segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Biografia de Marcos Lindenberg


Baseada em texto de Silvio J. Pinto Borges

     Marcos Lindenberg nasceu em Cabo Frio, Estado do Rio de Janeiro, em 27 de março de 1901. Estudou o primeiro grau na Escola Americana e no Colégio Mackenzie. Fez o segundo grau no Ginásio do Estado de São Paulo. Em 1918 ingressou na Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, atual Faculdade de Medicina da USP, que cursou até o quinto ano, quando transferiu-se para a Faculdade de Medicina da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, onde defendeu tese e diplomou-se em 1923.
     Em 1920 foi nomeado aluno-preparador das cadeiras de Anatomia e Histologia, nas quais iniciou sua formação científica sob a orientação de Alfonso Bovero. Deve sua iniciação no campo da Patologia, ao qual dedicou toda sua atividade profissional e docente, a Oscar Klotz, de quem foi aluno-assistente na cadeira de Anatomia Patológica e a Alexandrino Pedroso, com quem estagiou no Laboratório Central da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, em Microbiologia e Imunologia. Ainda estudante do sexto ano, fixou-se em Campinas, onde organizou e dirigiu o laboratório de análises do Instituto Oftalmológico Penido Burnier e o de Patologia Clínica do Hospital do Circolo Italiani Uniti, hoje [nos anos 1970] Casa de Saúde de Campinas. Nessa cidade, e com a colaboração de Vicente Baptista, promoveu a fundação da Associação Médica de Campinas. Retornou a São Paulo em 1929, reinstalando seu serviço de análises e pesquisas clínicas, cujas atividades suspendeu em 1951 para espontaneamente dedicar-se ao ensino em regime de tempo integral.
     Comissionado pela Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, integrou em 1932, durante a Revolução Constitucionalista, a Primeira Formação Sanitária de Profilaxia de Campanha, para a qual instalou e dirigiu, em Cruzeiro, um hospital de emergência para moléstias infecciosas.
     Sua experiência no domínio da Patologia Clínica foi amplamente aproveitada. Organizou e chefiou o laboratório do Sanatório Esperança. Na Escola Paulista de Medicina, em instalações provisoriamente anexas à sua Cadeira e mais tarde transferidas para o Pavilhão Maria Thereza de Azevedo, encarregou-se do serviço de laboratório para as primeiras enfermarias de ensino ali localizadas. Posteriormente, construído o atual Hospital São Paulo, e já então com a valiosa colaboração de seu jovem assistente João Marques de Castro, planejou o Laboratório Central que, sob a chefia desse saudoso companheiro, haveria de constituir-se em ativo centro de ensino e pesquisa. Em 1950 foi convidado pela Universidade Federal da Bahia para reinstalar, atualizar e dirigir o Laboratório do Hospital das Clínicas de sua Faculdade de Medicina onde permaneceu dois anos, desenvolveu pesquisa e organizou cursos de formação de técnicos de laboratório. Nessa ocasião, a convite de Pernambuco, colaborou no planejamento dos laboratórios do Hospital das Clínicas de Recife.
     Quando, em 1933, teve Octavio de Carvalho a iniciativa de fundar em São Paulo uma segunda faculdade de ensino médico, Marcos Lindenberg com ele colaborou decididamente e desde os primeiros passos para a realização do projeto. Fundada a primeiro de junho de 1933 a Escola Paulista de Medicina, a ela dedicou sempre acendrado amor e o melhor de seus esforços; regeu a cadeira de Patologia Geral, que assumira como professor fundador, até outubro de 1964, quando se aposentou; foi membro do Conselho Técnico Administrativo em vários períodos; em 1959 foi nomeado diretor da Escola, cargo para o qual foi reconduzido em 1962 e que spo deixou em janeiro de 1964; integrou bancas examinadoras de concursos para professor catedrático nas universidades de Belém do Pará, do Recife, de Belo Horizonte, da Bahia e de Curitiba. Em 1963, por delegação do Ministério da Educação, participou dos trabalhos para a instalação em São Paulo de uma universidade federal; este empreendimento, que vinha de encontro a uma legítima aspiração da Escola Paulista de Medicina, qual seja a de integrar uma organização universitária, foi interrompido pelos acontecimentos políticos de março de 1964. Decorrido mais de um decênio [anos 1970] desde aquela época prenhe de incompreensões e radicalismos é forçoso reconhecer a elevação de propósitos no empenho de conseguir integrar a Escola Paulista de Medicina numa Universidade Federal em São Paulo. Esta aspiração, infelizmente, não pôde ainda ser concretizada.
     A formação científica e profissional de Marcos Lindenberg fez-se com base em cuidadosa preparação geral e humanística, desenvolvida desde a juventude pelo contato permanente que manteve com o meio intelectual e artístico de São Paulo, que frequentou assiduamente como membro de suas mais expressivas associações culturais e das quais se aproximou através de seus estudos de piano, iniciados aos 13 anos de idade.
     Dedicou-se também à escultura sendo de sua autoria dois trabalhos em bronze, que doou à Escola: uma efígie de Álvaro Lemos Torres e o primoroso busto de Octavio de Carvalho, que compõe o monumento ao fundador da instituição e que se encontra em seu pátio interno [atualmente encontra-se à entrada do Edifício Octavio de Carvalho da Escola Paulista de Medicina].
     Refletiram-se marcadamente em sua atuação como educador os ensinamentos humanísticos com que assim enriquecera e completara sua formação para além dos campos da medicina. Insurge-se, por isso, contra o ensino e a prática dessa nobre profissão quando, a favor de uma tecnologia que aproveita apenas ao organismo físico, é esquecida a pessoa humana que nele vive, sente e sofre; e propõe que os cursos médicos condicionem e mesmo estimulem a cultura geral do futuro profissional que, assim preparado e sensibilizado, não deixará de oferecer ao bem estar físico, espiritual e social de seus semelhantes os cuidados e o amparo que dele são esperados.
     Eis as principais realizações de Marcos Lindenberg como diretor da Escola: construção, instalação, organização e desenvolvimento da biblioteca, hoje [nos anos 1970] Biblioteca Regional de Medicina-BIREME [atualmente não está mais na EPM]; melhoria e ampliação das condições de ensino e pesquisa nas disciplinas básicas e construção de um prédio de 6 pavimentos para laboratórios; construção do Instituto de Medicina Preventiva, o primeiro do Brasil, e, sob orientação de Walter Leser, implantação de seu ensino ao longo de todo o curso médico, com extensão ao âmbito domiciliar  e à comunidade; expansão e desenvolvimento do ensino clínico em ambulatório, programa para o qual deixou pronto e detalhado o projeto de um edifício de cerca de 14.000 m2 de área, já parcialmente construído e em funcionamento à Rua Pedro de Toledo; construção de uma pequena praça de esportes; promoção de cursos e conferências de extensão cultural; estímulo e colaboração para instalação pelos estudantes de uma sala acústica para audição de música gravada; estímulo e colaboração para organização pelo Centro Acadêmico Pereira Barreto de exposições de pintura e escultura com obras de autoria de médicos e estudantes da Escola; com a colaboração de A. Bernardes de Oliveira, apresentação de raridades bibliográficas médicas.
     Publicou em 1920, edição Weisflog Irmãos, “Lições de Mecânica Elementar” para estudantes de curso secundário, e deixou contribuições em patologia hepática e da esquistossomose, da moléstia de Chagas, das duodenites e colecistites e da hematologia.
     Encerradas suas atividades na Escola Paulista de Medicina, Marcos Lindenberg dirigiu, de março de 1966 a junho de 1975, o Serviço Social da Indústria da Construção e do Mobiliário do Estado de São Paulo, entidade sem fins lucrativos que preta assistência médica, odontológica e social aos empregados de empresas de construção civil.

Fonte bibliográfica: “Marcos Lindenberg”, por Silvio J. Pinto Borges in A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º Aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, São Paulo, 1977, págs. 116-120.      


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