sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

Biografia do Prof. Dr. Humberto Delboni Filho

 


     Humberto Delboni Filho nasceu em 22 de janeiro de 1934, na cidade de São José do Rio Preto, então chamada apenas de Rio Preto, no estado de São Paulo.

     Informou o Prof. Delboni, em relato feito ao CeHFi (Centro de História e Filosofia das Ciências da Saúde da EPM-Unifesp) que faz parte de uma terceira geração de imigrantes italianos. Seu pai era um farmacêutico formado em 1911 pela Escola de Farmácia, Odontologia e Obstetrícia de São Paulo. Lembrou que seu pai tinha cultura e boa reputação, e, naquela época, eventualmente substituía o médico. Aos dez anos de idade, Delboni já fazia uma espécie de papel de “secretário” de seu pai. Tinham uma pequena biblioteca, da qual ele, mais especificamente, destacou e conservou o “Formulário e Guia Médico”, de Pedro Luiz Napoleão Chernoviz, 18ª edição, de 1908.

     Este livro, que também era chamado por alguns de “Chernovitz”, foi citado por autores literários dos séculos XIX e XX e era uma espécie de Manual Geral de medicina, do qual se serviam médicos e outros profissionais, com um caráter, até certo ponto, um tanto mítico, até mesmo com estudos sobre o seu papel na sociedade de então.

     O pai do Dr. Delboni sempre o fazia consultar o Chernoviz para saber coisas as mais variadas. Seu irmão, Valyrio Luiz Delboni, que se formou pela Escola Paulista de Medicina EPM} em 1950, serviu de estímulo para cursar a medicina.

     Em 1952, Delboni ingressou na EPM.  No segundo ano, o Chefe do Laboratório Central do Hospital São Paulo (HSP) era o Prof. João Marques de Castro. Ele oferecia estágio aos alunos do segundo ano no Laboratório. Tratava-se de um estágio que não conflitava com o horário curricular. O número de vagas era limitado e o Prof. Castro dava preferência aos alunos que não tivessem ficado de segunda época no ano anterior, embora comentasse que esse critério teria suas limitações.

     O Prof. Delboni acentuou que o estágio era muito rigoroso, usando a palavra “germânico” para frisar seu rigor. Havia horários a serem cumpridos mesmo às cinco da tarde de sábado. O Prof. João ia para o anfiteatro do segundo andar cinco minutos antes das dezessete horas, acompanhado do assistente mais graduado. Eventualmente, um grupo de alunos no corredor decidia descer para tomar “um cafezinho”. Às dezessete horas o Prof. João pedia ao assistente que fechasse a porta. Os alunos que voltavam do café ficavam do lado de fora, olhando no visor da porta, e acabavam ficando sem o estágio.

     Um professor que tinha atitude com semelhante rigor em relação a horário e o fechamento da porta nas aulas era o Prof. Afiz Sadi, chefe da Disciplina de Urologia.

     No final do estágio do Laboratório, o Dr. João (como era chamado pelos alunos) convidava a todos os 28 alunos  para uma foto no pátio da EPM. No dia da foto do grupo de Delboni, este esqueceu desse compromisso e foi ao cinema. Depois contou esse fato ao Dr. João, que, de qualquer forma, o convidou para iniciar um trabalho de Monitor. Portanto, no início do terceiro ano, Delboni foi nomeado pela Congregação da EPM como Monitor do Laboratório Central do HSP. O trabalho era rigoroso. O Laboratório pertencia à Primeira Cadeira de Clínica Médica chefiada pelo Prof. Jairo Ramos.

     Lembrou, então, o Dr. Delboni que Jairo Ramos deu impulso à Clínica Médica, de modo que ela se tornou padrão de referência na América Latina. Muitos se espantavam que Delboni conseguia trabalhar com o Dr. João, homem de poucas palavras e temperamento de difícil trato. Delboni guardou na memória quanto ganhava na época como Monitor, o equivalente ao preço de um disco “long play” de 12 polegadas, que mal dava para um sanduíche diário.

     Em 1957, Delboni se formou e continuou no Laboratório Central. Quando Dr. João faleceu, em 1960, Delboni era o segundo na hierarquia, de modo que assumiu a chefia e assim seguiu, até se aposentar em 1986 como professor da EPM.

     Ele relatou, então, toda sua labuta nos vários anos de transformação da medicina, do HSP e do Laboratório, com dificuldades diversas, por vezes dando plantões, ou ajudando algum professor a resolver algum caso específico.

     Deu aulas de Patologia, referente ao Laboratório, para alunos do terceiro ano. Saudou com muita alegria a expansão da EPM. Ressalve-se o bom humor do Prof. Delboni, sempre presente, e carregando no bolso superior do avental canetas de várias cores, característica essa sempre lembrada por seus ex-alunos.

     Referiu ele que o Dr. João era a pessoa com mais cultura enciclopédica e humanística que conheceu, e que era alguém que não tinha vida fácil, pois conviveu com uma nefrostomia bilateral dos 23 aos 46 anos. O Dr. Delboni tornou-se chefe do Laboratório Central com 26 ou 27 anos, de modo que era considerado “o menino do colegiado”, convivendo com professores nas chefias com mais de 50 anos de idade.

     O Prof. Delboni acentuou que sempre procurou ser ponderado, respeitoso e humano, sem ser condescendente com coisas erradas. Sempre foi grato à Escola Paulista de Medicina.

     Prof. Dr. Humberto Delboni Filho faleceu em 8 de outubro de 2019, aos 85 anos.  

 

Fontes bibliográficas:

Acervo de Histórias de Vida (História Oral) do CeHFi – Centro de História e Filosofia das Ciências da Saúde da EPM-Unifesp. Acessível em https://cehfi.unifesp.br

Acervo do jornal Folha de São Paulo. Acessível em

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/11/mortes-medico-transformou-a-patologia-em-sonho-realizado.shtml?origin=folha

A Mística do Parentesco. Acessível em https://parentesco.com.br