sexta-feira, 21 de abril de 2017

Biografia do Prof. Alípio Correa Netto


Baseada em texto escrito pelo Prof. Costabile Gallucci

     Alípio Correa Netto nasceu em 14 de janeiro de 1898, em Cataguazes, Estado de Minas Gerais.  Fez a primeira parte de seu curso secundário no Ginásio de São José da cidade de Ubá, no mesmo Estado, terminando esse mesmo curso em São Paulo, sob orientação do Prof. Alfredo Paulino. Em fevereiro de 1918 matriculou-se na Faculdade de Medicina de São Paulo, tendo concluído o curso médico em março de 1924. Foi orador de sua turma na formatura e sua tese de doutoramento intitulou-se “Cistos Congênitos do Pescoço”.
     Participou ativamente do movimento revolucionário de 1932, ocupando o cargo de chefe de Cirurgia do Hospital de Sangue de Cruzeiro, no Vale do Paraíba. Daí surgiu o seu trabalho “Cirurgia de Guerra do Hospital de Sangue de Cruzeiro” (1934).
     Como estudante e depois como assistente trabalhou no serviço de João Alves Lima, grande mestre de Cirurgia que recebeu ensinamentos na Faculdade de Medicina de Paris.
     Alípio Correa Netto seguiu com dedicação a escola e a obra didática de Lemos Torres.
     Em 1935 prestou concurso de provas e títulos para o cargo de Professor Catedrático de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, tendo sido classificado em primeiro lugar.
     Participando de movimento inovador e contestador, foi um dos fundadores da Escola Paulista de Medicina em 1933. Em 1936 tornou-se professor catedrático de Cirurgia da EPM.
     Imediatamente após assumir as duas cátedras, fez sentir sua condição de líder e de professor, sugerindo e adotando modificações no ensino médico e batalhando pela ideia de que muito mais do que Ensino Médico se deveria instituir o conceito de Educação Médica.
     Em 1944, participou da Segunda Guerra Mundial, integrando a Força Expedicionária Brasileira, como Major Médico, onde chefiou a Secção Brasileira do 32º Field Hospital. Por sua inteira dedicação nesse período, recebeu as seguintes condecorações: Bronze Star, outorgada pelo V Exército dos Estados Unidos, Medalha de Campanha e Medalha de Guerra do governo brasileiro. Além disso, foi condecorado como Cavaleiro da Legião de Honra do Governo da França.
     Por mais de 40 anos dedicou-se à educação médica (conforme texto de 1977) e, principalmente, à formação de professores. Formou uma das maiores escolas cirúrgicas do país, com muitos docentes em todos os campos da cirurgia: gastroenterologia, cirurgia cardíaca, vascular, cabeça e pescoço, plástica, entre outros.
     Foi pioneiro, no Brasil, da Cirurgia da Tuberculose, criando tradicional escola da especialidade, principalmente no Hospital São Luiz Gonzaga, em Jaçanã. Foi um dos iniciadores da Cirurgia Pulmonar não tuberculosa, do esôfago e do coração. Acumulou uma das maiores experiências mundiais em cirurgia da tiroide, reestruturando suas bases clínico-cirúrgicas. Ensinou, constantemente, a seus discípulos a fundamental importância do domínio dos métodos propedêuticos cirúrgicos na formação do cirurgião. Reconhecido por todos como insigne operador, Alípio Correa Netto era admirado como invulgar diagnosticador. Fiel ao princípio de educar e não apenas ensinar, sempre fez sentir a importância do correto vernáculo nas exposições orais, nas provas escritas e na redação de trabalhos científicos.
     Característica fundamental desse grande mestre tem sido facilitar a ascensão de seus assistentes na carreira profissional e universitária. Sempre incentivou a realização de trabalhos e teses de seus discípulos, acompanhando de perto a evolução de seus alunos e assistentes.
     Em relação à Cirurgia Experimental, procurou sempre estabelecer a diferença entre a cirurgia para aperfeiçoamento técnico em animais e a verdadeira cirurgia experimental, aquela que se caracteriza pela originalidade na pesquisa.
     Alípio Correa Netto preconizou e realizou profundas transformações nas Cátedras das Escolas Médicas em que exerceu suas atividades. Assim, em 1957, conseguiu, na Escola Paulista de Medicina, juntamente com os professores Antônio Bernardes de Oliveira e José Maria de Freitas, reunir as cátedras cirúrgicas em um único Departamento de Cirurgia. Deve-se assinalar que a transformação de Cátedras em Departamentos só foi oficializada na Reforma Universitária de 1968/1969, embora o primeiro Departamento em Escola Médica no Brasil já tivesse sido criado por Jairo Ramos em 1951 na Escola Paulista de Medicina.
     Alípio Correa Netto publicou mais de 70 trabalhos científicos como: “Clínica Cirúrgica”(5 volumes); “Propedêutica do Abdome”; “Megaesôfago, Patogenia, Diagnóstico e Tratamento”; “Afecções Cirúrgicas da Tiróide”; “Tratamento Cirúrgico do Megacólon”; Achalasie du Pylore chez l’Adulte; “Mecanismo da Cura da Caverna Tuberculosa pelo Colapso”.
     Homem de profunda formação humanística, não se restringiu à atividade médica. Foi fundador e presidente da Secção de São Paulo do Partido Socialista Brasileiro. Permaneceu nesse cargo até 1960, quando se desligou do partido.
     Exerceu o cargo eletivo de Deputado Estadual em 1951 e 1952. Em seu mandato apresentou, entre outros, dois projetos que se tornaram leis a partir de 1952: “Assistência Hospitalar no Estado de São Paulo”; “Assistência agro-médico-social ao trabalhador rural”.
     Foi Secretário de Higiene da Prefeitura Municipal de São Paulo na administração Jânio Quadros.
     Em 1955, por eleição do Conselho Universitário, exerceu o cargo de Reitor da Universidade de São Paulo.
     Em 1958 foi Secretário da Educação do Estado de São Paulo, no governo Jânio Quadros.
     Foi fundador e presidente da Associação Médica Brasileira de 1951 a 1955. Foi presidente da Academia Paulista de Medicina e do Colégio Brasileiro de Cirurgiões.
     Também escreveu sobre assuntos diversos. Escreveu “Diário de Guerra”, sobre sua participação na Força Expedicionária Brasileira, publicado na revista Anhembi. Estudou a vida e a moléstia que acometeu Aleijadinho e escreveu um ensaio onde desvenda o diagnóstico da afecção do escultor.
     Atento ao problema do transplante de órgãos, publicou livro sobre o assunto, que, segundo o intelectual Paulo Duarte, “pseudo obra de ficção em torno de um dos mais belos episódios da cirurgia brasileira, que foi exatamente a posição de Euryclides de Jesus Zerbini”. Sobre esse livro chamado “Ponto no Infinito”, continua Paulo Duarte, “estão retratados os nossos costumes, os nossos médicos, as virtudes e as deficiências do nosso serviço hospitalar, as manifestações dos órgãos publicitários, a curiosidade incontrolável, as manifestações oficiais, as alegrias em relação ao feito”.
     Alípio Correa Netto escreveu a biografia de seu mestre João Alves de Lima no livro “Um Mestre da Cirurgia”.
     Alípio Correa Netto faleceu em São Paulo, em 24 de Maio de 1988.   

Fonte bibliográfica: "Alípio Correia Neto" por Costabile Gallucci in  A Escola Paulista de Medicina - dados comemorativos se seu 40º aniversário (1933-1973) e anotações recentes. São Paulo, 1977. 

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