Baseado no texto de Edgard Braga: Retrato de um Médico.
Felipe Figliolini nasceu
em São Paulo a 3 de setembro de 1896, filho de José e Rosa Figliolini, ambos
nascidos na Itália e naturalizados brasileiros. O pai, arquiteto, executou de
vulto na cidade de São Paulo, inclusive como colaborador de Ramos de Azevedo.
Felipe Figliolini casou-se em 1919 com Ada Franzoi. O filho mais velho, Felipe José
Figliolini também é médico e segue sua especialidade.
Felipe Figliolini
fez parte de um grupo de estudantes que iniciou o Curso Médico na primeira,
assim chamada, Universidade de São Paulo (também conhecida na história como “uspinha”),
que existiu entre os anos de 1911 e 1917, e era uma Universidade privada. Com o
fechamento dessa Universidade, esse grupo a que pertencia Figliolini foi aceito
pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Consta que ele, antes disso, era
bacharel em Ciências e Letras, tendo recebido uma medalha de prata do Ginásio
Ítalo-Brasileiro em 1911, por seu desempenho nessa área.
Em 1920, por
concurso, passou em primeiro lugar para ser Interno de Clínica Propedêutica,
cadeira essa dirigida pelo Prof. J. Rocha Vaz. Nesse Internato teve como
colegas: Carlos Büller Souto, Couto e Silva, Lourenço Jorge, os irmãos Burgos,
J. Ferreira de Andrade, Berardinelli e Capriglione, entre outros. Nesse período
Felipe Figliolini foi assistente da Cadeira de Higiene, na Escola Superior de
Agricultura e frequentou o Instituto Oswaldo Cruz, em Manguinhos. Em 1921,
publicou no Brasil Médico trabalho intitulado “Abscesso Amebiano do Fígado”.
Em 1922, Felipe
Figliolini formou-se com a tese de doutoramento sobre “Semiótica das Icterícias”,
aprovada com distinção. Não era muito o que se sabia sobre o contágio e a evolução
da moléstia, apontada por clínicos como “afecção catarral” a partir de mestres
franceses, com localização obstrutiva na vesícula biliar. A tese colaborou na
abordagem semiológica hepática, especialmente em diagnósticos diferenciais. A
partir daí, Felipe Figliolini interessou-se pelas moléstias do campo que era
designado como “Aparelho Digestivo e Nutrição”.
Em 1923, em São
Paulo, passou a ser assistente voluntário da Cadeira de Clínica Médica
comandada por Ovídio Pires de Campos até 1930. Figliolini publicou, juntamente
com Felício Cintra do Prado, o trabalho “Síndrome de Brown-Sequard”. Publicou
também trabalhos tidos como pioneiros em nosso meio: “Tratamento de Hemorroidas
por injeções esclerosantes”, “Considerações sobre o tratamento médico das hemorroidas”,
“Dois casos de icterícia dissociada na litíase biliar”. Publicou ainda mais 25
estudos médicos, muitos em parceria com Felício Cintra do Prado, alguns em
língua alemã, além de conferências e palestras nas sociedades científicas e na Escola
Paulista de Medicina, onde era catedrático.
Conforme Edgard
Braga, a década de 1920 foi de grande abertura médica para assistência e
pesquisa, com grande combate à tuberculose, à hanseníase e mais pesquisas sobre
a doença de Chagas. Com esse movimento, Felipe Figliolini também foi assistente
voluntário na Policlínica de São Paulo.
Em 1933, Octavio
de Carvalho, ao criar a Escola Paulista de Medicina, buscou Felipe Figliolini
para comandar a Cátedra de “Moléstias do Aparelho Digestivo e Nutrição”.
Figliolini publicou
ainda vários trabalhos em colaboração com Felício Cintra do Prado e Evaldo Foz,
em torno de pré-câncer gástrico, sífilis, colites ulcerativas, entre outros.
Foi Vice-Presidente da Associação Paulista de Medicina e, por duas vezes, Vice-Diretor
da Escola Paulista de Medicina, tendo também pertencido ao seu Conselho Técnico
Administrativo.
Conforme o texto de
Edgard Braga, redigido entre 1973 e 1977, Felipe Figliolini estava aposentado
dedicando-se à pecuária no Pantanal do Mato Grosso.
Felipe Figliolini
faleceu em São Paulo em julho de 1977, aos 81 anos de idade. Foi sepultado no
cemitério do Araçá. Existe rua em Santo Amaro, São Paulo, com o seu nome.
Acrescentamos
interessante texto de Edgard Braga em sua biografia de Felipe Figliolini, dos
anos 1970, onde ele procura reforçar Figliolini como Mestre:
“A palavra mestre vem sofrendo contínuo
desgaste, principalmente hoje, sobretudo no setor educacional, onde o
estudante, acomodado à balbúrdia que há no aprendizado e ensino, prescinde do
explicador, do professor, isto é, do mestre. Caminha o mundo para se
transformar, através dos veículos de massa média, numa aldeia global, segundo
insinua MacLuhan. O ensino é transmitido em testes de quadrinhos; assim também
as provas de exame, e os ‘mestres de hoje’ vão às aulas munidos de apontamentos
copiados dos tratadistas, muita vez sem qualquer relação com o assunto em foco.
São os chamados ‘ficheiros ambulantes’, frios e incomunicantes... O Mestre,
porém, (M maiúsculo) era, e creio ainda é, a figura ungida de gravidade e que
sabe transmitir a matéria aprendida há longos anos em porfioso labor. É um
título humanístico que o distingue dos demais homens, oriundo nas democracias,
como disse Condorcet, do aprimoramento educacional”.
Fontes bibliográficas:
Braga, E. - Felipe Figliolini - Retrato de um Médico in A Escola Paulista de Medicina - Dados Comemorativos de seu 40º Aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, pags. 76-81.
Dicionário de Ruas de São Paulo. Acessado em
https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/arquivo_historico/noticias/?p=9808
Nenhum comentário:
Postar um comentário