segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Biografia do Prof. Dr. José Ignácio Lobo



A partir de texto de Gustavo Friozzi

     José Ignácio Lobo nasceu em São Paulo em 14 de fevereiro de 1900, filho de Jerônimo Álvares Lobo e Maria Eliza de Azevedo Lobo. Matriculou-se em 1912 no Colégio Arquidiocesano de São Paulo, onde fez o então Curso Ginasial, que concluiu em 1916.
     Após prestar exames em lugares como o Ginásio do Estado da Capital e a Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, decidiu-se por cursar esta última, onde graduou-se em 1923.
    A partir do fim do terceiro ano do Curso Médico, começou a frequentar, na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, o Serviço de Clínica da Segunda Enfermaria de Mulheres, da qual era chefe o Dr. Ribeiro Almeida, tendo aí trabalhado sob a orientação do então assistente Dr. Raul Margarido. Ainda como aluno trabalhou nos postos de Profilaxia da Sífilis. No último ano do curso foi Interno do Hospital de Isolamento de São Paulo (depois Hospital Emílio Ribas). Foi presidente do Centro Acadêmico Oswaldo Cruz. Em seu doutoramento defendeu tese sobre “Menstruação e Corpo Lúteo”, sendo aprovado com distinção.
     Exerceu a Clínica inicialmente na cidade de Ourinhos, onde ficou até 1925. Nessa época ingressou no Serviço do Professor Rubião Meira, na Segunda Enfermaria de Homens da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Dessa forma, foi indicado pelo Prof. Meira para Assistente Extraordinário da Terceira Cadeira de Clínica Médica da Faculdade de Medicina, indicação essa renovada anualmente, sendo a última das quais em março de 1936, conforme o título da nomeação.
     Em julho de 1932, foi nomeado adjunto do Hospital São Luiz Gonzaga, em Jaçanã. Esse cargo foi logo interrompido, em virtude da Revolução Constitucionalista. Durante esta, não pode prestar serviços médicos nem no Hospital Central da Santa Casa, nem em outro hospital, por ter-se incorporado às forças paulistas em operação no Setor Sul. De regresso, reassumiu suas funções na Santa Casa e no Hospital São Luiz Gonzaga.
     Em 1933, José Ignácio Lobo participou da fundação da Escola Paulista de Medicina, onde tornou-se Professor Catedrático de Clínica Médica.
     Em maio de 1936, foi aprovado em concurso para Livre Docente de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de São Paulo. Continuou a auxiliar o curso prático da Terceira Cadeira de Clínica Médica, e trabalhando na Segunda Enfermaria de Medicina de Homens da Santa Casa de São Paulo até outubro de 1938. Na ocasião, a convite do Prof. Ribeiro de Almeida, passou a trabalhar na Segunda Enfermaria de Medicina de Mulheres da Santa Casa, onde permaneceu até meados de 1944.
     Em 1943, teve revalidado seu título de Livre Docente de Clínica Médica pela Congregação da Faculdade de Medicina de São Paulo, mediante novo concurso de títulos, conforme ordenava a Lei.
     Em novembro de 1945, foi transferido do cargo de adjunto efetivo do Hospital São Luiz Gonzaga para cargo similar na Santa Casa. Em maio de 1946, foi promovido a Chefe de Clínica da Segunda Enfermaria de Medicina de Homens da Santa Casa. Exerceu essa Chefia até 1953, quando solicitou exoneração do cargo. A Mesa Administrativa da Irmandade conferiu-lhe, em maio de 1955, o título de Médico Emérito, em reconhecimento a serviços prestados.
     O Prof. Lobo foi pioneiro e precursor de estudos endocrinológicos em São Paulo, juntamente com Thales Martins. Com a supressão do serviço de Endocrinologia do Instituto Butantã, houve a transferência do pessoal e do arquivo de casos para a Escola Paulista de Medicina, concomitantemente à criação da Disciplina de Endocrinologia no recém-criado Departamento de Medicina pelo Prof. Jairo Ramos, que indicou, e foi aprovado pela Congregação, o Dr. Lobo. Conforme Gustavo Friozzi, concomitantemente foi criada a Disciplina de Moléstias Infecciosas. O Prof. Lobo aposentou-se na EPM em 1968.
     Participou várias vezes do antigo Conselho Técnico Administrativo da EPM, mesmo após se aposentar. Assim também do Conselho Deliberativo da Sociedade Paulista para o Desenvolvimento da Medicina, mantenedora do Hospital São Paulo.
     Foi membro de várias bancas examinadoras em concursos de professores e docentes. Publicou mais de 200 trabalhos, entre teses, monografias e artigos científicos. Mesmo após aposentado exerceu, em comissão, o cargo de Assistente Técnico da Coordenadoria dos Serviços Técnicos Especializados da Secretaria da Saúde.
     Nas palavras de Gustavo Friozzi:
     “Durante o tempo que trabalhamos com o Dr. Lobo, pudemos verificar a vivacidade de sua inteligência e a profundeza de sua cultura. Chegava à Enfermaria lá pelas dez horas e passava em revista todos os leitos (33), orientando a terapêutica ou ajudando a esclarecer o diagnóstico. Tendo sido convidado a dirigir o Departamento Científico da Laborterápica, teria podido, como o fazem muitos, aparecer de vez em quando na Enfermaria e manter-se chefe titular. Mas o caráter de José Ignácio Lobo não permitia tal rasgo à sua concepção do dever. Não podendo dar, como queria, a assistência e a atenção que seu cargo requeria, preferiu demitir-se, a manter-se como titular figurativo. Foi uma pena. Perdeu a Santa Casa um grande clínico e eu um grande mestre e amigo”.
     Continua Gustavo Friozzi:
     “Novamente a Enfermaria foi posta em concurso, vencendo-o o Dr. Ulysses Lemos Torres, digno substituto de Ignácio Lobo e continuador da grande obra de seu pai, o falecido Prof. Lemos Torres, introdutor da semiótica médica em nosso meio, que muito contribuiu para formar grandes clínicos como: Jairo Ramos, L. Decourt, J. Lobo, Ulhôa Cintra, B. Tranchesi e outros”.
     Sobre o Prof. Lobo, diz ainda Gustavo Friozzi, em publicação de 1977:
     “De estatura mediana, esguio, com farta cabeleira grisalha, sempre elegantemente trajado, o Dr. Lobo lembra a figura dos médicos ingleses descritos por Cronin. Patriarca “ancien stile”, é o pai de 10 filhos”.   
     No jornal O Estado de São Paulo de  7 de fevereiro de 1994 lê-se nota de falecimento do Prof. José Ignácio Lobo, com 94 anos. o jornal acrescenta que, em setembro de 1963, na sessão solene da congregação da Escola Paulista de Medicina, comemorativa dos 30 anos de fundação da Escola, pronunciou longa oração, quando destacou: “tem sido de fato uma constante desta Escola, a preocupação com os métodos de ensino, com a técnica do ensino, com a ciência do ensino”. E aos alunos disse: “para usar uma linguagem estudantil, dir-vos-ei agora, nesta festa trintenária, que a 'escolinha' dos vossos antecessores se tornou a 'Paulista' de nossos dias, guardai bem e defendei melhor, este nome, assim no que ele exprime de transmutação dos conceitos, como no que ele significa de tradição gentílica. Guardai-o com a alegria da mocidade, com a altivez de homens livres e com a dignidade que a Providência Divina, a quem rendemos graças, imprimiu em cada um de nós”.
     Continuando a notícia, o Prof. José Ignácio Lobo era filho do Sr. Gerônimo Alves Lobo e de d. Maria Elisa Lobo, falecidos. Era casado com d. Maria Rita Lobo. Deixa os filhos, Marcelo Lobo, casado com d. Lucila Figueiredo Lobo; Guilherme Lobo, casado com d. Elisabeth Lobo; Maria Claúdia Lobo; Maria Ercília Lobo; Maria Gilda Lobo; d. Elisabeth Lobo Brennan, casada com Laurence Brennan; d. Heloisa Lobo Teixeira da Silva, casada com o sr. Luiz Teixeira da Silva; Jorge Garcez Lobo, casado com d. Regina Lobo; Flávia Lobo, solteira, e Rogério Lobo, solteiro. Deixa ainda netos e bisnetos. O enterro realizou-se no dia 5, às 12 horas, no Cemitério Gethsemani.   

Fonte bibliográficas: 
Friozzi, Gustavo – José Ignácio Lobo in A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º Aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, págs. 104-107.
Acervo do jornal O Estado de São Paulo. 

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