Este livro de Paulo Fraletti, escrito em 1963, em comemoração aos 30 anos de fundação da EPM, tem como escopo principal o discurso de formatura de dezembro de 1947 escrito e lido pelo próprio Paulo Fraletti. O livro tem três partes: como primeira parte uma espécie de “Introdução” que é nomeada como “Justificação”; como segunda parte o próprio discurso intitulado “Vocação Hipocrática”; uma terceira parte, contendo apenas um trecho das palavras do paraninfo Prof. Dr. Flávio da Fonseca.
Aqui reproduzimos apenas a primeira e a terceira parte. A segunda
parte, mais longa, fica para uma próxima ocasião.
Embora a composição da obra seja datada de 1963, o livro foi
impresso em 1966, e seu texto inicial reproduz o entusiasmo do autor com o
crescimento da EPM no início da década de 1960.
[Primeira Parte]
Justificação [Introdução]
Hoje,
passados 16 anos de nossa formatura, este discurso talvez não desperte, ou
melhor, ao certo não despertará a mesma reação emotiva, nem tampouco terá a
mesma acolhida com a da data de sua recitação, pois faltará agora (já que se
vai lê-lo, e não o ouvir), a presença do orador, que, com seu entusiasmo de
moço, não poderá compensar com sua voz, as muitas deficiências existentes.
Até 1947, a
escolha do orador da turma era feita por eleição, à qual, geralmente, se
candidatava o orador oficial do Centro Acadêmico Pereira Barreto, prerrogativa
da qual não quisemos abusar, apesar de termos sido eleito para o cargo durante todo
o curso. Como, porém, da nossa turma (10ª), vários candidatos iriam disputar a
preferência dos colegas, propusemos a realização de um concurso, o que
aconteceu pela primeira vez, se não nos enganamos, na Escola Paulista de
Medicina.
Fizeram parte
da banca examinadora os professores Dr. Felício Cintra do Prado e Dr. Paulo Eneas
Galvão, da Escola Paulista, e o Dr. Antonio Ferreira Cesarino Junior, professor
da Faculdade de Direito de São Paulo e calouro de medicina àquele ano.
Atividades do
Centro Acadêmico, correrias de exames e tropel de festas tão comuns no 2º semestre
da 6ª série, não permitiram que muitas passagens do discurso fossem melhor
cuidadas. A sua publicação, àquela época, em “O Bíceps” (jornal dos alunos
editado pelo C.A. Pereira Barreto), dado os pedidos insistentes que nos eram
dirigidos, saiu sem que pudéssemos ter-lhe dado feição definitiva, o que
agravou as imperfeições já existentes, pois foi entregue à tipografia em
manuscrito e com “letra de médico”, sendo que, para piorar tudo, não nos foram
cedidas provas para revisão.
A publicação
definitiva, destinada a familiares, colegas de turma e amigos, conforme
prometemos ao sair da Escola, cobrada frequentemente, foi sendo adiada de ano
para ano, uma vez que as obrigações da vida e da profissão, em correria
afanosa, vêm se sucedendo e aumentando à medida que os dias passam.
Não quisemos,
porém, deixar passar a oportunidade apresentada neste ano de 1963, quando
transcorre o 30º aniversário de fundação da Escola Paulista de Medicina, juntando
às grandes comemorações que lhe serão prestadas, a da nossa modesta oração.
Que não se
julgue, pois, o nosso discurso, feito em época de formação intelectual e
profissional, pelo homem de meia idade de hoje! Que seja lido como trabalho de
um moço, em plena posse de todos os seus ideais, sonhos e aspirações, inclusive
de suas veleidades poéticas, escrito com o entusiasmo de alma e vibração
emocional próprios da idade.
É o pagamento
de uma dívida afetiva, por isso mesmo dedicado aos familiares, colegas de
turma, amigos e à Escola Paulista de Medicina que, no seu 30º ano de existência,
já não mais é a Escolinha da década dos anos 30, nem apenas a Escola do nosso
tempo (década dos anos 40), mas a grande Escola de hoje [1963], não só pela
majestade do conjunto de instalações que vai rebentando como planta no chão da
Vila Clementino, mas também pela soberba trajetória histórica que vem traçando –
verdadeira marcha ufana dos vencedores de 1933.
São Paulo, 1 de junho de 1963
P. Fraletti
[Terceira Parte]
Palavras do Paraninfo
(trecho do discurso do Prof. Dr. Flávio Ribeiro Oliveira da
Fonseca)
Ao orador
brilhante que em formosa oração interpretou os sentimentos da turma em relação
a Escola Paulista de Medicina, eu quero agradecer em nome desta, as palavras
que pronunciou, penhor de sua gratidão à Escola de que se despede. No trecho em
que se dirige à minha pessoa, vejo apenas um símbolo, reconhecendo ser o
paraninfo mero representante da Congregação, à qual se dirigia, portanto, o
doutorando, ao saudar o seu patrono. As expressões de que se utilizou, ditadas
pelo seu entusiasmo estuante de moço e de poeta, bem o dizem: tais ditirambos
somente podem ser dirigidos a uma corporação e nunca a um homem; e não creio
que haja algum, por mais vaidoso, que não receasse ser esmagado ao suportar
sozinho o peso de elogios de tal quilate. Transmito-os, pois, integralmente,
aos meus nobres colegas do corpo docente da Escola Paulista de Medicina, que,
estes sim, são dignos deles, pela obra social e educacional que
desprendidamente e com o maior sucesso, vêm realizando há três lustros em São Paulo.
Fonte bibliográfica:
Fraletti, Paulo – Vocação Hipocrática (discurso de formatura).
Homenagem aos trinta anos de existência da Escola Paulista de Medicina. Gráfica
e Editora Edigraf, São Paulo, 1966.