segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Biografia de Archimede Busacca


Baseada em texto de Renato de Toledo

     “Archimede de Busacca, o imprevisível”. Com esse título, Sylvio Abreu Fialho relembrou a figura deste cientista que foi, também, um dos fundadores da Escola Paulista de Medicina.
     Imprevisível sim. Seu gênio difícil, habitualmente áspero, ríspido e mordaz na apreciação de pessoas e de coisas, deixando, apenas de quando em quando, transparecer seu fundo de bondade, criou mais antipatias e inimizades do que estima entre os oftalmologistas de São Paulo, que não o conheceram de perto.
     Talvez por isso tenha permanecido tão pouco entre os professores da EPM. Fundador, como os demais, deveria reger a Cadeira de Histologia até que chegasse a oportunidade da instalação da oftalmologia, para a qual se transferiria. Tal não aconteceu. No entanto, nunca foi negado o reconhecimento ao saber de Busacca. No Brasil e em outros países seus trabalhos foram citados e constaram entre os clássicos da oftalmologia universal.
     Pesquisador, muito mais clínico do que cirurgião, atividades para as quais não tinha paciência ou dom, desenvolveu a biomicroscopia ocular relacionando-a aos achados histopatológicos, como poucos fizeram.
     Essa sua predileção pela patologia oftalmológica veio desde sua formação universitária. Quando cursava o 2º ano de medicina, com 18 anos de idade, era já interno do Instituto Anatômico de Palermo, pa ssando posteriormente a Assistente, onde ficou até 1920. Em 1921 passou a Adjunto do Instituto de Patologia Geral de Palermo, quando se transferiu para a oftalmologia, ocupando o cargo de assistente nas Faculdades de Cagliari, Turim, Bolonha e Florença.
     Em 1926 fez concurso para Livre Docente em Oftalmologia em Florença, quando já apresentava relação de 33 publicações, a maioria sobre histologia, fisiopatologia e clínica oftalmológicas.
     Em 1928, transfere-se para São Paulo, revalidando seu diploma na então Faculdade Nacional de Medicina. Sua produção científica continua ininterrupta e com o mesmo ritmo, até março de 1971, quando faleceu, constando de seu currículo a relação de 155 trabalhos publicados em periódicos, além de 4 livros, um deles em 3 volumes, sobre biomicroscopia ocular. Praticamente nada publicou em português. Seus trabalhos figuram nas revistas alemãs, francesas e italianas.
     Busacca viveu exclusivamente para o estudo. Trabalhador incansável, avesso às atividades sociais, residindo sozinho no casarão onde também tinha seu consultório, fechava-se na enorme biblioteca todas as tardes, ao encerrar as consultas e, até altas horas, lia, revia casos de interesse, analisava desenhos de seus auxiliares, redigia trabalhos. Os poucos colegas que com ele estudavam, eram submetidos ao mesmo regime. Não admitia falha de interpretação e muito menos de observação.
     Orientou trabalhos de oftalmologistas de todo o Brasil, esclareceu dúvidas de quantos o procuraram, mas não fez continuadores.
     Momentos antes de sua morte, no Hospital da Escola que ajudou a fundar, o Dr. Renato de Toledo foi, atendendo a recomendação expressa em carta por ele entregue a seu advogado, examinar suas córneas, que deixaria para que o Banco de Córneas de São Paulo as transplantasse em dois pacientes por ele indicados.
     Conforme relato do Dr. Renato de Toledo: “Examinei, comovido, aqueles olhos sem vida, que durante sessenta anos esmiuçaram outros, e que, por sua vontade, num nobre gesto, continuariam a ajudar a ver”.
     Ainda informações adicionais sobre Archimede Busacca foram prestadas por Durval Livramento do Prado a Ribeiro do Valle:
     Busacca nasceu em Basico, Messina, na Itália, em 27 de janeiro de 1893 e diplomou-se em medicina pela Universidade de Palermo, em 1916, como aluno brilhante. Foi assistente do Instituto Anatômico de Palermo e adjunto de várias clínicas oftalmológicas universitárias. Recebeu a Cruz de Guerra por serviços prestados durante a Primeira Guerra. Em 1926 conquistou o título de Livre Docente de Clínica Oculística e honroso parecer da comissão examinadora. Seus Elements de Gonioscopie Normale, Pathologique et Experimentale foram publicados em São Paulo, em 1945, pela Tipografia Rossolillo; os 3 volumes da Biomicroscopie et Histopathologie de l’Oeil, em Zurich; a Biomicroscopie du Corps Vitre et du Fond de l’Oeil, por Masson et Cie., em Paris, em 1957 e o Manuel de Biomicroscopie Oculaire também em Paris, em 1966, por Doin-Deren et Cie.
     Antes de morrer, doou seus olhos a dois de seus clientes mais pobres, um olho para cada um, aos quais somente um transplante de córnea poderia lhes devolver a visão. A operação foi efetuada pela Sociedade Banco de Olhos do Estado de São Paulo, em São Paulo, com amplos resultados para os dois pacientes.
     Faleceu Busacca em São Paulo em março de 1971.

Referência bibliográfica:
Toledo, R. – Archimede Busacca (1893-1971) in A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º Aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes. Organizado por José Ribeiro do Valle. Empresa Gráfica Revista dos Tribunais, 1977, páginas 46-49. 

3 comentários:

  1. Bom dia
    Tive a oportunidade de ser atendido por esse brilhante médico.quando jovem.
    Italiano de voz áspera mas muito dedicado a profissão.
    Com uma atitude humanitária suas córneas foram doadas aos mais necessitados.
    Lindo gesto
    Deve estar no mundo espiritual prestando auxílio aos filhos de Deus.

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  2. Fui atendido por ele em 1964, era estudante de medicina na santa casa, nao cobrou, a consulta, consultorio em um casarão da brigadeiro luiz antonio, já era um senhor, mas em otima forma. Não esqueço tambem de sua assistente, uma sra japoneza que trocava as lentes sob seu comando

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