Diplomou-se em
1923 pela Faculdade Nacional de Medicina, radicando-se em São Paulo desde 1926.
Fez concurso (que
foi anulado) de língua e literatura alemã do Colégio Pedro II, no Rio de
Janeiro, onde defendeu a tese – “Considerações de ordem lexicológica sobre o
substantivo alemão”, em concurso para Catedrático. Formou-se pela Aliança
Francesa e falava fluentemente o francês, o inglês e o alemão. Interessado em
corresponder-se com colegas da União Soviética e da Holanda, aprendeu também o
russo e o holandês.
Dedicava-se também
à caça, de onde trazia os ácaros necessários às suas pesquisas no Butantã.
Especializou-se em
Parasitologia e Zoologia Médica, trabalhando ativamente nos laboratórios do
Instituto Oswaldo Cruz. Em 1925 percorreu, em viagens de estudos, os sertões de
Mato Grosso e as florestas da Bolívia, como médico, durante as construções da Estrada
de Ferro Transcontinental Brasil-Bolívia.
Em 1926, veio
substituir, na Faculdade de Medicina de São Paulo, o catedrático de
Microbiologia e Imunologia e aí lecionou até 1931. Neste ano vinculou-se ao
Instituto Butantã, chefiando a Seção de Parasitologia.
A partir de 1933,
ocupou a Cátedra de Parasitologia da Escola Paulista de Medicina, da qual foi um
dos fundadores, nas primeiras reuniões realizadas à rua Oscar Porto, a 1 de
junho de 1933.
Na Escola Paulista
de Medicina fez parte do Conselho Técnico Administrativo e paraninfou uma de
suas turmas.
Diretor do
Instituto Butantã por sete vezes, tornou-se grande especialista em acarologia,
descrevendo numerosos ácaros parasitas de vertebrados da América do Sul.
Deixou no
Instituto Butantã cerca de oitenta mil exemplares de ácaros, sendo,
provavelmente, uma das maiores coleções do mundo. Além de inúmeros trabalhos
versando sobre ácaros, publicou vários outros sobre protozoários, entomologia
médica, riquetsioses, etc.
Manteve
correspondência com acarologistas das Américas e da Europa.
Descreveu diversas
espécies novas de protozoários, entre os quais o Plasmodium simium, de primatas. Eleva-se a 130 0 número de trabalhos
que publicou, além de magnífica e importante monografia sobre “Animais Peçonhentos”
(Butantã, 1949).
Como Diretor do
Instituto Butantã obteve bolsas para diversos pesquisadores brasileiros na Europa
e Estados Unidos; e do exterior trouxe também pesquisadores para estágio e
pesquisa.
Fundador da Sociedade
Brasileira de Entomologia, do Clube Zoológico e do Parque Zoológico de São
Paulo, era membro da Royal Society of
Entomology de Londres, bem como da Sociedade Brasileira de Biologia e do
Comitê Internacional da Review of
Acarology.
Nos seus trabalhos
sobre malária, confirmou a hipótese da importância exercida pelos anofelinos do
gênero Kerteszia na transmissão daquela
protozoose nas matas e serras, o que por mais de 40 anos fora posta em dúvida.
Flávio da Fonseca colaborou, igualmente, na luta antimalárica, tendo chefiado o
Serviço de Profilaxia da Malária de São Paulo, nele introduzindo em 1946 o
emprego do DDT e de medicamentos sintéticos modernos.
No Instituto Butantã,
aperfeiçoou as técnicas de preparo do soro antitetânico e de outros produtos
imunoterápicos.
Na Revolução Constitucionalista
de 1932 foi comissionado como oficial médico, inspecionando as frentes de
batalha em companhia de seu sogro, Eloy Lessa, diretor médico do Serviço
Sanitário da Secretaria da Saúde.
Por ocasião da
comemoração do Quarto Centenário da Cidade de São Paulo recebeu do Instituto
Histórico e Geográfico de São Paulo a medalha da Imperatriz Leopoldina, por
trabalho apresentado e então publicado em volume São Paulo em Quatro Séculos, contendo outros trabalhos sobre
diversos ramos de atividade, de cientistas e historiadores.
Membro da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência, apresentou em suas reuniões anuais
diversos trabalhos científicos. Contribuiu em duas edições do livro “Atualização
Terapêutica” com trabalhos de sua especialidade. Tomou parte em Bancas Examinadoras
para o preenchimento de cátedras de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia.
A medicina era
tradição de sua família. Seu pai foi secretário perpétuo da Academia Nacional
de Medicina, seu irmão, Olympio da Fonseca Filho (1895-1978) era parasitologista
consagrado, tendo sido Diretor do Instituto Oswaldo Cruz, do Instituto de
Pesquisa da Amazônia e da Faculdade de Medicina da Praia Vermelha.
O Prof. Flávio da
Fonseca faleceu em São Paulo, no dia 22 de maio de 1963, aos 62 anos. Ocupando
numerosos cargos de relevo, foi grande técnico, professor e administrador, com
trabalhos científicos de repercussão internacional.
Fontes bibliográficas:
Lacaz, C.S. – Flávio Oliveira Ribeiro da Fonseca (1900-1963) in A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu
40º aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes. Organizado por José Ribeiro
do Valle. Editora Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, págs. 82-85.
Entrevista com Olympio da Fonseca Filho acessado em
http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/historia-oral/entrevista
tematica/olympio-da-fonseca