quarta-feira, 6 de outubro de 2021

O Asilo-Colônia de Alienados em Juquery (S. Paulo) – [por Juliano Moreira]

 

Artigo publicado em 1902, na Revista Medica de São Paulo, páginas 210 a 213, reproduzido da Gazeta Medica da Bahia.

Autor do artigo: Dr. Juliano Moreira.

Substituto de Psiquiatria e Neurologia na Faculdade da Bahia.

[Observações: buscamos atualizar a escrita, mas mantivemos “Estado” com E maiúscula, “Juquery” com “y” e os nomes das revistas sem o acento na palavra “medica”.]

 

     De há muito habituado a louvar os progressos sanitários do Estado de São Paulo, sinto hoje extraordinário júbilo em noticiar aos leitores da Gazeta Medica da Bahia, a inauguração de mais um pavilhão do magnífico asilo-colônia de Alienados daquele Estado. E já agora aproveito a oportunidade para publicar as boas impressões em meu espírito deixadas pela visita que fiz àquele magnífico estabelecimento.

     Pode-se aquilatar o grau de aperfeiçoamento moral de um povo pelos cuidados que ele saiba dispensar aos que têm o infortúnio de ensandecer. Terá este modo de pensar não somente quem houver percorrido o mundo culto, mas ainda quem tiver, mesmo por leitura, conhecimento dos desvelos com que tratam seus alienados os povos que evolvem. O Estado de S. Paulo, que de há muito tem sabido marchar à frente da propaganda pelo nosso progresso real, aderindo, pelo exemplo, a todas as ideias úteis em matéria de higiene, soube também dar aos outros Estados, mesmo os mais ricos, a lição sublime de levar a efeito a construção de um manicômio modelo. Pode por conseguinte aquele Estado brasonar-se com o merecido foral de povo culto e moralmente aperfeiçoado.

     Tivessem muitos outros departamentos do território nacional sabido melhor aproveitar as sobras de seus fartos orçamentos em tempos mais prósperos e em vez de um Asilo-Colônia teríamos muitos; mas nem todos os nossos homens de governo têm sabido olhar as necessidades do país através do prisma pelo qual se têm orientado os patriotas paulistas.

     Ainda em 1894 o falecido Dr. Cesário Motta, a quem tanto deve o Estado de S. Paulo, em seu grande relatório escrevia: “A casa em que estão recolhidos os loucos torna-se dia a dia mais insuficiente e imprópria pelo acúmulo de doentes”.

     Depois transcrevia o ofício enviado ao Dr. Secretário da Agricultura com o fim de obter da respectiva repartição informações relativamente ao local mais apropriado à construção de um novo Asilo para o que uma lei do Congresso Estadual já havia dado autorização.

     Uma comissão composta de dois engenheiros e do Dr. Franco da Rocha já havia dado preferência, entre diversos terrenos oferecidos ao Governo, a dois deles, um na Moóca e outro em Juquery. O primeiro foi eliminado depois por não ter abundância de água. A compra de uma cachoeira fez retardar as negociações do Juquery. E então foi lembrado um outro local no Alto de Santana, perto da Serra da Cantareira.

     Foi depois de novo definitivamente preferido o terreno às margens do Juquery, que apresentava as seguintes vantagens: estava situado a 55 minutos da Capital, perto de uma estação de linha férrea por onde passam cerca de 14 trens diários, banhado pelo rio Juquery, cuja água é potável e tem, a cerca de 2 léguas, uma queda com força média de 100 cavalos para mover máquinas. Além disto, ao Estado oferecia gratuitamente um generoso particular 10 alqueires de terra, sendo fácil a aquisição dos terrenos circunvizinhos. Acrescendo a tudo isto a proximidade de Caieiras, onde havia cal e pedra em abundância para as obras, não pode haver dúvidas sobre a boa escolha dos terrenos em questão.

     Em 1895, o nosso distinto colega Dr. Franco da Rocha em seu “Ensaio de Estatística” do Hospício de São Paulo descrevia ainda “as péssimas condições do velho edifício em que se achavam os alienados”. O governo do Estado continuava com energia e boa vontade a envidar esforços para resolver a questão.

     Foram os beneméritos presidentes Drs. José Alves de Cerqueira César e Bernardino de Campos que, em boa hora, confiaram ao distinto alienista supracitado a escolha do sistema de hospício a adotar. Pela primeira vez neste país deu-se inteiramente ao médico alienista o direito de dizer quais princípios devem orientar a construção de um manicômio, e, o que é mais, foi-lhe dada a missão de ao lado do arquiteto pôr em prática estes princípios. E tão afortunada é aquela terra que pode dispor de um arquiteto inteligente, o Dr. Ramos de Azevedo, a quem o Dr. Franco da Rocha não poupa louvores pela alta competência que pôs em prática para efetuar os preceitos salutares da higiene hospitalar ao serviço de manicômios.

     Em obediência à decisão do Congresso Internacional dos Alienistas reunido em Paris em 1889, o Dr. Franco da Rocha desde 1892 envidou esforços para que fosse fundado em S. Paulo um Asilo-Colônia e não colônias agrícolas para alienados em pontos diversos e distantes do território do Estado.

     De fato, aquele Congresso tinha aconselhado como preferíveis os asilos médico-agrícolas compostos de um asilo central, cercado de estabelecimentos agrícolas sempre que as circunstâncias o permitirem. Desde que não era absolutamente aproveitável o velho hospício então existente, desde que a circunstância de não ter S. Paulo ainda uma Faculdade Médica, não impunha a necessidade da criação de uma clínica urbana, não vejo melhor alvitre que o aconselhado pelo Dr. Franco da Rocha.

     Somente em fins de 1895 começou a edificação do projetado estabelecimento, em terrenos para cuja escolha concorrera o alienista cujo nome tantas vezes tenho repetido.

     A maior parte das construções do hospício propriamente dito fizeram com que a colônia fosse concluída antes dele e inaugurada a 18 de maio de 1898. Demais o acúmulo de doentes no edifício do velho hospício impunha a inauguração da referida colônia.

     Falarei, portanto, primeiro da colônia, mesmo porque foi a parte que eu tive a fortuna de ver completa, em plena atividade.

     Ela está apenas a 1500 metros do hospício.

     Em redor de uma grande área central arborizada, de 100 metros sobre 70, agrupam-se 10 pavilhões de que se compõe a colônia. Eles são pequenos e elegantes ainda que singelamente construídos. Dispostos em duas filas de quatro pavilhões cada uma, estão destinados aos enfermos.

     Os dois restantes são destinados a administração e economia: isto é, um foi depois destinado ao médico auxiliar e outro à cozinha, dispensa, rouparia, etc.

     Cada um dos oito pavilhões tem uma sala de refeitório, 1 dormitório com 20 camas, 1 banheiro, 1 latrina e dois compartimentos ainda para um enfermeiro e um guarda.

     Nos 8 pavilhões destinados aos doentes pernoitavam 20 asilados em cada um deles, ao tempo da minha visita ao Juquery. Meu distinto colega Dr. Franco da Rocha informou-me, porém, que em caso de necessidade lá poderiam estar 25 pacientes, por isso que se lhes tinha dado o conveniente excesso de cubagem.

     Dentre os oito pavilhões em que se alojam os pacientes, dois eram então destinados aos inválidos por moléstias intercorrentes e, por isso, neles, em vez de um só enfermeiro como em outros pavilhões, havia ainda um ajudante.

     Dez empregados fariam então o serviço dos oito pavilhões. Hoje os enfermos que necessitam de um tratamento sério são mandados para o asilo de tratamento.

     Dois empregados cuidavam da rouparia, dispensa, feitura de barba, corte de cabelo, curativos de feridas, etc. Dois outros faziam o serviço da cozinha e uma geria o serviço das criações.

     Os empregados revezavam-se em turmas de 5 por semana para saírem com os que trabalham acompanhando-os no serviço.

     Por ocasião de minha visita, a colônia tinha 160 asilados crônicos, dos quais muitos válidos trabalhavam e auxiliavam o serviço sem que ninguém precisasse fiscalizá-los.

     Alguns saem a passeio completamente livres; voltam à hora da refeição e do recolher sem dar incômodo ao pessoal.

     A colônia colocada sobre uma colina está rodeada de 170 hectares de terra que foram divididos em duas partes: uma para criação de vacas leiteiras, galinhas, porcos, etc. A outra destinada à agricultura, é regada pelo rio Juquery.

     Tendo em vista as condições do terreno, o Dr. F. da Rocha mandou plantar primeiro o que podia dar mais pronto resultado: milho, aipim, batata, fumo, cana, etc.

     Todos os detritos do estabelecimento são aproveitados para a fertilização do solo destinado a ser cultivado.

     Ao tempo de minha visita já ali havia uma roça com três alqueires de milho, um pomar com 480 árvores frutíferas, uma boa plantação de mandioca, e uma boa horta que provia regularmente a cozinha do estabelecimento.

     Os asilados em serviço estão agrupados por turmas e são acompanhados por um dos empregados segundo o número deles. Os empregados trabalham também, e não exercem pressão sobre os enfermos, que só trabalham quando querem: jamais são obrigados a isso.

     O trabalho deles é de 6 a 7 horas intervaladas pelas de descanso.

     Uma turma trabalha na conservação da via térrea que serve ao asilo e à colônia; outra cuida do estábulo, outra cultiva os cereais, outra cultiva o fumo e fabrica charutos para os outros asilados, e assim por diante. O grupo que se ocupa da horticultura vive em pavilhão separado dos outros e onde os enfermos gozam da mais absoluta liberdade.

     Os que trabalham, logo que se erguem às 6 horas da manhã no verão tomam café simples e seguem para o serviço; voltam às 8 para uma refeição ligeira composta de 200 gramas de pão e uma caneca de 400 gramas de café.

     Saem de novo às 9:30 h para o serviço e voltam ao meio-dia, quando recebem carne, arroz, feijão, farinha, batatas, verduras.

     Às 2 horas voltam ao serviço. Às 4, mesmo no serviço, tomam uma ligeira refeição, composta de aipim cozido ou batata doce, etc. Às 5:30 tomam chá com roscas de farinha de trigo.

     A maior parte dos doentes asilados em Juquery, é provinda da classe de trabalhadores agrícolas. Não pode haver dúvida que a ocupação preferível para eles era o trabalho no campo, mesmo por ser o que exige menos esforço intelectual da parte do enfermo. Quem quer que tenha visto os bons efeitos do trabalho em certa classe de alienados, não poderá deixar de louvar a orientação que o Dr. F. da Rocha tem sabido dar à colônia anexa ao Asilo de Juquery.

     Ao tempo da minha visita à magnífica fundação de meu distinto colega Dr. F. da Rocha, ainda não estava inaugurado o Asilo de tratamento. Mas em companhia dele pude fazer um juízo sobre a orientação científica que aquele estudioso alienista tinha dado à construção da parte hospitalar do manicômio do Juquery.

     Segundo as últimas notícias dali recebidas, funcionam o pavilhão da administração, o da dispensa, três pavilhões da seção de homens, uma enfermaria para moléstias intercorrentes e um pavilhão destinado à hidroterapia.

     Os pavilhões para doentes que eu tive ocasião de ver em via de acabamento, eram divididos do seguinte modo: um salão para refeitório, uma sala de conversação e recreio, 10 quartos para um ou dois enfermos, 2 dormitórios para 30 camas, quartos para enfermeiros e um pátio onde passeiam os doentes.

     Terminados os trabalhos de construção, o excelente estabelecimento de S. Paulo constará de 12 pavilhões para doentes, sendo 8 para doentes comuns, 2 para isolamento e 2 para os atingidos por moléstias intercorrentes; 1 pavilhão para administração, 1 para dispensa, 2 para hidroterapia e 1 para lavanderia.

     Comportará então o hospício 800 doentes e unido à colônia atingirá a 1000 o número de asilados no Juquery.

     Não sendo possível fazer logo no Asilo-Colônia de Juquery uma instalação elétrica, faz-se a iluminação a acetileno. Mais tarde, por certo far-se-á a referida instalação.

     A distância entre a estação da Estrada Inglesa e as várias dependências do Asilo-Colônia é vencida por um pequeno ferro-carril de bitola estreita. Mais ou menos a meio trajeto entre a referida estação e o hospício central está o elegante chalet morada do diretor.

     Malgrado minha pouca simpatia pelos sistemas de construção de asilos em que os pavilhões são grandes e para muitos doentes, assim como por aqueles em que os pavilhões são iguais, por isso que ai resulta uma certa monotonia que não é sem inconvenientes para certos espíritos, tenho a extraordinária satisfação de assinalar aqui a magnífica impressão em mim causada pelo Asilo-Colônia de Juquery.

     A economia resultante do sistema ali posto em prática, explica o tê-lo preferido o seu distinto Diretor; de mais tive ocasião de vê-lo adotado em outras cidades dispondo talvez de mais larguezas orçamentárias.

     Terminada a construção do hospício, se meu distinto colega Dr. Franco da Rocha lhe anexar um laboratório anatomopatológico, um pequeno bacteriológico e um bioquímico, dando-lhe o respectivo pessoal idôneo, se ainda se instalar ali um gabinete de psicofisiologia, terá elevado o esplêndido estabelecimento que soube fundar à altura dos mais perfeitos da Alemanha e da América do Norte.

     Até hoje está muito acima dos três toleráveis existentes em todo o vasto território nacional.

     Faço votos muito sinceros para que o Estado de S. Paulo saiba sempre avaliar devidamente o enorme serviço que lhe prestou o distinto alienista que planejou e executou o excelente Asilo-Colônia de Juquery.

     Com o sábio alienista francês Ritti e comigo, o Estado de S. Paulo deve estar convencido que “sous la Direction de notre savant confrère, ce bel etablissement, dont il est le créateur, rendra des services éminents et à la science et à l’humanité”.  

     Que os outros Estados saibam colher no modo de proceder de S. Paulo o exemplo fecundo do que se pode chamar servir bem a causa pública.

    Antes de terminar sou obrigado a agradecer ao meu distinto colega Dr. Franco da Rocha o acolhimento afetuoso que me dispensou nas visitas que fiz ao velho e ao novo hospício de S. Paulo.

         

         

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

1934 – Relação do Corpo Administrativo e Funcionários da Escola Paulista de Medicina

 

DIRETORIA:

Diretor – Dr. Octavio de Carvalho

Vice-Diretor – Dr. Felipe Figliolini

Secretário – Francisco de Assis e Almeida

Tesoureiro-Contador – Nicolau Duarte Barbosa

 

AUXILIARES DE SECRETARIA E TESOURARIA:

Datilógrafa e protocolista – Ida Paulini

Auxiliar-Contador – Alfredo Fragoso Pereira

Auxiliar-Arquivista – José Mallet Rocco

Escriturária – Olympia Turino

 

PORTARIA:

Guarda-Noturno – Antonio da Silva

Porteiro – José Pereira

 

PROFESSORES:

Anatomia 1º ano – Dr. João Moreira da Rocha

Histologia e Embriologia (em comissão) 1º ano - Dr. Nelson Gioia Planet

Adjunto de Anatomia (em comissão) 1º ano – Dr. José Maria de Freitas

Fisiologia 2º ano – Dr. Thales Martins

Química Fisiológica 2º ano – Dr. Dorival Macedo Cardoso

Física Biológica 2º ano – Dr. Lauro Monteiro da Cruz

 

ASSISTENTES:

Histologia e Embriologia Geral 1º ano – Dr. Zeferino Vaz

Química Fisiológica 2º ano – Dr. Cândido Hércules Florence

Fisiologia 2º ano – Dr. José Ribeiro do Valle

Química Fisiológica 2º ano – Dr. Dyonisio von Klobusitzky

 

TÉCNICAS:

Histologia e Embriologia Geral – Martha Breuer

Cadeira de Fisiologia – Romilda Miquelini

 

SERVENTES:

Química Fisiológica – Daniel dos Santos

Anatomia – Davi Soares

Histologia e Embriologia Geral – Hylton Nogueira França

 

MONITORES:

Mário Fonzari – Anatomia

Carlos Ary Machado – Física

 

AUXILIARES DE BIBLIOTECA:

Ananias Pereira Porto e Georges Arié

 

FOTÓGRAFO:

Mário Cardim   


Fonte bibliográfica:

Valle, J. R. – A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º Aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes. Empresa Gráfica Revista dos Tribunais, 1977.    

 

 

 

 

 

 

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Biografia do Prof. José Leal Prado de Carvalho

 

A partir de texto do Prof. Antonio Carlos de Matos Paiva

 

     Leal Prado nasceu em Alfenas, Minas Gerais, em 8 de setembro de 1918. Filho de Professores – seu pai, Aprígio de Carvalho Junior, foi professor da Escola de Farmácia e Odontologia de Alfenas e sua mãe, Rosina Prado de Carvalho, professora primária – deve ter deles herdado as qualidades que o tornaram verdadeiro mestre.

     Os cursos primário e secundário foram feitos na sua cidade natal, tendo concluído o último em 1933. Neste mesmo ano, ainda muito jovem, transferiu-se para Belo Horizonte onde frequentou o Curso Anexo à Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais durante um ano, ingressando, a seguir, na referida Faculdade. Diplomou-se em Medicina em 1940.

     O seu interesse pela pesquisa científica e a sua inclinação para o magistério cedo se manifestaram, despertados pela extraordinária personalidade do professor de Química Fisiológica, José Baeta Vianna, em cujo laboratório começou a trabalhar quando cursava o quinto ano de Medicina em 1939, inicialmente como monitor e depois como Assistente Voluntário. Este foi o período de fundamental importância para sua carreira de pesquisador e mestre, pois, foi nesta época que recebeu grande parte de sua formação e orientação sob a direta supervisão do Prof. Baeta Vianna.

     Em 1943, transferiu-se para São Paulo, por convite dos professores José Ribeiro do Valle e Dorival Macedo Cardoso, para exercer o cargo de assistente deste na cadeira de Química Fisiológica da Escola Paulista de Medicina. Ao mesmo tempo, também a convite do Prof. Ribeiro do Valle, então Chefe da Secção de Endocrinologia do Instituto Butantã, onde foi trabalhar como estagiário.

     Foi no Instituto Butantã, durante a direção do Prof. Otto Bier, que iniciou a sua carreira de pesquisador em São Paulo ao aceitar a incumbência de organizar um laboratório de química fisiológica, colaborando com os trabalhos em andamento e iniciando um estudo sobre a regulação da glicemia de ofídios. A sua convivência com os cientistas de padrão internacional que naquela época pertenciam ao Instituto Butantã consolidou a sua formação como cientista e resultou na publicação de dez trabalhos.

     Em maio de 1945, casou-se com Eline Michelet Sant’Anna, bacharel em Química, que na época ocupava o cargo de Chefe da Seção de Química da Laborterápica S.A. A compreensão dedicada e a valiosa colaboração dada pela sua esposa ao seu trabalho a partir de 1951, quando se tornou sua assistente foram outros fatores de grande importância para a sua obra científica.

     Em 1946 foi escolhido pelo Prof. Otto Bier para trabalhar como fellow do Canada-Brazil Trust Fund no Instituto de Medicina e Cirurgia Experimental da Universidade de Montreal, sob a direção do Prof. Hans Selye. Aí permaneceu por dois anos, frequentando seminários, participando de congressos científicos e principalmente aprendendo novas e importantes técnicas para o seu trabalho de pesquisa. Data deste período o início de seu interesse por hipertensão experimental. Este foi um tempo de grande produtividade, resultando na publicação de onze trabalhos. Antes de voltar ao Brasil, com bolsa concedida pelo Prof. Selye, visitou vários laboratórios nos Estados Unidos.

     Ao voltar ao Brasil, conscientizado da importância do trabalho em tempo integral numa instituição universitária, associou-se ao Prof. Ribeiro do Valle para organizar o Laboratório de Farmacologia e Bioquímica e uma pequena biblioteca departamental da Escola Paulista de Medicina, trabalhando em regime de dedicação exclusiva. Este foi o primeiro núcleo dedicado à pesquisa científica no regime de tempo integral da Escola Paulista de Medicina e teve influência decisiva no desenvolvimento desta instituição como centro de excelência em investigação biomédica e ensino de alto padrão.

     Após a conquista da cátedra de Química Fisiológica, em 1950, teve o Prof. José Leal Prado papel sempre proeminente na evolução da Escola Paulista de Medicina, tanto no aspecto didático como científico. Por todos os seus trabalhos e seus discípulos, o Prof. Leal Prado colaborou para a melhoria universitária, em particular para a pós-graduação.

     Participou ativamente na estruturação e fundação do Curso de Biomedicina no Brasil e na Escola Paulista de Medicina.  

     O Prof. José de Leal Prado Carvalho faleceu no ano de 1987.

 

Fontes bibliográficas:

Paiva, ACM – José Leal Prado de Carvalho in A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes. Organizado por José Ribeiro do Valle. Empresa Gráfica dos Tribunais, 1977, pag. 175-177.

Site da Fundação Oswaldo Cruz

Site do Conselho Federal de Biomedicina

      

quinta-feira, 4 de março de 2021

Biografia de Raul Leitão da Cunha

 

A partir de texto de José Ribeiro do Valle

 

     Raul Leitão da Cunha nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 2 de janeiro de 1881. Filho do Dr. José Maria Leitão da Cunha e de dona Georgina Leitão da Cunha, ambos descendentes de tradicional família carioca. Casou-se com dona Zita Vidal Leitão da Cunha, pertencente à família do Barão de Santa Margarida.

     Leitão da Cunha formou-se em Medicina em 1903 na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Nessa mesma Faculdade foi professor de Anatomia Patológica e Diretor da Faculdade. Foi Reitor da Universidade do Brasil, após a criação desta, quando a Faculdade de Medicina passou a estar ligada a ela.

     Por ocasião de seu sepultamento no Rio de Janeiro, em 16 de março de 1947, o jornal “O Estado de São Paulo” fez a seguinte publicação: “Como homem de ciência, mestre, administrador técnico, escritor, orientador da Universidade, político e jornalista, seus esforços dirigiam-se, sempre, para a valorização, para a moralização do ensino entre nós. Pela tribuna, pela imprensa, pela cátedra, nunca deixou de se bater por essa causa. Para ele, todos os vícios da organização nacional provinham do descaso, da má vontade com que, em geral, sempre foram encarados, no Brasil, os problemas atinentes ao ensino. Nunca se cansava de repetir que do estabelecimento do ensino em bases mais elevadas e sérias dependia a formação de uma mais sã consciência das responsabilidades coletivas. E dedicando o melhor dos seus esforços a esse ideal, tornou-se um dos grandes técnicos no setor da organização e administração do ensino superior, o que levou a enfrentar inúmeras campanhas e a superar muitas dificuldades erguidas pelos seus adversários. Por outro lado, a seriedade com que sempre se dedicou às obrigações do magistério e a invariável imparcialidade com que julgava as provas, os exames e os concursos, valeram-lhe a fama de uma severidade que não possuía”.

     Em Reunião da Congregação da Escola Paulista de Medicina de 9 de abril de 1947, em que fora reeleito e empossado o Prof. Álvaro Guimarães Filho, este anunciou que o “Conselho Técnico Administrativo” tomara a resolução de reverenciar a memória do grande amigo da Escola, o excelente mestre de medicina, Professor Leitão da Cunha que, ocupando altos postos na esfera federal, sempre acolheu e apoiou os interesses desta instituição. Já ele merecera o título Honoris Causa e, agora desaparecido, deve merecer o culto de nossa saudade e gratidão. A Congregação permaneceu de pé e em silêncio por um minuto e determinou a colocação de uma placa de bronze no anfiteatro principal da Escola que, passou a chamar-se Sala Leitão da Cunha.

     Leitão da Cunha foi paraninfo na formatura de 1938, da primeira turma de médicos formados pela Escola Paulista de Medicina.

 

Fonte bibliográfica:

Raul Leitão da Cunha in A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes. Organizado por José Ribeiro do Valle. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, págs. 239-240.




terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Biografia do Prof. Nylceo Marques de Castro


A partir de texto do Prof. Wilson da Silva Sasso

 

     Nylceo Marques de Castro nasceu em 6 de novembro de 1919 na cidade de Santos, estado de São Paulo. Lá fez cursos primário e secundário. Ingressou na Escola Paulista de Medicina em 1940, tendo se formado em 1945.

     Desde o ano de 1941 até sua formatura, foi monitor da Cadeira de Anatomia Descritiva e Topográfica, então sob o comando do Prof. Dr. João Moreira da Rocha. Depois de formado, foi nomeado segundo assistente da Cadeira, onde organizou, com o apoio do Prof. Moreira da Rocha, a Seção de Neuroanatomia. Nesta Seção, trabalhou intensivamente durante quatro anos. Quando de seu afastamento, deixou perto de 6 mil lâminas correspondentes a cortes de vários troncos cerebrais. Ainda quando no Departamento de Anatomia, preparou grande número de crânios, que passaram a fazer parte do acervo da “Coleção de Crânios da Escola Paulista de Medicina”.

     Preparou também, sobrepujando todas as deficiências materiais do momento, numerosos cortes de hemisférios cerebrais, sempre movido pela vontade incontida de melhorar o ensino e o aproveitamento dos alunos.

     Em 1949, foi indicado, pelo Prof. Edgard Mello Mattos Barrozo do Amaral, para exercer as funções de assistente na Cadeira de Histologia da Faculdade de Farmácia e Odontologia da Universidade de São Paulo, cargo que ocupou até 1959, quando se transferiu para a Cadeira de Histologia da Faculdade de Farmácia e Odontologia de São José dos Campos, onde, na qualidade de professor, permaneceu até a época de seu falecimento.

     Em 1950, foi nomeado, pelo Prof. Barrozo do Amaral, como primeiro assistente de Histologia Geral da Escola Paulista de Medicina, cargo que ocupou até maio de 1952. Nesta data, foi indicado pelo Conselho Técnico Administrativo para exercer as funções de Professor Contratado, incumbido da regência da Cadeira.

     Em 1949, candidatou-se à Livre-Docência de Anatomia da Escola Paulista de Medicina, recebendo os títulos de Doutor em Medicina e Livre-Docente de Anatomia.

     Da mesma forma, em abril de 1951, candidatou-se à Livre-Docência da Histologia da Faculdade de Farmácia e Odontologia da Universidade de São Paulo, onde foi aprovado com distinção.

     Em abril de 1955, candidatou-se à Cátedra de Histologia e Embriologia da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo, recebendo naquela ocasião o título de Livre-Docente da referida Cadeira.

     Em 1961, após concurso de títulos e provas, foi nomeado Professor Catedrático de Histologia e Embriologia da Escola Paulista de Medicina.

     Em 1965, então Professor Titular da Disciplina de Histologia e Embriologia da Escola Paulista de Medicina, por sugestão do Prof. Renato Locchi, Regente da Disciplina de Anatomia, foi eleito Chefe do recém-formado Departamento de Morfologia, cargo que exerceu até o início de suas funções de Diretor da Escola Paulista de Medicina, em 1968.

     Paralelamente à sua carreira universitária e suas atividades administrativas, o Prof. Marques de Castro desenvolveu intensa atividade científica, conforme atesta sua lista de trabalhos publicados, cerca de quarenta [conforme os moldes da época em que o Prof. Sasso escreveu isso], não só em nosso meio, como em revistas internacionais da especialidade. Neste particular, o Prof. Sasso, em seu relato biográfico, salientou as pesquisas realizadas pelo Prof. Nylceo no campo do “sexo genético”. Destacou o “primeiro trabalho publicado na literatura internacional” onde é relatado o diagnóstico do sexo genético em material humano normal e patológico, tendo sido padronizada a pesquisa do “cromolema sexual” em núcleos de fibras musculares lisas, o que lhe valeu o prêmio “Oscar Freire” de Medicina Legal do ano de 1956.

     Numerosas foram também suas pesquisas sobre “Histologia Comparada”, onde teve oportunidade de demonstrar a relação entre estrutura e função em órgãos ainda pouco estudados.

     Prof. Nylceo também fez estágio de aperfeiçoamento no Instituto Gustave Roussy, da Universidade de Paris, sob a supervisão do Prof. Charles Oberling.

     Ainda em sua atividades científicas, o Prof. Nylceo de Castro teve a oportunidade de orientar numerosas teses e trabalhos de pesquisa. Diversos foram os professores formados sob sua orientação, entre eles: José Cassiano de Figueiredo, Chefe do Departamento de Morfologia da Escola Paulista de Medicina; Wilson da Silva Sasso, Professor Titular de Histologia da Escola Paulista de Medicina e Chefe do Departamento de Histologia e Embriologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo; José Merzel, Professor Titular de Histologia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba; Hisakazu Hayashi, Chefe e Professor Adjunto da Disciplina de Embriologia da Escola Paulista de Medicina; Irineu Pontes Pacheco, Professor Adjunto do Departamento de Morfologia e Chefe do Setor de Microscopia Eletrônica da Escola Paulista de Medicina; Roberto D. Andreucci, Chefe do Departamento de Morfologia da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos.

     O Prof. Marques de Castro também foi um dos criadores do Curso Biomédico da Escola Paulista de Medicina.

     Ainda exercendo as funções de Diretor da Escola Paulista de Medicina, faleceu tragicamente em acidente marítimo em janeiro de 1970.

     Assim se encerra o texto que foi escrito pelo Prof. Sasso sobre o Prof. Nylceo de Castro.

     O jornal “Folha de São Paulo” de 17 de janeiro de 1970 noticiou a morte do Prof. Nylceo Marques de Castro. Informa o texto que ele morreu afogado no dia 14 de janeiro de 1970, na baía de Trapandé, em Cananeia, litoral sul de São Paulo, quando seu barco virou devido à violência das ondas. Duas outras pessoas que navegavam juntas, o professor da EPM, Oscar Portugal, e o sr. Igílio dos Santos, conseguiram agarrar-se ao barco, e no dia seguinte alcançaram a praia de Pedrinhas, após dez horas, na Ilha Comprida, distante muitos quilômetros do local onde a embarcação virou. Ali pediram socorro e mobilizaram autoridades dos municípios de Iguape e Cananeia. O barco virou às 22:30 de quarta-feira, dia 14, quando os três tripulantes tentavam atravessar a baía de Trapandé, na pequena embarcação com motor de popa, pois queriam chegar a Ilha Comprida. O barco teria virado pela ação de grandes ondas, e, conforme o texto, o Dr. Nylceo teria desaparecido em seguida. Depois de alertadas, as autoridades procuraram pelo corpo do Dr. Nylceo, que só foi encontrado no dia 16 de janeiro, próximo a Iguape, tendo sido removido para o necrotério desse município.

     A Escola Paulista de Medicina designou uma comissão formada pelos médicos Oswaldo Ramos, José Cassiano Figueiredo e Marcelo Pio da Silva para ir a Iguape a fim de acompanhar a remoção do corpo do Dr. Nylceo para a Capital. Segundo informações da EPM, o corpo chegaria às 23:30 horas do dia 16 e seria velado no salão nobre da EPM.

     Ainda informou o jornal Folha de São Paulo que o Prof. Nylceo Marques de Castro nasceu em Santos a 6 de novembro de 1919, e tinha, portanto, 51 anos. Formou-se em Medicina pela EPM em 1945 e foi o primeiro aluno da EPM a se tornar Diretor da Escola em maio de 1968, substituindo o Prof. José Maria de Freitas. Antes de assumir a direção foi catedrático da Cadeira de Morfologia. Na sua mocidade foi campeão universitário de Remo e Natação e sempre foi apaixonado pelos esportes aquáticos.

     Conforme informações do Dr. Abel Pereira de Souza Junior, ex-aluno da EPM na época em que o Prof. Nylceo era Diretor, na ocasião do acidente o Prof. Prates (depois também foi Diretor) disse que o Prof. Nylceo teria ajudado a salvar o Prof. Portugal, mas não conseguiu salvar a si próprio, pois estava com um braço quebrado e esgotado.

     Ainda conforme o Dr. Abel, O Prof. Nylceo assumiu a Diretoria da EPM em um momento de crise, em 1968, quando o então Diretor, José Maria de Freitas foi demitido. Foi criada então uma Comissão Paritária com Professores, Funcionários e Alunos, a qual realizou a primeira reforma curricular que modernizou a grade e estrutura administrativa da EPM, dando, portanto, um grande salto para a Escola ser alçada a mais altos patamares.

 

Fontes bibliográficas:

Sasso, W. S. - Nylceo Marques de Castro in A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º Aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes. Organizado por José Ribeiro do Valle. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, págs. 204-207.

Acervo do jornal Folha de São Paulo – publicação de 17 de janeiro de 1970.

Depoimento do Prof. Dr. Abel Pereira de Souza Junior, ex-aluno da Escola Paulista de Medicina, da 36ª Turma (formado em 1973), sobre dados biográficos do Prof. Nylceo Marques de Castro.

 

 

        

 

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Biografia do Prof. Paulino Watt Longo

 

A partir de texto do Prof. Octavio Lemmi

 

     Paulino Longo nasceu em São Paulo no dia 7 de junho de 1903. Após bacharelar-se em Ciências e Letras pelo Ginásio do Estado, ingressou na então assim chamada Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, em fevereiro de 1920, diplomando-se em 1926, quando apresentou tese inaugural que versou sobre “Contribuição ao Estudo da Esclerose Lateral Amiotrófica”. Esse seria o marco inicial de sua trajetória de neurologista, destinada a inexcedível brilho.

     Logo colaborou como voluntário nos trabalhos assistenciais e didáticos da então Clínica Neurológica e Psiquiátrica, dirigida pelo mestre Enjolras Vampré – o criador da Escola Neurológica Paulista –, tendo sido nomeado assistente já em 1928, cargo que exerceu com assiduidade e dedicação exemplares durante dez anos. Nesse período, realizou intensa atividade clínica e publicou mais de trinta trabalhos sobre a especialidade.

     Em 1938, com o falecimento de Fausto Guerner, professor e chefe da Clínica Neurológica da Escola Paulista de Medicina, foi Paulino Longo convidado para reger interinamente essa Cátedra, a qual seria por ele conquistada um ano após, em memorável concurso de títulos e provas.

     Desde logo surgiriam as múltiplas facetas de sua personalidade. Pelo seu magnetismo pessoal, traduzido em bondade, simplicidade constante bom humor e cordialidade, viu se agregarem em torno de si inúmeros jovens sequiosos de aprender a especialidade, os quais, com o decorrer dos anos, deveriam formar a sua escola neurológica. A eles transmitiu aulas e ensinamentos preciosos, caracterizados por objetividade e pelo seu espírito prático, baseados em cultura neurológica, profunda experiência e na preocupação constante de aliviar a dor e a angústia de seus pacientes.

     A todos os seus discípulos e companheiros dedicou incondicional amizade. Exultava com seus sucessos, mesmo os mais simples, e sentia-se feliz, nessas ocasiões, em poder reunir seus colaboradores, do mais credenciado ao mais jovem, em um restaurante simples, onde, num ambiente de alegria e animação, dirigia-lhes palavras de elogio e estímulo. Da mesma forma, compartilhava de seus problemas e angústias, e procurava ajudar sempre que possível. Quantas vezes aproximava-se de algum companheiro para cuidadosamente perguntar: “Você anda triste, o que está acontecendo? Você está doente? Precisa de dinheiro?”.

     Seus assistentes o homenagearam em seu 50º aniversário, em sua casa de Campos de Jordão, presenteando-o com uma série de trabalhos que viriam a ser publicados nos Arquivos de Neuro-Psiquiatria em dois números especiais. Seu colega e amigo Oswaldo Lange, professor de Neurologia e editor dessa revista disse que “melhor homenagem não poderia esperar quem vem, há longos anos, orientando grupo coeso de neurologistas, ao qual se deve, sem a menor dúvida, boa parte do progresso da Neurologia em nosso país”.

     Prof. Lemmi dizia que Paulino Longo sempre se colocava pronto a ajudar, mesmo em ocasiões em que sofresse algum prejuízo, ou que tivesse sido incompreendido. Prof. José Geraldo de Camargo Lima disse que, certa vez, ainda jovem neurologista, quando foi para Congresso em Buenos Aires de ônibus, surpreendeu-se com a presença do Prof. Longo que lhe deu um abraço. Depois no ônibus descobriu que Longo colocou dinheiro em seu bolso.

     Paulino Longo foi também um líder. Como afirmou no dia de sua morte seu amigo Prof. Deolindo Couto: “ele foi um líder da Neurologia paulista e brasileira, ligado que estava a todos os momentos da especialidade, graças a seu desprendimento, à sua inteligência, ao seu espírito gregário que unia e sensibilizava, e principalmente graças a seu amor ao trabalho”.

     Participou na fundação e nas atividades de sua sociedade médica e na criação de revistas especializadas. Publicou mais de 250 artigos. Participou na organização de diversos congressos médicos nacionais e internacionais. Participou de várias bancas, inclusive de 14 professores catedráticos em neurologia e 31 livre-docentes. Recebeu a Ordem do Mérito Médico concedida por decreto do Presidente da República, e o título de Professor Emérito concedido pela Congregação da Escola Paulista de Medicina.

     Em 1966 aposentou-se dizendo que devia dar lugar aos mais novos, tendo mantido frequência nas atividades acadêmicas. Em 15 de setembro de 1967 faleceu de um quadro cardíaco agudo. Seus discípulos fizeram-lhe um busto que fica á frente da Enfermaria da Neurologia do Hospital São Paulo. 

 

Fontes bibliográficas:

Lemmi, O – Paulino Watt Longo in A Escola Paulista de Medicina – dados comemorativos de seu 40º aniversário (1933-1973) e anotações recentes. Organizado por José Ribeiro do Valle. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, páginas 208-211.

Depoimento pessoal do Prof. Dr. José Geraldo de Camargo Lima.