quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Biografia do Prof. José Maria de Freitas

 

A partir de texto de Bindo Guida Filho

 

          Descendente de tradicionais famílias pernambucanas, baianas, mineiras e fluminenses, nasceu José Maria de Freitas aos 21 de março de 1903, em São Paulo. Filho de Sebastião Maria de Albuquerque Freitas e Augusta Monteiro Barros Freitas, era neto de dois médicos dos quais provavelmente herdou pendores para a profissão.

          Seus primeiros estudos foram feitos no Externato Freitas da educadora Cecília M. de Albuquerque Freitas, sua tia e madrinha. O Curso Ginasial no Ginásio do Estado. Estudou também no Colégio São Bento de São Paulo e no Colégio Anchieta de Friburgo. Ingressou na então Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo em 1921.

          Estudante ainda, tomou parte no socorro e atendimento dos feridos na Revolução de 1924, na Santa Casa de Misericórdia, onde permaneceu durante todo o período desse episódio, inclusive com serviços externos. Depois disso, foi nomeado “estudante interno”, único naquele tempo, pelo Dr. Diogo de Faria, Diretor Clínico daquele hospital. Freitas fez plantões noturnos até sua formatura, auxiliando os médicos que se revezavam cada noite, em todos os casos de cirurgia. Nessa época, trabalhou também com Floriano Bayma, auxiliando as primeiras transfusões de sangue realizadas em São Paulo. Diplomou-se pela mesma Faculdade em 1927, defendendo a tese “Contribuição ao estudo da calculose urinária na infância”, aprovada com distinção.   

        Logo depois de formado, foi convidado para ser cirurgião da Misericórdia Botucatuense, tendo passado a residir em Botucatu. Como gostava de ensinar, mudou-se para São Paulo em 1931, aceitando convite de Alfonso Bovero para ser assistente da Cadeira de Anatomia da Faculdade de Medicina. Na revolução de 1932, trabalhou como cirurgião no Hospital de Emergências instalado no Parque da Água Branca e, posteriormente, se fixou na chamada “Ambulância Itália” sediada em Gramadinho, a cinco quilômetros da linha de frente. Deixou seu posto somente três dias após o término da Guerra, julgando de seu dever organizar a retirada do pessoal e a coleta de material médico para entrega na Capital.

          Algum tempo depois, convidado por Benedito Montenegro, passa a exercer suas atividades na Cadeira de Técnica Operatória da mesma Faculdade, até a transferência de Montenegro para a 3ª Cadeira de Clínica Cirúrgica para a qual Freitas também se transferiu, tendo prestado concurso para Livre-Docente dessa mesma cadeira, em 1941. Neste concurso, defendeu a tese “Anestesia Peridural”, aprovada com distinção.

          Em 1945, na mesma Faculdade de Medicina, conquistou o título de Docente Livre de Técnica Cirúrgica, em concurso realizado para o provimento da Cátedra. Após 30 anos de efetivo serviço, aposentou-se da referida Faculdade, em dezembro de 1960.

          Em 1933, ele uniu-se ao grupo de idealistas que fundou a Escola Paulista de Medicina, tendo sido Catedrático de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental na mesma. Ainda na EPM, por várias vezes fez parte do Conselho Técnico Administrativo, foi Diretor da Escola no período 1954-59, quando se conseguiu a federalização da EPM, tendo sido ele um dos adeptos a essa causa. Reconduzido ao cargo, exerceu a diretoria no período 1964-68, quando encerrou suas atividades no magistério.   

           Ele também participou na organização da Faculdade de Medicina de Sorocaba, tendo sido professor da 3ª cadeira de Clínica Cirúrgica, onde permaneceu em efetivo exercício, preparando os seus substitutos. Foi fundador da Escola de Enfermagem São Francisco e o seu primeiro diretor. Esta Escola foi posteriormente agregada à faculdade de Medicina de Sorocaba.

          Cooperou com a Associação dos Sanatórios de Campos do Jordão (Sanatorinhos), onde organizou o Serviço de Cirurgia e operou gratuitamente durante o período 1939-1941. Deu sua colaboração no ambulatório Jin Kai, que ficou sob sua responsabilidade, até o funcionamento do Hospital Santa Cruz, do qual foi cirurgião-chefe, e depois Diretor Clínico e Administrativo, de 1942 a 1970. Ensinou aos seus assistentes e seguidores, conforme seu biógrafo, não somente a técnica operatória segura e elegante, como também a sobriedade nas palavras e atitudes e a conduta rigidamente ética no exercício da profissão.

          Era, portanto, Diretor da EPM, quando do I Congresso Brasileiro de Médicos Residentes em 1966. Aparentemente, pelo que consta, era um tanto conservador no que diz respeito a inovações nos modelos de aprendizado e treinamento. Teve um contratempo com os residentes que permaneciam no alojamento por tempo além do estipulado, expulsando-os do hospital. Não aceitou a prorrogação de docentes ao aposentarem; eles poderiam permanecer até os 70 anos, se assim quisessem, embora devessem se aposentar aos 65. Mas Freitas obrigou a todos se aposentarem aos 65 anos. Com isso, o Prof. Jairo Ramos teve que deixar seus cargos, embora estivesse com energia para continuar. No entanto, Jairo Ramos continuou frequentando a EPM até falecer em 1972. Pelo seu conservadorismo, é provável que o Dr. Freitas estivesse entre os docentes que nos anos 1950 relutaram em aceitar a novidade da Residência Médica. Na época em que era diretor no período 1964-68 enfrentou solicitações dos alunos de graduação para que saísse do cargo. Também alguns professores dessa época questionaram a qualidade do desempenho de Freitas como diretor da EPM. De qualquer forma, ao deixar o cargo, ele deixou sua função de professor.   

     Prof. José Maria de Freitas faleceu em 30 de dezembro de 1990, aos 87 anos.


Fonte Bibliográfica: Livro Comemorativo dos 40 anos da Escola Paulista de Medicina compilado pelo Prof. Ribeiro do Vale, publicado em 1977.