O Dr. João
Baptista dos Reis nasceu em 24 de maio de 1910 na cidade de Tietê, estado de
São Paulo. Fez o Curso Primário nessa mesma cidade no Grupo Escolar Luiz
Antunes. Cursou o Ginásio e o Curso Científico também em Tietê no Colégio
Plínio Rodrigues de Morais. Adentrou à Faculdade de Medicina de São Paulo no
ano de 1929. Formou-se pela 17ª Turma dessa Faculdade em 1934. Após ter se
formado, passou a frequentar o Hospital do Juqueri em um caráter de Médico
Interno, similar ao que depois foi designado como “Residência Médica”, pois
esses médicos moravam no próprio local de trabalho. Nesse estabelecimento,
juntamente com outros profissionais, desenvolveu o aprendizado em Neurologia e
suas interconexões com a Psiquiatria, pois era uma instituição que se prestava
à internação de alterações comportamentais no sentido amplo do termo.
Em 1980, o Dr.
Reis publicou o livro “O Líquido Cefalorraquiano”, juntamente com Antonio Bei,
João Baptista dos Reis Filho e Jayme Nasser. Refere ter embasado esse livro em
quarenta anos de trabalho com líquido cefalorraquiano (LCR) no Hospital do
Juqueri e na Escola Paulista de Medicina. Deste livro, colocamos aqui um
pequeno trecho histórico, para entender como o Dr. Reis se ligou aos primórdios
do trabalho com LCR em São Paulo e no Brasil.
Conforme escreveu
na Introdução, no Brasil, os primeiros estudos com LCR no Brasil foram feitos
em 1897, por Miguel Couto, no Rio de Janeiro, ou seja, apenas seis anos após
Quincke ter iniciado, no mundo, as punções metódicas e estudos sobre LCR. Nesse
mesmo ano, Correa defendeu tese sobre o valor diagnóstico da punção lombar,
também no Rio. Assim também nessa mesma então capital federal foram feitas
outras três teses sobre LCR até 1922. Em 1923, apareceu a tese de Pondé, na
Bahia. Em 1924 foram apresentadas outras três teses no Rio de Janeiro.
Em 1926 foram
feitas as primeiras punções suboccipitais no Brasil, respectivamente por
Esponsel no Rio de Janeiro e por Enjolras Vampré em São Paulo. Desse modo,
pode-se ver que em São Paulo o pioneirismo com estudos sobre LCR foi por conta
de Vampré; mais um de seus pioneirismos sobre Neurologia em São Paulo.
A partir daí,
sucederam-se outros trabalhos em São Paulo. Em 1929, Amaral defendeu tese, nesta
cidade, intitulada “A punção suboccipital” e nesse mesmo ano, também em São
Paulo, houve a tese de Toledo, “O líquido cefalorraquiano em Neuropsiquiatria,
estudo de 650 casos”. Em 1930, Ferreira apesentou em São Paulo a tese “Clororraquia.
Sua importância em Neuropatologia”. Em 1932 e 1933, surgiram três trabalhos:
com Benício e Gildo Neto em Recife, Oswaldo Lange em São Paulo e Sá Pires em Belo
Horizonte. Vemos aqui a menção daquele que praticamente iniciou trabalhos com
LCR em profundidade em São Paulo (depois dos primórdios com Vampré), que foi Oswaldo
Lange (1903-1986), professor da Faculdade de Medicina de São Paulo (USP a
partir de 1934) que vai criar toda uma escola a esse respeito em São Paulo e no
Brasil.
Desse modo, em
1937, apareceu a primeira obra sobre líquido cefalorraquiano publicada no
Brasil por Oswaldo Lange. Conforme cita o Prof. Reis em seu livro, nessa
ocasião, havia três centros de estudos sobre LCR no Brasil: Oswaldo Lange em
São Paulo, Cerqueira Luz e W. Pires no Rio e A. Benício em Recife.
No transcorrer da
década de 1930, mais precisamente após 1934, o Prof. Reis fez o estágio
supracitado no Hospital do Juqueri, onde aos poucos desenvolveu o seu trabalho
com LCR.
Em 1938, quando o
Prof. Paulino Longo assumiu a Cátedra de Neurologia na Escola Paulista de
Medicina, substituindo o recém-empossado e falecido Fausto Guerner, O Prof. João
Baptista dos Reis junta-se a esse grupo, concomitantemente à manutenção de seu
trabalho no Hospital do Juqueri ainda por alguns anos. É como professor da
Escola Paulista de Medicina que ele assume a Chefia do Laboratório de LCR dessa
instituição.
Pelo que foi anteriormente
mencionado, pode-se perceber a presença do Prof. Reis entre os pioneiros do LCR
em São Paulo, após o marco inicial de Oswaldo Lange.
O Dr. Reis falava
fluentemente várias línguas, incluindo-se entre elas o tupi-guarani. Para
aperfeiçoar seu conhecimento em LCR estagiou no Saint Jude Hospital, em
Memphis. Também teve vários trabalhos publicados no exterior, inclusive em
alemão, de modo que teve seu nome dado a uma síndrome liquórica, Síndrome de Reis,
por cientistas alemães, em casos por ele descritos de quantidade normal de
células no LCR, mas com presença de hemácias entre essas células, podendo
caracterizar um sutil sinal de provável hemorragia.
O Prof. Dr. João
Baptista dos Reis faleceu em São Paulo no dia 4 de março de 1997, com 86 anos
de idade.
Fontes bibliográficas:
J. B. Reis, A. Bei, J. B. Reis-Filho, J. Nasser. Líquido Cefalorraquiano.
Editora Sarvier, São Paulo, 1980.
Dados coletados com familiares, amigos e a Disciplina de
Neurologia da Escola Paulista de Medicina.
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