Baseada em texto do Prof. Dr. Azarias de Andrade Carvalho
Pedro de Alcântara
Marcondes Machado nasceu em 1º de maio de 1901, na cidade de São Paulo. Fez o
curso primário na Escola Alemã Santo Adalberto (1909-1921), o curso secundário
no Ginásio do Estado da Capital (1913-1918) e o superior na Faculdade de
Medicina e Cirurgia de São Paulo, diplomando-se médico em 1924.
Cedo demonstrou
pendores para o ensino, ingressando, por concurso (1927) como catedrático de
Instrução Moral e Cívica no conceituado Ginásio do Estado, local que formou
pessoas notáveis em São Paulo nas décadas anteriores a 1950.
Iniciou formação
pediátrica em 1927, com o Professor Pinheiro Cintra, como assistente
voluntário, no Pavilhão Condessa Penteado, na Santa Casa de Misericórdia de São
Paulo, então sede da Clínica Pediátrica da Faculdade de Medicina de São Paulo.
Com a extinção da
matéria Instrução Moral e Cívica em 1933, transferiu-se para o Instituto de
Higiene, órgão em que já trabalhava como médico voluntário e onde passou a
lecionar o curso de Higiene da Primeira Infância para educadoras sanitárias,
transformando em Cátedra de Puericultura (1945) quando da instalação da
Faculdade de Higiene e Saúde Pública de São Paulo. No Instituto de Higiene
desenvolveu e aplicou novas ideias sobre a saúde da criança, ideias estas que
lhe granjearam a admiração e o respeito dos colegas de São Paulo e do Brasil.
Nesta ocasião, dava assistência pediátrica a tal número de filhos de colegas
que estes, num ato de reconhecimento e amizade, presentearam-no com um automóvel.
Desde os tempos de
estudante de medicina (1923-24) frequentava o Serviço do Prof. Rubião Meira, na
Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, em cujas enfermarias se plasmaram
notáveis vultos da medicina de São Paulo. Ali trabalhou (1925-26) como
assistente voluntário sob a orientação de Lemos Torres.
Como espírito
progressista e atuante em sua época, não podia alhear-se às iniciativas
arrojadas e empreendedoras, dando seu apoio e batalhando para a organização de
nova escola médica em São Paulo. Incluindo-se entre os jovens médicos paulistas
que lutavam por esse ideal, assinou o manifesto de 1º de junho de 1933,
fundando a Escola Paulista de Medicina. Em sua fase de estruturação, numa das
reuniões, foi um dos que usaram a palavra a favor do início imediato das aulas
do curso médico. Durante aproximadamente 10 anos pertenceu ao Conselho Técnico
Administrativo da EPM. Desenvolveu intensa atividade didática para alunos do
curso médico. Orientou muitos médicos para a carreira pediátrica e durante sua
gestão J. Renato Woiski defendeu a Livre-Docência, a primeira a realizar-se na
Pediatria da Escola Paulista de Medicina.
Em 1924, por
ocasião da formatura, defendeu tese de doutoramento, com o trabalho Ensaio de Moral Sexual. Foi o primeiro
pediatra a defender a Docência Livre em São Paulo (1935); em 1934 havia se
tornado Livre Docente da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
Em 1946, concorreu
à cátedra de Clínica Pediátrica e Higiene da 1ª Infância da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo, tendo sido aprovado com distinção. Para
este concurso apresentou a tese Contribuição
para o Estudo da Proteção da Criança contra os Agravos Psíquicos. Como
espírito independente e cônscio do valor de suas ideias, escreveu seu trabalho
baseado na lógica de seu raciocínio e nos ensinamentos que a observação diária
de inúmeras crianças e de suas famílias lhe deram, tendo tido a coragem de
dispensar qualquer citação bibliográfica.
Houve época em que
exerceu, concomitantemente, o magistério como catedrático em duas escolas
médicas e uma escola de saúde pública. Com a evolução do ensino de Pediatria e
de acordo com seu modo de pensar, sentiu que era menos proveitoso para seus
alunos e discípulos sua permanência em três cátedras, motivo pelo qual
afastou-se, inicialmente, da Faculdade de Higiene e Saúde Pública de São Paulo
(1950), a seguir da Escola Paulista de Medicina (1957), permanecendo apenas na
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Aposentou-se finalmente em
1964.
Foi também
professor da Escola de Enfermagem do Hospital São Paulo e da Escola de Serviço
Social de São Paulo.
Pelas suas ideias,
revolucionárias para aquela época, a respeito de pontos básicos de pediatria e,
principalmente, de puericultura, ainda totalmente verdadeiras nos dias atuais
(1977), aglutinou em torno de si uma plêiade de discípulos e admiradores que
tiveram o mérito de prosseguir na divulgação daquelas ideias.
Realçou os
estreitos vínculos existentes entre a saúde da criança e a situação socioeconômica
e cultural da população. Manteve acirradas polêmicas em defesa dessas ideias,
que são hoje totalmente vitoriosas.
Simplificou as práticas
da Puericultura, especialmente a alimentação, de acordo com a realidade da
criança de nossa situação, fazendo-as de fácil compreensão para estudantes e
médicos e proporcionando alívio para as mães que se livraram de uma
puericultura sofisticada e artificial. Lutou contra o conceito arraigado no
espírito das mães, por culpa dos médicos, de valorizar demasiadamente os dados
fornecidos por uma balança para avaliar o estado de saúde da criança. Da mesma
maneira, procurou demonstrar a influência das condições de salubridade da
habitação na proteção da saúde da criança. Combateu energicamente o valor das
tabelas numéricas usadas para avaliação da quantidade de alimento necessário
para a criança, de uso generalizado naquela época.
Preocupado
intensamente com o bem estar da criança, combatia todas as práticas que
deixavam de considerá-la como um todo, no sentido de “corpo, alma e integração
na família e na sociedade”. Foi pioneiro entre nós do reconhecimento e
divulgação do desenvolvimento emocional e das reações psicológicas normais e
anormais da criança, numa época em que não se cogitava sequer de psicologia ou
de psiquiatria infantis.
Espírito culto e
sensível, sempre se deleitou com a literatura, a música e principalmente a
pintura, chegando mesmo a realizar palestras e conferências confrontando a
pintura clássica e a moderna em suas diversas formas de expressão.
Foi também membro
do Conselho Universitário da Universidade de São Paulo como representante da
Congregação da Faculdade de Medicina, e do Conselho Administrativo do Museu de
Arte Contemporânea de São Paulo.
Além de numerosos
artigos publicados traduziu os livros: Diagnóstico
diferencial em Pediatria (alemão) – Dr. Walter Pflüger (Stuttgart), 1933; Como desenvolver o apetite da criança (inglês)
– Aldrich.
Publicou os
seguintes livros: Mortalidade Infantil – Problema
espiritual, econômico, sanitário e médico (1945), reeditado com o nome Causas e Remédios Sociais da Mortalidade
Infantil; Higiene da Primeira Infância (1936) – reeditado em 1945 e 1951; Mãe e Filho (Noções de Puericultura) –
1952; Perturbações Nutritivas do lactente
– 1946; Pediatria Básica – (colaboração
com Eduardo Marcondes) em 4ª edição [no texto de 1977].
Suas ideias,
divulgadas por diversos meios de comunicação e também por seus discípulos, ou
discípulos de seus discípulos que ocupam numerosas chefias de Pediatria no
Estado de São Paulo e no Brasil, influíram de maneira marcante em toda a
Pediatria nacional.
Foi Presidente da
Sociedade Brasileira de Pediatria em 1954. Foi por ela homenageado ao ser
indicado Patrono da Cadeira 10 da Academia Brasileira de Pediatria.
Pedro de Alcântara
faleceu em 18 de maio de 1979.
Fontes bibliográficas:
Capítulo sobre Pedro de Alcântara escrito por Azarias de
Andrade Carvalho no livro “A Escola Paulista de Medicina – dados comemorativos
de seu 40º aniversário (1933-1973) e anotações recentes”. Por José Ribeiro do
Vale. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, pags. 142-146.
Sociedade Brasileira de Pediatria acessado em:
https://www.sbp.com.br/institucional/academia-brasileira-da-pediatria/patronos-e-titulares/pedro-de-alcantara-marcondes-machado/
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