A partir de texto de Gustavo Friozzi
José Ignácio Lobo
nasceu em São Paulo em 14 de fevereiro de 1900, filho de Jerônimo Álvares Lobo
e Maria Eliza de Azevedo Lobo. Matriculou-se em 1912 no Colégio Arquidiocesano
de São Paulo, onde fez o então Curso Ginasial, que concluiu em 1916.
Após prestar exames
em lugares como o Ginásio do Estado da Capital e a Faculdade de Medicina e
Cirurgia de São Paulo, decidiu-se por cursar esta última, onde graduou-se em 1923.
A partir do fim do
terceiro ano do Curso Médico, começou a frequentar, na Santa Casa de Misericórdia
de São Paulo, o Serviço de Clínica da Segunda Enfermaria de Mulheres, da qual
era chefe o Dr. Ribeiro Almeida, tendo aí trabalhado sob a orientação do então
assistente Dr. Raul Margarido. Ainda como aluno trabalhou nos postos de
Profilaxia da Sífilis. No último ano do curso foi Interno do Hospital de
Isolamento de São Paulo (depois Hospital Emílio Ribas). Foi presidente do
Centro Acadêmico Oswaldo Cruz. Em seu doutoramento defendeu tese sobre “Menstruação
e Corpo Lúteo”, sendo aprovado com distinção.
Exerceu a Clínica
inicialmente na cidade de Ourinhos, onde ficou até 1925. Nessa época ingressou
no Serviço do Professor Rubião Meira, na Segunda Enfermaria de Homens da Santa
Casa de Misericórdia de São Paulo. Dessa forma, foi indicado pelo Prof. Meira
para Assistente Extraordinário da Terceira Cadeira de Clínica Médica da
Faculdade de Medicina, indicação essa renovada anualmente, sendo a última das
quais em março de 1936, conforme o título da nomeação.
Em julho de 1932, foi nomeado adjunto do
Hospital São Luiz Gonzaga, em Jaçanã. Esse cargo foi logo interrompido, em
virtude da Revolução Constitucionalista. Durante esta, não pode prestar
serviços médicos nem no Hospital Central da Santa Casa, nem em outro hospital,
por ter-se incorporado às forças paulistas em operação no Setor Sul. De regresso,
reassumiu suas funções na Santa Casa e no Hospital São Luiz Gonzaga.
Em 1933, José
Ignácio Lobo participou da fundação da Escola Paulista de Medicina, onde
tornou-se Professor Catedrático de Clínica Médica.
Em maio de 1936,
foi aprovado em concurso para Livre Docente de Clínica Médica da Faculdade de
Medicina de São Paulo. Continuou a auxiliar o curso prático da Terceira Cadeira
de Clínica Médica, e trabalhando na Segunda Enfermaria de Medicina de Homens da
Santa Casa de São Paulo até outubro de 1938. Na ocasião, a convite do Prof. Ribeiro
de Almeida, passou a trabalhar na Segunda Enfermaria de Medicina de Mulheres da
Santa Casa, onde permaneceu até meados de 1944.
Em 1943, teve
revalidado seu título de Livre Docente de Clínica Médica pela Congregação da
Faculdade de Medicina de São Paulo, mediante novo concurso de títulos, conforme
ordenava a Lei.
Em novembro de
1945, foi transferido do cargo de adjunto efetivo do Hospital São Luiz Gonzaga
para cargo similar na Santa Casa. Em maio de 1946, foi promovido a Chefe de
Clínica da Segunda Enfermaria de Medicina de Homens da Santa Casa. Exerceu essa
Chefia até 1953, quando solicitou exoneração do cargo. A Mesa Administrativa da
Irmandade conferiu-lhe, em maio de 1955, o título de Médico Emérito, em
reconhecimento a serviços prestados.
O Prof. Lobo foi
pioneiro e precursor de estudos endocrinológicos em São Paulo, juntamente com
Thales Martins. Com a supressão do serviço de Endocrinologia do Instituto Butantã,
houve a transferência do pessoal e do arquivo de casos para a Escola Paulista
de Medicina, concomitantemente à criação da Disciplina de Endocrinologia no
recém-criado Departamento de Medicina pelo Prof. Jairo Ramos, que indicou, e
foi aprovado pela Congregação, o Dr. Lobo. Conforme Gustavo Friozzi,
concomitantemente foi criada a Disciplina de Moléstias Infecciosas. O Prof.
Lobo aposentou-se na EPM em 1968.
Participou várias
vezes do antigo Conselho Técnico Administrativo da EPM, mesmo após se aposentar.
Assim também do Conselho Deliberativo da Sociedade Paulista para o
Desenvolvimento da Medicina, mantenedora do Hospital São Paulo.
Foi membro de
várias bancas examinadoras em concursos de professores e docentes. Publicou
mais de 200 trabalhos, entre teses, monografias e artigos científicos. Mesmo
após aposentado exerceu, em comissão, o cargo de Assistente Técnico da Coordenadoria
dos Serviços Técnicos Especializados da Secretaria da Saúde.
Nas palavras de
Gustavo Friozzi:
“Durante o tempo
que trabalhamos com o Dr. Lobo, pudemos verificar a vivacidade de sua
inteligência e a profundeza de sua cultura. Chegava à Enfermaria lá pelas dez
horas e passava em revista todos os leitos (33), orientando a terapêutica ou
ajudando a esclarecer o diagnóstico. Tendo sido convidado a dirigir o
Departamento Científico da Laborterápica, teria podido, como o fazem muitos,
aparecer de vez em quando na Enfermaria e manter-se chefe titular. Mas o
caráter de José Ignácio Lobo não permitia tal rasgo à sua concepção do dever.
Não podendo dar, como queria, a assistência e a atenção que seu cargo requeria,
preferiu demitir-se, a manter-se como titular figurativo. Foi uma pena. Perdeu
a Santa Casa um grande clínico e eu um grande mestre e amigo”.
Continua Gustavo
Friozzi:
“Novamente a
Enfermaria foi posta em concurso, vencendo-o o Dr. Ulysses Lemos Torres, digno
substituto de Ignácio Lobo e continuador da grande obra de seu pai, o falecido
Prof. Lemos Torres, introdutor da semiótica médica em nosso meio, que muito
contribuiu para formar grandes clínicos como: Jairo Ramos, L. Decourt, J. Lobo,
Ulhôa Cintra, B. Tranchesi e outros”.
Sobre o Prof.
Lobo, diz ainda Gustavo Friozzi, em publicação de 1977:
“De estatura
mediana, esguio, com farta cabeleira grisalha, sempre elegantemente trajado, o
Dr. Lobo lembra a figura dos médicos ingleses descritos por Cronin. Patriarca “ancien
stile”, é o pai de 10 filhos”.
No jornal O Estado de São Paulo de 7 de fevereiro de 1994 lê-se nota de falecimento do Prof. José Ignácio Lobo, com 94 anos. o jornal acrescenta que, em setembro de 1963, na sessão solene da congregação da Escola Paulista de Medicina, comemorativa dos 30 anos de fundação da Escola, pronunciou longa oração, quando destacou: “tem sido de fato uma constante desta Escola, a preocupação com os métodos de ensino, com a técnica do ensino, com a ciência do ensino”. E aos alunos disse: “para usar uma linguagem estudantil, dir-vos-ei agora, nesta festa trintenária, que a 'escolinha' dos vossos antecessores se tornou a 'Paulista' de nossos dias, guardai bem e defendei melhor, este nome, assim no que ele exprime de transmutação dos conceitos, como no que ele significa de tradição gentílica. Guardai-o com a alegria da mocidade, com a altivez de homens livres e com a dignidade que a Providência Divina, a quem rendemos graças, imprimiu em cada um de nós”.
Continuando a notícia, o Prof. José Ignácio Lobo era filho do Sr. Gerônimo Alves Lobo e de d. Maria Elisa Lobo,
falecidos. Era casado com d. Maria Rita Lobo. Deixa os filhos, Marcelo Lobo,
casado com d. Lucila Figueiredo Lobo; Guilherme Lobo, casado com d. Elisabeth
Lobo; Maria Claúdia Lobo; Maria Ercília Lobo; Maria Gilda Lobo; d. Elisabeth
Lobo Brennan, casada com Laurence Brennan; d. Heloisa Lobo Teixeira da Silva,
casada com o sr. Luiz Teixeira da Silva; Jorge Garcez Lobo, casado com d.
Regina Lobo; Flávia Lobo, solteira, e Rogério Lobo, solteiro. Deixa ainda netos
e bisnetos. O enterro realizou-se no dia 5, às 12 horas, no Cemitério
Gethsemani.
No jornal O Estado de São Paulo de 7 de fevereiro de 1994 lê-se nota de falecimento do Prof. José Ignácio Lobo, com 94 anos. o jornal acrescenta que, em setembro de 1963, na sessão solene da congregação da Escola Paulista de Medicina, comemorativa dos 30 anos de fundação da Escola, pronunciou longa oração, quando destacou: “tem sido de fato uma constante desta Escola, a preocupação com os métodos de ensino, com a técnica do ensino, com a ciência do ensino”. E aos alunos disse: “para usar uma linguagem estudantil, dir-vos-ei agora, nesta festa trintenária, que a 'escolinha' dos vossos antecessores se tornou a 'Paulista' de nossos dias, guardai bem e defendei melhor, este nome, assim no que ele exprime de transmutação dos conceitos, como no que ele significa de tradição gentílica. Guardai-o com a alegria da mocidade, com a altivez de homens livres e com a dignidade que a Providência Divina, a quem rendemos graças, imprimiu em cada um de nós”.
Fonte bibliográficas:
Friozzi, Gustavo – José Ignácio Lobo in A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º Aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, págs. 104-107.
Acervo do jornal O Estado de São Paulo.
Friozzi, Gustavo – José Ignácio Lobo in A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º Aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, págs. 104-107.
Acervo do jornal O Estado de São Paulo.
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