Lemos Torres - História da Medicina Paulista
quarta-feira, 24 de janeiro de 2024
Origem do Emblema da Escola Paulista de Medicina
domingo, 19 de novembro de 2023
Biografia do Prof. Dr. Azarias de Andrade Carvalho
A partir de texto de Mauro Zucato e complementos de outras fontes
Azarias de
Andrade Carvalho nasceu em Araraquara, aos 19 de julho de 1915. Fez o curso
primário no Colégio Mackenzie de sua cidade natal e o secundário no Ginásio São
Luiz de Jaboticabal. Ingressou na Faculdade Nacional de Medicina da
Universidade do Brasil em 1933, tendo se diplomado em 1938. Seu interesse pela
Pediatria surgiu durante o Curso, de modo que, no sexto ano, estagiou como
Acadêmico no Serviço de Pediatria da Policlínica de Botafogo.
Em maio de
1939 iniciou sua carreira universitária, ingressando como Assistente extranumerário
da Cadeira de Clínica Pediátrica Médica e Higiene Infantil da Escola Paulista
de Medicina. Demonstrando grande pendor pela carreira universitária, foi logo
galgando novos escalões, sendo que, em 1942, passou a terceiro Assistente e, em
1944, a segundo Assistente da referida Clínica, onde permaneceu até dezembro de
1946. Exerceu ainda as funções de Assistente da Clínica Pediátrica da Escola Paulista
de Enfermagem, no período de 1940 a 1946, e de Professor de Puericultura da
Escola de Serviço Social, funcionando então como Instituto Complementar da
Pontifícia Universidade Católica, nos anos de 1945 a 1961. Foi também Professor
de Puericultura do Curso de Formação Familiar mantido pelo Centro de Estudos e
Ação Social, nos anos de 1944 a 1947 e de Puericultura e Clínica Pediátrica da
Escola de Enfermagem “São Francisco de Assis”, reconhecida pelo Governo
Federal, até a sua transferência para Sorocaba.
Deixando a
Clínica Pediátrica da Escola Paulista de Medicina em 1947, o Prof. Dr. Azarias
entrou na Clínica Pediátrica da Universidade de São Paulo, onde defendeu tese
de Livre-Docência em concurso realizado de 19 a 24 de novembro de 1956, tendo
obtido o título com distinção.
A partir de
junho de 1958 voltou à Escola Paulista de Medicina na qualidade de Professor
Interino de Clínica Pediátrica e Higiene Infantil, tendo permanecido nessas funções
até 1964, quando, após brilhante concurso realizado em 1963, passou a Professor
Catedrático e, posteriormente, Titular e Chefe do Departamento de Pediatria da
Escola Paulista de Medicina. Nesse Departamento, revelou-se emérito professor,
demonstrando ainda qualidades de liderança e organização. Reestruturou o
Departamento, melhorou consideravelmente o curso de graduação, tornando-o um
dos melhores cursos de Pediatria do país e organizou o curso de Residência
Médica à altura do que é desenvolvido nas melhores faculdades.
Mostrou-se
grande entusiasta no setor de Pediatria Social, estimulando seu desenvolvimento
através de cursos especializados e criação de Serviço de Pediatria Social Rural
no Departamento que dirigiu.
Foi Presidente
da Sociedade Paulista para o Desenvolvimento da Medicina, de 1967 a 1970. De
1968 a 1970 foi Superintendente do Hospital São Paulo, tendo demonstrado grande
pendor para esta função, pois ao fim do seu mandato havia conseguido superar
grandes dificuldades enfrentadas pelo Hospital.
Com grande
prestígio junto à classe pediátrica de São Paulo, foi eleito Presidente do
Departamento de Pediatria da Associação Paulista de Medicina, em 1951.
Em 1963, foi
eleito Alternate Chairman do XI Distrito (Capítulo Brasileiro) da American
Academy of Pediatrics, sendo que, em 1968, passou a Chairman da referida
Academia e tornou-se Membro do International Committee of Child Health
da AAP.
Com a
finalidade de aprimorar seus conhecimentos, em 1968, esteve por três meses no
estrangeiro, tendo frequentado as escolas médicas de Yale, Nova York, Clínica
Mayo, Denver, e Oklahoma, nos Estados Unidos e de Cali, na Colômbia.
Num gesto de
reconhecimento pelas suas qualidades humanas e de organização frente ao Departamento
de Pediatria, foi diversas vezes homenageado pelos alunos e eleito paraninfo da
turma de formandos do ano de 1963.
Na qualidade
de pesquisador, no decorrer da sua vida universitária, publicou diversos
trabalhos, tendo conseguido diversos prêmios, entre eles, Nestlé 1953,
Margarido Filho 1954, Miguel Couto 1955, Diogo Faria 1955 e, posteriormente,
outros próprios ou em colaboração com elementos do Departamento de Pediatria da
Escola Paulista de Medicina. Mereceram especial destaque seus trabalhos
realizados sobre a etiopatogenia da anemia ancilostomótica na criança.
Em 1974, o
Dr. Azarias foi o responsável pela criação do setor de Gastroenterologia
Pediátrica da EPM. O setor cresceu e, a partir de 1982, deu início à formação de
Mestres e Doutores, de modo que, em 1985, foi criada oficialmente a Disciplina
de Gastroenterologia Pediátrica do Departamento de Pediatria da EPM.
No início da
década de 60, ele criou uma área incialmente chamada de Setor de Higiene Mental,
no qual procurava-se atender crianças até 12 anos e adolescente grávidas de 10
a 19 anos.
Em 1993, o
Prof. Azarias criou o Centro de Atendimento e de Apoio ao Adolescente (CAAA).
Contando com equipe multiprofissional, tal centro, nos seis anos iniciais, contou
apenas com o Dr. Azarias, Dr. Antonio da Silva Queiroz e dois estagiários.
O Prof. Dr.
Azarias de Carvalho relatou que não foi fácil reestruturar a Pediatria na EPM. Para
a construção do Departamento de Pediatria, foi necessário esclarecer junto à
Congregação a importância da atenção à saúde da criança: “Era preciso mostrar
que os cuidados eram diferentes, que existem peculiaridades especiais
diferentes das do adulto, que devem ser integradas no preparo do médico. Não
foi tranquila a luta para reestruturar a Pediatria, em face do destaque que, na
época, era dado aos problemas e patologias do adulto, menosprezando as crianças
e os jovens, que alguns resumiam, jocosamente, a mamadeira, diarreia e birras.
Esqueciam-se, ou não levavam em consideração, que, no Brasil, os menores de 15
anos, os futuros adultos, representavam mais de 45% da população e a
mortalidade infantil oscilava entre 100 e 200 casos a cada mil nascidos,
chegando, em muitas regiões, a bem mais”, recordava Azarias.
Como fruto da
conscientização progressiva da direção da EPM, houve renovação curricular com
aumento substancial da carga horária dedicada ao ensino de Pediatria e oportunidade
para melhor aproveitamento dos ensinamentos. Dizia ele: “Assim, o ensino da
Pediatria começava na quarta série e o sexto ano transformou-se em Internato”.
Após
reestruturar o Departamento de Pediatria, Azarias criou três disciplinas: Pediatria
Clínica, Puericultura-Pediatria Social e Neonatologia. “Um dos ponto difíceis
foi a reconquista do direito dos docentes da Pediatria assistirem os
recém-nascidos. Por desavenças anteriores, não podiam ingressar no berçário,
domínio absoluto da cátedra de Obstetrícia. Com paciência e calma, conseguimos
autorização para tal”, disse Azarias.
A
especialidade cresceu e foram implantados Internato, Residência, Mestrado e
Doutorado. Ainda, segundo o professor, a pós-graduação em senso estrito em
Pediatria foi a segunda ou terceira a ser implantada na área Clínica na EPM e a
quarta no Brasil.
Seguem ainda
aqui duas declarações do Prof. Dr. Azarias de Carvalho:
Sobre o cargo
de Chefe do Departamento: “A Chefia do Departamento deve atuar ativamente nos
colegiados da instituição para defender as necessidades de seu Departamento no
que se refere à assistência aos doentes, ao ensino e à pesquisa e aos docentes,
alunos e funcionários, sabendo compreender e respeitar as possibilidades e
dificuldades da instituição como um todo. Foi isso que procurei fazer”.
E ainda sobre
seu trabalho: “Pedi a aposentadoria antes da idade compulsória, que seria em
1982. Voltei, então, a ocupar a posição confortável e gratificante de docente
voluntário desta Escola amiga, posição esta que exerci no início de minha
carreira universitária e que até hoje exerço com prazer e satisfação”.
O Prof. Dr.
Azarias de Andrade Carvalho teve seis filhos, dois netos e dois bisnetos e
faleceu em 17 de maio de 2008, aos 92 anos.
Fontes bibliográficas:
Zucato, M. – Azarias de Andrade Carvalho in Valle, J.R.
– A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º Aniversário
(1933-1973) e Anotações Recentes, Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977,
pp. 159-161.
Cremesp – Homenagem Azarias de Andrade Carvalho, um dos mais
importantes pediatras brasileiros, Edição 214, junho de 2005. Localizável em https://www.cremesp.org.br/?siteAcao=Jornal&id=529
Folha de São Paulo – Cotidiano – Azarias de Andrade Carvalho
(1915-2008) Localizável em https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2905200831.htm
quinta-feira, 13 de julho de 2023
Um fundador da Escola Paulista de Medicina na Segunda Guerra Mundial: Prof. Dr. Alípio Correia Neto.
segunda-feira, 5 de junho de 2023
90 anos da Escola Paulista de Medicina - Famílias Epemistas
É comum designar-se a “Comunidade Epemista” também como uma “Família
Epemista”, e isso serve tanto para o sentido simbólico como para o sentido
literal do termo, pois diversos foram os familiares que acabaram fazendo parte
da Escola Paulista de Medicina (EPM), tanto como estudantes, como professores,
médicos e outras categorias profissionais.
Uma dessas famílias foi a Raposo do Amaral e seus descendentes. Como aqui
já foi mencionado o Prof. Dr. José Raposo do Amaral (1923-2006) formou-se na
EPM em 1949 (foto 1). Por sua vez, seu sobrinho, Dr. Júlio Raposo do Amaral
(1933-2016) formou-se na EPM em 1959 (foto 2), uma turma que depois teve vários
professores da Escola, como Benjamin Kopelman, Kalil Farhat, José Kerbauy, Luiz
Kulay, Fernando Braga, entre outros.
Fotos
1 e 2
Além
disso, a Sra. Consuelo Bordini, cunhada do Prof. José Raposo, foi secretária e
técnica de laboratório no Departamento de Patologia, tendo começado seu
trabalho na EPM muito jovem, em 1953. Iniciou na Patologia Geral com o Prof.
Marcos Lindemberg. Depois trabalhou na Anatomia Patológica com o Prof.
Pasqualucci e depois com o Prof. Michalany. Após isso, trabalhou também na
Patologia Clínica com o Prof. Sílvio Carvalhal e depois com o Prof. Saad. Em
1990, aposentou-se (foto 3).
A mesma família Raposo do Amaral tem proximidades com os familiares dos
antigos proprietários do terreno em que se instalou a EPM. Eles têm contatos
com o Sr. Luiz Antonio Paiga, neto do psiquiatra Dr. Joaquim Basílio Pennino;
este, por sua vez, era genro do antigo proprietário da futura área da EPM, Sr. Schiffini.
Dessa forma podemos aqui
apresentar a foto do Sr. Luigi Schiffini, proprietário da Chácara Thereza Schiffini,
nome de sua filha (esposa do Dr. Pennino), onde depois ficaram as instalações
da EPM e do Hospital São Paulo (HSP) (foto 4).
Também temos a foto da Residência do Dr. Joaquim B. Pennino, dentro dessa
mesma área, que em 1937 foi transformada no Pavilhão Maria Thereza (por doações
da Sra. Maria Thereza Azevedo). Tal local foi o primeiro espaço da internação
de pacientes da EPM e HSP (foto 5).
Apresentamos,
a seguir, a foto do Dr. Joaquim B. Pennino, acompanhado de sua esposa, Sra.
Thereza Schiffini Pennino, filha do Sr. Luigi Schiffini (foto 6).
O Dr. Pennino era psiquiatra e desenvolveu
terapia baseada em estudos de Carl Gustav Jung. Nessa linha, o estabelecimento
que antecedeu a EPM era uma espécie de escola de pessoas “excepcionais”,
conforme a terminologia de então, que procurava integrá-los à sociedade. A
esposa do Dr. Pennino, Thereza, conhecia a língua alemã e ficava lendo os
livros de Jung para seu marido. Segundo informam, existe até uma carta do Dr.
Jung dizendo que a terapia do Dr. Pennino estava certa.
No intuito de integrar os pacientes à sociedade, a Sra. Thereza levava
grupos de até oito alunos/pacientes dessa escola ao restaurante Fasano, então
no centro da cidade, para tomarem chá.
Podemos ver
abaixo a casa que ficava na esquina da Rua Botucatu com a Pedro de Toledo por
outro ângulo em uma foto com o Sr. Luigi Schiffini, sua esposa Antonia Salerno
Schiffini e sua filha Thereza (foto 7).
Conforme informações do Sr.
Paiga, bisneto do Sr. Schiffini, todo o quarteirão pertencia à propriedade do
Sr. Schiffini e, por sua vez, a instituição era organizada pelo Dr. Pennino. O
endereço de então correspondia à Rua Botucatu, número 90, conforme podemos ler
na informação do Dr. Octavio de Carvalho em sua História da EPM, à página 7. Esse
endereço levou a certa confusão com uma outra instituição, o Colégio Ypiranga,
que usava dois endereços, na Rua Domingos de Moraes, nº76 e na Rua Botucatu, 90
(hoje, número 720). Na verdade, conforme o Sr. Paiga, esse duplo endereço pode
ter sido usado quando o próprio Sr. Schiffini foi também dono desse referido
colégio.
Na foto 8, pode ser observada uma
piscina que ficava dentro do quarteirão que era usada para as atividades de
apoio e terapêuticas do Dr. Pennino em sua instituição.
Seguindo
a tradição da família Amaral, a qual iniciou este texto, Ana Maria do Amaral
Antonio, sobrinha-neta do Prof. Dr. José Raposo e sobrinha do Dr. Júlio Raposo,
também se formou médica na EPM, em 1986 (turma 49), especializando-se em
Patologia, sendo que, posteriormente, cursou a pós-graduação também na
EPM-Unifesp (foto 9).
Fontes
bibliográficas:
Família Amaral.
Depoimentos e fotos.
Luiz Antonio
Paiga. Depoimentos e fotos.
Carvalho, Octavio.
História da Escola Paulista de Medicina – Curriculum Vitae. Editor Borsol, RJ,
1969.
sábado, 3 de junho de 2023
90 anos da Escola Paulista de Medicina - Os Fundadores
Existe certa polêmica a respeito de quantos e quais foram os fundadores da Escola Paulista de Medicina (EPM) em 1933, polêmica essa compreensível, em virtude de que o início e a instalação dessa instituição se deram no calor de acontecimentos vários na sociedade brasileira, bem como mais especificamente na sociedade paulista, tanto a respeito do momento político, quanto da necessidade da criação de mais uma escola médica em São Paulo.
No livro do Prof.
Dr. Durval Rosa Borges, intitulado “De quanto tal viagem pede e manda”, de
2019, às páginas 149 e 151, em trecho sobre a fundação da EPM, ele escreve:
“A ‘semente milagrosa’ foi lançada por 31 médicos com idade
variando de 26 a 54 anos (mediana de 34), sete dos quais solteiros na ocasião
(1933). Dois engenheiros haviam também subscrito o manifesto publicado a 1º de
junho de 1933 (Figura 7.3), mas não assinaram a escritura da fundação e
organização outorgada a 26 de junho de 1933. De fato, o parágrafo único do
artigo 7º dos Estatutos da Escola Paulista de Medicina (25 de junho de 1933,
figuras 7.4 e 7.5) de redação dos outorgantes estabelecia que “para ser sócio
fundador ou efetivo, é requisito essencial ser médico legalmente habilitado”.
Dos fundadores, vinte eram nascidos em São Paulo (catorze na capital) e onze em
outros locais (sete no Rio de Janeiro, dois na Itália). Formaram-se catorze na Faculdade
Nacional de Medicina no Rio de Janeiro, doze na Faculdade de Medicina e
Cirurgia de São Paulo e cinco em outras instituições. Dos 31 médicos fundadores
(mediana de 34 anos de idade), 25 (mediana de 33 anos de idade) vieram a efetivamente
atuar na EPM”.
Embora haja essa
informação de que nem todos os fundadores tivessem atuado efetivamente na EPM,
Borges informa que o patrimônio inicial da escola foi constituído por 31 cotas
de cinco contos de réis que cada fundador integralizou no período de cinco anos,
ou seja, de 1933 a 1937, totalizando a soma de 155 contos de réis.
Do livro da
historiadora Márcia Regina Barros da Silva intitulado “Estratégias da Ciência:
A História da Escola Paulista de Medicina (1933-1956)”, publicado em 2003, correspondente
à tese de mestrado de semelhante título, defendida no Departamento de História
da Universidade de São Paulo, às páginas
34 e 35, extraímos os nomes dos 31 médicos e 2 engenheiros que subscreveram o
Manifesto de Fundação, que foi publicado nos jornais de 1º de junho de 1933,
conforme segue abaixo, em ordem pelo ano de formatura (esta contagem dá 15
formados no RJ e 11 em SP, uma diferença de 1 em relação ao Prof. Borges):
Nome
Formatura Faculdade
1 Henrique Rocha Lima 1901 FMRJ
2 Álvaro Lemos Torres 1907 FMRJ
3 Carlos Fernandes 1911 FMRJ
4 João Moreira da Rocha 1915 FMRJ
5 Octavio de Carvalho 1915 FMRJ
6 Afrânio do Amaral 1916 FMBa
7 Archimede Bussaca 1916
U. de Palermo
8 Domingos Define 1916 FMRJ
9 Nicolau Rossetti 1917
U. de Nápoles
10 Alípio Corrêa Neto 1918 FMSP
11 Antonio Prudente 1918 FMSP
12 Paulo Mangabeira Albernaz 1919 FMBa
13 Antonio Carlos Pacheco e Silva 1920 FMRJ
14 Antonio Almeida Junior 1921 FMSP
15 Olivério Mário de Oliveira Pinto 1921 FMBa
16 Felício Cintra do Prado 1922 FMSP
17 Felipe Figliolini 1922 FMRJ
18 Flávio da Fonseca 1923 FMRJ
19 Jairo Ramos 1923 FMSP
20 José Medina 1923 FMSP
21 Fausto Guerner 1924 FMRJ
22 José Ignácio Lobo 1924 FMSP
23 Marcos Lindenberg 1924 FMRJ
24 Pedro de Alcântara 1924 FMSP
25 Álvaro Guimarães Filho 1925 FMSP
26 Antonio Bernardes de Oliveira 1925 FMSP
27 Décio de Queiroz Telles 1925 FMRJ
28 José Maria de Freitas 1927 FMSP
29 Rodolpho de Freitas 1927 FMRJ
30 Otto Bier 1928 FMRJ
31 Dorival Macedo Cardoso 1930 FMRJ
Dois Engenheiros que assinaram o manifesto:
Eduardo Ribeiro da Costa 1916 Escola
de Minas de Ouro Preto
Luiz Cintra do Prado 1927 Escola Politécnica de S.P.
Fontes bibliográficas:
Borges, Durval Rosa. De Quanto Tal Viagem Pede e Manda. Volume
6 de Fragmentos de Memória (1969-1975). Kato Editorial, 2019.
Silva, Márcia Regina Barros. Estratégias da Ciência: A
História da Escola Paulista de Medicina (1933-1956). Série Ciência, Saúde e
Educação. CDAPH. Editora Universitária São Francisco, 2003.
segunda-feira, 1 de maio de 2023
Turma de 1949 da Escola Paulista de Medicina, com alguns destaques.
quarta-feira, 26 de abril de 2023
Biografia do Prof. Dr. José Ramos Junior
A
partir de texto do Prof. Dr. José Carlos Ramos de Oliveira
José Ramos de Oliveira Júnior, que se
tornou mais conhecido como José Ramos Junior, nasceu na cidade de Cachoeira
Paulista, no estado de São Paulo, no dia 5 de novembro de 1911. Filho de José
Ramos de Oliveira e de Dona Noêmia Macedo Ramos de Oliveira, passou sua
primeira infância em sua cidade natal, e depois mudou-se com os pais para a
capital do estado, vindo a morar no bairro do Brás.
José Ramos teve uma irmã e dois
irmãos, sendo que o mais novo também estudou medicina, tornando-se cirurgião e
professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, o Prof. Dr.
Mário Ramos de Oliveira, que, além disso, chegou a ser Diretor dessa mesma
Faculdade.
O professor José Ramos Júnior, como
era conhecido no meio acadêmico e profissional, fez seus estudos secundários no
“Gymnasio do Estado de São Paulo”, onde ingressou em 1924 e bacharelou-se
no ano de 1929, conforme se designava então essa formatura algo equivalente a
um segundo grau, guardadas as devidas diferenças.
Após um ano de preparação, ele ingressou
na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, graduando-se médico na
turma de 1936. Durante o curso de medicina, José Ramos Junior dava aulas
particulares a alunos interessados em prestar exames para o ingresso na
Faculdade de Medicina, de modo que, com isso, desenvolveu sua aptidão para ser
professor.
Ele fez estágios em Clínica Médica no
serviço do Prof. Rubião Meira na Santa Casa de São Paulo e no serviço do Prof.
Jairo Ramos na Escola Paulista de Medicina, onde, além da assistência aos
pacientes, ministrava ensinamentos a graduandos de medicina e médicos
recém-formados. Inclusive, ele foi citado pelo Prof. Dr. José Reynaldo
Marcondes no livro sobre os 40 anos da Escola Paulista de Medicina, a respeito
do ensino prático a partir de 1936, conforme vemos no texto a seguir (grifo
nosso):
“Éramos
todos da 2ª Enfermaria da Santa Casa, serviço do Prof. Rubião Meira, recrutados
pelo Jairo para iniciar o ensino de Clínica Propedêutica Médica na EPM. O
método da Escola Lemos Torres – o ensino objetivo, o exame integral acurado do
doente e sua técnica, o ensino individual, a valorização dos fatos concretos, o
método de raciocínio que leva ao diagnóstico, afastadas as ideias preconcebidas
e desmoralizada a intuição clínica – ia ser semeado na nova escola por aquele
que melhor aprendera os seus princípios, Jairo Ramos. A EPM não tinha hospital
nem ambulatório, aventuraram um à Rua Tabatinguera. Octavio de Carvalho
conseguiu que a direção do Hospital Matarazzo cedesse uma enfermaria vazia, sem
leitos e sem doentes. Comprou camas, colchões e iniciamos o ensino. As aulas
começavam a uma hora da tarde. Eu chegava antes e convidava os doentes que
estavam repousando no jardim do hospital a virem se deitar nas camas a fim de
que, em seus corpos, se ensinasse a propedêutica física – inspeção, palpação,
percussão e ausculta. Vieram no início por curiosidade e a dois mil réis.
Depois era preciso que eu os trouxesse pelo braço e com palavras de persuasão.
Em seguida foi preciso aumentar o preço: cinco mil réis e muita lábia. Mas
ensinávamos. Cada assistente – Sabino, Tranchese, Lotufo, Ignácio, José
Ramos, Macedo, João Grieco, Reynaldo – ensinava – ensinava a turmas de 6 a
8 estudantes. Após esta aula prática havia outra teórica, quase sempre ministrada
pelo Jairo, que chegava mais tarde. Foi uma luta, principalmente por parte dos
que tinham que acomodar os doentes, cada vez menos dispostos a colaborar. Mas
só isto não bastava. Mais de uma vez eu levei em meu automóvel um doente e sua
observação clínica, da 2ª Enfermaria. Eu almoçava em casa e seguia para a aula
do Jairo, depois de nossa aula prática, desta vez com um caso clínico mesmo.”
Podemos ver, então, que o Prof. Dr.
José Ramos Junior recebeu sua formação nessa assim chamada “Escola Lemos Torres”
que caracterizava toda uma inovação na maneira de abordar o paciente e de
formular as hipóteses diagnósticas. O sucessor do Prof. Dr. Lemos Torres foi o
Prof. Dr. Jairo Ramos, ambos entre os fundadores da Escola Paulista de Medicina
em 1933 e influenciadores de José Ramos.
José Ramos Junior especializou-se em Clínica Médica e Cardiologia. Exerceu
essas atividades em consultório privado, bem como sendo médico concursado junto
ao antigo Instituto de Aposentadoria e
Pensões dos Empregados em Transportes e Cargas (IAPETC), que era uma autarquia
do Governo Federal, desde sua inauguração na capital paulista em 1938. Suas
funções nessa instituição duraram até a extinção do IAPTEC em 1966, quando os
diferentes IAPs fundiram-se no antigo INPS (Instituto Nacional de Previdência
Social).
No ano de 1940, José Ramos casou-se
com a professora de ensino primário Maria Apparecida Amalfi, que adotou o nome
de casada de Maria Apparecida Ramos de Oliveira. O casal teve quatro filhos,
Maria Lúcia (secretária e agente de comércio exterior), José Carlos (também
médico e professor de Medicina), José Eduardo (engenheiro) e Maria Cecília
(professora de ensino fundamental).
No ano de 1953, a convite do
Professor Doutor Antônio Prudente, o Prof. José Ramos passou a exercer sua especialidade
de clínico no recém-inaugurado Hospital do Câncer da Associação Paulista de
Combate ao Câncer (APCC). No ano
seguinte, patrocinado pela APCC, ele fez estágio no Sloan Kettering Hospital,
em Nova Iorque, onde obteve o título de Oncologista Clínico e aprendeu os
fundamentos e a prática da quimioterapia para tratamento do câncer. Desde então,
tornou-se Diretor do Departamento de Medicina Interna do Instituto Central da
APCC até 1970.
Na década de 1950, o Prof. Dr. José
Ramos iniciou sua carreira como Professor Titular de Clínica Propedêutica
Médica da Faculdade de Medicina de Sorocaba da Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo. A partir de 1970, também se tornou Professor Titular de Oncologia
Cínica da Faculdade de Medicina do Centro de Ciências Biológicas e Médicas da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, que agregou também a antiga Faculdade de Medicina
de Sorocaba.
A convite do Diretor do Departamento
de Câncer do Ministério da Saúde do Governo Federal, ministrou, com outros
oncologistas, durante os anos de 1974 e 1975, Cursos Intensivos de Oncologia
Clínica (CIOC) na maioria das capitais brasileiras. Tais cursos, de 40 horas,
tiveram por objetivo difundir a necessidade de que as escolas de medicina
ministrassem especificamente a disciplina de Oncologia Clínica em suas grades
curriculares.
Na década de 1960, recebeu o título
de Fellow of the American College of Physicians (F.A.C.P.).
O Prof. Dr. José Ramos Junior publicou vários artigos científicos, seja na
observação clínica de pacientes, como também na pesquisa clínica. Ainda nos
anos 60, recebeu o prêmio Pravaz-Recordati pelo trabalho experimental realizado
em animais de laboratório que recebiam altas doses de corticosteroides,
equivalentes ao que pacientes com câncer recebiam como tratamento, muitos
apresentando morte súbita. Nesse trabalho mostrou que as altas doses de
corticoides nos animais de experimentação, provocavam lesões necróticas no
miocárdio.
Em 1990, o Dr. Ramos Junior tornou-se Professor e Orientador contratado pela Disciplina de Clínica Médica e de Semiologia Clínica da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (Unicamp), por convite do Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti, então Reitor dessa Universidade.
Além dos vários trabalhos científicos
publicados, o Prof. Ramos Jr. publicou quatro livros, onde colocou toda sua
vivência como clínico, cardiologista, oncologista e observador da alma humana.
O primeiro livro, sem dúvida o de
maior sucesso, pois ainda de uso prático até hoje, foi “Semiotécnica da
Observação Clínica- Síndromes Clínico-Propedêuticas”. Publicado em junho de
1970, pela Editora Sarvier - Editora de Livros Médicos S.A. chegou a mais 3
edições, em 2 volumes. revisadas e atualizadas por ele, e depois em mais 2 edições,
quando os dois volumes foram compostos em um único tomo pela equipe editorial. No
prefácio de sua primeira edição, o Prof. José Ramos Júnior faz a síntese do
livro com a afirmação de que a obra “mostra a prática médica do exame
clínico, a síntese da fisiopatologia de cada sintoma e de cada sinal, para
servir ao raciocínio e à compreensão das suas semiogêneses”. De certa forma,
o Professor Dr. José Ramos Junior colocou em texto detalhado uma espécie de
elaboração daquilo que começou como “Escola Lemos Torres”.
O outro livro, “Oncologia Clínica”, foi publicado também pela editora Sarvier, alcançando 2 edições (1979 e 1984). Neste livro, o Prof. Ramos Jr., ao lado da descrição pormenorizada de tumores sólidos, leucemias e linfomas, sua oncogênese, classificação e tratamento cirúrgico, quimioterápico e radioterápico, avançou em conceitos da genética dos cânceres e das perspectivas futuras da imunoterapia para o tratamento do câncer. Comentou também das razões para a criação da disciplina de oncologia clínica nos cursos de medicina, o que também indica sua originalidade e criatividade ao propor inovações no curso médico nessa ocasião.
Em 1990, o Prof. Ramos Junior publicou o livro "Disritmia Encefálica Paroxística Primária", pela Editora Sarvier. Nessa obra ele colocou como objetivo "firmar conceitos fisiopatológicos, anatomopatológicos, e pirncipalmente clínicos e da semiotécnica da Anamnese... o propósito é tornar a descrição clínica mais completa... para que a assistência ao paciente seja a mais adequada". Não vem ao caso aqui um eventual julgamento neurológico desse conceito. Trata-se antes, como ele frisou, ainda de uma abordagem clínica adequada ao paciente, dentro dos moldes da época dessa produção.
Já o médico observador da alma humana
apareceu na monografia “Personalidade”, publicada pela Editora Sarvier
em 1991. Neste trabalho, publicado no ano que antecedeu seu falecimento, o
autor colocou sua experiência como arguto observador dos tipos de personalidade
que enriqueceram sua longa vida de médico e professor. No prefácio enfatizou: “Toda
a dissertação contida nos capítulos teve a insistente preocupação didática em
reunir e sintetizar os conhecimentos científicos sobre os tipos de
personalidade...com o propósito de ser útil para o estudante de medicina, para
os médicos, para o sociólogo, para o professor, para o advogado, para o
psicólogo”.
Após ter sofrido um Acidente Vascular Cerebral Isquêmico em novembro de
1991, que limitou sua prática clínica e suas atividades docentes, o Prof. José
Ramos de Oliveira Júnior faleceu no Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo, em 07
de outubro de 1992, por parada cardiorrespiratória consequente a um infarto
agudo do miocárdio.
Fontes
Bibliográficas:
Oliveira,
J.C.R. Dados Biográficos sobre o Prof. Dr. José Ramos Junior, 2023.
Valle,
J. R. – A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º Aniversário
(1933-1973) e anotações recentes. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977.