Baseada em texto de Silvio J. Pinto Borges
Marcos Lindenberg
nasceu em Cabo Frio, Estado do Rio de Janeiro, em 27 de março de 1901. Estudou
o primeiro grau na Escola Americana e no Colégio Mackenzie. Fez o segundo grau
no Ginásio do Estado de São Paulo. Em 1918 ingressou na Faculdade de Medicina e
Cirurgia de São Paulo, atual Faculdade de Medicina da USP, que cursou até o
quinto ano, quando transferiu-se para a Faculdade de Medicina da Praia
Vermelha, no Rio de Janeiro, onde defendeu tese e diplomou-se em 1923.
Em 1920 foi
nomeado aluno-preparador das cadeiras de Anatomia e Histologia, nas quais
iniciou sua formação científica sob a orientação de Alfonso Bovero. Deve sua
iniciação no campo da Patologia, ao qual dedicou toda sua atividade
profissional e docente, a Oscar Klotz, de quem foi aluno-assistente na cadeira
de Anatomia Patológica e a Alexandrino Pedroso, com quem estagiou no
Laboratório Central da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, em
Microbiologia e Imunologia. Ainda estudante do sexto ano, fixou-se em Campinas,
onde organizou e dirigiu o laboratório de análises do Instituto Oftalmológico
Penido Burnier e o de Patologia Clínica do Hospital do Circolo Italiani Uniti,
hoje [nos anos 1970] Casa de Saúde de Campinas. Nessa cidade, e com a
colaboração de Vicente Baptista, promoveu a fundação da Associação Médica de
Campinas. Retornou a São Paulo em 1929, reinstalando seu serviço de análises e
pesquisas clínicas, cujas atividades suspendeu em 1951 para espontaneamente
dedicar-se ao ensino em regime de tempo integral.
Comissionado pela
Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, integrou em 1932, durante a
Revolução Constitucionalista, a Primeira Formação Sanitária de Profilaxia de
Campanha, para a qual instalou e dirigiu, em Cruzeiro, um hospital de
emergência para moléstias infecciosas.
Sua experiência no
domínio da Patologia Clínica foi amplamente aproveitada. Organizou e chefiou o
laboratório do Sanatório Esperança. Na Escola Paulista de Medicina, em
instalações provisoriamente anexas à sua Cadeira e mais tarde transferidas para
o Pavilhão Maria Thereza de Azevedo, encarregou-se do serviço de laboratório
para as primeiras enfermarias de ensino ali localizadas. Posteriormente,
construído o atual Hospital São Paulo, e já então com a valiosa colaboração de
seu jovem assistente João Marques de Castro, planejou o Laboratório Central
que, sob a chefia desse saudoso companheiro, haveria de constituir-se em ativo
centro de ensino e pesquisa. Em 1950 foi convidado pela Universidade Federal da
Bahia para reinstalar, atualizar e dirigir o Laboratório do Hospital das
Clínicas de sua Faculdade de Medicina onde permaneceu dois anos, desenvolveu
pesquisa e organizou cursos de formação de técnicos de laboratório. Nessa
ocasião, a convite de Pernambuco, colaborou no planejamento dos laboratórios do
Hospital das Clínicas de Recife.
Quando, em 1933,
teve Octavio de Carvalho a iniciativa de fundar em São Paulo uma segunda
faculdade de ensino médico, Marcos Lindenberg com ele colaborou decididamente e
desde os primeiros passos para a realização do projeto. Fundada a primeiro de
junho de 1933 a Escola Paulista de Medicina, a ela dedicou sempre acendrado
amor e o melhor de seus esforços; regeu a cadeira de Patologia Geral, que
assumira como professor fundador, até outubro de 1964, quando se aposentou; foi
membro do Conselho Técnico Administrativo em vários períodos; em 1959 foi
nomeado diretor da Escola, cargo para o qual foi reconduzido em 1962 e que spo
deixou em janeiro de 1964; integrou bancas examinadoras de concursos para
professor catedrático nas universidades de Belém do Pará, do Recife, de Belo
Horizonte, da Bahia e de Curitiba. Em 1963, por delegação do Ministério da
Educação, participou dos trabalhos para a instalação em São Paulo de uma
universidade federal; este empreendimento, que vinha de encontro a uma legítima
aspiração da Escola Paulista de Medicina, qual seja a de integrar uma
organização universitária, foi interrompido pelos acontecimentos políticos de
março de 1964. Decorrido mais de um decênio [anos 1970] desde aquela época
prenhe de incompreensões e radicalismos é forçoso reconhecer a elevação de
propósitos no empenho de conseguir integrar a Escola Paulista de Medicina numa
Universidade Federal em São Paulo. Esta aspiração, infelizmente, não pôde ainda
ser concretizada.
A formação
científica e profissional de Marcos Lindenberg fez-se com base em cuidadosa
preparação geral e humanística, desenvolvida desde a juventude pelo contato
permanente que manteve com o meio intelectual e artístico de São Paulo, que
frequentou assiduamente como membro de suas mais expressivas associações
culturais e das quais se aproximou através de seus estudos de piano, iniciados
aos 13 anos de idade.
Dedicou-se também
à escultura sendo de sua autoria dois trabalhos em bronze, que doou à Escola:
uma efígie de Álvaro Lemos Torres e o primoroso busto de Octavio de Carvalho,
que compõe o monumento ao fundador da instituição e que se encontra em seu
pátio interno [atualmente encontra-se à entrada do Edifício Octavio de Carvalho
da Escola Paulista de Medicina].
Refletiram-se
marcadamente em sua atuação como educador os ensinamentos humanísticos com que
assim enriquecera e completara sua formação para além dos campos da medicina.
Insurge-se, por isso, contra o ensino e a prática dessa nobre profissão quando,
a favor de uma tecnologia que aproveita apenas ao organismo físico, é esquecida
a pessoa humana que nele vive, sente e sofre; e propõe que os cursos médicos
condicionem e mesmo estimulem a cultura geral do futuro profissional que, assim
preparado e sensibilizado, não deixará de oferecer ao bem estar físico,
espiritual e social de seus semelhantes os cuidados e o amparo que dele são
esperados.
Eis as principais
realizações de Marcos Lindenberg como diretor da Escola: construção,
instalação, organização e desenvolvimento da biblioteca, hoje [nos anos 1970]
Biblioteca Regional de Medicina-BIREME [atualmente não está mais na EPM];
melhoria e ampliação das condições de ensino e pesquisa nas disciplinas básicas
e construção de um prédio de 6 pavimentos para laboratórios; construção do
Instituto de Medicina Preventiva, o primeiro do Brasil, e, sob orientação de
Walter Leser, implantação de seu ensino ao longo de todo o curso médico, com
extensão ao âmbito domiciliar e à comunidade;
expansão e desenvolvimento do ensino clínico em ambulatório, programa para o
qual deixou pronto e detalhado o projeto de um edifício de cerca de 14.000 m2
de área, já parcialmente construído e em funcionamento à Rua Pedro de Toledo;
construção de uma pequena praça de esportes; promoção de cursos e conferências
de extensão cultural; estímulo e colaboração para instalação pelos estudantes
de uma sala acústica para audição de música gravada; estímulo e colaboração
para organização pelo Centro Acadêmico Pereira Barreto de exposições de pintura
e escultura com obras de autoria de médicos e estudantes da Escola; com a
colaboração de A. Bernardes de Oliveira, apresentação de raridades
bibliográficas médicas.
Publicou em 1920,
edição Weisflog Irmãos, “Lições de Mecânica Elementar” para estudantes de curso
secundário, e deixou contribuições em patologia hepática e da esquistossomose,
da moléstia de Chagas, das duodenites e colecistites e da hematologia.
Encerradas suas
atividades na Escola Paulista de Medicina, Marcos Lindenberg dirigiu, de março
de 1966 a junho de 1975, o Serviço Social da Indústria da Construção e do
Mobiliário do Estado de São Paulo, entidade sem fins lucrativos que preta
assistência médica, odontológica e social aos empregados de empresas de
construção civil.
Fonte bibliográfica: “Marcos Lindenberg”, por Silvio J. Pinto
Borges in A Escola Paulista de
Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º Aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, São Paulo, 1977, págs.
116-120.
Nenhum comentário:
Postar um comentário