terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Biografia do Prof. Nylceo Marques de Castro


A partir de texto do Prof. Wilson da Silva Sasso

 

     Nylceo Marques de Castro nasceu em 6 de novembro de 1919 na cidade de Santos, estado de São Paulo. Lá fez cursos primário e secundário. Ingressou na Escola Paulista de Medicina em 1940, tendo se formado em 1945.

     Desde o ano de 1941 até sua formatura, foi monitor da Cadeira de Anatomia Descritiva e Topográfica, então sob o comando do Prof. Dr. João Moreira da Rocha. Depois de formado, foi nomeado segundo assistente da Cadeira, onde organizou, com o apoio do Prof. Moreira da Rocha, a Seção de Neuroanatomia. Nesta Seção, trabalhou intensivamente durante quatro anos. Quando de seu afastamento, deixou perto de 6 mil lâminas correspondentes a cortes de vários troncos cerebrais. Ainda quando no Departamento de Anatomia, preparou grande número de crânios, que passaram a fazer parte do acervo da “Coleção de Crânios da Escola Paulista de Medicina”.

     Preparou também, sobrepujando todas as deficiências materiais do momento, numerosos cortes de hemisférios cerebrais, sempre movido pela vontade incontida de melhorar o ensino e o aproveitamento dos alunos.

     Em 1949, foi indicado, pelo Prof. Edgard Mello Mattos Barrozo do Amaral, para exercer as funções de assistente na Cadeira de Histologia da Faculdade de Farmácia e Odontologia da Universidade de São Paulo, cargo que ocupou até 1959, quando se transferiu para a Cadeira de Histologia da Faculdade de Farmácia e Odontologia de São José dos Campos, onde, na qualidade de professor, permaneceu até a época de seu falecimento.

     Em 1950, foi nomeado, pelo Prof. Barrozo do Amaral, como primeiro assistente de Histologia Geral da Escola Paulista de Medicina, cargo que ocupou até maio de 1952. Nesta data, foi indicado pelo Conselho Técnico Administrativo para exercer as funções de Professor Contratado, incumbido da regência da Cadeira.

     Em 1949, candidatou-se à Livre-Docência de Anatomia da Escola Paulista de Medicina, recebendo os títulos de Doutor em Medicina e Livre-Docente de Anatomia.

     Da mesma forma, em abril de 1951, candidatou-se à Livre-Docência da Histologia da Faculdade de Farmácia e Odontologia da Universidade de São Paulo, onde foi aprovado com distinção.

     Em abril de 1955, candidatou-se à Cátedra de Histologia e Embriologia da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo, recebendo naquela ocasião o título de Livre-Docente da referida Cadeira.

     Em 1961, após concurso de títulos e provas, foi nomeado Professor Catedrático de Histologia e Embriologia da Escola Paulista de Medicina.

     Em 1965, então Professor Titular da Disciplina de Histologia e Embriologia da Escola Paulista de Medicina, por sugestão do Prof. Renato Locchi, Regente da Disciplina de Anatomia, foi eleito Chefe do recém-formado Departamento de Morfologia, cargo que exerceu até o início de suas funções de Diretor da Escola Paulista de Medicina, em 1968.

     Paralelamente à sua carreira universitária e suas atividades administrativas, o Prof. Marques de Castro desenvolveu intensa atividade científica, conforme atesta sua lista de trabalhos publicados, cerca de quarenta [conforme os moldes da época em que o Prof. Sasso escreveu isso], não só em nosso meio, como em revistas internacionais da especialidade. Neste particular, o Prof. Sasso, em seu relato biográfico, salientou as pesquisas realizadas pelo Prof. Nylceo no campo do “sexo genético”. Destacou o “primeiro trabalho publicado na literatura internacional” onde é relatado o diagnóstico do sexo genético em material humano normal e patológico, tendo sido padronizada a pesquisa do “cromolema sexual” em núcleos de fibras musculares lisas, o que lhe valeu o prêmio “Oscar Freire” de Medicina Legal do ano de 1956.

     Numerosas foram também suas pesquisas sobre “Histologia Comparada”, onde teve oportunidade de demonstrar a relação entre estrutura e função em órgãos ainda pouco estudados.

     Prof. Nylceo também fez estágio de aperfeiçoamento no Instituto Gustave Roussy, da Universidade de Paris, sob a supervisão do Prof. Charles Oberling.

     Ainda em sua atividades científicas, o Prof. Nylceo de Castro teve a oportunidade de orientar numerosas teses e trabalhos de pesquisa. Diversos foram os professores formados sob sua orientação, entre eles: José Cassiano de Figueiredo, Chefe do Departamento de Morfologia da Escola Paulista de Medicina; Wilson da Silva Sasso, Professor Titular de Histologia da Escola Paulista de Medicina e Chefe do Departamento de Histologia e Embriologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo; José Merzel, Professor Titular de Histologia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba; Hisakazu Hayashi, Chefe e Professor Adjunto da Disciplina de Embriologia da Escola Paulista de Medicina; Irineu Pontes Pacheco, Professor Adjunto do Departamento de Morfologia e Chefe do Setor de Microscopia Eletrônica da Escola Paulista de Medicina; Roberto D. Andreucci, Chefe do Departamento de Morfologia da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos.

     O Prof. Marques de Castro também foi um dos criadores do Curso Biomédico da Escola Paulista de Medicina.

     Ainda exercendo as funções de Diretor da Escola Paulista de Medicina, faleceu tragicamente em acidente marítimo em janeiro de 1970.

     Assim se encerra o texto que foi escrito pelo Prof. Sasso sobre o Prof. Nylceo de Castro.

     O jornal “Folha de São Paulo” de 17 de janeiro de 1970 noticiou a morte do Prof. Nylceo Marques de Castro. Informa o texto que ele morreu afogado no dia 14 de janeiro de 1970, na baía de Trapandé, em Cananeia, litoral sul de São Paulo, quando seu barco virou devido à violência das ondas. Duas outras pessoas que navegavam juntas, o professor da EPM, Oscar Portugal, e o sr. Igílio dos Santos, conseguiram agarrar-se ao barco, e no dia seguinte alcançaram a praia de Pedrinhas, após dez horas, na Ilha Comprida, distante muitos quilômetros do local onde a embarcação virou. Ali pediram socorro e mobilizaram autoridades dos municípios de Iguape e Cananeia. O barco virou às 22:30 de quarta-feira, dia 14, quando os três tripulantes tentavam atravessar a baía de Trapandé, na pequena embarcação com motor de popa, pois queriam chegar a Ilha Comprida. O barco teria virado pela ação de grandes ondas, e, conforme o texto, o Dr. Nylceo teria desaparecido em seguida. Depois de alertadas, as autoridades procuraram pelo corpo do Dr. Nylceo, que só foi encontrado no dia 16 de janeiro, próximo a Iguape, tendo sido removido para o necrotério desse município.

     A Escola Paulista de Medicina designou uma comissão formada pelos médicos Oswaldo Ramos, José Cassiano Figueiredo e Marcelo Pio da Silva para ir a Iguape a fim de acompanhar a remoção do corpo do Dr. Nylceo para a Capital. Segundo informações da EPM, o corpo chegaria às 23:30 horas do dia 16 e seria velado no salão nobre da EPM.

     Ainda informou o jornal Folha de São Paulo que o Prof. Nylceo Marques de Castro nasceu em Santos a 6 de novembro de 1919, e tinha, portanto, 51 anos. Formou-se em Medicina pela EPM em 1945 e foi o primeiro aluno da EPM a se tornar Diretor da Escola em maio de 1968, substituindo o Prof. José Maria de Freitas. Antes de assumir a direção foi catedrático da Cadeira de Morfologia. Na sua mocidade foi campeão universitário de Remo e Natação e sempre foi apaixonado pelos esportes aquáticos.

     Conforme informações do Dr. Abel Pereira de Souza Junior, ex-aluno da EPM na época em que o Prof. Nylceo era Diretor, na ocasião do acidente o Prof. Prates (depois também foi Diretor) disse que o Prof. Nylceo teria ajudado a salvar o Prof. Portugal, mas não conseguiu salvar a si próprio, pois estava com um braço quebrado e esgotado.

     Ainda conforme o Dr. Abel, O Prof. Nylceo assumiu a Diretoria da EPM em um momento de crise, em 1968, quando o então Diretor, José Maria de Freitas foi demitido. Foi criada então uma Comissão Paritária com Professores, Funcionários e Alunos, a qual realizou a primeira reforma curricular que modernizou a grade e estrutura administrativa da EPM, dando, portanto, um grande salto para a Escola ser alçada a mais altos patamares.

 

Fontes bibliográficas:

Sasso, W. S. - Nylceo Marques de Castro in A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º Aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes. Organizado por José Ribeiro do Valle. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, págs. 204-207.

Acervo do jornal Folha de São Paulo – publicação de 17 de janeiro de 1970.

Depoimento do Prof. Dr. Abel Pereira de Souza Junior, ex-aluno da Escola Paulista de Medicina, da 36ª Turma (formado em 1973), sobre dados biográficos do Prof. Nylceo Marques de Castro.