Baseada em texto escrito pelo Prof. Costabile Gallucci
Alípio Correa
Netto nasceu em 14 de janeiro de 1898, em Cataguazes, Estado de Minas Gerais. Fez a primeira parte de seu curso secundário
no Ginásio de São José da cidade de Ubá, no mesmo Estado, terminando esse mesmo
curso em São Paulo, sob orientação do Prof. Alfredo Paulino. Em fevereiro de
1918 matriculou-se na Faculdade de Medicina de São Paulo, tendo concluído o
curso médico em março de 1924. Foi orador de sua turma na formatura e sua tese
de doutoramento intitulou-se “Cistos Congênitos do Pescoço”.
Participou ativamente
do movimento revolucionário de 1932, ocupando o cargo de chefe de Cirurgia do
Hospital de Sangue de Cruzeiro, no Vale do Paraíba. Daí surgiu o seu trabalho “Cirurgia
de Guerra do Hospital de Sangue de Cruzeiro” (1934).
Como estudante e
depois como assistente trabalhou no serviço de João Alves Lima, grande mestre
de Cirurgia que recebeu ensinamentos na Faculdade de Medicina de Paris.
Alípio Correa
Netto seguiu com dedicação a escola e a obra didática de Lemos Torres.
Em 1935 prestou
concurso de provas e títulos para o cargo de Professor Catedrático de Clínica
Cirúrgica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, tendo sido
classificado em primeiro lugar.
Participando de
movimento inovador e contestador, foi um dos fundadores da Escola Paulista de
Medicina em 1933. Em 1936 tornou-se professor catedrático de Cirurgia da EPM.
Imediatamente após
assumir as duas cátedras, fez sentir sua condição de líder e de professor,
sugerindo e adotando modificações no ensino médico e batalhando pela ideia de
que muito mais do que Ensino Médico se deveria instituir o conceito de Educação
Médica.
Em 1944,
participou da Segunda Guerra Mundial, integrando a Força Expedicionária
Brasileira, como Major Médico, onde chefiou a Secção Brasileira do 32º Field Hospital. Por sua inteira
dedicação nesse período, recebeu as seguintes condecorações: Bronze Star, outorgada pelo V Exército
dos Estados Unidos, Medalha de Campanha e Medalha de Guerra do governo
brasileiro. Além disso, foi condecorado como Cavaleiro da Legião de Honra do
Governo da França.
Por mais de 40 anos
dedicou-se à educação médica (conforme texto de 1977) e, principalmente, à
formação de professores. Formou uma das maiores escolas cirúrgicas do país, com
muitos docentes em todos os campos da cirurgia: gastroenterologia, cirurgia
cardíaca, vascular, cabeça e pescoço, plástica, entre outros.
Foi pioneiro, no
Brasil, da Cirurgia da Tuberculose, criando tradicional escola da
especialidade, principalmente no Hospital São Luiz Gonzaga, em Jaçanã. Foi um
dos iniciadores da Cirurgia Pulmonar não tuberculosa, do esôfago e do coração.
Acumulou uma das maiores experiências mundiais em cirurgia da tiroide,
reestruturando suas bases clínico-cirúrgicas. Ensinou, constantemente, a seus
discípulos a fundamental importância do domínio dos métodos propedêuticos
cirúrgicos na formação do cirurgião. Reconhecido por todos como insigne
operador, Alípio Correa Netto era admirado como invulgar diagnosticador. Fiel
ao princípio de educar e não apenas ensinar, sempre fez sentir a importância do
correto vernáculo nas exposições orais, nas provas escritas e na redação de
trabalhos científicos.
Característica
fundamental desse grande mestre tem sido facilitar a ascensão de seus
assistentes na carreira profissional e universitária. Sempre incentivou a
realização de trabalhos e teses de seus discípulos, acompanhando de perto a
evolução de seus alunos e assistentes.
Em relação à
Cirurgia Experimental, procurou sempre estabelecer a diferença entre a cirurgia
para aperfeiçoamento técnico em animais e a verdadeira cirurgia experimental,
aquela que se caracteriza pela originalidade na pesquisa.
Alípio Correa
Netto preconizou e realizou profundas transformações nas Cátedras das Escolas
Médicas em que exerceu suas atividades. Assim, em 1957, conseguiu, na Escola Paulista
de Medicina, juntamente com os professores Antônio Bernardes de Oliveira e José
Maria de Freitas, reunir as cátedras cirúrgicas em um único Departamento de
Cirurgia. Deve-se assinalar que a transformação de Cátedras em Departamentos só
foi oficializada na Reforma Universitária de 1968/1969, embora o primeiro
Departamento em Escola Médica no Brasil já tivesse sido criado por Jairo Ramos
em 1951 na Escola Paulista de Medicina.
Alípio Correa
Netto publicou mais de 70 trabalhos científicos como: “Clínica Cirúrgica”(5
volumes); “Propedêutica do Abdome”; “Megaesôfago, Patogenia, Diagnóstico e
Tratamento”; “Afecções Cirúrgicas da Tiróide”; “Tratamento Cirúrgico do
Megacólon”; Achalasie du Pylore chez l’Adulte; “Mecanismo da Cura da Caverna
Tuberculosa pelo Colapso”.
Homem de profunda
formação humanística, não se restringiu à atividade médica. Foi fundador e
presidente da Secção de São Paulo do Partido Socialista Brasileiro. Permaneceu
nesse cargo até 1960, quando se desligou do partido.
Exerceu o cargo
eletivo de Deputado Estadual em 1951 e 1952. Em seu mandato apresentou, entre
outros, dois projetos que se tornaram leis a partir de 1952: “Assistência
Hospitalar no Estado de São Paulo”; “Assistência agro-médico-social ao
trabalhador rural”.
Foi Secretário de
Higiene da Prefeitura Municipal de São Paulo na administração Jânio Quadros.
Em 1955, por
eleição do Conselho Universitário, exerceu o cargo de Reitor da Universidade de
São Paulo.
Em 1958 foi
Secretário da Educação do Estado de São Paulo, no governo Jânio Quadros.
Foi fundador e
presidente da Associação Médica Brasileira de 1951 a 1955. Foi presidente da
Academia Paulista de Medicina e do Colégio Brasileiro de Cirurgiões.
Também escreveu
sobre assuntos diversos. Escreveu “Diário de Guerra”, sobre sua participação na
Força Expedicionária Brasileira, publicado na revista Anhembi. Estudou a vida e
a moléstia que acometeu Aleijadinho e escreveu um ensaio onde desvenda o diagnóstico
da afecção do escultor.
Atento ao problema
do transplante de órgãos, publicou livro sobre o assunto, que, segundo o
intelectual Paulo Duarte, “pseudo obra de ficção em torno de um dos mais belos
episódios da cirurgia brasileira, que foi exatamente a posição de Euryclides de
Jesus Zerbini”. Sobre esse livro chamado “Ponto no Infinito”, continua Paulo
Duarte, “estão retratados os nossos costumes, os nossos médicos, as virtudes e
as deficiências do nosso serviço hospitalar, as manifestações dos órgãos
publicitários, a curiosidade incontrolável, as manifestações oficiais, as
alegrias em relação ao feito”.
Alípio Correa
Netto escreveu a biografia de seu mestre João Alves de Lima no livro “Um Mestre
da Cirurgia”.
Alípio Correa
Netto faleceu em São Paulo, em 24 de Maio de 1988.
Fonte bibliográfica: "Alípio Correia Neto" por Costabile Gallucci in A Escola Paulista de Medicina - dados comemorativos se seu 40º aniversário (1933-1973) e anotações recentes. São Paulo, 1977.
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