sábado, 7 de setembro de 2019

Biografia do Prof. Abrahão Rotberg


A partir de texto de Raymundo Martins de Castro

     Abrahão Rotberg nasceu em Odessa, em 12 de janeiro de 1912, e ainda criança emigrou com seus pais para o Brasil. Fez as primeiras letras no Rio de Janeiro e o curso secundário no tradicional Colégio Pedro II dessa cidade.
     Ingressou na então Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo em 1928. Formou-se em 1933. Desde a vida acadêmica, interessou-se pelo Mal de Hansen. Nas enfermarias do então Sanatório São Bento, coletou o material para sua tese de doutorado: “Intradermorreação de Mitsuda-Hayashi”. Essa tese marcou época, pois eram confusos os conhecimentos sobre formas graves e formas benignas do Mal de Hansen. Sua tese foi um dos elementos que possibilitaram a F. E. Rabelo e J. M. Fernandez imporem perante a ciência mundial a classificação sul-americana do Mal de Hansen.
     Rotberg formou-se em época um tanto peculiar para a Dermatologia paulista, na década de 1930. A esse tempo, o antigo Departamento de Profilaxia da Lepra, dirigido por (conforme Raymundo M. de Castro) personalidade “doublé” de cirurgião e sanitarista, possibilitou a Rotberg e vários outros, entre os quais dois colegas de sua turma, Luís Marino Beccheli e Luís Baptista, meios para se aperfeiçoarem em Leprologia e Dermatologia. Foi esta uma espécie da fase áurea da Leprologia paulista e São Paulo tornou-se um tipo de “Meca da Leprologia mundial”.
     Rotberg complementou sua formação dermatológica como assistente de Dermatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, na cátedra então regida pelo Prof. João de Aguiar Pupo. Aí, pouco permaneceu como assistente. A Constituição de 1937 proibia a acumulação de cargos públicos e Rotberg optou pelo Departamento de Lepra, tal era o prestígio dessa instituição nessa época.
     Em estágio nos Estados Unidos aperfeiçoou-se em Alergia, tendo sido um dos pioneiros nesse assunto no Brasil. Em 1939, apresentou trabalho em Congresso de Ciência do Pacífico em S. Francisco, e de lá rumou para o Skin Cancer Hospital em Nova York.
     Com a instalação da Clínica Dermatológica do Hospital das Clínicas, Aguiar Pupo convidou Rotberg para integrar o quadro de médicos auxiliares. Cumprindo exemplarmente suas funções de ensino, pesquisa e assistência em 1951, obteve a Venia Docendi, em brilhante concurso no qual defendeu tese sobre intradermorreação de Montenegro.
     Após a prematura morte de Nicolau Rossetti e o curto tempo que Newton Guimarães regeu a cátedra na Escola Paulista de Medicina (1957), Rotberg assumiu a regência da cátedra, em 1958, nela permanecendo até 1970.
     Implantou novos métodos de ensino e, sobretudo, possibilitou diálogo franco e leal entre professor e aluno. Desse diálogo resultou ser homenageado por quase todas as turmas que lecionou.
     É coautor, juntamente com Luiz Marino Becchelli, de um compêndio de Leprologia. Essa obra, publicada em 1956, foi importante texto para os dermatologistas e os então leprologistas.
     Foi diretor do Departamento de Profilaxia da Lepra e, após a reforma administrativa da Secretaria da Saúde, com a criação da Coordenadoria de Serviços Técnicos Especializados, passou a exercer o cargo de Coordenador.
     Ao tempo da escrita do texto sobre ele, de Raymundo Martins de Castro, nos anos 1970, ele continuava sua renhida campanha para a adoção do nome “hanseníase” em substituição a lepra, visando atenuar o estigma sobre a doença. Nessa sua luta, já contava com apoio de especialistas nacionais e estrangeiros, de escolas médicas, de sociedades médicas, de governos estaduais e também do governo federal.
     Em 1971 tornou-se o supervisor científico da publicação “Hanseníase”, órgão oficial da Divisão de Hansenologia e Dermatologia Sanitária da Secretaria da Saúde.
     Quando na direção do Departamento Nacional de Profilaxia da Lepra, em 1967, propôs abolir o isolamento compulsório, bem como lançou a ideia de usar-se o nome “hanseníase”. Em 1975, esse termo foi adotado oficialmente pelo Ministério da Saúde do Brasil. Rotberg foi fundamental para criação do termo, sua substituição e para o fim das colônias de isolamento da moléstia.   
     Trabalhou em seu consultório até 2003, com 91 anos. Faleceu no dia 1 de novembro de 2006 em São Paulo.

Fontes bibliográficas:
1 – Castro, R. M. – “Abrahão Rotberg” in A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º aniversário (1933-1973) e anotações recentes. Organizado por José Ribeiro do Valle. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, pg 153-155.
2 – Obituário de A. Rotberg. Anais Brasileiros de Dermatologia, vol. 81, nº 6, Rio de Janeiro, nov/dec, 2006.  

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