sábado, 14 de novembro de 2020

Biografia de Franco da Rocha


 

     Francisco Franco da Rocha nasceu em Amparo, na então Província de São Paulo, em 23 de agosto de 1864. Conforme citação bibliográfica antiga “era filho único de um homem pobre, mas de família antiga e conceituada daquela cidade e aprendeu as primeiras letras num colégio dali”. Por um tempo ajudou os pais na lavoura, com a finalidade de custear seus estudos na Capital de São Paulo, onde estudou no Colégio Morton, juntamente com Arnaldo Vieira de Carvalho, Vicente de Carvalho, Carlos de Campos e Paulo de Moraes Barros. Aos 17 anos iniciou os então chamados “preparatórios”, terminando-os no Rio de Janeiro em 1885, entrando, a seguir, no Curso Médico. Em dezembro de 1890, recebeu o diploma de Medicina. Durante o curso, interessou-se pelo campo psiquiátrico. Foi nomeado interno da Clínica de Moléstias Mentais da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e, no sexto ano, interno da Casa de Saúde do Dr. Eiras.

     Em virtude de sua intenção de trabalhar em São Paulo, recusou convites do Professor Teixeira Brandão, o primeiro psiquiatra do Brasil, para ficar no Rio, onde seria designado substituto na Faculdade. Recusou também a oferta de Carlos Eiras para trabalhar na Casa de Saúde. Após chegar a São Paulo, começou a escrever no jornal Correio Paulistano e no jornal O Estado de São Paulo, onde propôs a organização do serviço público de assistência aos pacientes alienados, de acordo com os então chamados “modernos métodos” de tratamento psiquiátrico, que incluíam laborterapia. No governo de Cerqueira Cesar, foi nomeado médico do Hospício de São Paulo, quando começou seus trabalhos em torno da criação do Juquery.

     Para aprofundar-se no conhecimento de sua especialidade, Franco da Rocha estudou Inglês e Alemão, além do então habitual Francês, fazendo também citações de textos científicos no original em Italiano e Espanhol, em seus escritos. Isso o manteve sempre a par e passo com as novidades científicas, conforme se observa em seus artigos e livros. Escreveu para os Archivos de Psychiatria de Buenos Aires, a pedido do famoso psiquiatra Ingenieros. Escreveu para os Annales Medico-psychiatriques de Paris, órgão da Sociedade Médica Psicológica Francesa, da qual se tornou membro. Escreveu para o Algemeine Zeitschrift de Berlim. Contribuiu para o Tratado Internacional de Psicopatologia, publicado antes da Primeira Guerra Mundial.

     Em 1918, foi contratado para ser o primeiro professor a reger a Cadeira de Clínica Psiquiátrica e Moléstias Nervosas da Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo. Exerceu esse cargo até 22 de outubro de 1923, quando se aposentou do Serviço Público. Em 1927 fundou a Sociedade Brasileira de Psicanálise, juntamente com Durval Marcondes e outros. Foi o primeiro no Brasil a escrever livro sobre a doutrina de Freud em 1919-1920, que atualizou em 1930. Nos últimos anos de vida estudou a obra de Carl Gustav Jung e escreveu sobre estudos em Ornitologia. Faleceu em 1933.

     Deixou como sucessores: Enjolras Vampré, fundador da Neurologia paulista; Antonio Carlos Pacheco e Silva, seu sucessor no Juquery, depois Catedrático de Psiquiatria; Durval Marcondes, pioneiro na Psicanálise no Brasil; indiretamente, Osório César, pioneiro no estudo da Arte e Psiquiatria no Brasil.

     Quando Franco da Rocha fundou o Juquery, ele era uma instituição modelo, onde se empregava laborterapia e arteterapia. O Juquery ficou tornou-se mal falado principalmente após 1937, com a instalação da ditadura getulista, quando dobrou subitamente o número de internados nessa instituição.


Fonte bibliográfica:

Neves, AC – O Emergir do Corpo Neurológico no Corpo Paulista: Neurologia, Psiquiatria e Psicologia em São Paulo a partir dos periódicos médicos paulistas (1889-1936). Editora Livraria Companhia Ilimitada, 2010.