Antes de Nise da
Silveira (1905-1999) ter trabalhado com Arte e Psiquiatria (e fez certamente
trabalho importante), houve Osório César (1895-1986).
Osório Thaumaturgo
César nasceu em 1895, em João Pessoa, Paraíba. Chegou em São Paulo com 17 anos
de idade (1912), onde estudou Odontologia. Na ocasião, para se sustentar, deu
aulas de violino. Começou a estudar Medicina em 1918 no Curso de Medicina
ministrado junto à Escola de Farmácia, que fazia parte da então chamada
Universidade de São Paulo (que não era a mesma que a atual, era privada; a atual
foi fundada em 1934). Com a extinção dessa primeira Universidade de São Paulo,
ele transferiu-se para a Faculdade de Medicina da Praia Vermelha, no Rio de
Janeiro, em 1920. Formou-se em 1925, aos trinta anos de idade, fixando-se na
área de Anatomia Patológica. Antes disso, a partir de 1923, frequentava o
Hospital do Juquery como estudante interno. Nesse local, acabou sendo
oficialmente contratado como médico, permanecendo trabalhando lá por quarenta
anos.
Em 1919, Osório
César lançou o livro “Doutrinas Biológicas” (portanto, ainda como estudante),
dedicado ao estudioso argentino Ingegnieros e prefaciado pelo médico Ulysses
Paranhos. Em 1922 lançou os trabalhos “A Química da Vida” e “Dois Ensaios”.
Neste último fez correlações entre reações proteícas e funções psíquicas.
Em 1927, em
parceria com J. Penido Monteiro, escreveu “Contribuição ao Estudo do Simbolismo
Místico nos Alienados: um Caso de Demência Precoce Paranoide num Antigo
Escultor”; segundo alguns essa obra foi traduzida para o Francês e o Alemão.
Em 1929, lançou o
livro “A Expressão Artística nos Alienados: Contribuição para o Estudo dos
Símbolos na Arte”.
Nesses anos frequentou
o meio intelectual paulista e círculos interessados em psicanálise.
Nos anos 1930,
Osório César estudou em Paris, além de Alemanha, Itália e União Soviética,
tendo participado de um Congresso de Psiquiatria sob a presidência de Pavlov.
Na ocasião, foi acompanhado pela famosa pintora Tarsila do Amaral, então sua
companheira. César teve grande afinidade com o Marxismo, sendo que, em 1933,
publicou dois livros sobre “Estado Proletário” no Brasil, um ano depois de
retornar da União Soviética. Por isso, foi preso pelo governo de Getúlio
Vargas.
Em 1933, participou
da exposição organizada por Flávio de Carvalho no Clube dos Artistas Modernos,
chamada “Semana dos Loucos e das Crianças”, onde fez a palestra intitulada “Estudo
Comparativo entre a Arte de Vanguarda e a Arte dos Alienados”.
Em 1948, organizou
a “Primeira Exposição de Arte do Hospital do Juquery” no Museu de Arte de São Paulo,
com obras dos pacientes.
Em 1949, criou a Seção
de Pintura do Juquery. Essa Seção e a Associação de Assistência aos Psicopatas
de São Paulo promoveram exposições na Capital e no interior.
Em 1950,
apresentou sua coleção de obras em Paris, na “Exposição de Arte Psicopatológica”
do Primeiro Congresso Internacional de Psiquiatria. Nessa ocasião, apresentou o
texto “Contribuição ao Estudo da Arte entre os Alienados”.
Em 1952, foi
convidado pela Maison National de Chareton para ir a Paris estudar Psiquiatria
Social, onde ministrou a palestra “Arte em Psicopatologia” na Sociedade
Médico-Psicológica.
Osório César
promovia reuniões em sua residência com músicos e pintores. Nessa seções, a
partir da música, os pintores faziam certas produções. Desse ambiente
participavam Walter Levy, Aldo Bonadei, Mário Zanini, Carlos Scliar, Gastão
Worms, Durval Serra, entre outros. A música ouvida era principalmente de
Beethoven, Prokoffief e Stravinsky.
Em 1986, Osório
César morreu em São Paulo.
Em 2020, após 16
anos fechado, o Museu de Arte Osório César reabriu suas portas em nova instalação,
após reforma desde 2017 da antiga residência de Franco da Rocha, que fica na
entrada do Complexo Hospitalar do Juquery e que foi também obra do engenheiro e
arquiteto Ramos de Azevedo.
Bibliografia:
Neves, A.C. – O Emergir do Corpo Neurológico. Editora Companhia
Ilimitada, 2010.
Andriolo, A.A. – A Psicologia da Arte no olhar de Osório César: leituras
e escritos. Psicologia, Ciência e Profissão, 23 (4): 74-81, 2003.
https://revistaforum.com.br/cultura/depois-de-16-anos-museu-osorio-cesar-reabre-suas-portas-em-franco-da-rocha/
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