segunda-feira, 5 de junho de 2023

90 anos da Escola Paulista de Medicina - Famílias Epemistas

 

         É comum designar-se a “Comunidade Epemista” também como uma “Família Epemista”, e isso serve tanto para o sentido simbólico como para o sentido literal do termo, pois diversos foram os familiares que acabaram fazendo parte da Escola Paulista de Medicina (EPM), tanto como estudantes, como professores, médicos e outras categorias profissionais.

         Uma dessas famílias foi a Raposo do Amaral e seus descendentes. Como aqui já foi mencionado o Prof. Dr. José Raposo do Amaral (1923-2006) formou-se na EPM em 1949 (foto 1). Por sua vez, seu sobrinho, Dr. Júlio Raposo do Amaral (1933-2016) formou-se na EPM em 1959 (foto 2), uma turma que depois teve vários professores da Escola, como Benjamin Kopelman, Kalil Farhat, José Kerbauy, Luiz Kulay, Fernando Braga, entre outros.

Fotos 1 e 2

 

        Além disso, a Sra. Consuelo Bordini, cunhada do Prof. José Raposo, foi secretária e técnica de laboratório no Departamento de Patologia, tendo começado seu trabalho na EPM muito jovem, em 1953. Iniciou na Patologia Geral com o Prof. Marcos Lindemberg. Depois trabalhou na Anatomia Patológica com o Prof. Pasqualucci e depois com o Prof. Michalany. Após isso, trabalhou também na Patologia Clínica com o Prof. Sílvio Carvalhal e depois com o Prof. Saad. Em 1990, aposentou-se (foto 3).



         A mesma família Raposo do Amaral tem proximidades com os familiares dos antigos proprietários do terreno em que se instalou a EPM. Eles têm contatos com o Sr. Luiz Antonio Paiga, neto do psiquiatra Dr. Joaquim Basílio Pennino; este, por sua vez, era genro do antigo proprietário da futura área da EPM, Sr. Schiffini.

Dessa forma podemos aqui apresentar a foto do Sr. Luigi Schiffini, proprietário da Chácara Thereza Schiffini, nome de sua filha (esposa do Dr. Pennino), onde depois ficaram as instalações da EPM e do Hospital São Paulo (HSP) (foto 4).

 

 

       Também temos a foto da Residência do Dr. Joaquim B. Pennino, dentro dessa mesma área, que em 1937 foi transformada no Pavilhão Maria Thereza (por doações da Sra. Maria Thereza Azevedo). Tal local foi o primeiro espaço da internação de pacientes da EPM e HSP (foto 5).

 

      Apresentamos, a seguir, a foto do Dr. Joaquim B. Pennino, acompanhado de sua esposa, Sra. Thereza Schiffini Pennino, filha do Sr. Luigi Schiffini (foto 6).

 


 O Dr. Pennino era psiquiatra e desenvolveu terapia baseada em estudos de Carl Gustav Jung. Nessa linha, o estabelecimento que antecedeu a EPM era uma espécie de escola de pessoas “excepcionais”, conforme a terminologia de então, que procurava integrá-los à sociedade. A esposa do Dr. Pennino, Thereza, conhecia a língua alemã e ficava lendo os livros de Jung para seu marido. Segundo informam, existe até uma carta do Dr. Jung dizendo que a terapia do Dr. Pennino estava certa.

         No intuito de integrar os pacientes à sociedade, a Sra. Thereza levava grupos de até oito alunos/pacientes dessa escola ao restaurante Fasano, então no centro da cidade, para tomarem chá.

     Podemos ver abaixo a casa que ficava na esquina da Rua Botucatu com a Pedro de Toledo por outro ângulo em uma foto com o Sr. Luigi Schiffini, sua esposa Antonia Salerno Schiffini e sua filha Thereza (foto 7).

 


 

Conforme informações do Sr. Paiga, bisneto do Sr. Schiffini, todo o quarteirão pertencia à propriedade do Sr. Schiffini e, por sua vez, a instituição era organizada pelo Dr. Pennino. O endereço de então correspondia à Rua Botucatu, número 90, conforme podemos ler na informação do Dr. Octavio de Carvalho em sua História da EPM, à página 7. Esse endereço levou a certa confusão com uma outra instituição, o Colégio Ypiranga, que usava dois endereços, na Rua Domingos de Moraes, nº76 e na Rua Botucatu, 90 (hoje, número 720). Na verdade, conforme o Sr. Paiga, esse duplo endereço pode ter sido usado quando o próprio Sr. Schiffini foi também dono desse referido colégio.

Na foto 8, pode ser observada uma piscina que ficava dentro do quarteirão que era usada para as atividades de apoio e terapêuticas do Dr. Pennino em sua instituição.


Seguindo a tradição da família Amaral, a qual iniciou este texto, Ana Maria do Amaral Antonio, sobrinha-neta do Prof. Dr. José Raposo e sobrinha do Dr. Júlio Raposo, também se formou médica na EPM, em 1986 (turma 49), especializando-se em Patologia, sendo que, posteriormente, cursou a pós-graduação também na EPM-Unifesp (foto 9).

 

Fontes bibliográficas:

Família Amaral. Depoimentos e fotos.

Luiz Antonio Paiga. Depoimentos e fotos.

Carvalho, Octavio. História da Escola Paulista de Medicina – Curriculum Vitae. Editor Borsol, RJ, 1969.

 

sábado, 3 de junho de 2023

90 anos da Escola Paulista de Medicina - Os Fundadores


           Existe certa polêmica a respeito de quantos e quais foram os fundadores da Escola Paulista de Medicina (EPM) em 1933, polêmica essa compreensível, em virtude de que o início e a instalação dessa instituição se deram no calor de acontecimentos vários na sociedade brasileira, bem como mais especificamente na sociedade paulista, tanto a respeito do momento político, quanto da necessidade da criação de mais uma escola médica em São Paulo.

          No livro do Prof. Dr. Durval Rosa Borges, intitulado “De quanto tal viagem pede e manda”, de 2019, às páginas 149 e 151, em trecho sobre a fundação da EPM, ele escreve:

“A ‘semente milagrosa’ foi lançada por 31 médicos com idade variando de 26 a 54 anos (mediana de 34), sete dos quais solteiros na ocasião (1933). Dois engenheiros haviam também subscrito o manifesto publicado a 1º de junho de 1933 (Figura 7.3), mas não assinaram a escritura da fundação e organização outorgada a 26 de junho de 1933. De fato, o parágrafo único do artigo 7º dos Estatutos da Escola Paulista de Medicina (25 de junho de 1933, figuras 7.4 e 7.5) de redação dos outorgantes estabelecia que “para ser sócio fundador ou efetivo, é requisito essencial ser médico legalmente habilitado”. Dos fundadores, vinte eram nascidos em São Paulo (catorze na capital) e onze em outros locais (sete no Rio de Janeiro, dois na Itália). Formaram-se catorze na Faculdade Nacional de Medicina no Rio de Janeiro, doze na Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo e cinco em outras instituições. Dos 31 médicos fundadores (mediana de 34 anos de idade), 25 (mediana de 33 anos de idade) vieram a efetivamente atuar na EPM”.

          Embora haja essa informação de que nem todos os fundadores tivessem atuado efetivamente na EPM, Borges informa que o patrimônio inicial da escola foi constituído por 31 cotas de cinco contos de réis que cada fundador integralizou no período de cinco anos, ou seja, de 1933 a 1937, totalizando a soma de 155 contos de réis.

          Do livro da historiadora Márcia Regina Barros da Silva intitulado “Estratégias da Ciência: A História da Escola Paulista de Medicina (1933-1956)”, publicado em 2003, correspondente à tese de mestrado de semelhante título, defendida no Departamento de História da Universidade de São Paulo,  às páginas 34 e 35, extraímos os nomes dos 31 médicos e 2 engenheiros que subscreveram o Manifesto de Fundação, que foi publicado nos jornais de 1º de junho de 1933, conforme segue abaixo, em ordem pelo ano de formatura (esta contagem dá 15 formados no RJ e 11 em SP, uma diferença de 1 em relação ao Prof. Borges):

 

Nome                                                Formatura                 Faculdade

1 Henrique Rocha Lima                         1901                       FMRJ

2 Álvaro Lemos Torres                          1907                       FMRJ

3 Carlos Fernandes                                1911                       FMRJ

4 João Moreira da Rocha                       1915                       FMRJ

5 Octavio de Carvalho                           1915                       FMRJ

6 Afrânio do Amaral                              1916                       FMBa

7 Archimede Bussaca                            1916            U. de Palermo

8 Domingos Define                               1916                       FMRJ

9 Nicolau Rossetti                                 1917              U. de Nápoles

10 Alípio Corrêa Neto                           1918                       FMSP

11 Antonio Prudente                              1918                      FMSP

12 Paulo Mangabeira Albernaz             1919                       FMBa

13 Antonio Carlos Pacheco e Silva       1920                       FMRJ

14 Antonio Almeida Junior                   1921                       FMSP

15 Olivério Mário de Oliveira Pinto     1921                       FMBa

16 Felício Cintra do Prado                    1922                       FMSP

17 Felipe Figliolini                                1922                       FMRJ

18 Flávio da Fonseca                             1923                      FMRJ

19 Jairo Ramos                                      1923                      FMSP

20 José Medina                                      1923                      FMSP

21 Fausto Guerner                                 1924                      FMRJ

22 José Ignácio Lobo                            1924                      FMSP

23 Marcos Lindenberg                          1924                      FMRJ

24 Pedro de Alcântara                           1924                      FMSP

25 Álvaro Guimarães Filho                  1925                      FMSP

26 Antonio Bernardes de Oliveira        1925                      FMSP

27 Décio de Queiroz Telles                   1925                     FMRJ

28 José Maria de Freitas                       1927                      FMSP

29 Rodolpho de Freitas                         1927                     FMRJ

30 Otto Bier                                          1928                     FMRJ

31 Dorival Macedo Cardoso                1930                      FMRJ

 

Dois Engenheiros que assinaram o manifesto:

Eduardo Ribeiro da Costa   1916      Escola de Minas de Ouro Preto

Luiz Cintra do Prado           1927      Escola Politécnica de S.P.


Fontes bibliográficas:

Borges, Durval Rosa. De Quanto Tal Viagem Pede e Manda. Volume 6 de Fragmentos de Memória (1969-1975). Kato Editorial, 2019.

Silva, Márcia Regina Barros. Estratégias da Ciência: A História da Escola Paulista de Medicina (1933-1956). Série Ciência, Saúde e Educação. CDAPH. Editora Universitária São Francisco, 2003.