segunda-feira, 3 de abril de 2017

Biografia do Prof. Pedro de Alcântara


Baseada em texto do Prof. Dr. Azarias de Andrade Carvalho

     Pedro de Alcântara Marcondes Machado nasceu em 1º de maio de 1901, na cidade de São Paulo. Fez o curso primário na Escola Alemã Santo Adalberto (1909-1921), o curso secundário no Ginásio do Estado da Capital (1913-1918) e o superior na Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, diplomando-se médico em 1924.
     Cedo demonstrou pendores para o ensino, ingressando, por concurso (1927) como catedrático de Instrução Moral e Cívica no conceituado Ginásio do Estado, local que formou pessoas notáveis em São Paulo nas décadas anteriores a 1950.
     Iniciou formação pediátrica em 1927, com o Professor Pinheiro Cintra, como assistente voluntário, no Pavilhão Condessa Penteado, na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, então sede da Clínica Pediátrica da Faculdade de Medicina de São Paulo.
     Com a extinção da matéria Instrução Moral e Cívica em 1933, transferiu-se para o Instituto de Higiene, órgão em que já trabalhava como médico voluntário e onde passou a lecionar o curso de Higiene da Primeira Infância para educadoras sanitárias, transformando em Cátedra de Puericultura (1945) quando da instalação da Faculdade de Higiene e Saúde Pública de São Paulo. No Instituto de Higiene desenvolveu e aplicou novas ideias sobre a saúde da criança, ideias estas que lhe granjearam a admiração e o respeito dos colegas de São Paulo e do Brasil. Nesta ocasião, dava assistência pediátrica a tal número de filhos de colegas que estes, num ato de reconhecimento e amizade, presentearam-no com um automóvel.
     Desde os tempos de estudante de medicina (1923-24) frequentava o Serviço do Prof. Rubião Meira, na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, em cujas enfermarias se plasmaram notáveis vultos da medicina de São Paulo. Ali trabalhou (1925-26) como assistente voluntário sob a orientação de Lemos Torres.
     Como espírito progressista e atuante em sua época, não podia alhear-se às iniciativas arrojadas e empreendedoras, dando seu apoio e batalhando para a organização de nova escola médica em São Paulo. Incluindo-se entre os jovens médicos paulistas que lutavam por esse ideal, assinou o manifesto de 1º de junho de 1933, fundando a Escola Paulista de Medicina. Em sua fase de estruturação, numa das reuniões, foi um dos que usaram a palavra a favor do início imediato das aulas do curso médico. Durante aproximadamente 10 anos pertenceu ao Conselho Técnico Administrativo da EPM. Desenvolveu intensa atividade didática para alunos do curso médico. Orientou muitos médicos para a carreira pediátrica e durante sua gestão J. Renato Woiski defendeu a Livre-Docência, a primeira a realizar-se na Pediatria da Escola Paulista de Medicina.
     Em 1924, por ocasião da formatura, defendeu tese de doutoramento, com o trabalho Ensaio de Moral Sexual. Foi o primeiro pediatra a defender a Docência Livre em São Paulo (1935); em 1934 havia se tornado Livre Docente da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
     Em 1946, concorreu à cátedra de Clínica Pediátrica e Higiene da 1ª Infância da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, tendo sido aprovado com distinção. Para este concurso apresentou a tese Contribuição para o Estudo da Proteção da Criança contra os Agravos Psíquicos. Como espírito independente e cônscio do valor de suas ideias, escreveu seu trabalho baseado na lógica de seu raciocínio e nos ensinamentos que a observação diária de inúmeras crianças e de suas famílias lhe deram, tendo tido a coragem de dispensar qualquer citação bibliográfica.
     Houve época em que exerceu, concomitantemente, o magistério como catedrático em duas escolas médicas e uma escola de saúde pública. Com a evolução do ensino de Pediatria e de acordo com seu modo de pensar, sentiu que era menos proveitoso para seus alunos e discípulos sua permanência em três cátedras, motivo pelo qual afastou-se, inicialmente, da Faculdade de Higiene e Saúde Pública de São Paulo (1950), a seguir da Escola Paulista de Medicina (1957), permanecendo apenas na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Aposentou-se finalmente em 1964.
     Foi também professor da Escola de Enfermagem do Hospital São Paulo e da Escola de Serviço Social de São Paulo.
     Pelas suas ideias, revolucionárias para aquela época, a respeito de pontos básicos de pediatria e, principalmente, de puericultura, ainda totalmente verdadeiras nos dias atuais (1977), aglutinou em torno de si uma plêiade de discípulos e admiradores que tiveram o mérito de prosseguir na divulgação daquelas ideias.
     Realçou os estreitos vínculos existentes entre a saúde da criança e a situação socioeconômica e cultural da população. Manteve acirradas polêmicas em defesa dessas ideias, que são hoje totalmente vitoriosas.
     Simplificou as práticas da Puericultura, especialmente a alimentação, de acordo com a realidade da criança de nossa situação, fazendo-as de fácil compreensão para estudantes e médicos e proporcionando alívio para as mães que se livraram de uma puericultura sofisticada e artificial. Lutou contra o conceito arraigado no espírito das mães, por culpa dos médicos, de valorizar demasiadamente os dados fornecidos por uma balança para avaliar o estado de saúde da criança. Da mesma maneira, procurou demonstrar a influência das condições de salubridade da habitação na proteção da saúde da criança. Combateu energicamente o valor das tabelas numéricas usadas para avaliação da quantidade de alimento necessário para a criança, de uso generalizado naquela época.
     Preocupado intensamente com o bem estar da criança, combatia todas as práticas que deixavam de considerá-la como um todo, no sentido de “corpo, alma e integração na família e na sociedade”. Foi pioneiro entre nós do reconhecimento e divulgação do desenvolvimento emocional e das reações psicológicas normais e anormais da criança, numa época em que não se cogitava sequer de psicologia ou de psiquiatria infantis.
     Espírito culto e sensível, sempre se deleitou com a literatura, a música e principalmente a pintura, chegando mesmo a realizar palestras e conferências confrontando a pintura clássica e a moderna em suas diversas formas de expressão.
     Foi também membro do Conselho Universitário da Universidade de São Paulo como representante da Congregação da Faculdade de Medicina, e do Conselho Administrativo do Museu de Arte Contemporânea de São Paulo.
     Além de numerosos artigos publicados traduziu os livros: Diagnóstico diferencial em Pediatria (alemão) – Dr. Walter Pflüger (Stuttgart), 1933; Como desenvolver o apetite da criança (inglês) – Aldrich.
     Publicou os seguintes livros: Mortalidade Infantil – Problema espiritual, econômico, sanitário e médico (1945), reeditado com o nome Causas e Remédios Sociais da Mortalidade Infantil; Higiene da Primeira Infância (1936) – reeditado em 1945 e 1951; Mãe e Filho (Noções de Puericultura) – 1952; Perturbações Nutritivas do lactente – 1946; Pediatria Básica – (colaboração com Eduardo Marcondes) em 4ª edição [no texto de 1977].
     Suas ideias, divulgadas por diversos meios de comunicação e também por seus discípulos, ou discípulos de seus discípulos que ocupam numerosas chefias de Pediatria no Estado de São Paulo e no Brasil, influíram de maneira marcante em toda a Pediatria nacional.
     Foi Presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria em 1954. Foi por ela homenageado ao ser indicado Patrono da Cadeira 10 da Academia Brasileira de Pediatria.
     Pedro de Alcântara faleceu em 18 de maio de 1979.

Fontes bibliográficas:

Capítulo sobre Pedro de Alcântara escrito por Azarias de Andrade Carvalho no livro “A Escola Paulista de Medicina – dados comemorativos de seu 40º aniversário (1933-1973) e anotações recentes”. Por José Ribeiro do Vale. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, pags. 142-146.

Sociedade Brasileira de Pediatria acessado em:
https://www.sbp.com.br/institucional/academia-brasileira-da-pediatria/patronos-e-titulares/pedro-de-alcantara-marcondes-machado/
  

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