domingo, 19 de novembro de 2023

Biografia do Prof. Dr. Azarias de Andrade Carvalho




A partir de texto de Mauro Zucato e complementos de outras fontes

 

          Azarias de Andrade Carvalho nasceu em Araraquara, aos 19 de julho de 1915. Fez o curso primário no Colégio Mackenzie de sua cidade natal e o secundário no Ginásio São Luiz de Jaboticabal. Ingressou na Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil em 1933, tendo se diplomado em 1938. Seu interesse pela Pediatria surgiu durante o Curso, de modo que, no sexto ano, estagiou como Acadêmico no Serviço de Pediatria da Policlínica de Botafogo.

          Em maio de 1939 iniciou sua carreira universitária, ingressando como Assistente extranumerário da Cadeira de Clínica Pediátrica Médica e Higiene Infantil da Escola Paulista de Medicina. Demonstrando grande pendor pela carreira universitária, foi logo galgando novos escalões, sendo que, em 1942, passou a terceiro Assistente e, em 1944, a segundo Assistente da referida Clínica, onde permaneceu até dezembro de 1946. Exerceu ainda as funções de Assistente da Clínica Pediátrica da Escola Paulista de Enfermagem, no período de 1940 a 1946, e de Professor de Puericultura da Escola de Serviço Social, funcionando então como Instituto Complementar da Pontifícia Universidade Católica, nos anos de 1945 a 1961. Foi também Professor de Puericultura do Curso de Formação Familiar mantido pelo Centro de Estudos e Ação Social, nos anos de 1944 a 1947 e de Puericultura e Clínica Pediátrica da Escola de Enfermagem “São Francisco de Assis”, reconhecida pelo Governo Federal, até a sua transferência para Sorocaba.

          Deixando a Clínica Pediátrica da Escola Paulista de Medicina em 1947, o Prof. Dr. Azarias entrou na Clínica Pediátrica da Universidade de São Paulo, onde defendeu tese de Livre-Docência em concurso realizado de 19 a 24 de novembro de 1956, tendo obtido o título com distinção.

          A partir de junho de 1958 voltou à Escola Paulista de Medicina na qualidade de Professor Interino de Clínica Pediátrica e Higiene Infantil, tendo permanecido nessas funções até 1964, quando, após brilhante concurso realizado em 1963, passou a Professor Catedrático e, posteriormente, Titular e Chefe do Departamento de Pediatria da Escola Paulista de Medicina. Nesse Departamento, revelou-se emérito professor, demonstrando ainda qualidades de liderança e organização. Reestruturou o Departamento, melhorou consideravelmente o curso de graduação, tornando-o um dos melhores cursos de Pediatria do país e organizou o curso de Residência Médica à altura do que é desenvolvido nas melhores faculdades.

          Mostrou-se grande entusiasta no setor de Pediatria Social, estimulando seu desenvolvimento através de cursos especializados e criação de Serviço de Pediatria Social Rural no Departamento que dirigiu.

          Foi Presidente da Sociedade Paulista para o Desenvolvimento da Medicina, de 1967 a 1970. De 1968 a 1970 foi Superintendente do Hospital São Paulo, tendo demonstrado grande pendor para esta função, pois ao fim do seu mandato havia conseguido superar grandes dificuldades enfrentadas pelo Hospital.

          Com grande prestígio junto à classe pediátrica de São Paulo, foi eleito Presidente do Departamento de Pediatria da Associação Paulista de Medicina, em 1951.

          Em 1963, foi eleito Alternate Chairman do XI Distrito (Capítulo Brasileiro) da American Academy of Pediatrics, sendo que, em 1968, passou a Chairman da referida Academia e tornou-se Membro do International Committee of Child Health da AAP.

          Com a finalidade de aprimorar seus conhecimentos, em 1968, esteve por três meses no estrangeiro, tendo frequentado as escolas médicas de Yale, Nova York, Clínica Mayo, Denver, e Oklahoma, nos Estados Unidos e de Cali, na Colômbia.

          Num gesto de reconhecimento pelas suas qualidades humanas e de organização frente ao Departamento de Pediatria, foi diversas vezes homenageado pelos alunos e eleito paraninfo da turma de formandos do ano de 1963.

          Na qualidade de pesquisador, no decorrer da sua vida universitária, publicou diversos trabalhos, tendo conseguido diversos prêmios, entre eles, Nestlé 1953, Margarido Filho 1954, Miguel Couto 1955, Diogo Faria 1955 e, posteriormente, outros próprios ou em colaboração com elementos do Departamento de Pediatria da Escola Paulista de Medicina. Mereceram especial destaque seus trabalhos realizados sobre a etiopatogenia da anemia ancilostomótica na criança.   

          Em 1974, o Dr. Azarias foi o responsável pela criação do setor de Gastroenterologia Pediátrica da EPM. O setor cresceu e, a partir de 1982, deu início à formação de Mestres e Doutores, de modo que, em 1985, foi criada oficialmente a Disciplina de Gastroenterologia Pediátrica do Departamento de Pediatria da EPM.

          No início da década de 60, ele criou uma área incialmente chamada de Setor de Higiene Mental, no qual procurava-se atender crianças até 12 anos e adolescente grávidas de 10 a 19 anos.

          Em 1993, o Prof. Azarias criou o Centro de Atendimento e de Apoio ao Adolescente (CAAA). Contando com equipe multiprofissional, tal centro, nos seis anos iniciais, contou apenas com o Dr. Azarias, Dr. Antonio da Silva Queiroz e dois estagiários.

          O Prof. Dr. Azarias de Carvalho relatou que não foi fácil reestruturar a Pediatria na EPM. Para a construção do Departamento de Pediatria, foi necessário esclarecer junto à Congregação a importância da atenção à saúde da criança: “Era preciso mostrar que os cuidados eram diferentes, que existem peculiaridades especiais diferentes das do adulto, que devem ser integradas no preparo do médico. Não foi tranquila a luta para reestruturar a Pediatria, em face do destaque que, na época, era dado aos problemas e patologias do adulto, menosprezando as crianças e os jovens, que alguns resumiam, jocosamente, a mamadeira, diarreia e birras. Esqueciam-se, ou não levavam em consideração, que, no Brasil, os menores de 15 anos, os futuros adultos, representavam mais de 45% da população e a mortalidade infantil oscilava entre 100 e 200 casos a cada mil nascidos, chegando, em muitas regiões, a bem mais”, recordava Azarias.

          Como fruto da conscientização progressiva da direção da EPM, houve renovação curricular com aumento substancial da carga horária dedicada ao ensino de Pediatria e oportunidade para melhor aproveitamento dos ensinamentos. Dizia ele: “Assim, o ensino da Pediatria começava na quarta série e o sexto ano transformou-se em Internato”.

          Após reestruturar o Departamento de Pediatria, Azarias criou três disciplinas: Pediatria Clínica, Puericultura-Pediatria Social e Neonatologia. “Um dos ponto difíceis foi a reconquista do direito dos docentes da Pediatria assistirem os recém-nascidos. Por desavenças anteriores, não podiam ingressar no berçário, domínio absoluto da cátedra de Obstetrícia. Com paciência e calma, conseguimos autorização para tal”, disse Azarias.

          A especialidade cresceu e foram implantados Internato, Residência, Mestrado e Doutorado. Ainda, segundo o professor, a pós-graduação em senso estrito em Pediatria foi a segunda ou terceira a ser implantada na área Clínica na EPM e a quarta no Brasil.  

          Seguem ainda aqui duas declarações do Prof. Dr. Azarias de Carvalho:

          Sobre o cargo de Chefe do Departamento: “A Chefia do Departamento deve atuar ativamente nos colegiados da instituição para defender as necessidades de seu Departamento no que se refere à assistência aos doentes, ao ensino e à pesquisa e aos docentes, alunos e funcionários, sabendo compreender e respeitar as possibilidades e dificuldades da instituição como um todo. Foi isso que procurei fazer”.

          E ainda sobre seu trabalho: “Pedi a aposentadoria antes da idade compulsória, que seria em 1982. Voltei, então, a ocupar a posição confortável e gratificante de docente voluntário desta Escola amiga, posição esta que exerci no início de minha carreira universitária e que até hoje exerço com prazer e satisfação”.

          O Prof. Dr. Azarias de Andrade Carvalho teve seis filhos, dois netos e dois bisnetos e faleceu em 17 de maio de 2008, aos 92 anos.

 

Fontes bibliográficas:

Zucato, M. – Azarias de Andrade Carvalho in Valle, J.R. – A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º Aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes, Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, pp. 159-161.

Cremesp – Homenagem Azarias de Andrade Carvalho, um dos mais importantes pediatras brasileiros, Edição 214, junho de 2005. Localizável em https://www.cremesp.org.br/?siteAcao=Jornal&id=529

Folha de São Paulo – Cotidiano – Azarias de Andrade Carvalho (1915-2008) Localizável em https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2905200831.htm

 

        

quinta-feira, 13 de julho de 2023

Um fundador da Escola Paulista de Medicina na Segunda Guerra Mundial: Prof. Dr. Alípio Correia Neto.


Homenagem da Escola Paulista de Medicina ao Prof. Dr. Alípio Correia Neto, um dos fundadores da EPM, antes de partir para a Segunda Guerra Mundial em torno de 1943/44. 
Ao lado da bandeira, o mais alto em estatura, é o então diretor da EPM, Prof. Dr. Álvaro Guimarâes Filho. Do lado esquerdo do Prof. Alípio está o Prof. Dr. Marcos Lindenberg. 
Ambos os professores também são fundadores da EPM.

Fonte: Acervo Iconográfico do Centro de História e Filosofia das Ciências da Saúde da EPM-Unifesp. 

 

segunda-feira, 5 de junho de 2023

90 anos da Escola Paulista de Medicina - Famílias Epemistas

 

         É comum designar-se a “Comunidade Epemista” também como uma “Família Epemista”, e isso serve tanto para o sentido simbólico como para o sentido literal do termo, pois diversos foram os familiares que acabaram fazendo parte da Escola Paulista de Medicina (EPM), tanto como estudantes, como professores, médicos e outras categorias profissionais.

         Uma dessas famílias foi a Raposo do Amaral e seus descendentes. Como aqui já foi mencionado o Prof. Dr. José Raposo do Amaral (1923-2006) formou-se na EPM em 1949 (foto 1). Por sua vez, seu sobrinho, Dr. Júlio Raposo do Amaral (1933-2016) formou-se na EPM em 1959 (foto 2), uma turma que depois teve vários professores da Escola, como Benjamin Kopelman, Kalil Farhat, José Kerbauy, Luiz Kulay, Fernando Braga, entre outros.

Fotos 1 e 2

 

        Além disso, a Sra. Consuelo Bordini, cunhada do Prof. José Raposo, foi secretária e técnica de laboratório no Departamento de Patologia, tendo começado seu trabalho na EPM muito jovem, em 1953. Iniciou na Patologia Geral com o Prof. Marcos Lindemberg. Depois trabalhou na Anatomia Patológica com o Prof. Pasqualucci e depois com o Prof. Michalany. Após isso, trabalhou também na Patologia Clínica com o Prof. Sílvio Carvalhal e depois com o Prof. Saad. Em 1990, aposentou-se (foto 3).



         A mesma família Raposo do Amaral tem proximidades com os familiares dos antigos proprietários do terreno em que se instalou a EPM. Eles têm contatos com o Sr. Luiz Antonio Paiga, neto do psiquiatra Dr. Joaquim Basílio Pennino; este, por sua vez, era genro do antigo proprietário da futura área da EPM, Sr. Schiffini.

Dessa forma podemos aqui apresentar a foto do Sr. Luigi Schiffini, proprietário da Chácara Thereza Schiffini, nome de sua filha (esposa do Dr. Pennino), onde depois ficaram as instalações da EPM e do Hospital São Paulo (HSP) (foto 4).

 

 

       Também temos a foto da Residência do Dr. Joaquim B. Pennino, dentro dessa mesma área, que em 1937 foi transformada no Pavilhão Maria Thereza (por doações da Sra. Maria Thereza Azevedo). Tal local foi o primeiro espaço da internação de pacientes da EPM e HSP (foto 5).

 

      Apresentamos, a seguir, a foto do Dr. Joaquim B. Pennino, acompanhado de sua esposa, Sra. Thereza Schiffini Pennino, filha do Sr. Luigi Schiffini (foto 6).

 


 O Dr. Pennino era psiquiatra e desenvolveu terapia baseada em estudos de Carl Gustav Jung. Nessa linha, o estabelecimento que antecedeu a EPM era uma espécie de escola de pessoas “excepcionais”, conforme a terminologia de então, que procurava integrá-los à sociedade. A esposa do Dr. Pennino, Thereza, conhecia a língua alemã e ficava lendo os livros de Jung para seu marido. Segundo informam, existe até uma carta do Dr. Jung dizendo que a terapia do Dr. Pennino estava certa.

         No intuito de integrar os pacientes à sociedade, a Sra. Thereza levava grupos de até oito alunos/pacientes dessa escola ao restaurante Fasano, então no centro da cidade, para tomarem chá.

     Podemos ver abaixo a casa que ficava na esquina da Rua Botucatu com a Pedro de Toledo por outro ângulo em uma foto com o Sr. Luigi Schiffini, sua esposa Antonia Salerno Schiffini e sua filha Thereza (foto 7).

 


 

Conforme informações do Sr. Paiga, bisneto do Sr. Schiffini, todo o quarteirão pertencia à propriedade do Sr. Schiffini e, por sua vez, a instituição era organizada pelo Dr. Pennino. O endereço de então correspondia à Rua Botucatu, número 90, conforme podemos ler na informação do Dr. Octavio de Carvalho em sua História da EPM, à página 7. Esse endereço levou a certa confusão com uma outra instituição, o Colégio Ypiranga, que usava dois endereços, na Rua Domingos de Moraes, nº76 e na Rua Botucatu, 90 (hoje, número 720). Na verdade, conforme o Sr. Paiga, esse duplo endereço pode ter sido usado quando o próprio Sr. Schiffini foi também dono desse referido colégio.

Na foto 8, pode ser observada uma piscina que ficava dentro do quarteirão que era usada para as atividades de apoio e terapêuticas do Dr. Pennino em sua instituição.


Seguindo a tradição da família Amaral, a qual iniciou este texto, Ana Maria do Amaral Antonio, sobrinha-neta do Prof. Dr. José Raposo e sobrinha do Dr. Júlio Raposo, também se formou médica na EPM, em 1986 (turma 49), especializando-se em Patologia, sendo que, posteriormente, cursou a pós-graduação também na EPM-Unifesp (foto 9).

 

Fontes bibliográficas:

Família Amaral. Depoimentos e fotos.

Luiz Antonio Paiga. Depoimentos e fotos.

Carvalho, Octavio. História da Escola Paulista de Medicina – Curriculum Vitae. Editor Borsol, RJ, 1969.

 

sábado, 3 de junho de 2023

90 anos da Escola Paulista de Medicina - Os Fundadores


           Existe certa polêmica a respeito de quantos e quais foram os fundadores da Escola Paulista de Medicina (EPM) em 1933, polêmica essa compreensível, em virtude de que o início e a instalação dessa instituição se deram no calor de acontecimentos vários na sociedade brasileira, bem como mais especificamente na sociedade paulista, tanto a respeito do momento político, quanto da necessidade da criação de mais uma escola médica em São Paulo.

          No livro do Prof. Dr. Durval Rosa Borges, intitulado “De quanto tal viagem pede e manda”, de 2019, às páginas 149 e 151, em trecho sobre a fundação da EPM, ele escreve:

“A ‘semente milagrosa’ foi lançada por 31 médicos com idade variando de 26 a 54 anos (mediana de 34), sete dos quais solteiros na ocasião (1933). Dois engenheiros haviam também subscrito o manifesto publicado a 1º de junho de 1933 (Figura 7.3), mas não assinaram a escritura da fundação e organização outorgada a 26 de junho de 1933. De fato, o parágrafo único do artigo 7º dos Estatutos da Escola Paulista de Medicina (25 de junho de 1933, figuras 7.4 e 7.5) de redação dos outorgantes estabelecia que “para ser sócio fundador ou efetivo, é requisito essencial ser médico legalmente habilitado”. Dos fundadores, vinte eram nascidos em São Paulo (catorze na capital) e onze em outros locais (sete no Rio de Janeiro, dois na Itália). Formaram-se catorze na Faculdade Nacional de Medicina no Rio de Janeiro, doze na Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo e cinco em outras instituições. Dos 31 médicos fundadores (mediana de 34 anos de idade), 25 (mediana de 33 anos de idade) vieram a efetivamente atuar na EPM”.

          Embora haja essa informação de que nem todos os fundadores tivessem atuado efetivamente na EPM, Borges informa que o patrimônio inicial da escola foi constituído por 31 cotas de cinco contos de réis que cada fundador integralizou no período de cinco anos, ou seja, de 1933 a 1937, totalizando a soma de 155 contos de réis.

          Do livro da historiadora Márcia Regina Barros da Silva intitulado “Estratégias da Ciência: A História da Escola Paulista de Medicina (1933-1956)”, publicado em 2003, correspondente à tese de mestrado de semelhante título, defendida no Departamento de História da Universidade de São Paulo,  às páginas 34 e 35, extraímos os nomes dos 31 médicos e 2 engenheiros que subscreveram o Manifesto de Fundação, que foi publicado nos jornais de 1º de junho de 1933, conforme segue abaixo, em ordem pelo ano de formatura (esta contagem dá 15 formados no RJ e 11 em SP, uma diferença de 1 em relação ao Prof. Borges):

 

Nome                                                Formatura                 Faculdade

1 Henrique Rocha Lima                         1901                       FMRJ

2 Álvaro Lemos Torres                          1907                       FMRJ

3 Carlos Fernandes                                1911                       FMRJ

4 João Moreira da Rocha                       1915                       FMRJ

5 Octavio de Carvalho                           1915                       FMRJ

6 Afrânio do Amaral                              1916                       FMBa

7 Archimede Bussaca                            1916            U. de Palermo

8 Domingos Define                               1916                       FMRJ

9 Nicolau Rossetti                                 1917              U. de Nápoles

10 Alípio Corrêa Neto                           1918                       FMSP

11 Antonio Prudente                              1918                      FMSP

12 Paulo Mangabeira Albernaz             1919                       FMBa

13 Antonio Carlos Pacheco e Silva       1920                       FMRJ

14 Antonio Almeida Junior                   1921                       FMSP

15 Olivério Mário de Oliveira Pinto     1921                       FMBa

16 Felício Cintra do Prado                    1922                       FMSP

17 Felipe Figliolini                                1922                       FMRJ

18 Flávio da Fonseca                             1923                      FMRJ

19 Jairo Ramos                                      1923                      FMSP

20 José Medina                                      1923                      FMSP

21 Fausto Guerner                                 1924                      FMRJ

22 José Ignácio Lobo                            1924                      FMSP

23 Marcos Lindenberg                          1924                      FMRJ

24 Pedro de Alcântara                           1924                      FMSP

25 Álvaro Guimarães Filho                  1925                      FMSP

26 Antonio Bernardes de Oliveira        1925                      FMSP

27 Décio de Queiroz Telles                   1925                     FMRJ

28 José Maria de Freitas                       1927                      FMSP

29 Rodolpho de Freitas                         1927                     FMRJ

30 Otto Bier                                          1928                     FMRJ

31 Dorival Macedo Cardoso                1930                      FMRJ

 

Dois Engenheiros que assinaram o manifesto:

Eduardo Ribeiro da Costa   1916      Escola de Minas de Ouro Preto

Luiz Cintra do Prado           1927      Escola Politécnica de S.P.


Fontes bibliográficas:

Borges, Durval Rosa. De Quanto Tal Viagem Pede e Manda. Volume 6 de Fragmentos de Memória (1969-1975). Kato Editorial, 2019.

Silva, Márcia Regina Barros. Estratégias da Ciência: A História da Escola Paulista de Medicina (1933-1956). Série Ciência, Saúde e Educação. CDAPH. Editora Universitária São Francisco, 2003.

 

 

 

 

segunda-feira, 1 de maio de 2023

Turma de 1949 da Escola Paulista de Medicina, com alguns destaques.




Turma formada em 1949 na Escola Paulista de Medicina em foto enviada por familiares do Prof. Dr. José Raposo do Amaral, da Gastrocirurgia. 
A primeira foto foi feita no antigo pátio da Escola Paulista de Medicina, onde depois foi construido o prédio que abriga o Banco do Brasil e o Refeitório.
A segunda foto é um destaque da primeira onde observam-se da direita para a esquerda os professores: Nylceo Marques de Castro; um desconhecido; Marcos Lindemberg; João Moreira da Rocha; José Maria de Freitas; um desconhecido (prof. Antonio Gebara?).
A terceira foto apresenta o Prof. Dr. José Raposo do Amaral, que é o primeiro em pé à esquerda na primeira foto. 




 

quarta-feira, 26 de abril de 2023

Biografia do Prof. Dr. José Ramos Junior

 

A partir de texto do Prof. Dr. José Carlos Ramos de Oliveira

 

          José Ramos de Oliveira Júnior, que se tornou mais conhecido como José Ramos Junior, nasceu na cidade de Cachoeira Paulista, no estado de São Paulo, no dia 5 de novembro de 1911. Filho de José Ramos de Oliveira e de Dona Noêmia Macedo Ramos de Oliveira, passou sua primeira infância em sua cidade natal, e depois mudou-se com os pais para a capital do estado, vindo a morar no bairro do Brás.

          José Ramos teve uma irmã e dois irmãos, sendo que o mais novo também estudou medicina, tornando-se cirurgião e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, o Prof. Dr. Mário Ramos de Oliveira, que, além disso, chegou a ser Diretor dessa mesma Faculdade.

          O professor José Ramos Júnior, como era conhecido no meio acadêmico e profissional, fez seus estudos secundários no “Gymnasio do Estado de São Paulo”, onde ingressou em 1924 e bacharelou-se no ano de 1929, conforme se designava então essa formatura algo equivalente a um segundo grau, guardadas as devidas diferenças.

          Após um ano de preparação, ele ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, graduando-se médico na turma de 1936. Durante o curso de medicina, José Ramos Junior dava aulas particulares a alunos interessados em prestar exames para o ingresso na Faculdade de Medicina, de modo que, com isso, desenvolveu sua aptidão para ser professor.

          Ele fez estágios em Clínica Médica no serviço do Prof. Rubião Meira na Santa Casa de São Paulo e no serviço do Prof. Jairo Ramos na Escola Paulista de Medicina, onde, além da assistência aos pacientes, ministrava ensinamentos a graduandos de medicina e médicos recém-formados. Inclusive, ele foi citado pelo Prof. Dr. José Reynaldo Marcondes no livro sobre os 40 anos da Escola Paulista de Medicina, a respeito do ensino prático a partir de 1936, conforme vemos no texto a seguir (grifo nosso):

“Éramos todos da 2ª Enfermaria da Santa Casa, serviço do Prof. Rubião Meira, recrutados pelo Jairo para iniciar o ensino de Clínica Propedêutica Médica na EPM. O método da Escola Lemos Torres – o ensino objetivo, o exame integral acurado do doente e sua técnica, o ensino individual, a valorização dos fatos concretos, o método de raciocínio que leva ao diagnóstico, afastadas as ideias preconcebidas e desmoralizada a intuição clínica – ia ser semeado na nova escola por aquele que melhor aprendera os seus princípios, Jairo Ramos. A EPM não tinha hospital nem ambulatório, aventuraram um à Rua Tabatinguera. Octavio de Carvalho conseguiu que a direção do Hospital Matarazzo cedesse uma enfermaria vazia, sem leitos e sem doentes. Comprou camas, colchões e iniciamos o ensino. As aulas começavam a uma hora da tarde. Eu chegava antes e convidava os doentes que estavam repousando no jardim do hospital a virem se deitar nas camas a fim de que, em seus corpos, se ensinasse a propedêutica física – inspeção, palpação, percussão e ausculta. Vieram no início por curiosidade e a dois mil réis. Depois era preciso que eu os trouxesse pelo braço e com palavras de persuasão. Em seguida foi preciso aumentar o preço: cinco mil réis e muita lábia. Mas ensinávamos. Cada assistente – Sabino, Tranchese, Lotufo, Ignácio, José Ramos, Macedo, João Grieco, Reynaldo – ensinava – ensinava a turmas de 6 a 8 estudantes. Após esta aula prática havia outra teórica, quase sempre ministrada pelo Jairo, que chegava mais tarde. Foi uma luta, principalmente por parte dos que tinham que acomodar os doentes, cada vez menos dispostos a colaborar. Mas só isto não bastava. Mais de uma vez eu levei em meu automóvel um doente e sua observação clínica, da 2ª Enfermaria. Eu almoçava em casa e seguia para a aula do Jairo, depois de nossa aula prática, desta vez com um caso clínico mesmo.”

           Podemos ver, então, que o Prof. Dr. José Ramos Junior recebeu sua formação nessa assim chamada “Escola Lemos Torres” que caracterizava toda uma inovação na maneira de abordar o paciente e de formular as hipóteses diagnósticas. O sucessor do Prof. Dr. Lemos Torres foi o Prof. Dr. Jairo Ramos, ambos entre os fundadores da Escola Paulista de Medicina em 1933 e influenciadores de José Ramos.

           José Ramos Junior especializou-se em Clínica Médica e Cardiologia. Exerceu essas atividades em consultório privado, bem como sendo médico concursado junto ao antigo Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Empregados em Transportes e Cargas (IAPETC), que era uma autarquia do Governo Federal, desde sua inauguração na capital paulista em 1938. Suas funções nessa instituição duraram até a extinção do IAPTEC em 1966, quando os diferentes IAPs fundiram-se no antigo INPS (Instituto Nacional de Previdência Social).

          No ano de 1940, José Ramos casou-se com a professora de ensino primário Maria Apparecida Amalfi, que adotou o nome de casada de Maria Apparecida Ramos de Oliveira. O casal teve quatro filhos, Maria Lúcia (secretária e agente de comércio exterior), José Carlos (também médico e professor de Medicina), José Eduardo (engenheiro) e Maria Cecília (professora de ensino fundamental).

          No ano de 1953, a convite do Professor Doutor Antônio Prudente, o Prof. José Ramos passou a exercer sua especialidade de clínico no recém-inaugurado Hospital do Câncer da Associação Paulista de Combate ao Câncer (APCC).  No ano seguinte, patrocinado pela APCC, ele fez estágio no Sloan Kettering Hospital, em Nova Iorque, onde obteve o título de Oncologista Clínico e aprendeu os fundamentos e a prática da quimioterapia para tratamento do câncer. Desde então, tornou-se Diretor do Departamento de Medicina Interna do Instituto Central da APCC até 1970.

          Na década de 1950, o Prof. Dr. José Ramos iniciou sua carreira como Professor Titular de Clínica Propedêutica Médica da Faculdade de Medicina de Sorocaba da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. A partir de 1970, também se tornou Professor Titular de Oncologia Cínica da Faculdade de Medicina do Centro de Ciências Biológicas e Médicas da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, que agregou também a antiga Faculdade de Medicina de Sorocaba.

          A convite do Diretor do Departamento de Câncer do Ministério da Saúde do Governo Federal, ministrou, com outros oncologistas, durante os anos de 1974 e 1975, Cursos Intensivos de Oncologia Clínica (CIOC) na maioria das capitais brasileiras. Tais cursos, de 40 horas, tiveram por objetivo difundir a necessidade de que as escolas de medicina ministrassem especificamente a disciplina de Oncologia Clínica em suas grades curriculares.

          Na década de 1960, recebeu o título de Fellow of the American College of Physicians (F.A.C.P.).

          O Prof. Dr. José Ramos Junior publicou vários artigos científicos, seja na observação clínica de pacientes, como também na pesquisa clínica. Ainda nos anos 60, recebeu o prêmio Pravaz-Recordati pelo trabalho experimental realizado em animais de laboratório que recebiam altas doses de corticosteroides, equivalentes ao que pacientes com câncer recebiam como tratamento, muitos apresentando morte súbita. Nesse trabalho mostrou que as altas doses de corticoides nos animais de experimentação, provocavam lesões necróticas no miocárdio.

               Em 1990, o Dr. Ramos Junior tornou-se Professor e Orientador contratado pela Disciplina de Clínica Médica e de Semiologia Clínica da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (Unicamp), por convite do Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti, então Reitor dessa Universidade. 

          Além dos vários trabalhos científicos publicados, o Prof. Ramos Jr. publicou quatro livros, onde colocou toda sua vivência como clínico, cardiologista, oncologista e observador da alma humana.

          O primeiro livro, sem dúvida o de maior sucesso, pois ainda de uso prático até hoje, foi “Semiotécnica da Observação Clínica- Síndromes Clínico-Propedêuticas”. Publicado em junho de 1970, pela Editora Sarvier - Editora de Livros Médicos S.A. chegou a mais 3 edições, em 2 volumes. revisadas e atualizadas por ele, e depois em mais 2 edições, quando os dois volumes foram compostos em um único tomo pela equipe editorial. No prefácio de sua primeira edição, o Prof. José Ramos Júnior faz a síntese do livro com a afirmação de que a obra “mostra a prática médica do exame clínico, a síntese da fisiopatologia de cada sintoma e de cada sinal, para servir ao raciocínio e à compreensão das suas semiogêneses”. De certa forma, o Professor Dr. José Ramos Junior colocou em texto detalhado uma espécie de elaboração daquilo que começou como “Escola Lemos Torres”.

          O outro livro, “Oncologia Clínica”, foi publicado também pela editora Sarvier, alcançando 2 edições (1979 e 1984). Neste livro, o Prof. Ramos Jr., ao lado da descrição pormenorizada de tumores sólidos, leucemias e linfomas, sua oncogênese, classificação e tratamento cirúrgico, quimioterápico e radioterápico, avançou em conceitos da genética dos cânceres e das perspectivas futuras da imunoterapia para o tratamento do câncer. Comentou também das razões para a criação da disciplina de oncologia clínica nos cursos de medicina, o que também indica sua originalidade e criatividade ao propor inovações no curso médico nessa ocasião. 

            Em 1990, o Prof. Ramos Junior publicou o livro "Disritmia Encefálica Paroxística Primária", pela Editora Sarvier. Nessa obra ele colocou como objetivo "firmar conceitos fisiopatológicos, anatomopatológicos, e pirncipalmente clínicos e da semiotécnica da Anamnese... o propósito é tornar a descrição clínica mais completa... para que a assistência ao paciente seja a mais adequada". Não vem ao caso aqui um eventual julgamento neurológico desse conceito. Trata-se antes, como ele frisou, ainda de uma abordagem clínica adequada ao paciente, dentro dos moldes da época dessa produção.  

         Já o médico observador da alma humana apareceu na monografia “Personalidade”, publicada pela Editora Sarvier em 1991. Neste trabalho, publicado no ano que antecedeu seu falecimento, o autor colocou sua experiência como arguto observador dos tipos de personalidade que enriqueceram sua longa vida de médico e professor. No prefácio enfatizou: “Toda a dissertação contida nos capítulos teve a insistente preocupação didática em reunir e sintetizar os conhecimentos científicos sobre os tipos de personalidade...com o propósito de ser útil para o estudante de medicina, para os médicos, para o sociólogo, para o professor, para o advogado, para o psicólogo”.

          Após ter sofrido um Acidente Vascular Cerebral Isquêmico em novembro de 1991, que limitou sua prática clínica e suas atividades docentes, o Prof. José Ramos de Oliveira Júnior faleceu no Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo, em 07 de outubro de 1992, por parada cardiorrespiratória consequente a um infarto agudo do miocárdio.

 

Fontes Bibliográficas:

 

Oliveira, J.C.R. Dados Biográficos sobre o Prof. Dr. José Ramos Junior, 2023.

 

Valle, J. R. – A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º Aniversário (1933-1973) e anotações recentes. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977.

 

terça-feira, 21 de março de 2023

Biografia de Ulysses Lemos Torres

 





          Ulysses Lemos Torres nasceu em 20.10.1911 em Avaré, interior de São Paulo. Filho do professor Álvaro de Lemos Torres e Dona Maria Amélia Jardim de Lemos Torres. Ficou conhecido como médico, professor, historiador, escritor, poeta. Escreveu livros filosóficos sobre medicina e arte, inclusive com textos que foram publicados em jornais diários, além de periódicos médicos. 

          Ele fez seus estudos secundários no Colégio São Joaquim de Lorena. Entrou na Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil, na então Capital Federal, onde se diplomou em 1935.

            A respeito de Ulysses Lemos Torres obtivemos diversas informações em documentos variados que vão relatados a seguir. 

          No jornal "O Estado de São Paulo", em edições do final de 1937 e início de 1938, seu nome aparece em anúncio do Laboratório do Hospital São Paulo, Escola Paulista de Medicina, conforme o seguinte texto abaixo:

Laboratório de Análises do Hospital São Paulo

Sob a direção dos professores da Escola Paulista de Medicina,

Anatomia Patológica – Prof. Walter Bungeler e Dr. Fernando L. Alayon.

Bacteriologia e Sorologia – Prof. Otto Bier.

Exames Parasitológicos -  Prof. Flávio da Fonseca.

Hormodiagnóstico e Metabolismo Basal – Dr. José Ribeiro do Valle e Dr. Ulysses Lemos Torres.

Análises clínicas e citodiagnóstico -  Dr. Mário Mesquita e Dr. Antonio Cintra.

Rua Boa Vista, 175, 7º andar, telefone 21623. Das 8 às 18 horas.

          Em outro artigo do jornal "O Estado de São Paulo", de 20 de fevereiro de 1940, consta que Ulysses Lemos Torres foi um dos concludentes do Curso de Aperfeiçoamento em Tisiologia do Hospital São Luiz Gonzaga. O Curso durou seis semanas e foi o terceiro ocorrido nesse hospital.

          Ainda no mesmo periódico, "O Estado de São Paulo", de 7 de março de 1940, consta o seguinte informe sobre reunião de médicos no Hospital São Paulo, Escola Paulista de Medicina, conforme segue abaixo:  

Sociedade dos Médicos do Hospital São Paulo da Escola Paulista de Medicina

Hoje às 20:30 horas, no Anfiteatro da Escola Paulista de Medicina à Rua Botucatu, 720, sob a presidência do prof. Dr. Álvaro de Lemos Torres, realizar-se-á a 10ª reunião da Sociedade dos Médicos Internos do Hospital São Paulo, na qual serão apresentados os seguintes casos:

1 – Metabolismo basal na Hipertensão. Dr. Ulysses Lemos Torres

2 – Flegmão Lenhoso do Pescoço. Dr. Fuad Ferreira

3 – Organização do Ambulatório de Hipertensão. Dr. Ulysses Lemos Torres e Dr. João B. Credidio.

4 – Sobre uma crise aguda de hipertireodismo no pós-operatório de uma tireoidectomia total. Dr. Carlos Amadeu de Arruda Botelho Filho.

Em relação ao informe anterior, note-se que os assim chamados "médicos internos" não eram alunos, e sim já formados, sendo que esse "interno" seria algo equivalente a um "médico residente", com cargo instituido em 1939 por Álvaro de Lemos Torres, então diretor da Escola Paulista de Medicina, o que demonstra um pouco da então considerada "modernidade" do Lemos Torres pai.

          Em sua vida, o Prof. Dr. Ulysses Lemos Torres exerceu os seguintes cargos e obteve os seguintes prêmios abaixo referidos:

          Em 1938, Inspetor Federal do Ensino Secundário do Estado de São Paulo, mais especificamente da Escola Normal Padre Anchieta.

          Foi Chefe da Clínica Endocrinológica do Hospital Municipal de São Paulo por vários anos, onde comandou o Centro de Estudos que nomeou com o nome de seu pai, Álvaro Lemos Torres.  

         Em 18 de março de 1944 foi empossado como membro da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo.

         Em 30 de agosto de 1954 participou da fundação da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, sob coordenação de José Afonso de Mesquita Sampaio, Waldemar Berardinelli, Antonio Barros de Ulhoa Cintra, contando também com os médicos Arnaldo C. Sandoval, Luciano Decourt, Eugênio Chiorbolli e outros.

         Em 1955 venceu concurso e assumiu o cargo de Chefe da Segunda Clínica Médica de Homens da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

          Em 1960 recebeu o prêmio de Cultura Geral “José de Almeida Camargo” da Associação Paulista de Medicina pela obra “Medicina: Ciência e Arte”.

          Em 30 de junho de 1966, tomou posse como membro da Academia Nacional de Medicina em sessão solene comemorativa de seu 137º aniversário.

           Foi Professor Titular de Clínica Médica da Faculdade de Medicina do ABC até 1975.

         Em 12 de maio de 1978 recebeu a medalha Euclides da Cunha do Governo do Estado de São Paulo por serviços prestados à Medicina e à Cultura.

           Foi Membro do Instituto Histórico e Geográfico.

          O Prof. Dr. Ulysses Lemos Torres faleceu em 2 de abril de 1982.  

      Foi dado seu nome a uma rua na cidade de São Paulo, por solicitação do Dr. Tufik Mattar, presidente da Associação Paulista de Geriatria e Gerontologia de São Paulo, solicitação essa feita ao então prefeito da cidade
de São Paulo, Dr. Antonio Salim Curiati, em 1982.


Fontes bibliográficas:

Acervo do jornal "O Estado de São Paulo".

Dicionário de Ruas do Município de São Paulo.

Homenagem ao Prof. Ulysses Lemos Torres, por ex-alunos e amigos. Irmãos Milesi Ltda, 1978.

Torres, U.L. Medicina: Ciência e Arte. 2a Edição. Gráfica São José, 1977 (1960). 

Torres, U. L. A Estética na Medicina. 2a Edição. Milesi Editora Ltda, 1979.

 

 

 

 

 

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Biografia do Prof. José Maria de Freitas

 

A partir de texto de Bindo Guida Filho

 

          Descendente de tradicionais famílias pernambucanas, baianas, mineiras e fluminenses, nasceu José Maria de Freitas aos 21 de março de 1903, em São Paulo. Filho de Sebastião Maria de Albuquerque Freitas e Augusta Monteiro Barros Freitas, era neto de dois médicos dos quais provavelmente herdou pendores para a profissão.

          Seus primeiros estudos foram feitos no Externato Freitas da educadora Cecília M. de Albuquerque Freitas, sua tia e madrinha. O Curso Ginasial no Ginásio do Estado. Estudou também no Colégio São Bento de São Paulo e no Colégio Anchieta de Friburgo. Ingressou na então Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo em 1921.

          Estudante ainda, tomou parte no socorro e atendimento dos feridos na Revolução de 1924, na Santa Casa de Misericórdia, onde permaneceu durante todo o período desse episódio, inclusive com serviços externos. Depois disso, foi nomeado “estudante interno”, único naquele tempo, pelo Dr. Diogo de Faria, Diretor Clínico daquele hospital. Freitas fez plantões noturnos até sua formatura, auxiliando os médicos que se revezavam cada noite, em todos os casos de cirurgia. Nessa época, trabalhou também com Floriano Bayma, auxiliando as primeiras transfusões de sangue realizadas em São Paulo. Diplomou-se pela mesma Faculdade em 1927, defendendo a tese “Contribuição ao estudo da calculose urinária na infância”, aprovada com distinção.   

        Logo depois de formado, foi convidado para ser cirurgião da Misericórdia Botucatuense, tendo passado a residir em Botucatu. Como gostava de ensinar, mudou-se para São Paulo em 1931, aceitando convite de Alfonso Bovero para ser assistente da Cadeira de Anatomia da Faculdade de Medicina. Na revolução de 1932, trabalhou como cirurgião no Hospital de Emergências instalado no Parque da Água Branca e, posteriormente, se fixou na chamada “Ambulância Itália” sediada em Gramadinho, a cinco quilômetros da linha de frente. Deixou seu posto somente três dias após o término da Guerra, julgando de seu dever organizar a retirada do pessoal e a coleta de material médico para entrega na Capital.

          Algum tempo depois, convidado por Benedito Montenegro, passa a exercer suas atividades na Cadeira de Técnica Operatória da mesma Faculdade, até a transferência de Montenegro para a 3ª Cadeira de Clínica Cirúrgica para a qual Freitas também se transferiu, tendo prestado concurso para Livre-Docente dessa mesma cadeira, em 1941. Neste concurso, defendeu a tese “Anestesia Peridural”, aprovada com distinção.

          Em 1945, na mesma Faculdade de Medicina, conquistou o título de Docente Livre de Técnica Cirúrgica, em concurso realizado para o provimento da Cátedra. Após 30 anos de efetivo serviço, aposentou-se da referida Faculdade, em dezembro de 1960.

          Em 1933, ele uniu-se ao grupo de idealistas que fundou a Escola Paulista de Medicina, tendo sido Catedrático de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental na mesma. Ainda na EPM, por várias vezes fez parte do Conselho Técnico Administrativo, foi Diretor da Escola no período 1954-59, quando se conseguiu a federalização da EPM, tendo sido ele um dos adeptos a essa causa. Reconduzido ao cargo, exerceu a diretoria no período 1964-68, quando encerrou suas atividades no magistério.   

           Ele também participou na organização da Faculdade de Medicina de Sorocaba, tendo sido professor da 3ª cadeira de Clínica Cirúrgica, onde permaneceu em efetivo exercício, preparando os seus substitutos. Foi fundador da Escola de Enfermagem São Francisco e o seu primeiro diretor. Esta Escola foi posteriormente agregada à faculdade de Medicina de Sorocaba.

          Cooperou com a Associação dos Sanatórios de Campos do Jordão (Sanatorinhos), onde organizou o Serviço de Cirurgia e operou gratuitamente durante o período 1939-1941. Deu sua colaboração no ambulatório Jin Kai, que ficou sob sua responsabilidade, até o funcionamento do Hospital Santa Cruz, do qual foi cirurgião-chefe, e depois Diretor Clínico e Administrativo, de 1942 a 1970. Ensinou aos seus assistentes e seguidores, conforme seu biógrafo, não somente a técnica operatória segura e elegante, como também a sobriedade nas palavras e atitudes e a conduta rigidamente ética no exercício da profissão.

          Era, portanto, Diretor da EPM, quando do I Congresso Brasileiro de Médicos Residentes em 1966. Aparentemente, pelo que consta, era um tanto conservador no que diz respeito a inovações nos modelos de aprendizado e treinamento. Teve um contratempo com os residentes que permaneciam no alojamento por tempo além do estipulado, expulsando-os do hospital. Não aceitou a prorrogação de docentes ao aposentarem; eles poderiam permanecer até os 70 anos, se assim quisessem, embora devessem se aposentar aos 65. Mas Freitas obrigou a todos se aposentarem aos 65 anos. Com isso, o Prof. Jairo Ramos teve que deixar seus cargos, embora estivesse com energia para continuar. No entanto, Jairo Ramos continuou frequentando a EPM até falecer em 1972. Pelo seu conservadorismo, é provável que o Dr. Freitas estivesse entre os docentes que nos anos 1950 relutaram em aceitar a novidade da Residência Médica. Na época em que era diretor no período 1964-68 enfrentou solicitações dos alunos de graduação para que saísse do cargo. Também alguns professores dessa época questionaram a qualidade do desempenho de Freitas como diretor da EPM. De qualquer forma, ao deixar o cargo, ele deixou sua função de professor.   

     Prof. José Maria de Freitas faleceu em 30 de dezembro de 1990, aos 87 anos.


Fonte Bibliográfica: Livro Comemorativo dos 40 anos da Escola Paulista de Medicina compilado pelo Prof. Ribeiro do Vale, publicado em 1977.