sábado, 26 de maio de 2018

Biografia do Prof. Dr. Costábile Gallucci



Baseada em texto de Helio Begliomini, da Academia de Medicina de São Paulo.

Em 1921 nasce em São Paulo, Costábile Galluci.
Em 1941 ingressa na Escola Paulista de Medicina. Enquanto aluno, gostava muito de futebol e nas competições da Pauli-Poli jogava de ponta esquerda, sendo que tinha um chute muito forte, temido pelos goleiros.
Após formar-se em 1946, passou a acompanhar o Prof. Alípio Correa Netto que, de 1933 a 1953 foi o chefe da cirurgia de cabeça, pescoço, toráx e vascular. Após o término da chefia de Alípio Correa Netto, o Dr. Euryclides de Jesus Zerbini, que trabalhava junto com Gallucci nesse serviço, decidiu sair da Escola Paulista de Medicina. Assim, em 1953, Gallucci foi convidado por Jairo Ramos e Silvio Borges para chefiar a cirurgia do tórax, cargo que exerceu de março de 1953 a junho de 1956. Neste ano, Gallucci afastou-se da instituição para ajudar o pai na Casa Gallucci, loja de ferragens tradicional da rua Florêncio de Abreu, que tornou-se reduto dos fanáticos torcedores do Palestra. Gallucci chegou a ser presidente do Conselho do Palmeiras.
Em 1957, Gallucci volta à EPM, porque o chefe da cirurgia do tórax, Ruy Margutti, suicidou-se. Então, houve a divisão em duas disciplinas: cirurgia do tórax, com a chefia do Dr. Luciano Barbosa Prata e cirurgia cardíaca com Gallucci, convidado por Jairo Ramos.
Em 1962, Gallucci recebeu o título de livre-docente com o trabalho Tratamento Cirúrgico da Estenose Pulmonar Valvular (Valvulotomia Pulmonar sob visão direta, com Hipotermia).
Posteriormente, o Prof. Gallucci só assumiu o cargo de professor titular após concurso, que exigiu fazê-lo, mesmo podendo ser nomeado pelo governo, sem a necessidade de tal concurso. Isso fala da personalidade do Prof. Gallucci, que sempre foi tido por seus discípulos como exemplo de ética e correção, bem como de entusiasmo. Em sua mesa a frase “Cada um que cresce é parte de mim que cresce, portanto estou crescendo”, expressa sua visão.
Em 15 de dezembro de 1965 ingressou na Academia de Medicina de São Paulo.
Em 1967, com o falecimento do Dr. Luciano Barbosa Prata, chefe da cirurgia do tórax, houve novamente a fusão de cirurgia do tórax com a cirurgia cardíaca.
De 1977 a 1979 ele teve o cargo de vice-mestre do Capítulo de São Paulo do Colégio Brasileiro de Cirurgiões.
Em 1981 acompanhou o primeiro concurso para título de especialista e primeiro congresso do Departamento de Cirurgia Torácica da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, hoje Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica.
Em certa ocasião em que sentiu-se mal, pegou um táxi e pediu para ir direto para o Hospital São Paulo, onde foi imediatamente atendido por seus discípulos que lhe colocaram um marca-passo cardíaco.
O Prof. Dr. Costábile Gallucci faleceu em 1990.
Sua disciplina passou a ser chefiada por Enio Buffolo até 29 de janeiro de 1992, quando o conselho do departamento e a congregação fizeram nova separação entre tórax e cardiovascular.
O Prof. Gallucci gostava de música clássica. Em 1984, ao adentrar a sala de aula, prontamente identificou uma música que era assobiada por uma aluna e disse “Tanhauser!”, sabendo-se tratar da obra de Wagner.
Na EPM foi vice-diretor, diretor clínico do HSP, chefe do Departamento de Cirurgia por 2 vezes.
Publicou os seguintes livros: Choque (1978); Traumatismos Torácicos (1982); Diagnóstico Diferencial das Massas do Mediastino.
Foi casado com Wally, teve 2 filhas: Cecília e Laura. Faleceu em 1990. Tem a cadeira nº 44 da Academia de Medicina de São Paulo. Dá nome a um edifício da EPM.

Fontes bibliográficas: 
https://academiamedicinasaopaulo.org.br/biografias/37/BIOGRAFIA-COSTABILE-GALLUCCI.pdf
Arquivo oral de História da EPM.

domingo, 20 de maio de 2018

Biografia do Prof. Domingos Define



A partir de texto de Marino Lazzareschi

     Entre os subescritores do manifesto de fundação da Escola Paulista de Medicina figura o Professor Domingos Define como responsável pela Cátedra de Ortopedia e Cirurgia Infantil, que regeu até 1966, ano de sua aposentadoria compulsória.
     Mais um idealista juntava-se aos Fundadores da nova escola médica e enriquecer o seu corpo docente.
     Natural da Capital do Estado de São Paulo, onde nasceu aos 30 de dezembro de 1895, fez seus estudos primários no Colégio do Carmo, concluídos em 1910, ingressando a seguir na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1911.
     Em 1916 formou-se médico, defendendo tese de Doutoramento sob o título “Apendicite Amébica”, aprovada com distinção e louvor.
     Desde o período acadêmico, demonstrou seus pendores para a cirurgia e após longo aprendizado e treinamento de Anatomia, sob a orientação do Prof. Alfonso Bovero e na Técnica Cirúrgica da então Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, orientou-se para a Ortopedia que, entre nós, esboçava seus primeiros passos. Visando especializar-se, partiu em 1923 para a Alemanha, Áustria e Itália, tidas como berço da Ortopedia moderna. Deste modo conviveu e especializou-se nos serviços de Lorenz, Hoffa, Lange e Covilla, então substituído, por motivos de saúde, pelo não menos notável Victorio Putti.
     À sua personalidade moderada e pesquisadora aliou-se rica bagagem ortopédica adquirida nos contatos tidos e vividos na Europa. Voltando ao Brasil, já com a experiência de magistério que exercera na Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, integrou-se no serviço de Ortopedia e Cirurgia Infantil da Santa Casa de Misericórdia, em dezembro de 1924, na Enfermaria chefiada pelo Prof. Luiz Resende Puech.
     Por ocasião da inauguração do Pavilhão Fernandinho Simonsen, primeiro Hospital de Ortopedia do Brasil, foi encarregado de ministrar os cursos de semiótica ortopédica, acumulando, com a responsabilidade de Chefe de Clínica e 1º Assistente, cargos que já vinha exercendo com competência e dedicação há alguns anos.
       Em 1938, por motivo de doença, Puech se afastou da chefia da Cátedra de Ortopedia e do Pavilhão Fernandinho, indicando Domingos Define para substituí-lo. Nessa época já tinha conquistado brilhantemente a livre docência em Ortopedia com a tese intitulada “Etiopatogenia da Coxa Plana – estudo experimental”.
     Em 25 de julho de 1938 deu início ao curso de Ortopedia na Escola Paulista de Medicina para a primeira turma que se formava naquele ano.
     Durante 27 anos foi o elo que uniu a Escola Paulista de Medicina ao Pavilhão Fernandinho Simonsen, ministrando até 1953 os cursos nas enfermarias do referido Pavilhão, cuja chefia assumira em 1939, por motivo de falecimento do Prof. Puech. Assim pode, em que pesassem dificuldades naturais, ministrar cursos básicos ortopédicos para a formação de especialistas.
     Suas atividades não se restringiram apenas ao setor do ensino, mas também à divulgação e incremento da especialidade no país e fora dele. Foi um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, Membro efetivo de inúmeras Sociedades Internacionais e da SICOT Sociedade Internacional de Cirurgia de Ortopedia e Traumatologia, onde, em 1960, no Congresso de Nova York foi declarado Delegado Brasileiro, que gentilmente recusou a favor do Prof. Barros Lima, de Recife.
     Participou de inúmeros eventos ortopédicos, organizando Jornadas e Cursos e por duas vezes presidiu o Congresso Nacional de Ortopedia.
     Projetou a Ortopedia Brasileira no campo do ensino e da ciência. Publicou numerosos trabalhos no Brasil e no Exterior, culminando na apresentação de uma variação técnica na transposição da fíbula pró-tíbia em pseudoartrose da tíbia, congênita ou adquirida em crianças e outro trabalho propondo a transposição da ulna para o rádio nas agenesias congênitas do rádio. Estas apresentações tiveram repercussão nos Congressos da SICOT, em Nova York em 1960 e em Viena, em 1963.
     Em 1970, em reconhecimento aos relevantes serviços prestados à medicina brasileira foi agraciado com a Ordem do Mérito Nacional concedida pelo Presidente da República.
     Continuador emérito da obra de Puech, enriqueceu-a com sua personalidade e idealismo, formando vários professores.
     Em sua aposentadoria foi substituído, em 1966, pelo saudoso prof. Dr. Ivo Define Frascá.
     Em 1977 (ocasião do texto base desta bibliografia) seus ex-assistentes o Professor Titular Dr. Marino Lazzareschi, os professores adjuntos Isaac Sobelmann, além de Samuel Atlas, titular da Faculdade de Medicina de Taubaté. Nessa ocasião (1977) o Prof Define prestava colaboração como Consultor e Presidente Honorário do “Centro de Estudos Domingos Define”, instituído pela Ortopedia da EPM em 1971.

Fonte bibliográfica:
Lazzareschi, M – Domingos Define in A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º Aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes. Empresa Gráfica Revista dos Tribunais, 1977, páginas 57-60.

terça-feira, 15 de maio de 2018

Biografia de Décio Pereira de Queiroz Telles



A partir de texto de Dionísio Queiroz Guimarães

     Décio Pereira de Queiroz Telles nasceu em Campinas, Estado de São Paulo, a 8 de agosto de 1902, filho do Dr. Ederaldo Prado de Queiroz Telles e de Dona Maria Luzia Pereira Telles.
     Ainda criança, seus pais se transferiram para Mogi-Mirim. Fez estudos preparatórios no Ginásio de São Bento, da Capital, no Ginásio Diocesano e Instituto Cesário Mota, de Campinas e, por último, no Instituto Osvaldo Cruz, em São Paulo. Matriculou-se em 1920 na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, doutorando-se em 1925, após a defesa de Tese aprovada com distinção, sobre “Estudo Clínico da Coprobaciloscopia Tuberculosa”.
     No Rio de Janeiro, durante seus estudos, foi interno da 9ª Enfermaria de Clínica Médica da Santa Casa de Misericórdia, chefiada pelo Dr. Sylvio Muniz. Também trabalhou no Dispensário de Tuberculose da Praça da Bandeira, sob a direção do Dr. Plácido Barbosa, que orientava a Inspetoria de Tuberculose do então Distrito Federal. Em 1926, abriu consultório e foi clinicar em Campos do Jordão, onde permaneceu até 1931, tendo sido em 1930, nomeado Prefeito Sanitário dessa Estância. Em 1931 mudou-se para São Paulo e passou a frequentar a 2ª Enfermaria de Clínica Médica da Santa Casa de Misericórdia de S. Paulo, sob a chefia de Rubião Meira e assistência de Lemos Torres e Jairo Ramos. Na Revolução Constitucionalista de 1932, alistou-se no Batalhão da Liga da Defesa Paulista, como soldado, mas dele foi retirado pelo Comando Geral das Forças Paulistas, que o designou para atender todo o Hospital São Luiz Gonzaga de Jaçanã, que na ocasião estava desprovido de facultativos. Em 1933, foi nomeado médico-chefe do Ambulatório desse Hospital, onde exerceu sua atividade sob a direção de Lemos Torres até 1938. Ainda em 1933 foi nomeado Médico Tisiologista do Serviço de Saúde Escolar, criado nessa época para atender aos alunos dos Grupos Escolares da Capital. Nesse serviço permaneceu até 1938. No decurso desses anos fez várias conferências e comunicações sobre tuberculose, na Associação Paulista de Medicina e em outras sociedades médicas da Capital e do Interior. Foi também presidente da Seção de Tisiologia da Associação Paulista de Medicina. Em 1935 elegeu-se deputado à Constituinte de São Paulo, em cuja Carta Magna, nesse ano promulgada, conseguiu inserir o dispositivo constitucional que concedia 4 anos de licença, com todos os vencimentos, aos funcionários atacados de enfermidade duradoura que os incapacitasse para o trabalho e consequente aposentadoria ao termo desse prazo, com todas as vantagens do cargo, para os que não houvessem recuperado a saúde. Esse imperativo constitucional prevaleceu sempre em toda a legislação posterior, ainda hoje em pleno vigor. Em 1933, foi um dos fundadores da Escola Paulista de Medicina e escolhido para titular da Cadeira de Tisiologia. Na EPM lecionou, de início, para as alunas de Enfermagem, os assuntos de Tuberculose, bem como ministrou aulas da mesma matéria, em programas de outras Cátedras, enquanto a EPM não instalava a Cadeira de Tisiologia para os alunos de Medicina. Depois dessa instalação, não mais deixou de ensinar até sua aposentadoria. Foi relator de temas sobre tuberculose em Congressos Médicos paulistas, nacionais e internacionais, tendo publicado numerosos trabalhos sobre a especialidade. Em 1938, foi nomeado Diretor da então Seção de Tuberculose do Departamento de Saúde do Estado de São Paulo. Foi presidente da Liga Paulista Contra a Tuberculose. Em 1940, no Instituto Clemente Ferreira, organizou o 1º Curso de Tisiologia para Médicos que desejassem se instruir na especialidade. Em 1944, sob o governo do Dr. Fernando Costa, transformou a antiga Seção de Tuberculose que se compunha apenas do Instituto Clemente Ferreira e de um Ambulatório da Mooca, na Divisão do Serviço de Tuberculose, que reuniu em uma mesma e única organização, todos os serviços de tuberculose até então dispersos e subordinados a vários setores administrativos. Com a criação da Divisão do Serviço de Tuberculose, os Dispensários e Hospitais de Tuberculose, bem como ambulatórios, abrigos e outras instituições com a mesma finalidade, mesmo particulares, desde que estabelecessem convênios com o Estado, passaram a constituir um único organismo que incrementou e impulsionou consideravelmente a luta contra o mal, em todo Estado. Foram então criados e instalados muitos dispensários novos, todos modernamente aparelhados. Foram estimulados os estudos sobre a tuberculose e incentivado o entusiasmo de se lutar contra o flagelo. Fundou-se mesmo uma sociedade de estudos de tuberculose – o Centro de Estudos da Divisão do Serviço de Tuberculose, que muito contribuiu para a divulgação de conhecimentos da moléstia. Mas no aparelhamento da Divisão do Serviço de Tuberculose, que muito contribuiu para a divulgação de conhecimentos da moléstia. Mas no aparelhamento desse serviço havia de leitos, sendo que pacientes chegavam a morrer desamparados em qualquer lugar. Necessitavam ser internados. Eleito novamente deputado à Constituinte do Estado, em 1947, pugnou e conseguiu que constasse na Constituição um dispositivo que reservava uma verba equivalente a 2% do orçamento do Estado para a construção de Hospitais de Tuberculosos. Durante o exercício do magistério fez parte de bancas examinadoras de concursos para catedráticos e livre-docentes, não só em São Paulo, mas também na Bahia e no Paraná.
     Em 1955, terminando o terceiro mandato de deputado, voltou à direção da Divisão do Serviço de Tuberculose, em cujo cargo se aposentou em 1965. Nessa mesma data aposentou-se da Cadeira de Tisiologia da EPM.

Fonte bibliográfica:
Guimarães, D. Q. – Décio Pereira de Queiroz Telles in A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º Aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes, por José Ribeiro do Valle. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, páginas 53-56.