A partir de texto de Bindo Guida Filho
Descendente de tradicionais famílias
pernambucanas, baianas, mineiras e fluminenses, nasceu José Maria de Freitas
aos 21 de março de 1903, em São Paulo. Filho de Sebastião Maria de Albuquerque
Freitas e Augusta Monteiro Barros Freitas, era neto de dois médicos dos quais provavelmente
herdou pendores para a profissão.
Seus primeiros estudos foram feitos no
Externato Freitas da educadora Cecília M. de Albuquerque Freitas, sua tia e
madrinha. O Curso Ginasial no Ginásio do Estado. Estudou também no Colégio São
Bento de São Paulo e no Colégio Anchieta de Friburgo. Ingressou na então
Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo em 1921.
Estudante ainda, tomou parte no socorro e
atendimento dos feridos na Revolução de 1924, na Santa Casa de Misericórdia,
onde permaneceu durante todo o período desse episódio, inclusive com serviços
externos. Depois disso, foi nomeado “estudante interno”, único naquele tempo,
pelo Dr. Diogo de Faria, Diretor Clínico daquele hospital. Freitas fez plantões
noturnos até sua formatura, auxiliando os médicos que se revezavam cada noite,
em todos os casos de cirurgia. Nessa época, trabalhou também com Floriano
Bayma, auxiliando as primeiras transfusões de sangue realizadas em São Paulo.
Diplomou-se pela mesma Faculdade em 1927, defendendo a tese “Contribuição ao
estudo da calculose urinária na infância”, aprovada com distinção.
Logo
depois de formado, foi convidado para ser cirurgião da Misericórdia
Botucatuense, tendo passado a residir em Botucatu. Como gostava de ensinar,
mudou-se para São Paulo em 1931, aceitando convite de Alfonso Bovero para ser
assistente da Cadeira de Anatomia da Faculdade de Medicina. Na revolução de
1932, trabalhou como cirurgião no Hospital de Emergências instalado no Parque
da Água Branca e, posteriormente, se fixou na chamada “Ambulância Itália”
sediada em Gramadinho, a cinco quilômetros da linha de frente. Deixou seu posto
somente três dias após o término da Guerra, julgando de seu dever organizar a
retirada do pessoal e a coleta de material médico para entrega na Capital.
Algum tempo depois, convidado por Benedito
Montenegro, passa a exercer suas atividades na Cadeira de Técnica Operatória da
mesma Faculdade, até a transferência de Montenegro para a 3ª Cadeira de Clínica
Cirúrgica para a qual Freitas também se transferiu, tendo prestado concurso
para Livre-Docente dessa mesma cadeira, em 1941. Neste concurso, defendeu a
tese “Anestesia Peridural”, aprovada com distinção.
Em 1945, na mesma Faculdade de Medicina,
conquistou o título de Docente Livre de Técnica Cirúrgica, em concurso
realizado para o provimento da Cátedra. Após 30 anos de efetivo serviço,
aposentou-se da referida Faculdade, em dezembro de 1960.
Em 1933, ele
uniu-se ao grupo de idealistas que fundou a Escola Paulista de Medicina, tendo
sido Catedrático de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental na mesma. Ainda
na EPM, por várias vezes fez parte do Conselho Técnico Administrativo, foi Diretor
da Escola no período 1954-59, quando se conseguiu a federalização da EPM, tendo
sido ele um dos adeptos a essa causa. Reconduzido ao cargo, exerceu a diretoria
no período 1964-68, quando encerrou suas atividades no magistério.
Ele também participou na organização da
Faculdade de Medicina de Sorocaba, tendo sido professor da 3ª cadeira de
Clínica Cirúrgica, onde permaneceu em efetivo exercício, preparando os seus
substitutos. Foi fundador da Escola de Enfermagem São Francisco e o seu
primeiro diretor. Esta Escola foi posteriormente agregada à faculdade de
Medicina de Sorocaba.
Cooperou com a Associação dos Sanatórios
de Campos do Jordão (Sanatorinhos), onde organizou o Serviço de Cirurgia e
operou gratuitamente durante o período 1939-1941. Deu sua colaboração no
ambulatório Jin Kai, que ficou sob sua responsabilidade, até o funcionamento do
Hospital Santa Cruz, do qual foi cirurgião-chefe, e depois Diretor Clínico e Administrativo,
de 1942 a 1970. Ensinou aos seus assistentes e seguidores, conforme seu
biógrafo, não somente a técnica operatória segura e elegante, como também a
sobriedade nas palavras e atitudes e a conduta rigidamente ética no exercício
da profissão.
Era, portanto, Diretor da EPM, quando do I
Congresso Brasileiro de Médicos Residentes em 1966. Aparentemente, pelo que
consta, era um tanto conservador no que diz respeito a inovações nos modelos de
aprendizado e treinamento. Teve um contratempo com os residentes que
permaneciam no alojamento por tempo além do estipulado, expulsando-os do
hospital. Não aceitou a prorrogação de docentes ao aposentarem; eles poderiam
permanecer até os 70 anos, se assim quisessem, embora devessem se aposentar aos
65. Mas Freitas obrigou a todos se aposentarem aos 65 anos. Com isso, o Prof. Jairo
Ramos teve que deixar seus cargos, embora estivesse com energia para continuar.
No entanto, Jairo Ramos continuou frequentando a EPM até falecer em 1972. Pelo
seu conservadorismo, é provável que o Dr. Freitas estivesse entre os docentes
que nos anos 1950 relutaram em aceitar a novidade da Residência Médica. Na
época em que era diretor no período 1964-68 enfrentou solicitações dos alunos
de graduação para que saísse do cargo. Também alguns professores dessa época
questionaram a qualidade do desempenho de Freitas como diretor da EPM. De
qualquer forma, ao deixar o cargo, ele deixou sua função de professor.
Prof. José Maria
de Freitas faleceu em 30 de dezembro de 1990, aos 87 anos.
Fonte Bibliográfica: Livro Comemorativo dos 40 anos da Escola Paulista de Medicina compilado pelo Prof. Ribeiro do Vale, publicado em 1977.
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