quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

"Medicina Experimental" - Mural da Escola Paulista de Medicina

Medicina Experimental - Mural de Pietro Nerici no Saguão do 
Departamento de Bioquímica e Farmacologia da Escola Paulista de Medicina (1956).

Pietro Nerici
     Pintor, desenhista, gravador, muralista, professor. Nascido em 1918 na cidade de Lucca, Itália.
     No início de sua carreira foi influenciado pelo expressionismo e depois pelo abstracionismo informal. Fez seu aprendizado artístico básico no Instituto de Arte de Lucca. Depois aperfeiçoou-se em Florença e Roma, onde fez cursos superiores de escultura e pintura.
1939 – Ganhou o primeiro prêmio de pintura em mostra realizada em Florença.
1941 – Conquistou o terceiro prêmio na Exposição Nacional de Trieste, Itália.
1947 – Obteve o primeiro prêmio para afresco em Bolonha, Itália. Fez estágios em Veneza e Florença, onde trabalhou em decorações no Convento dos Carmelitas e no Colégio das Freiras Canossianas.
1949 – Transferiu-se para o Brasil, indo residir em São Paulo, SP.
1960 – Concorreu ao Prêmio Leirner de Arte Contemporânea, em São Paulo.
Foi professor na Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado, em São Paulo.
Realizou alguns murais em edifícios de São Paulo, como o Instituto de Farmacologia da Escola de Medicina, o edifício dos Elevadores Atlas, o Hotel Flórida e a Companhia Paulista de Seguros Gerais, e também em Belo Horizonte, MG, e Rio de Janeiro, RJ.
Realizou, entre outras, as seguintes exposições individuais:
1960 – Galeria das Folhas, São Paulo.
1965 – Museu de Arte de São Paulo, São Paulo; Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, MG.
Tomou parte de diversas mostras coletivas, entre as quais as seguintes:
1961-63 – Salão Paulista de Arte Moderna, São Paulo (medalha de prata na edição de 1961 e prêmio de aquisição nas edições de 1962 e 1963).
1961-65 – Salão Nacional de Arte Moderna, Rio de Janeiro.
1963 e 1965 – Bienal de São Paulo, São Paulo.


Fontes bibliográficas conforme o site de onde essas informações foram obtidas:
CAVALCANTI e AYALA. Dicionário Brasileiro de Artistas Plásticos. MEC/INL, 1973-77.
LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário Crítico da Pintura no Brasil. p. 351, Artlivre, Rio de Janeiro, 1988.
PONTUAL, Roberto. Dicionário das artes plásticas no Brasil. Civilização Brasileira. Rio de Janeiro, 1969.

Disponível em http://www.brasilartesenciclopedias.com.br/nacional/nerici_pietro.htm
 


terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Biografia de Nicolau Maria Rossetti (1894-1956)


A partir de texto de Antônio Defina

     Nicolau Maria Rossetti nasceu em Mococa, Estado de São Paulo, a 17 de abril de 1894. Após os estudos básicos na Capital, cursou a Real Universidade de Nápoles (Itália), onde se diplomou em Medicina em 17 de julho de 1917, com distinção e louvor.
     Retornou à Europa em 1921, para prosseguir os estudos de especialização, frequentando a Escola Dermatológica do Hopital Saint Louis (Paris), a Charité Krankenhaus (Berlim) e a Universidade de Viena.
     Regressando ao Brasil, fixou-se em São Paulo, participando como Assistente dos trabalhos da Clínica Dermatológica da Faculdade de Medicina de São Paulo, na Santa Casa de Misericórdia, Serviço do Prof. A. Lindenberg, onde estabeleceu convivência com outros dermatologistas.
     Membro fundador da Escola Paulista de Medicina, foi professor catedrático de Clínica Dermatológica e Sifilográfica desde 1936, quando se iniciou o curso dessa cadeira no quarto ano do curso médico, até seu falecimento em 1956.
     No ensino da Dermatologia, pôs em realce a importância dos detalhes morfológicos das lesões na sua totalidade, o que o levava a um apuro no exame do paciente, que entendia dever abranger todo o tegumento. Realçando sempre o valor do exame dermatológico cuidadoso e integral, discorria sobre as diferentes dermopatias, a partir da apresentação do paciente, fazendo-o de maneira bastante expressiva.
     Conhecedor profundo de patologia humana, completava o exame da pele com constatações outras de ordem clínica pertinentes a cada caso. Estudioso pertinaz, acompanhava através da literatura o desenvolver da patologia médica, dominando seis línguas, fichando, grifando e anotando às margens dos livros e revistas os pontos principais, o que causava grande desespero aos bibliotecários.
     De caráter firme e marcante, impunha-se pelo saber e pela personalidade tanto na vida profissional, como docente. Essa retidão de caráter, que o compelia a fazer tudo pelo melhor e a exigir a perfeição na prática profissional, causava certo constrangimento ao primeiro contato. Com a convivência, todavia, granjeava amigos entre seus auxiliares e na vida profissional, pois os que dele se aproximavam sentiam o calor e o amparo que dispensava a todos.
     O Prof. Rossetti exerceu vários cargos na Inspetoria de Profilaxia da Lepra e como Assistente no Instituto de Higiene, onde organizou o Serviço de Dermatologia e o Laboratório de Micologia Dermatológica. Transferindo-se para o Instituto Adolpho Lutz, da Secretaria da Saúde, criou ali a seção de Micologia, onde realizou inquérito sobre as tinhas de São Paulo, que constitui monografia completa sobre o assunto. Organizou o serviço de sífilis para gestantes da Clínica Obstétrica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Serviço do Prof. Raul Briquet). Além de outras funções oficiais no campo da lepra e das moléstias venéreas. Fez parte da Comissão para estudar a fusão dos Institutos Bacteriológico, Butantã e de Higiene.
     Participou de várias Bancas Examinadoras em concursos para Catedráticos e Livre-Docentes na especialidade, em diversas Faculdades do país, bem como de comissões julgadoras de prêmios científicos.
     Em 1938, na Escola Paulista de Medicina, em colaboração com o Centro Acadêmico Pereira Barreto, organizou o Centro de Higiene Social, do qual foi Diretor Clínico. Esse Centro funcionava à noite em instalações próximas ao centro da cidade, e aí os alunos do quarto ano aprendiam a aplicar injeções intramusculares e endovenosas e a fazer pequenos curativos, familiarizando-se com os esquemas de tratamento de sífilis, então com arsenicais e bismuto e, posteriormente, com penicilina. Nesse local de trabalho muitos alunos e médicos encontraram também agradável ambiente de confraternização e amizade.
     Pertenceu Nicolau Maria Rossetti a inúmeras sociedades científicas nacionais e internacionais. Publicou vários trabalhos na sua especialidade, cumprindo destacar, entre outros, os estudos sobre livedo racemoso, acidentes arsenicais, epidermólise bolhosa hereditária, moléstia de Darier, vitaminas e moléstias da pele, lucites por sensibilizadores vegetais, dermatomiosite, um novo problema sanitário em São Paulo (primeiros resultados de um inquérito sobre tinhas). Colaborou com cursos de especialização, de divulgação e atualização dando ênfase aos temas sobre sífilis, micoses da pele e dos pelos e dermatoses alérgicas.
     Muitos foram os que iniciaram ou aperfeiçoaram seu tirocínio clínico-dermatológico segundo a rigorosa metodologia propedêutica praticada e defendida por Rossetti, cumprindo lembrar os nomes de Antônio Defina, Vicente Grieco, Benedito Mendes de Castro, Álvaro Alberto Cunha e Cyro C. Aranha Pereira.
     O Prof. Rossetti faleceu em 11 de junho de 1956. Seu nome foi dado a uma rua no Jardim Império, na Zona Sul do município de São Paulo.

Fonte Bibliográfica:
1 - Defina, Antônio – Nicolau Maria Rossetti (1894-1956) in A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º Aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes. José Ribeiro do Valle. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, págs. 121-124.
2 - https://dicionarioderuas.prefeitura.sp.gov.br/

terça-feira, 20 de novembro de 2018

“Semiologia Clínica”, pelo Prof. Carlos da Silva Lacaz


O Prof. Carlos da Silva Lacaz (1915-2002) publicou diversos textos no jornal Folha de São Paulo, por vários anos. Ele formou-se em 1940 pela FMUSP. Foi Professor Catedrático de Microbiologia e Imunologia da FMUSP, Professor Titular do Departamento de Medicina Tropical e Dermatologia da FMUSP. Fundador e Diretor do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, além de outros tantos títulos. Também se dedicou à Historiografia Médica.
Em 1976, por ocasião da publicação do livro “Semiotécnica da Observação Clínica”, da autoria do Prof. José Ramos Junior, o Prof. Carlos da Silva Lacaz publicou o texto a seguir no jornal Folha de São Paulo, com algumas características próprias da época e outras que têm atualidade. 

     Francisco de Castro, o grande clínico brasileiro, que escreveu também as mais belas páginas de filosofia médica, advertia no seu Tratado de Propedêutica do “modus faciendi” do exame do doente, referindo que nessa exploração, executada segundo regras idôneas, residia o segredo do seu êxito e a condição da sua prestabilidade.
     Mediante a observação dos processos investigativos, dos seus requisitos essenciais, das suas formalidades impreteríveis, amiúde alcança o clínico ver o invisível e palpar o insondável. É certo que entra nessa operação analítica, um pouco de aptidão ingênita do observador, um pouco desse produto do inconsciente que todos trazemos com a mais sólida camada da nossa organização psicológica. Numa época da nossa profissão em que o exame cuidadoso do doente está sendo relegado para um plano secundário, absorvidos os médicos de hoje com dezenas de exames laboratoriais, alguns de interpretação ainda discutida, é suavemente bom e agradável a leitura de um grande livro de Semiótica e que acaba de ser publicado pelo Prof. José Ramos Junior. Conheci o ilustre colega quando ainda acadêmico, na velha Santa Casa de São Paulo, orientado pelo seu mestre Prof. Jairo Ramos, no Serviço do Prof. Rubião Meira, de saudosa memória. Naquela época, o exame do doente era praticado com cuidados extremos, contando o médico com os poucos recursos laboratoriais da época. Mas, assim mesmo, a Medicina Paulista conheceu e viveu um período de real esplendor e progresso. A arte de examinar o doente foi sempre coisa sagrada na velha enfermaria do Prof. Rubião Meira. E, por isso, daquele Serviço saíram grandes expressões da nossa medicina, homens de trabalho e de disciplina, que se projetaram de modo definitivo no cenário da nossa profissão.
     José Ramos Junior tem sido, entre nós, um dos grandes cultores da observação clínica, mostrando que todo e qualquer exame subsidiário, ou seja, aquele que decorre da chamada propedêutica armada, é o será sempre, orientado e solicitado pelo raciocínio resultante da análise dos elementos propedêuticos fornecidos pela interpretação fisiopatológica dos sintomas e dos sinais. É lógico que essa análise interpretativa depende dos conhecimentos de fisiopatologia e de semiotécnica rigorosamente bem executada e que, quanto mais completa e minuciosa, maiores serão os elementos para os diagnósticos funcionais, anatômicos e etiopatológicos, bem como para o prognóstico e, principalmente para a conduta terapêutica adequada, formulada em bases científicas e seguras.
     Com a responsabilidade de professor, José Ramos Junior destacou no prefácio de seu belo trabalho – dois volumes publicados graças à benemerência do Fundo Editorial Procienx – os erros e os vícios que se vêm cometendo principalmente nos chamados institutos de previdência e outros semelhantes, onde muitas vezes os pacientes são tratados por números, não se estabelecendo como seria altamente recomendado um elo de simpatia entre o médico e o doente, elemento fundamental para o reatar de novas esperanças.
     Assim, as anamneses são compostas em estilo telegráfico, muitas vezes com um exame físico sumário e falho, porque o que se deseja nesses institutos é o número de consultas e não a sua qualidade.
     A massificação da assistência médica está transformando as observações clínicas em prontuários frios e inexpressivos, sem uma sequência inteligente dos seus acontecimentos, dos seus sintomas, do reconhecimento e da personalidade dos pacientes. Por sua vez, muitos colegas se impacientam com este tipo de atividade, tratando os seus doentes sem a merecida e necessária afetividade. Destaca ainda o Prof. José Ramos Junior, nesse verdadeiro Tratado de Propedêutica, ricamente ilustrado e nascido à beira do leito do enfermo, os erros do profissional quando examina um paciente, traduzidos muitas vezes pela ostentação, pelo desprezo e até pela falta de caridade, ou seja, com a crueldade dos prognósticos infaustos ditos face a face, revelando a ostentação de quem quer demonstrar a sua “sabedoria” ou superioridade.
     Este é um livro rico de ensinamentos que deverá estar na cabeceira de todo o estudante de Medicina que precisa aprender sua profissão no sentido integral e assim exercê-la.
     A observação clínica bem realizada, adequadamente composta pela semiotécnica, é a base fundamental dos diagnósticos anatômicos, funcionais e etiológicos e, consequentemente, de um racional e científico planejamento terapêutico.
     Bem haja o Prof. José Ramos Júnior pela publicação desse oportuno livro que irá exercer fecunda influência em todo o jovem que se prepara para cumprir a mais bela e mais humana de todas as profissões. O trabalho em foco demonstra que, muitas vezes, um exame clínico cuidadoso, sem qualquer exame laboratorial, possibilita ao clínico ver o invisível e palpar o insondável, na expressão do consagrado Francisco de Castro. A Medicina brasileira está de parabéns.

Fonte bibliográfica:
Lacaz, Carlos da Silva – Temas de Medicina – Biografias, Doenças e Problemas Sociais. Lemos Editorial, 1997, págs. 242-243.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Biografia do Prof. Dr. José Ignácio Lobo



A partir de texto de Gustavo Friozzi

     José Ignácio Lobo nasceu em São Paulo em 14 de fevereiro de 1900, filho de Jerônimo Álvares Lobo e Maria Eliza de Azevedo Lobo. Matriculou-se em 1912 no Colégio Arquidiocesano de São Paulo, onde fez o então Curso Ginasial, que concluiu em 1916.
     Após prestar exames em lugares como o Ginásio do Estado da Capital e a Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, decidiu-se por cursar esta última, onde graduou-se em 1923.
    A partir do fim do terceiro ano do Curso Médico, começou a frequentar, na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, o Serviço de Clínica da Segunda Enfermaria de Mulheres, da qual era chefe o Dr. Ribeiro Almeida, tendo aí trabalhado sob a orientação do então assistente Dr. Raul Margarido. Ainda como aluno trabalhou nos postos de Profilaxia da Sífilis. No último ano do curso foi Interno do Hospital de Isolamento de São Paulo (depois Hospital Emílio Ribas). Foi presidente do Centro Acadêmico Oswaldo Cruz. Em seu doutoramento defendeu tese sobre “Menstruação e Corpo Lúteo”, sendo aprovado com distinção.
     Exerceu a Clínica inicialmente na cidade de Ourinhos, onde ficou até 1925. Nessa época ingressou no Serviço do Professor Rubião Meira, na Segunda Enfermaria de Homens da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Dessa forma, foi indicado pelo Prof. Meira para Assistente Extraordinário da Terceira Cadeira de Clínica Médica da Faculdade de Medicina, indicação essa renovada anualmente, sendo a última das quais em março de 1936, conforme o título da nomeação.
     Em julho de 1932, foi nomeado adjunto do Hospital São Luiz Gonzaga, em Jaçanã. Esse cargo foi logo interrompido, em virtude da Revolução Constitucionalista. Durante esta, não pode prestar serviços médicos nem no Hospital Central da Santa Casa, nem em outro hospital, por ter-se incorporado às forças paulistas em operação no Setor Sul. De regresso, reassumiu suas funções na Santa Casa e no Hospital São Luiz Gonzaga.
     Em 1933, José Ignácio Lobo participou da fundação da Escola Paulista de Medicina, onde tornou-se Professor Catedrático de Clínica Médica.
     Em maio de 1936, foi aprovado em concurso para Livre Docente de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de São Paulo. Continuou a auxiliar o curso prático da Terceira Cadeira de Clínica Médica, e trabalhando na Segunda Enfermaria de Medicina de Homens da Santa Casa de São Paulo até outubro de 1938. Na ocasião, a convite do Prof. Ribeiro de Almeida, passou a trabalhar na Segunda Enfermaria de Medicina de Mulheres da Santa Casa, onde permaneceu até meados de 1944.
     Em 1943, teve revalidado seu título de Livre Docente de Clínica Médica pela Congregação da Faculdade de Medicina de São Paulo, mediante novo concurso de títulos, conforme ordenava a Lei.
     Em novembro de 1945, foi transferido do cargo de adjunto efetivo do Hospital São Luiz Gonzaga para cargo similar na Santa Casa. Em maio de 1946, foi promovido a Chefe de Clínica da Segunda Enfermaria de Medicina de Homens da Santa Casa. Exerceu essa Chefia até 1953, quando solicitou exoneração do cargo. A Mesa Administrativa da Irmandade conferiu-lhe, em maio de 1955, o título de Médico Emérito, em reconhecimento a serviços prestados.
     O Prof. Lobo foi pioneiro e precursor de estudos endocrinológicos em São Paulo, juntamente com Thales Martins. Com a supressão do serviço de Endocrinologia do Instituto Butantã, houve a transferência do pessoal e do arquivo de casos para a Escola Paulista de Medicina, concomitantemente à criação da Disciplina de Endocrinologia no recém-criado Departamento de Medicina pelo Prof. Jairo Ramos, que indicou, e foi aprovado pela Congregação, o Dr. Lobo. Conforme Gustavo Friozzi, concomitantemente foi criada a Disciplina de Moléstias Infecciosas. O Prof. Lobo aposentou-se na EPM em 1968.
     Participou várias vezes do antigo Conselho Técnico Administrativo da EPM, mesmo após se aposentar. Assim também do Conselho Deliberativo da Sociedade Paulista para o Desenvolvimento da Medicina, mantenedora do Hospital São Paulo.
     Foi membro de várias bancas examinadoras em concursos de professores e docentes. Publicou mais de 200 trabalhos, entre teses, monografias e artigos científicos. Mesmo após aposentado exerceu, em comissão, o cargo de Assistente Técnico da Coordenadoria dos Serviços Técnicos Especializados da Secretaria da Saúde.
     Nas palavras de Gustavo Friozzi:
     “Durante o tempo que trabalhamos com o Dr. Lobo, pudemos verificar a vivacidade de sua inteligência e a profundeza de sua cultura. Chegava à Enfermaria lá pelas dez horas e passava em revista todos os leitos (33), orientando a terapêutica ou ajudando a esclarecer o diagnóstico. Tendo sido convidado a dirigir o Departamento Científico da Laborterápica, teria podido, como o fazem muitos, aparecer de vez em quando na Enfermaria e manter-se chefe titular. Mas o caráter de José Ignácio Lobo não permitia tal rasgo à sua concepção do dever. Não podendo dar, como queria, a assistência e a atenção que seu cargo requeria, preferiu demitir-se, a manter-se como titular figurativo. Foi uma pena. Perdeu a Santa Casa um grande clínico e eu um grande mestre e amigo”.
     Continua Gustavo Friozzi:
     “Novamente a Enfermaria foi posta em concurso, vencendo-o o Dr. Ulysses Lemos Torres, digno substituto de Ignácio Lobo e continuador da grande obra de seu pai, o falecido Prof. Lemos Torres, introdutor da semiótica médica em nosso meio, que muito contribuiu para formar grandes clínicos como: Jairo Ramos, L. Decourt, J. Lobo, Ulhôa Cintra, B. Tranchesi e outros”.
     Sobre o Prof. Lobo, diz ainda Gustavo Friozzi, em publicação de 1977:
     “De estatura mediana, esguio, com farta cabeleira grisalha, sempre elegantemente trajado, o Dr. Lobo lembra a figura dos médicos ingleses descritos por Cronin. Patriarca “ancien stile”, é o pai de 10 filhos”.   
     No jornal O Estado de São Paulo de  7 de fevereiro de 1994 lê-se nota de falecimento do Prof. José Ignácio Lobo, com 94 anos. o jornal acrescenta que, em setembro de 1963, na sessão solene da congregação da Escola Paulista de Medicina, comemorativa dos 30 anos de fundação da Escola, pronunciou longa oração, quando destacou: “tem sido de fato uma constante desta Escola, a preocupação com os métodos de ensino, com a técnica do ensino, com a ciência do ensino”. E aos alunos disse: “para usar uma linguagem estudantil, dir-vos-ei agora, nesta festa trintenária, que a 'escolinha' dos vossos antecessores se tornou a 'Paulista' de nossos dias, guardai bem e defendei melhor, este nome, assim no que ele exprime de transmutação dos conceitos, como no que ele significa de tradição gentílica. Guardai-o com a alegria da mocidade, com a altivez de homens livres e com a dignidade que a Providência Divina, a quem rendemos graças, imprimiu em cada um de nós”.
     Continuando a notícia, o Prof. José Ignácio Lobo era filho do Sr. Gerônimo Alves Lobo e de d. Maria Elisa Lobo, falecidos. Era casado com d. Maria Rita Lobo. Deixa os filhos, Marcelo Lobo, casado com d. Lucila Figueiredo Lobo; Guilherme Lobo, casado com d. Elisabeth Lobo; Maria Claúdia Lobo; Maria Ercília Lobo; Maria Gilda Lobo; d. Elisabeth Lobo Brennan, casada com Laurence Brennan; d. Heloisa Lobo Teixeira da Silva, casada com o sr. Luiz Teixeira da Silva; Jorge Garcez Lobo, casado com d. Regina Lobo; Flávia Lobo, solteira, e Rogério Lobo, solteiro. Deixa ainda netos e bisnetos. O enterro realizou-se no dia 5, às 12 horas, no Cemitério Gethsemani.   

Fonte bibliográficas: 
Friozzi, Gustavo – José Ignácio Lobo in A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º Aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, págs. 104-107.
Acervo do jornal O Estado de São Paulo. 

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Biografia de José Bonifácio Medina


A partir de texto de Octaviano Alves de Lima Filho e de texto Carlos Alberto Salvatore.

     José Medina nasceu em São Paulo em 20 de abril de 1900. Graduou-se em Ciências e Letras pelo Ginásio de São Paulo. Formou-se pela Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo em 1923, com a tese “Levantar Precoce das Laparotomizadas”, aprovada com distinção.
     O seu pendor pela Ginecologia manifestou-se ainda nos bancos acadêmicos, quando cursava o quarto ano médico. Foi o memorável concurso de seu ilustre antecessor, o Professor  Nicolau de Moraes Barros, legítimo fundador da Escola Ginecológica Paulista, na renhida disputa da cátedra, em 1921, que tanto o fascinou e o fez enveredar pelo terreno da especialidade da qual  veio a tornar-se devotado cultor e lídimo representante em nosso meio.
     O seu ulterior com Moraes de Barros, na Faculdade de Medicina, primeiro como aluno, depois como assistente, fez crescer, dia após dia, a sua admiração pelos invulgares predicados de inteligência, cultura e caráter de seu mestre, ao mesmo tempo que o incentivava ao estudo da especialidade a que tem dedicado, com extrema devoção e infatigável carinho, toda a sua vida profissional.
     Após a colação de grau como assistente voluntário, assistente extranumerário, em seguida como segundo assistente e, finalmente, a partir de 1934, como primeiro assistente e chefe de Clínica da Cadeira de Clínica Ginecológica da Faculdade de Medicina de São Paulo, função que desempenhou, ininterruptamente, com reconhecida competência e admirável alento, durante dez anos, foi nomeado, em 1944, Professor Interino de Clínica Ginecológica, cargo no qual se manteve até prestar concurso, no ano seguinte, para a cátedra vaga com a compulsória do Professor Moraes Barros.
     Nesse espaço de 20 anos, soube José Medina amealhar sólidos conhecimentos em todos os setores da especialidade e não tardou em se firmar como valor dos mais expressivos e respeitados de nosso ambiente universitário. Tendo forjado toda a sua formação de especialista na escola de Moraes de Barros, deste mestre herdou os predicados de clareza na exposição de ideias e na transmissão de conhecimentos, um apurado senso clínico e grande destreza cirúrgica. Além disso, destacou-se sua capacidade, como professor, de formar escola, em ambiente de elevado valor científico e espírito de colaboração. Inúmeros foram os que contaram com sua orientação e estímulo na Faculdade de Medicina e na Escola Paulista de Medicina. Além disso, numerosos discípulos que não seguiram a carreira universitária levaram seus conhecimentos a rincões os mais variados.
     Tornou-se livre-docente em Ginecologia na Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro, em 1938. Em 1945, Moraes de Barros atingiu a aposentadoria compulsória. Em concurso de títulos e provas, em maio do mesmo ano, José Medina conquistou a cátedra, com nota máxima em todas as provas e com a tese “Carcinoma do Corpo do Útero e Hiperplasia Basal do Endométrio”.
     Em 20 de outubro de 1948 instalou a Clínica Ginecológica do Hospital das Clínicas. Deu início a campanhas de prevenção do câncer de colo do útero pela colposcopia e citologia vaginal oncótica. Iniciou com seu assistente, Paulo Gorga, a laparoscopia. Com seu chefe de Clínica, José Galucci, montou os setores de Endocrinologia, Infanto-Puberal, Patologia Mamária, Urologia Ginecológica, Psicossomática em Ginecologia.
     Em 1961 foi criado o Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, que José Medina dirigiu como catedrático, após concurso de títulos. Alcançado pela aposentadoria compulsória e, 1970, foi substituído na direção da Disciplina de Clínica Ginecológica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo pelo seu discípulo Carlos Alberto Salvatore, após concurso de títulos e provas.
     Na Escola Paulista de Medicina seu nome está inscrito entre os fundadores. Catedrático de Clínica Ginecológica, dirigiu com proficiência e dignidade o ensino e as atividades da disciplina de 1938 a 1966, quando teve de afastar-se por força da compulsória. Esta, em obediência às leis federais de então, ocorria cinco anos antes da então idade da aposentadoria compulsória, que era de setenta anos. Por isso, pareceu a seus discípulos uma regra drástica e cruel, pois apanhou o mestre em pleno fulgor de sua capacidade intelectual.
     Octaviano Alves de Lima Filho conta que o curso de Ginecologia da primeira turma, em 1938, era ministrado no subsolo de velha mansão situada na Rua Conde de Pinhal, onde funcionavam, temporariamente, os serviços de ambulatório. Com a posterior construção do Hospital São Paulo, as várias disciplinas foram instalando suas enfermarias no mesmo. As atividades da Ginecologia, no entanto, continuaram no ambulatório “acanhado”, “de impressionante pobreza”, conforme o autor. Mas o Prof. Medina fez uso de proventos próprios, além da ajuda de entidades civis e estatais, de modo que conseguiu instalar, em 1941, no terceiro andar do Hospital São Paulo, a Enfermaria de Ginecologia com 12 leitos. Todo o material foi praticamente de doação do Prof. Medina, conforme afirmou o Prof. Octaviano. Este veio a substituir o Prof. Medina em 1966, inicialmente como livre-docente e em 1968 como Professor Titular.
     O Prof. José Medina publicou mais de uma centena de trabalhos. Conquistou o Prêmio Alvarenga da Academia Nacional de Medicina, em 1933, com o trabalho “Metropatia Hemorrágica Ovariana” e o Prêmio Arnaldo Vieira de Carvalho, da Associação Paulista de Medicina, em 1940, com o trabalho “Fisiopatologia Menstrual”. Além de artigos em revistas nacionais e estrangeiras, publicou diversos livros sobre a especialidade, como “Propedêutica Ginecológica” (1933 e 1954), “Como Tratar Anexites” (1935), “Patologia do Colo Uterino” (1945), “Hiperplasia da Camada Basal do Endométrio, Endometriose Interna e Carcinoma do Corpo do Útero” (1945), “Fisiopatologia Menstrual” (1969).
     Participou de oito bancas examinadoras de concursos para catedrático em Ginecologia e em Obstetrícia, nas principais escolas médicas do Brasil, além de integrar mais de cinquenta comissões julgadoras de concursos de livre-docência e defesas de tese de doutorado.
     Foi grande incentivador dos cursos de especialização e atualização em Ginecologia e Obstetrícia. Promovia-os anualmente com afluência de profissionais de todo o país.
    Membro das principais sociedades tocoginecológicas nacionais e internacionais, foi ativo participante de conclaves científicos da especialidade, tendo presidido congressos brasileiros de Ginecologia e Obstetrícia em São Paulo, em 1954 e 1969. Foi condecorado com a “Ordem do Mérito Médico”, na classe Grã-Cruz, conferida pelo Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira.
     O Prof. José Medina herdou de Moraes Barros a filosofia ginecológica alemã, de mod que dificilmente concordava com outras escolas. Preparou excelentes assistentes na Faculdade de Medicina: José Galucci, René Mendes de Oliveira, Paulo Gorga, Franz Muller, Armando Bozzini, Mário Nóbrega, Cosme Guarnieri Neto, Álvaro Cunha Bastos, José Roberto Azevedo, Hans Halbe, Carlos Alberto Salvatore. Na Escola Paulista de Medicina foi sucedido pelo Prof. Octaviano Alves de Lima Filho.
    Na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, o Prof. José Medina aposentou em 20 de abril de 1970. Faleceu em 31 de março de 1993, com quase 93 anos de idade.

Fontes bibliográficas:

1 – “José Medina” escrito por Carlos Alberto Salvatore, com adaptações de Hélio Begliomini no site da Academia de Medicina de São Paulo, acessado em
https://www.academiamedicinasaopaulo.org.br/biografias/157/BIOGRAFIA-JOSE-MEDINA.pdf

º2 – “José Bonifácio Medina” por Octaviano Alves de Lima in A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º Aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes. Organizado por José Ribeiro do Valle. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, págs. 99-103.

domingo, 16 de setembro de 2018

Biografia de Flávio Oliveira Ribeiro da Fonseca


A partir de texto de Carlos da Silva Lacaz

     Flávio Fonseca nasceu na cidade do Rio de Janeiro, a 12 de setembro de 1900. Diplomou-se em 1923 pela Faculdade Nacional de Medicina, radicando-se em São Paulo desde 1926.
     Fez concurso (que foi anulado) de língua e literatura alemã do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, onde defendeu a tese – “Considerações de ordem lexicológica sobre o substantivo alemão”, em concurso para Catedrático. Formou-se pela Aliança Francesa e falava fluentemente o francês, o inglês e o alemão. Interessado em corresponder-se com colegas da União Soviética e da Holanda, aprendeu também o russo e o holandês.
     Dedicava-se também à caça, de onde trazia os ácaros necessários às suas pesquisas no Butantã.
     Especializou-se em Parasitologia e Zoologia Médica, trabalhando ativamente nos laboratórios do Instituto Oswaldo Cruz. Em 1925 percorreu, em viagens de estudos, os sertões de Mato Grosso e as florestas da Bolívia, como médico, durante as construções da Estrada de Ferro Transcontinental Brasil-Bolívia.
     Em 1926, veio substituir, na Faculdade de Medicina de São Paulo, o catedrático de Microbiologia e Imunologia e aí lecionou até 1931. Neste ano vinculou-se ao Instituto Butantã, chefiando a Seção de Parasitologia.
     A partir de 1933, ocupou a Cátedra de Parasitologia da Escola Paulista de Medicina, da qual foi um dos fundadores, nas primeiras reuniões realizadas à rua Oscar Porto, a 1 de junho de 1933.
     Na Escola Paulista de Medicina fez parte do Conselho Técnico Administrativo e paraninfou uma de suas turmas.
     Diretor do Instituto Butantã por sete vezes, tornou-se grande especialista em acarologia, descrevendo numerosos ácaros parasitas de vertebrados da América do Sul.
     Deixou no Instituto Butantã cerca de oitenta mil exemplares de ácaros, sendo, provavelmente, uma das maiores coleções do mundo. Além de inúmeros trabalhos versando sobre ácaros, publicou vários outros sobre protozoários, entomologia médica, riquetsioses, etc.
     Manteve correspondência com acarologistas das Américas e da Europa.
     Descreveu diversas espécies novas de protozoários, entre os quais o Plasmodium simium, de primatas. Eleva-se a 130 0 número de trabalhos que publicou, além de magnífica e importante monografia sobre “Animais Peçonhentos” (Butantã, 1949).
     Como Diretor do Instituto Butantã obteve bolsas para diversos pesquisadores brasileiros na Europa e Estados Unidos; e do exterior trouxe também pesquisadores para estágio e pesquisa.
     Fundador da Sociedade Brasileira de Entomologia, do Clube Zoológico e do Parque Zoológico de São Paulo, era membro da Royal Society of Entomology de Londres, bem como da Sociedade Brasileira de Biologia e do Comitê Internacional da Review of Acarology.
     Nos seus trabalhos sobre malária, confirmou a hipótese da importância exercida pelos anofelinos do gênero Kerteszia na transmissão daquela protozoose nas matas e serras, o que por mais de 40 anos fora posta em dúvida. Flávio da Fonseca colaborou, igualmente, na luta antimalárica, tendo chefiado o Serviço de Profilaxia da Malária de São Paulo, nele introduzindo em 1946 o emprego do DDT e de medicamentos sintéticos modernos.
     No Instituto Butantã, aperfeiçoou as técnicas de preparo do soro antitetânico e de outros produtos imunoterápicos.
     Na Revolução Constitucionalista de 1932 foi comissionado como oficial médico, inspecionando as frentes de batalha em companhia de seu sogro, Eloy Lessa, diretor médico do Serviço Sanitário da Secretaria da Saúde.
     Por ocasião da comemoração do Quarto Centenário da Cidade de São Paulo recebeu do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo a medalha da Imperatriz Leopoldina, por trabalho apresentado e então publicado em volume São Paulo em Quatro Séculos, contendo outros trabalhos sobre diversos ramos de atividade, de cientistas e historiadores.
     Membro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, apresentou em suas reuniões anuais diversos trabalhos científicos. Contribuiu em duas edições do livro “Atualização Terapêutica” com trabalhos de sua especialidade. Tomou parte em Bancas Examinadoras para o preenchimento de cátedras de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia.
     A medicina era tradição de sua família. Seu pai foi secretário perpétuo da Academia Nacional de Medicina, seu irmão, Olympio da Fonseca Filho (1895-1978) era parasitologista consagrado, tendo sido Diretor do Instituto Oswaldo Cruz, do Instituto de Pesquisa da Amazônia e da Faculdade de Medicina da Praia Vermelha.
     O Prof. Flávio da Fonseca faleceu em São Paulo, no dia 22 de maio de 1963, aos 62 anos. Ocupando numerosos cargos de relevo, foi grande técnico, professor e administrador, com trabalhos científicos de repercussão internacional.

Fontes bibliográficas:
Lacaz, C.S. – Flávio Oliveira Ribeiro da Fonseca (1900-1963) in A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes. Organizado por José Ribeiro do Valle. Editora Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, págs. 82-85.
Entrevista com Olympio da Fonseca Filho acessado em
http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/historia-oral/entrevista
tematica/olympio-da-fonseca

domingo, 2 de setembro de 2018

Biografia de Felipe Figliolini


Baseado no texto de Edgard Braga: Retrato de um Médico.

     Felipe Figliolini nasceu em São Paulo a 3 de setembro de 1896, filho de José e Rosa Figliolini, ambos nascidos na Itália e naturalizados brasileiros. O pai, arquiteto, executou de vulto na cidade de São Paulo, inclusive como colaborador de Ramos de Azevedo. Felipe Figliolini casou-se em 1919 com Ada Franzoi. O filho mais velho, Felipe José Figliolini também é médico e segue sua especialidade.
     Felipe Figliolini fez parte de um grupo de estudantes que iniciou o Curso Médico na primeira, assim chamada, Universidade de São Paulo (também conhecida na história como “uspinha”), que existiu entre os anos de 1911 e 1917, e era uma Universidade privada. Com o fechamento dessa Universidade, esse grupo a que pertencia Figliolini foi aceito pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Consta que ele, antes disso, era bacharel em Ciências e Letras, tendo recebido uma medalha de prata do Ginásio Ítalo-Brasileiro em 1911, por seu desempenho nessa área.
     Em 1920, por concurso, passou em primeiro lugar para ser Interno de Clínica Propedêutica, cadeira essa dirigida pelo Prof. J. Rocha Vaz. Nesse Internato teve como colegas: Carlos Büller Souto, Couto e Silva, Lourenço Jorge, os irmãos Burgos, J. Ferreira de Andrade, Berardinelli e Capriglione, entre outros. Nesse período Felipe Figliolini foi assistente da Cadeira de Higiene, na Escola Superior de Agricultura e frequentou o Instituto Oswaldo Cruz, em Manguinhos. Em 1921, publicou no Brasil Médico trabalho intitulado “Abscesso Amebiano do Fígado”.
     Em 1922, Felipe Figliolini formou-se com a tese de doutoramento sobre “Semiótica das Icterícias”, aprovada com distinção. Não era muito o que se sabia sobre o contágio e a evolução da moléstia, apontada por clínicos como “afecção catarral” a partir de mestres franceses, com localização obstrutiva na vesícula biliar. A tese colaborou na abordagem semiológica hepática, especialmente em diagnósticos diferenciais. A partir daí, Felipe Figliolini interessou-se pelas moléstias do campo que era designado como “Aparelho Digestivo e Nutrição”.
     Em 1923, em São Paulo, passou a ser assistente voluntário da Cadeira de Clínica Médica comandada por Ovídio Pires de Campos até 1930. Figliolini publicou, juntamente com Felício Cintra do Prado, o trabalho “Síndrome de Brown-Sequard”. Publicou também trabalhos tidos como pioneiros em nosso meio: “Tratamento de Hemorroidas por injeções esclerosantes”, “Considerações sobre o tratamento médico das hemorroidas”, “Dois casos de icterícia dissociada na litíase biliar”. Publicou ainda mais 25 estudos médicos, muitos em parceria com Felício Cintra do Prado, alguns em língua alemã, além de conferências e palestras nas sociedades científicas e na Escola Paulista de Medicina, onde era catedrático.
     Conforme Edgard Braga, a década de 1920 foi de grande abertura médica para assistência e pesquisa, com grande combate à tuberculose, à hanseníase e mais pesquisas sobre a doença de Chagas. Com esse movimento, Felipe Figliolini também foi assistente voluntário na Policlínica de São Paulo.  
     Em 1933, Octavio de Carvalho, ao criar a Escola Paulista de Medicina, buscou Felipe Figliolini para comandar a Cátedra de “Moléstias do Aparelho Digestivo e Nutrição”.
     Figliolini publicou ainda vários trabalhos em colaboração com Felício Cintra do Prado e Evaldo Foz, em torno de pré-câncer gástrico, sífilis, colites ulcerativas, entre outros. Foi Vice-Presidente da Associação Paulista de Medicina e, por duas vezes, Vice-Diretor da Escola Paulista de Medicina, tendo também pertencido ao seu Conselho Técnico Administrativo.
     Conforme o texto de Edgard Braga, redigido entre 1973 e 1977, Felipe Figliolini estava aposentado dedicando-se à pecuária no Pantanal do Mato Grosso.
     Felipe Figliolini faleceu em São Paulo em julho de 1977, aos 81 anos de idade. Foi sepultado no cemitério do Araçá. Existe rua em Santo Amaro, São Paulo, com o seu nome.
     Acrescentamos interessante texto de Edgard Braga em sua biografia de Felipe Figliolini, dos anos 1970, onde ele procura reforçar Figliolini como Mestre:
     “A palavra mestre vem sofrendo contínuo desgaste, principalmente hoje, sobretudo no setor educacional, onde o estudante, acomodado à balbúrdia que há no aprendizado e ensino, prescinde do explicador, do professor, isto é, do mestre. Caminha o mundo para se transformar, através dos veículos de massa média, numa aldeia global, segundo insinua MacLuhan. O ensino é transmitido em testes de quadrinhos; assim também as provas de exame, e os ‘mestres de hoje’ vão às aulas munidos de apontamentos copiados dos tratadistas, muita vez sem qualquer relação com o assunto em foco. São os chamados ‘ficheiros ambulantes’, frios e incomunicantes... O Mestre, porém, (M maiúsculo) era, e creio ainda é, a figura ungida de gravidade e que sabe transmitir a matéria aprendida há longos anos em porfioso labor. É um título humanístico que o distingue dos demais homens, oriundo nas democracias, como disse Condorcet, do aprimoramento educacional”.

Fontes bibliográficas:

Braga, E. - Felipe Figliolini - Retrato de um Médico in A Escola Paulista de Medicina - Dados Comemorativos de seu 40º Aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, pags. 76-81. 

Dicionário de Ruas de São Paulo. Acessado em
https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/arquivo_historico/noticias/?p=9808


sábado, 18 de agosto de 2018

Biografia de Fausto Guerner


A partir de texto de Arnaldo Calleiro Sandoval

     Fausto Guerner nasceu em 18 de abril de 1903, em São Paulo, filho de Alfredo Guerner e Idalga de Almeida. Desde menino distinguia-se pelo amor ao estudo e pendor pela Medicina. Terminado o curso de Humanidades, partiu para o Rio de Janeiro, vencendo facilmente a barreira do vestibular na tradicional Faculdade Nacional de Medicina, da Praia Vermelha. Fez o curso médico com distinção e louvor e, mais tarde, em 1935, defendeu com raro brilho tese versando sobre a pneumoencefalografia e o tratamento da epilepsia. Durante o período acadêmico frequentou o Serviço de Rocha Vaz, um dos precursores de estudos endocrinológicos no nosso meio, e, a seguir, ligou-se à Cadeira de Psiquiatria, sob a orientação de Henrique Roxo e, depois à Neurologia, então dominada pela figura inconfundível de Antônio Austregésilo, um dos grandes especialistas da época. Com tais mestres, inteiramente dedicado à psiconeurologia, depois aos estudos de histopatologia do sistema nervoso, alicerçou as bases para ulterior aproveitamento nos melhores centros da Europa dirigidos, por exemplo, por Claude Guillain, De Clerambault, Babinski e Bertrand, em Paris. De volta ao Brasil, fixa residência em São Paulo e se associa a Enjolras Vampré, considerado o líder da Neurologia Paulista e A. C. Pacheco e Silva, então diretor do Hospital do Juquery. Alienista da Assistência Geral a Psicopatas do Estado de São Paulo, Fausto Guerner desenvolve intensa atividade, quer como psiquiatra, quer como neurologista. Em 1933, assina o manifesto de fundação da Escola Paulista de Medicina, tendo sido escolhido para a regência da Cátedra de Clínica Neurológica.
     Fausto Guerner escreveu cerca de quarenta trabalhos em revistas médicas e participou ativamente de reuniões e congressos. Estava sempre acompanhando a Ciência de sua época e publicava, difundia e discutia novos conceitos de sua área. Fez estudos inovadores com André Teixeira Lima. Também estudou as alterações psíquicas ligadas ao hipertireodismo, chamando a atenção para o diagnóstico diferencial entre estes quadros e os de natureza psicogênica. Foi grande estudioso das manifestações psíquicas de quadros orgânicos. Assim também estudava epilepsia e suas nuances em relação a diagnósticos diferenciais, acentuando a necessidade do exame eletroencefalográfico.
     Estimulava seus companheiros e assistentes à pesquisa. Orientou as teses: Silvio Ribeiro de Souza, sobre a encefalite epidêmica; de Mário Yahn, sobre a sulfopiretoterapia na paralisia geral; de Edmur da Costa Pimentel, sobre a pneumoencefalografia; e de Edmur de Aguiar Whitaker. Todas aprovadas com distinção.
     Fausto Guerner faleceu aos 35 anos, em 1938. Foi casado com Maria de Lourdes Pedroso, também médica, e o casal não deixou descendentes. Mesmo adoentado, chegou a dar as primeiras aulas de Neurologia na Escola Paulista de Medicina, conforme foi registrado em fala de Pacheco e Silva e Thomé Alvarenga na Seção de Neuropsiquiatria da Associação Paulista de Medicina de 5 de maio de 1938, no mesmo dia de seu sepultamento.
     Por sugestão de Mário Yahn e de Paulo Pinto Pupo ao então diretor Lemos Torres, a chefia da Cátedra passou a Paulino Watt Longo, importante colaborador de Enjolras Vampré.

Fonte bibliográfica:
Sandoval, AC – Fausto Guerner (1903-1938) in A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º Aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes. JR do Valle. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, pgs. 68-70.

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Biografia do Professor Eduardo Ribeiro da Costa


A partir de texto de Leônidas de Toledo Piza

     Eduardo Ribeiro da Costa foi um dos signatários do Manifesto de Fundação da Escola Paulista de Medicina em 1933. Nasceu eu Itabira do Mato Dentro, Minas Gerais, em 16 de outubro de 1892, filho de Custódio Ribeiro Costa e Anália de Noronha Lage Costa. Fez o curso primário e secundário no então famoso Colégio Caraça e diplomou-se em Engenharia, em 1916, pela Escola de Minas e Metalurgia de Ouro Preto, como primeiro aluno de sua turma. Nos anos de 1917 e 1918 dirigiu a exploração de petróleo como técnico da Empresa Paulista de Petróleo, construindo, na época, uma das primeiras sondas empregadas no país. Contratado, em 1919, como professor de Química da Escola Politécnica de São Paulo, foi nomeado lente efetivo em 1922, após concurso de títulos e provas da Cadeira, então designada Química Orgânica Complementar de Química Inorgânica, Análise Qualitativa e Processos Gerais de Análise Quantitativa, Mineralogia e Geologia. Transferiu-se, em 1928, para o cargo de Professor Catedrático de Química Geral, Inorgânica e Orgânica. Secretário da Escola Politécnica, de 1929 a 1932, tomou parte na Revolução Constitucionalista, prestando serviço junto à Comissão Técnica Civil de Material Bélico, como Diretor do Departamento de Mineração e Metalurgia.
     Em 1933, regeu a Cadeira de Química do Curso Pré-Médico da Faculdade de Medicina e, em 1934, foi nomeado professor catedrático da Química do Colégio Universitário, anexo à Escola Politécnica. Participou ativamente de várias comissões de estudos de siderurgia e de pesquisas petrolíferas e, em 1952, foi designado Consultor Científico do Conselho Nacional de Pesquisas, participando, no mesmo ano, da Comissão Interestadual da Bacia Paraná-Uruguai. Aposentou-se em 1955 no cargo de Professor Catedrático de Química Orgânica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, depois de mais de 37 anos de dedicação à carreira de professor. Pouco antes de falecer em São Paulo, aos 17 de outubro de 1962, foi-lhe outorgado o título de Professor Emérito.
     Eduardo Ribeiro da Costa realizou trabalhos técnicos em várias localidades, desempenhou várias vezes o mandato do Conselho Técnico Administrativo da Escola Politécnica, participando de inúmeras comissões examinadoras de concursos em São Paulo e outros Estados. Foi sócio do Instituto de Engenharia, fundador da Escola Paulista de Medicina, membro correspondente da Academia Brasileira de Ciências e sócio honorário do Instituto Paulista de Química.

Fonte bibliográfica: “Eduardo Ribeiro Costa – (1892-1962)” por Leônidas de Toledo Piza in “A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º Aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes” por José Ribeiro do Valle. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, São Paulo, 1977, páginas 65-67.

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Biografia do Prof. Dr. Dorival Macedo Cardoso



Baseada em texto de José Leal Prado

Dorival Cardoso nasceu em 14 de julho de 1907 em São Paulo. Formou-se em Medicina em 1930, pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Lá, foi influenciado pelo Instituto de Manguinhos (Curso de Química) e dos irmãos Ozório de Almeida. Pouco depois de sua graduação, iniciou carreira científica no Instituto Biológico de São Paulo. Nesse local desenvolveu uma série de trabalhos, alguns dos quais sob a inspiração de Paulo Enéas Galvão. Estes trabalhos, cerca de dezessete, versaram sobre permeabilidade muscular, vitaminas A, B e C, avitaminoses e endocrinologia experimental, e ocorreram num período aproximado de 20 anos (1930-1950).
Em 1934, Dorival Cardoso tornou-se o primeiro professor de Química Fisiológica da Escola Paulista de Medicina e, com exceção do ano de 1940, em que o curso foi ministrado por J. Papaterra Limongi, o Prof. Cardoso ministrou regularmente a maioria das aulas teóricas desta disciplina do curso médico até 1942.
Em 1943, quando o Dr. José Leal Prado foi convidado por Cardoso e por Ribeiro do Valle para ser Assistente de Química Fisiológica, essa disciplina estava aos cuidados de João Pereira Junior, então colaborador do Prof. Galvão em seus trabalhos experimentais no Instituto Biológico de São Paulo. Em 1944, Dorival Cardoso voltou a ministrar algumas aulas teóricas, mas já estava mais interessado em desenvolver nova etapa na vida profissional ligada à indústria farmacêutica. Suas aulas teóricas eram curtas, conforme testemunho do Prof. Leal Prado, e a ele pareciam refletir alguém voltado para outras preocupações.
O curso prático de Química Fisiológica consistia em algumas demonstrações para grupos de alunos, em sala acanhada, o que contrastava com a intensidade dos exercícios práticos individuais a que o Prof. Leal Prado estava acostumado no curso da Faculdade de Minas Gerais.
Conforme Leal Prado, apesar das qualidades e conhecimentos do Prof. Cardoso, ele não pode desenvolver satisfatoriamente a disciplina de Química Fisiológica na EPM, por ser uma escola privada que lutava com dificuldades financeiras. Mas o Prof. Cardoso demonstrou desprendimento em sua posição de professor, porque não constituiu obstáculo a novas condições que viriam a lançar as bases para as atividades científicas se tornassem permanentes nas disciplinas básicas do ensino médico.
Ainda conforme Leal Prado, no transcorrer de quarenta anos a EPM transformou-se de escola profissional pura em um centro médico misto, onde também se cria conhecimento novo. No entender do Prof. Prado, em 1977, ao escrever o texto base para esta biografia, o sucessor de Dorival Cardoso, na disciplina que passou a ser chamada de Bioquímica é que veria a transformação da EPM em um pleno centro médico-biológico de pesquisa e ensino. Este parecia já ser um sonho dos fundadores da EPM, já que convidaram para as disciplinas básicas pesquisadores promissores ou já realizados.
A partir de 1944, o espírito pragmático de Dorival Cardoso levou-o a desempenhar importante papel  no desenvolvimento de uma indústria brasileira de antibióticos e de outros produtos farmacêuticos, a Indústria Brasileira de Produtos Químicos S.A., em São Paulo, da qual foi diretor científico. Para dedicar-se a esse cargo, deixou sua ligação com o Instituto Biológico de São Paulo. Em sua própria indústria dedicou-se à investigação científica. Por exemplo, verificou que a redução do azul de metileno pode ser empregada na padronização do BCG (D.M. Cardoso e W.F. Almeida. Revista Brasileira de Tuberculose, 18:633, 1950); posteriormente descreveu um método bioquímico simples e rápido para padronização do BCG, baseado na capacidade redutora dos bacilos vivos sobre um sal de tetrazolio: ficou demonstrada uma relação linear entre quantidades de BCG vivos e o formazan obtido, de cor vermelha (D.M. Cardoso; G. Nazario; J. P. Amaral e W. F. Almeida, Revista Brasileira de Tuberculose, 20: 583-592, 1952). Artigo de 1960 registrou que em seminário internacional sobre tuberculose foi aceita a correlação entre redução do tetrazólio, contagem de bacilos e reações intradérmicas.
Em 1958, voltando a seu interesse pelas vitaminas, Cardoso observou que o teor da vitaminas B12 das fezes e rúmen varia com as condições varia com as condições alimentares dos bovinos, demonstrando correlação entre número de ciliados no rúmen e sua riqueza em vitamina B12.
Seu último trabalho versou sobre o tratamento do choque anafilático provocado pela injeção de soro equino na cobaia; foram apresentadas evidências da eficácia da associação de um anti-histamínico, de um corticoide e da adrenalina na prevenção desse tipo de choque experimental.
O Prof. Cardoso também se envolveu na administração da Associação Médica Brasileira durante 10 anos (1951-1961). A 15 de fevereiro de 1966 faleceu na cidade de São Paulo aos 59 anos de idade. A 21 do mesmo mês o Jornal da Associação Médica Brasileira publicou sua vida profissional e a lista de 27 trabalhos.

Fonte bibliográfica:
Prado, J. L. – Dorival Macedo Cardoso in A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º Aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes, de José Ribeiro do Valle. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, pags. 61-64.

sábado, 26 de maio de 2018

Biografia do Prof. Dr. Costábile Gallucci



Baseada em texto de Helio Begliomini, da Academia de Medicina de São Paulo.

Em 1921 nasce em São Paulo, Costábile Galluci.
Em 1941 ingressa na Escola Paulista de Medicina. Enquanto aluno, gostava muito de futebol e nas competições da Pauli-Poli jogava de ponta esquerda, sendo que tinha um chute muito forte, temido pelos goleiros.
Após formar-se em 1946, passou a acompanhar o Prof. Alípio Correa Netto que, de 1933 a 1953 foi o chefe da cirurgia de cabeça, pescoço, toráx e vascular. Após o término da chefia de Alípio Correa Netto, o Dr. Euryclides de Jesus Zerbini, que trabalhava junto com Gallucci nesse serviço, decidiu sair da Escola Paulista de Medicina. Assim, em 1953, Gallucci foi convidado por Jairo Ramos e Silvio Borges para chefiar a cirurgia do tórax, cargo que exerceu de março de 1953 a junho de 1956. Neste ano, Gallucci afastou-se da instituição para ajudar o pai na Casa Gallucci, loja de ferragens tradicional da rua Florêncio de Abreu, que tornou-se reduto dos fanáticos torcedores do Palestra. Gallucci chegou a ser presidente do Conselho do Palmeiras.
Em 1957, Gallucci volta à EPM, porque o chefe da cirurgia do tórax, Ruy Margutti, suicidou-se. Então, houve a divisão em duas disciplinas: cirurgia do tórax, com a chefia do Dr. Luciano Barbosa Prata e cirurgia cardíaca com Gallucci, convidado por Jairo Ramos.
Em 1962, Gallucci recebeu o título de livre-docente com o trabalho Tratamento Cirúrgico da Estenose Pulmonar Valvular (Valvulotomia Pulmonar sob visão direta, com Hipotermia).
Posteriormente, o Prof. Gallucci só assumiu o cargo de professor titular após concurso, que exigiu fazê-lo, mesmo podendo ser nomeado pelo governo, sem a necessidade de tal concurso. Isso fala da personalidade do Prof. Gallucci, que sempre foi tido por seus discípulos como exemplo de ética e correção, bem como de entusiasmo. Em sua mesa a frase “Cada um que cresce é parte de mim que cresce, portanto estou crescendo”, expressa sua visão.
Em 15 de dezembro de 1965 ingressou na Academia de Medicina de São Paulo.
Em 1967, com o falecimento do Dr. Luciano Barbosa Prata, chefe da cirurgia do tórax, houve novamente a fusão de cirurgia do tórax com a cirurgia cardíaca.
De 1977 a 1979 ele teve o cargo de vice-mestre do Capítulo de São Paulo do Colégio Brasileiro de Cirurgiões.
Em 1981 acompanhou o primeiro concurso para título de especialista e primeiro congresso do Departamento de Cirurgia Torácica da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, hoje Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica.
Em certa ocasião em que sentiu-se mal, pegou um táxi e pediu para ir direto para o Hospital São Paulo, onde foi imediatamente atendido por seus discípulos que lhe colocaram um marca-passo cardíaco.
O Prof. Dr. Costábile Gallucci faleceu em 1990.
Sua disciplina passou a ser chefiada por Enio Buffolo até 29 de janeiro de 1992, quando o conselho do departamento e a congregação fizeram nova separação entre tórax e cardiovascular.
O Prof. Gallucci gostava de música clássica. Em 1984, ao adentrar a sala de aula, prontamente identificou uma música que era assobiada por uma aluna e disse “Tanhauser!”, sabendo-se tratar da obra de Wagner.
Na EPM foi vice-diretor, diretor clínico do HSP, chefe do Departamento de Cirurgia por 2 vezes.
Publicou os seguintes livros: Choque (1978); Traumatismos Torácicos (1982); Diagnóstico Diferencial das Massas do Mediastino.
Foi casado com Wally, teve 2 filhas: Cecília e Laura. Faleceu em 1990. Tem a cadeira nº 44 da Academia de Medicina de São Paulo. Dá nome a um edifício da EPM.

Fontes bibliográficas: 
https://academiamedicinasaopaulo.org.br/biografias/37/BIOGRAFIA-COSTABILE-GALLUCCI.pdf
Arquivo oral de História da EPM.

domingo, 20 de maio de 2018

Biografia do Prof. Domingos Define



A partir de texto de Marino Lazzareschi

     Entre os subescritores do manifesto de fundação da Escola Paulista de Medicina figura o Professor Domingos Define como responsável pela Cátedra de Ortopedia e Cirurgia Infantil, que regeu até 1966, ano de sua aposentadoria compulsória.
     Mais um idealista juntava-se aos Fundadores da nova escola médica e enriquecer o seu corpo docente.
     Natural da Capital do Estado de São Paulo, onde nasceu aos 30 de dezembro de 1895, fez seus estudos primários no Colégio do Carmo, concluídos em 1910, ingressando a seguir na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1911.
     Em 1916 formou-se médico, defendendo tese de Doutoramento sob o título “Apendicite Amébica”, aprovada com distinção e louvor.
     Desde o período acadêmico, demonstrou seus pendores para a cirurgia e após longo aprendizado e treinamento de Anatomia, sob a orientação do Prof. Alfonso Bovero e na Técnica Cirúrgica da então Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, orientou-se para a Ortopedia que, entre nós, esboçava seus primeiros passos. Visando especializar-se, partiu em 1923 para a Alemanha, Áustria e Itália, tidas como berço da Ortopedia moderna. Deste modo conviveu e especializou-se nos serviços de Lorenz, Hoffa, Lange e Covilla, então substituído, por motivos de saúde, pelo não menos notável Victorio Putti.
     À sua personalidade moderada e pesquisadora aliou-se rica bagagem ortopédica adquirida nos contatos tidos e vividos na Europa. Voltando ao Brasil, já com a experiência de magistério que exercera na Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, integrou-se no serviço de Ortopedia e Cirurgia Infantil da Santa Casa de Misericórdia, em dezembro de 1924, na Enfermaria chefiada pelo Prof. Luiz Resende Puech.
     Por ocasião da inauguração do Pavilhão Fernandinho Simonsen, primeiro Hospital de Ortopedia do Brasil, foi encarregado de ministrar os cursos de semiótica ortopédica, acumulando, com a responsabilidade de Chefe de Clínica e 1º Assistente, cargos que já vinha exercendo com competência e dedicação há alguns anos.
       Em 1938, por motivo de doença, Puech se afastou da chefia da Cátedra de Ortopedia e do Pavilhão Fernandinho, indicando Domingos Define para substituí-lo. Nessa época já tinha conquistado brilhantemente a livre docência em Ortopedia com a tese intitulada “Etiopatogenia da Coxa Plana – estudo experimental”.
     Em 25 de julho de 1938 deu início ao curso de Ortopedia na Escola Paulista de Medicina para a primeira turma que se formava naquele ano.
     Durante 27 anos foi o elo que uniu a Escola Paulista de Medicina ao Pavilhão Fernandinho Simonsen, ministrando até 1953 os cursos nas enfermarias do referido Pavilhão, cuja chefia assumira em 1939, por motivo de falecimento do Prof. Puech. Assim pode, em que pesassem dificuldades naturais, ministrar cursos básicos ortopédicos para a formação de especialistas.
     Suas atividades não se restringiram apenas ao setor do ensino, mas também à divulgação e incremento da especialidade no país e fora dele. Foi um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, Membro efetivo de inúmeras Sociedades Internacionais e da SICOT Sociedade Internacional de Cirurgia de Ortopedia e Traumatologia, onde, em 1960, no Congresso de Nova York foi declarado Delegado Brasileiro, que gentilmente recusou a favor do Prof. Barros Lima, de Recife.
     Participou de inúmeros eventos ortopédicos, organizando Jornadas e Cursos e por duas vezes presidiu o Congresso Nacional de Ortopedia.
     Projetou a Ortopedia Brasileira no campo do ensino e da ciência. Publicou numerosos trabalhos no Brasil e no Exterior, culminando na apresentação de uma variação técnica na transposição da fíbula pró-tíbia em pseudoartrose da tíbia, congênita ou adquirida em crianças e outro trabalho propondo a transposição da ulna para o rádio nas agenesias congênitas do rádio. Estas apresentações tiveram repercussão nos Congressos da SICOT, em Nova York em 1960 e em Viena, em 1963.
     Em 1970, em reconhecimento aos relevantes serviços prestados à medicina brasileira foi agraciado com a Ordem do Mérito Nacional concedida pelo Presidente da República.
     Continuador emérito da obra de Puech, enriqueceu-a com sua personalidade e idealismo, formando vários professores.
     Em sua aposentadoria foi substituído, em 1966, pelo saudoso prof. Dr. Ivo Define Frascá.
     Em 1977 (ocasião do texto base desta bibliografia) seus ex-assistentes o Professor Titular Dr. Marino Lazzareschi, os professores adjuntos Isaac Sobelmann, além de Samuel Atlas, titular da Faculdade de Medicina de Taubaté. Nessa ocasião (1977) o Prof Define prestava colaboração como Consultor e Presidente Honorário do “Centro de Estudos Domingos Define”, instituído pela Ortopedia da EPM em 1971.

Fonte bibliográfica:
Lazzareschi, M – Domingos Define in A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º Aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes. Empresa Gráfica Revista dos Tribunais, 1977, páginas 57-60.

terça-feira, 15 de maio de 2018

Biografia de Décio Pereira de Queiroz Telles



A partir de texto de Dionísio Queiroz Guimarães

     Décio Pereira de Queiroz Telles nasceu em Campinas, Estado de São Paulo, a 8 de agosto de 1902, filho do Dr. Ederaldo Prado de Queiroz Telles e de Dona Maria Luzia Pereira Telles.
     Ainda criança, seus pais se transferiram para Mogi-Mirim. Fez estudos preparatórios no Ginásio de São Bento, da Capital, no Ginásio Diocesano e Instituto Cesário Mota, de Campinas e, por último, no Instituto Osvaldo Cruz, em São Paulo. Matriculou-se em 1920 na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, doutorando-se em 1925, após a defesa de Tese aprovada com distinção, sobre “Estudo Clínico da Coprobaciloscopia Tuberculosa”.
     No Rio de Janeiro, durante seus estudos, foi interno da 9ª Enfermaria de Clínica Médica da Santa Casa de Misericórdia, chefiada pelo Dr. Sylvio Muniz. Também trabalhou no Dispensário de Tuberculose da Praça da Bandeira, sob a direção do Dr. Plácido Barbosa, que orientava a Inspetoria de Tuberculose do então Distrito Federal. Em 1926, abriu consultório e foi clinicar em Campos do Jordão, onde permaneceu até 1931, tendo sido em 1930, nomeado Prefeito Sanitário dessa Estância. Em 1931 mudou-se para São Paulo e passou a frequentar a 2ª Enfermaria de Clínica Médica da Santa Casa de Misericórdia de S. Paulo, sob a chefia de Rubião Meira e assistência de Lemos Torres e Jairo Ramos. Na Revolução Constitucionalista de 1932, alistou-se no Batalhão da Liga da Defesa Paulista, como soldado, mas dele foi retirado pelo Comando Geral das Forças Paulistas, que o designou para atender todo o Hospital São Luiz Gonzaga de Jaçanã, que na ocasião estava desprovido de facultativos. Em 1933, foi nomeado médico-chefe do Ambulatório desse Hospital, onde exerceu sua atividade sob a direção de Lemos Torres até 1938. Ainda em 1933 foi nomeado Médico Tisiologista do Serviço de Saúde Escolar, criado nessa época para atender aos alunos dos Grupos Escolares da Capital. Nesse serviço permaneceu até 1938. No decurso desses anos fez várias conferências e comunicações sobre tuberculose, na Associação Paulista de Medicina e em outras sociedades médicas da Capital e do Interior. Foi também presidente da Seção de Tisiologia da Associação Paulista de Medicina. Em 1935 elegeu-se deputado à Constituinte de São Paulo, em cuja Carta Magna, nesse ano promulgada, conseguiu inserir o dispositivo constitucional que concedia 4 anos de licença, com todos os vencimentos, aos funcionários atacados de enfermidade duradoura que os incapacitasse para o trabalho e consequente aposentadoria ao termo desse prazo, com todas as vantagens do cargo, para os que não houvessem recuperado a saúde. Esse imperativo constitucional prevaleceu sempre em toda a legislação posterior, ainda hoje em pleno vigor. Em 1933, foi um dos fundadores da Escola Paulista de Medicina e escolhido para titular da Cadeira de Tisiologia. Na EPM lecionou, de início, para as alunas de Enfermagem, os assuntos de Tuberculose, bem como ministrou aulas da mesma matéria, em programas de outras Cátedras, enquanto a EPM não instalava a Cadeira de Tisiologia para os alunos de Medicina. Depois dessa instalação, não mais deixou de ensinar até sua aposentadoria. Foi relator de temas sobre tuberculose em Congressos Médicos paulistas, nacionais e internacionais, tendo publicado numerosos trabalhos sobre a especialidade. Em 1938, foi nomeado Diretor da então Seção de Tuberculose do Departamento de Saúde do Estado de São Paulo. Foi presidente da Liga Paulista Contra a Tuberculose. Em 1940, no Instituto Clemente Ferreira, organizou o 1º Curso de Tisiologia para Médicos que desejassem se instruir na especialidade. Em 1944, sob o governo do Dr. Fernando Costa, transformou a antiga Seção de Tuberculose que se compunha apenas do Instituto Clemente Ferreira e de um Ambulatório da Mooca, na Divisão do Serviço de Tuberculose, que reuniu em uma mesma e única organização, todos os serviços de tuberculose até então dispersos e subordinados a vários setores administrativos. Com a criação da Divisão do Serviço de Tuberculose, os Dispensários e Hospitais de Tuberculose, bem como ambulatórios, abrigos e outras instituições com a mesma finalidade, mesmo particulares, desde que estabelecessem convênios com o Estado, passaram a constituir um único organismo que incrementou e impulsionou consideravelmente a luta contra o mal, em todo Estado. Foram então criados e instalados muitos dispensários novos, todos modernamente aparelhados. Foram estimulados os estudos sobre a tuberculose e incentivado o entusiasmo de se lutar contra o flagelo. Fundou-se mesmo uma sociedade de estudos de tuberculose – o Centro de Estudos da Divisão do Serviço de Tuberculose, que muito contribuiu para a divulgação de conhecimentos da moléstia. Mas no aparelhamento da Divisão do Serviço de Tuberculose, que muito contribuiu para a divulgação de conhecimentos da moléstia. Mas no aparelhamento desse serviço havia de leitos, sendo que pacientes chegavam a morrer desamparados em qualquer lugar. Necessitavam ser internados. Eleito novamente deputado à Constituinte do Estado, em 1947, pugnou e conseguiu que constasse na Constituição um dispositivo que reservava uma verba equivalente a 2% do orçamento do Estado para a construção de Hospitais de Tuberculosos. Durante o exercício do magistério fez parte de bancas examinadoras de concursos para catedráticos e livre-docentes, não só em São Paulo, mas também na Bahia e no Paraná.
     Em 1955, terminando o terceiro mandato de deputado, voltou à direção da Divisão do Serviço de Tuberculose, em cujo cargo se aposentou em 1965. Nessa mesma data aposentou-se da Cadeira de Tisiologia da EPM.

Fonte bibliográfica:
Guimarães, D. Q. – Décio Pereira de Queiroz Telles in A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º Aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes, por José Ribeiro do Valle. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, páginas 53-56.