domingo, 24 de março de 2019

Biografia de Olivério Mário de Oliveira Pinto


     Nasceu na cidade de Jaú, aos 11 de março de 1896. Filho do Dr. Estevam de Oliveira Pinto, médico clínico da referida cidade, e de Dona Eudóxia Costa de Oliveira Pinto, ambos naturais da Bahia.
     Com a mudança da família, em 1905, para a cidade de Salvador, ali concluiu o curso de primeiras letras, matriculando-se, depois, no então Ginásio da Bahia, onde, em 1912, obteve o diploma de Bacharel em Ciências e Letras. A partir de então, dedicou-se ao ensino particular da História Natural e ciências correlatas, de conformidade com sua inclinação, muito cedo revelada, por esses estudos, pois, desde o período ginasial, num pequeno jornal estudantil intitulado “A Luz”, publicou seus primeiros ensaios no campo das letras, com diversos artigos sobre assuntos de sua predileção.
     Como na Bahia, na época, não havia curso voltado para a História Natural, ou algo similar, matriculou-se em 1916 na Faculdade de Medicina da Bahia, vindo a formar-se em 1921. Na ocasião, o formando deveria desenvolver uma tese para ser doutor em medicina. Sua tese teve o título “Sobre o valor do líquido cefalorraquiano no diagnóstico da sífilis nervosa”; assunto esse relacionado com a cadeira em que por dois anos se havia exercitado como interno no Hospital Santa Isabel.
     Ao concluir o curso médico, pretendia candidatar-se a uma das cátedras da Faculdade de Medicina da Bahia, prestes a vagar-se. Mas, por motivo de saúde, mudou-se para o Estado de São Paulo. No noroeste paulista fez curtos estágios em diferentes localidades. Em 1922, em Araraquara, passou a exercer a atividade de médico interno da Santa Casa da cidade e professor de Ciências Naturais na Escola de Odontologia e Farmácia, que acabava de ser fundada nesse local. Como Araraquara ainda não possuísse laboratório de Análises Clínicas, conseguiu a instalação de um desses serviços em anexo à Santa Casa, assumindo sua responsabilidade.
     Em 1924 casou-se com Alice Alves de Camargo.
     Em começos de 1928, transferiu sua residência para a cidade de São Paulo, pensando em abandonar a medicina clínica e dedicar-se ao laboratório ou à investigação científica em algum campo das ciências biológicas. Desse modo, exerceu, por alguns meses, o cargo de desenhista técnico no Instituto Butantã. Em 1929, ingressou no Museu Paulista como Assistente da Secção de Zoologia, cargo que a princípio exerceu interinamente, em substituição ao seu titular efetivo, Dr. Afrânio do Amaral, então comissionado nos Estados Unidos.
     Nesse contexto, tomou parte na fundação da Escola Paulista de Medicina, na qual, durante vários anos, teve a seu cargo a cadeira de Zoologia do curso pré-médico.
     No Museu Paulista, então dirigido por Afonso Taunay, ocupou-se, de início, com os Mamíferos, contribuindo com um estudo monográfico sobre os Sciuridas (esquilos) brasileiros, que foi publicada no tomo XVII da Revista dessa instituição. Pouco depois, voltou-se para a Ornitologia, com o projeto de completar a exploração metódica das diferentes regiões do Brasil a esse respeito. Dessa forma, excursionou em sertões de diversos estados brasileiros: São Paulo (1931), Goiás (1934), Mato Grosso (1931), Bahia (1932-33) e Pernambuco (1939). Sua efetivação no cargo de Assistente ocorreu em 1936, depois de concurso público de títulos e provas.
     Em janeiro de 1939, com a emancipação da Seção de Zoologia do Museu Paulista, que passara a denominar-se Departamento de Zoologia da Secretaria da Agricultura, foi chamado a exercer, em caráter efetivo, o cargo de Chefe da Divisão de Aves, em cuja qualidade foi pouco depois comissionado Diretor interino da nova instituição. Efetivado no cargo em 1941, prosseguiu seus trabalhos zoológicos, com novas excursões, coletando novos materiais, constando seus trabalhos em publicações dos “Arquivos de Zoologia” e em “Papéis Avulsos”, periódicos editados por essa instituição, criados e editados por ele.
     Além desses e outros trabalhos, até sua aposentadoria, em 1956, publicou, com ilustrações, um “Catálogo de Aves do Brasil”. Também tem entre seus trabalhos: “Estudo Crítico e Catálogo Remissivo das Aves do Território de Roraima”, a tradução comentada de “Reise nach Brasilien”, do Príncipe Maximiliano de Wied Neuwied, a versão dos estudos de M. H. Lichtenstein sobre a parte zoológica da Historia Naturalis Brasiliae, de Marcgrave e Piso, acrescida de minuciosa biografia do autor, e o histórico das expedições de coleta realizadas durante “Cinquenta Anos de Investigação Ornitológica”, no volume IV dos Arquivos de Zoologia.
     Quando do texto escrito por Afrânio do Amaral sobre Olivério, na década de 1970, estava em curso a publicação de um tratado sucinto e ilustrado de “Ornitologia Brasiliense”, cujo primeiro volume já estava publicado sob o patrocínio de Paulo E. Vanzolini, então diretor do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo.
     Além disso, Olivério contribuiu para “As Ciências no Brasil”, de Fernando de Azevedo, com o capítulo de “Zoologia no Brasil” e com dois capítulos na “História Geral da Civilização Brasileira”, publicada sob a direção de Sérgio Buarque de Holanda. Também tem alguns trabalhos em colaboração com seu assistente Eurico A. de Camargo.
     Entre seus títulos e distinções foi: Membro Honorário da American Ornithologists Union e da Linnean Society de New York, Membro Estrangeiro da British Ornithologists Union, Membro Correspondente da Academie Internationale d’Histoire des Sciences, da Academy of Natural Sciences of Philadelphia, do American Museum of Natural History e da Sociedade Ornitológica del Plata.
     Olivério Mário de Oliveira Pinto é considerado o “pai da ornitologia brasileira”. Sua obra superou a de todos os outros que estudaram aves no Brasil. Em 1931 descreveu um caso de albinismo em perdiz. Sua obra “Catálogo das Aves do Brasil tinha 1226 páginas em dois volumes, um verdadeiro marco. Em 1950 resdescobriu a arara-azul-de-Lear entre Pernambuco e Bahia e em 1952 redescobriu o mutum-de-Alagoas. Descreveu dezenas de novas espécies e 62 novas subespécies de aves.
     Além de tudo isso, escrevia a maioria de seus trabalhos à mão e conhecia a Língua Portuguesa e o Latim profundamente.
     Em 1979 publicou seu último livro “A Ornitologia através das Idades (século XVI a século XIX)”. Nesse ano contraiu uma virose que prejudicou sua visão, de modo que interrompeu sua produção científica.
     Aos 85 anos, em viagem ao interior de São Paulo, ficou doente e foi internado em Piracicaba, onde faleceu em 13 de junho de 1981.
     Sua biografia, uma lista de todas as suas publicações, uma relação das espécies e subespécies por ele descritas, foi feita por H. Nomura em Ciência e Cultura, 36 (7): 1235-42, 1994.

Fontes bibliográficas:

1 – Amaral, Afrânio – Olivério Mário de Oliveira Pinto in A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º Aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes. Por José Ribeiro do Valle. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, páginas 130-133.

2 - Alvarenga, Herculano M. F. – 1896-1996 – Centenário de Olivério Pinto: “O Pai da Ornitologia Brasileira” in Atualidades Ornitológicas (74) 11.
Acessado em http://www.ao.com.br/ao74_11.htm