sexta-feira, 17 de março de 2017

Biografia de Álvaro Guimarães Filho


Biografia embasada em texto do Prof. Dr. Henrique A. Paraventi

     Nascido em São Paulo, a 29 de agosto de 1901, Álvaro Guimarães Filho fez seus estudos em São Paulo e no Rio de Janeiro, no Colégio de São Bento e no Ginásio Oswaldo Cruz.
     Graduou-se pela Faculdade de Medicina de São Paulo em 1925. Durante o curso médico, foi interno da segunda enfermaria de Homens da Santa Casa de São Paulo, Cátedra de Clínica Médica dirigida por Rubião Meira, ali trabalhando com Álvaro Lemos Torres. Essa segunda enfermaria de homens da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo já era então renomado centro de estudos médicos e dela sairiam vários professores da Escola Paulista de Medicina.
     Durante o 6º ano médico, foi também interno efetivo da “Assistência Policial de São Paulo”. Foi eleito vice e posteriormente presidente do “Centro Acadêmico Oswaldo Cruz”, e, nessa época, chefiando delegação de universitários paulistas, levou ao 1º Congresso Interestadual de Medicina o trabalho “Estudo clínico do carcinoma primitivo do esôfago”.
     Depois de formado, defendeu tese inaugural, a 23 de março de 1926, intitulada “Higiene mental e sua importância em nosso meio”. Nesse mesmo ano viajou para a Europa, estagiando em Paris, na maternidade Baudelocque e no Hospital Broca, recebendo ensinamento de Couvelaire e Faure. Em Berlim, fez cursos de aperfeiçoamento com Strassman, Straus e Kristeller. Ainda em Viena frequentou na Universidade a segunda “Frauenklinik”, sob a orientação de Kermauner.
     Após meses de permanência nesses centros médicos, retornou ao Brasil em 1927, onde foi admitido como assistente voluntário na Clínica Obstétrica da Faculdade de Medicina de São Paulo, sob a chefia de Raul C. Briquet. Ali organizou o serviço Pré-Natal, e a seção de urologia feminina, assim como o departamento de Radiodiagnóstico Obstétrico. Em 1933 atingia a chefia clínica nessa disciplina.
     Suas atividades didáticas, no entanto, iniciaram-se em 1931, quando foi nomeado Professor de Enfermagem Cirúrgica na Escola de Obstetrícia e Enfermagem Especializada de São Paulo, anexa à Clínica Obstétrica da Faculdade de Medicina.
     Em 1932, por ocasião do movimento Constitucionalista, exerceu função de auxiliar médico da Superintendência dos Serviços Auxiliares de Saúde.
     Em 1933, foi encarregado por Paula Souza de organizar o serviço de Higiene Pré-Natal, no Centro de Saúde do então Instituto de Higiene de São Paulo, primeira organização desse gênero instalada no Brasil. Nesse mesmo ano é designado Professor Catedrático de Clínica Obstétrica da recém-fundada Escola Paulista de Medicina.
     Participa como sócio fundador de nova entidade associativa dos médicos de São Paulo, a Associação Paulista de Medicina, onde exerceu a presidência do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia.
     Em 1935 foi laureado pela Academia Nacional de Medicina, conjuntamente com Álvaro Lemos Torres e Jairo Ramos com o prêmio e medalha de ouro “Madame Durocher”, pelo trabalho “Coração na Gravidez”, em que firmam a conduta aplicada à gestante cardiopata.
     Desde o início de sua carreira no magistério superior, através de atividades didáticas, publicações em revistas especializadas e palestras proferidas nas várias entidades médicas, deu grande realce aos métodos de proteção materna e infantil, preocupando-se com o problema da mortalidade e morbidade maternas e perinatais. A semiologia obstétrica, a fisiologia da parturição e a orientação nutricional da gestante encontram nele fervoroso cultor.
     Em 1937, após brilhante concurso, é o primeiro a galgar o degrau de livre docência de Clínica Obstétrica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
     Os problemas éticos e morais na formação de médicos, enfermeiras e parteiras encontraram sempre em Álvaro Guimarães Filho devoto divulgador e defensor.
     Com a criação da Faculdade de Higiene e Saúde Pública da Universidade de São Paulo, foi empossado como professor catedrático da cadeira de Higiene Materna, onde permaneceu até a aposentadoria compulsória, ocupando também o cargo de diretor da Faculdade. Durante três períodos, integrou o Conselho Universitário de São Paulo, afastando-se somente pela aposentadoria compulsória. Nessa faculdade orientou  inúmeros médicos, enfermeiras, educadoras sanitárias, assistentes sociais, administradores hospitalares e nutricionistas, transmitindo-lhes com seu saber e dedicação ideias básicas de proteção materna.
     Para divulgação dos ensinamentos da especialidade fundou e dirigiu muitos anos a “Revista de Ginecologia e Obstetrícia de São Paulo”.
     Foi membro do Conselho Superior de Administração da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, por designação de sua Eminência, o Grande Chanceler, D. Carlos Carmelo, Cardeal Motta.
     Foi perito para questões matrimoniais do Tribunal Eclesiástico da Arquidiocese de São Paulo e um dos organizadores da Maternidade “Pró-Matre Paulista”.
     Na Escola Paulista de Medicina iniciou o curso regular de Clínica Obstétrica em 1938, permanecendo até a aposentadoria compulsória.
     Falar de Álvaro Guimarães Filho nessa fase de afirmação da Escola Paulista de Medicina seria desnecessário, tal o conhecimento público de sua profícua e intensa atuação.
     Nessa época, por solicitação de Lemos Torres, funda a “Escola de Enfermeiras do Hospital São Paulo” e com grupo de senhoras da sociedade paulista o Amparo Maternal. Com pertinácia, colabora intensamente na reativação das obras do Hospital São Paulo, que foi o primeiro hospital de ensino universitário criado no Brasil.
     Com o inopinado desaparecimento do Professor Lemos Torres, ocorrido em 1942, foi eleito diretor da Escola. Durante 14 anos teve a si o cargo de consolidar a instituição dando plenamente à Escola Paulista de Medicina o entusiasmo de sua juventude, o equilíbrio de sua maturidade e a energia do seu caráter. Apesar dos afazeres administrativos, jamais abandonou sua atividade didática e de pesquisa clínica a que sempre esteve afeito.
     Tomou parte ativa nos cursos regulares e de extensão universitária da sua Cadeira, não abandonando as atividades cirúrgicas e assistenciais de sua clínica. Foi inúmeras vezes solicitado para bancas examinadoras de provimento de cátedras e docências livres em quase todas as escolas médicas do Brasil.
     Durante sua gestão na diretoria da Escola Paulista de Medicina, alguns fatos devem ser lembrados: a ampliação do prédio da Escola e a conclusão do Hospital São Paulo, após árduas lutas e reivindicações junto ao Governo Federal, para conseguir o resgate da dívida do Hospital perante a Caixa Econômica Federal, terminado no ato público e festivo de doação do Hospital São Paulo à Escola Paulista de Medicina, através da Lei Federal 939 de 1 de dezembro de 1949 e sancionada pelo presidente da República Marechal Eurico Gaspar Dutra, sendo ministro da Educação e Cultura o Prof. Dr. Clemente Mariani e cabendo ao Deputado Federal paulista Dr. Horácio Lafer a feliz interferência nessa conquista.
     Ainda sob sua orientação foi construído o pavilhão de Patologia Médica, batizado em homenagem a Lemos Torres.
     Ao atingir, em 1966, a idade limite, foi jubilado após tantos esforços, dedicação e lutas para conservar bem alto os ideais dos fundadores da Escola Paulista de Medicina.
     Até bem pouco tempo [meados dos anos 1970] esteve à frente da primeira maternidade social criada em São Paulo, em plena atividade, no “Amparo Maternal de Vila Clementino”.

Fonte bibliográfica: “Álvaro Guimarães Filho”, pelo Prof. Dr. Henrique A. Paraventi, in A Escola Paulista de Medicina – Dados comemorativos de seu 40º aniversário (1933-1973) e anotações recentes – Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, págs, 24 a 28.

     

domingo, 5 de março de 2017

Manifesto de Fundação da Escola Paulista de Medicina


     A anormalidade das condições de vida espiritual e material que há longos anos vem assolando a Humanidade, e que tão intensamente tem repercutido em nossa Pátria, não teve o dom de prostrar as energias do espírito paulista. A vitalidade espiritual de São Paulo tem o vigor das forças naturais incoercíveis, a que o homem pode dar uma direção, mas nunca opor um obstáculo eficaz.
     Às inúmeras provas que ela tem dado da sua exuberância junta-se hoje mais uma, que por certo nada deverá às demais em brilho e valor. Trata-se da fundação da Escola Paulista de Medicina, que visa atender a mais de um problema do nosso meio.
     Em primeiro lugar, o do ensino médico, que tem sempre tido, para São Paulo, enorme importância. De 1912 a 1917 grande esforço se despendeu na formação da Universidade de São Paulo [[1]], o sonho malogrado de EDUARDO GUIMARÃES e que viria contribuir para sua solução. Em 1912 o próprio governo paulista, dominado pela impressão da necessidade de uma escola médica em São Paulo, delegou a ARNALDO VIEIRA DE CARVALHO poderes plenos para sua criação. Do esforço infatigável desse inesquecível paulista resultou a Faculdade de Medicina de São Paulo, que tantos e tão sólidos motivos de orgulho tem dado à nossa terra.
     Paradoxalmente, entretanto, a mesma Faculdade, que se propunha resolver o problema do ensino médico entre nós, e que por algum tempo o fez, contribuiu, a seguir, para sua agravação, graças ao enorme impulso que deu às letras médicas e ao número elevado de profissionais competentes que formou, criando assim novos e vivos estímulos para a vocação médica. E hoje a Faculdade de Medicina de São Paulo é insuficiente para colher a totalidade dos frutos de sua própria obra de nobre e elevada propaganda da Medicina como profissão.
     Tal circunstância, aliada às demais condições determinantes da orientação vocacional e ao sempre crescente poder de absorção de novos médicos, cuja falta cada dia mais se faz sentir por todo nosso Estado, onde há núcleos inteiros de população desprovidos de recursos clínicos – deu em resultado cursarem atualmente as demais escolas médicas brasileiras cerca de mil e quinhentos jovens paulistas.
     Esse fato, se tem constituído um elemento importante para a unidade espiritual brasileira, não tem sido sem dano para a Família e para a economia paulistas. Em seu aspecto espiritual são outros tantos rapazes que realizam, fora do âmbito familiar, uma das fases mais importantes de sua formação moral; em seu aspecto material são milhares de contos anualmente desviados da economia paulista – e essas circunstâncias serão beneficiadas pela nova Escola.
     Outro problema de importância inegável concorre para a fundação de uma nova escola médica, e é a situação da Assistência Hospitalar entre nós. Rica em tantos aspectos da vida social, nossa terra é indigente na assistência hospitalar à população pobre ou remediada.
     Tal situação seria um opróbrio para São Paulo, não fosse próprio dos organismos jovens e em rápido crescimento realizarem-no assim mesmo, adiantando-se muito o desenvolvimento de alguns órgãos e retardando-se o de outros.
     Uma escola médica exige instalações hospitalares para o ensino das clínicas, e a criação de seu hospital não será o menor serviço prestado a São Paulo pela nova Escola que, só por isso, faria jus ao maior carinho e ao melhor desvelo por parte da população paulista.
     A premência desses dois problemas – o do ensino médico e o da assistência hospitalar – bastaria para justificar amplamente a presente iniciativa; por outro lado, o elevado grau de desenvolvimento, já referido, alcançado entre nós pela cultura médica, e o interesse que São Paulo sempre dedicou às manifestações da atividade intelectual são motivos que legitimam a certeza de que a nova Escola nasce com os mais seguros elementos da vitalidade.
     Os signatários, fundadores da Escola Paulista de Medicina, se congregam em Sociedade Civil despidos de qualquer intenção de lucro material. Segundo disposições expressas em seus estatutos, as quotas de formação de capital inicial não serão recuperadas, os lucros decorrentes do funcionamento da Escola serão integralmente aplicados na melhoria das instalações da mesma, e no caso de liquidação da Sociedade o seu patrimônio reverterá em benefício de instituições científicas idôneas [[2]].
     Anunciando ao público a sua decisão, os signatários estão certos de que servem à coletividade, e dela esperam amparo e colaboração.

     São Paulo, 1 de junho de 1933.

Dr. Afrânio do Amaral
Dr. Álvaro Guimarães Filho
Dr. Álvaro de Lemos Torres
Dr. Alípio Correa Neto
Dr. Antônio Carlos Pacheco e Silva
Dr. Antônio Bernardes de Oliveira
Dr. Antônio Prudente
Dr. A. Almeida Junior
Dr. Archimede Bussaca
Dr. Carlos Fernandes
Dr. Décio de Queiroz Telles
Dr. Domingos Define
Dr. Dorival Cardoso
Dr. Eduardo Ribeiro da Costa
Dr. Fausto Guerner
Dr. Felício Cintra do Prado
Dr. Felipe Figliolini
Dr, Flávio da Fonseca
Dr. H. Rocha Lima
Dr. Jairo Ramos
Dr. José Medina
Dr. José Ignácio Lobo
Dr. José Maria de Freitas
Dr. João Moreira da Rocha
Dr. Luiz Cintra do Prado
Dr. Marcos Lindenberg
Dr. Nicolau Rosseti
Dr. Octavio de Carvalho
Dr. Olivério M. Oliveira Pinto
Dr. Otto Bier
Dr. Paulo Mangabeira Albernaz
Dr. Pedro de Alcântara
Dr. Rodolfo de Freitas


[1] A Universidade de São Paulo referida no texto era privada. Iniciou seus cursos em 1912 e foi fechada em 1917. A atual Universidade de São Paulo foi fundada em 1934.
[2] A Escola Paulista de Medicina foi privada de 1933 a 1956, quando foi federalizada. 

sábado, 25 de fevereiro de 2017

Foto do Prof. Octavio de Carvalho diante de seu próprio busto



Nesta fotografia, o Prof. Dr. Octavio de Carvalho, fundador da Escola Paulista de Medicina, discursa diante de seu próprio busto, que foi elaborado, esculpido, pelo Prof. Dr. Marcos Lindenberg. Ambos foram diretores da Escola Paulista de Medicina. Esse busto ficava no pátio interno da EPM e agora se encontra na entrada do Edifício Octavio de Carvalho, à Rua Botucatu, 740. 

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Biografia de Marcos Lindenberg


Baseada em texto de Silvio J. Pinto Borges

     Marcos Lindenberg nasceu em Cabo Frio, Estado do Rio de Janeiro, em 27 de março de 1901. Estudou o primeiro grau na Escola Americana e no Colégio Mackenzie. Fez o segundo grau no Ginásio do Estado de São Paulo. Em 1918 ingressou na Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, atual Faculdade de Medicina da USP, que cursou até o quinto ano, quando transferiu-se para a Faculdade de Medicina da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, onde defendeu tese e diplomou-se em 1923.
     Em 1920 foi nomeado aluno-preparador das cadeiras de Anatomia e Histologia, nas quais iniciou sua formação científica sob a orientação de Alfonso Bovero. Deve sua iniciação no campo da Patologia, ao qual dedicou toda sua atividade profissional e docente, a Oscar Klotz, de quem foi aluno-assistente na cadeira de Anatomia Patológica e a Alexandrino Pedroso, com quem estagiou no Laboratório Central da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, em Microbiologia e Imunologia. Ainda estudante do sexto ano, fixou-se em Campinas, onde organizou e dirigiu o laboratório de análises do Instituto Oftalmológico Penido Burnier e o de Patologia Clínica do Hospital do Circolo Italiani Uniti, hoje [nos anos 1970] Casa de Saúde de Campinas. Nessa cidade, e com a colaboração de Vicente Baptista, promoveu a fundação da Associação Médica de Campinas. Retornou a São Paulo em 1929, reinstalando seu serviço de análises e pesquisas clínicas, cujas atividades suspendeu em 1951 para espontaneamente dedicar-se ao ensino em regime de tempo integral.
     Comissionado pela Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, integrou em 1932, durante a Revolução Constitucionalista, a Primeira Formação Sanitária de Profilaxia de Campanha, para a qual instalou e dirigiu, em Cruzeiro, um hospital de emergência para moléstias infecciosas.
     Sua experiência no domínio da Patologia Clínica foi amplamente aproveitada. Organizou e chefiou o laboratório do Sanatório Esperança. Na Escola Paulista de Medicina, em instalações provisoriamente anexas à sua Cadeira e mais tarde transferidas para o Pavilhão Maria Thereza de Azevedo, encarregou-se do serviço de laboratório para as primeiras enfermarias de ensino ali localizadas. Posteriormente, construído o atual Hospital São Paulo, e já então com a valiosa colaboração de seu jovem assistente João Marques de Castro, planejou o Laboratório Central que, sob a chefia desse saudoso companheiro, haveria de constituir-se em ativo centro de ensino e pesquisa. Em 1950 foi convidado pela Universidade Federal da Bahia para reinstalar, atualizar e dirigir o Laboratório do Hospital das Clínicas de sua Faculdade de Medicina onde permaneceu dois anos, desenvolveu pesquisa e organizou cursos de formação de técnicos de laboratório. Nessa ocasião, a convite de Pernambuco, colaborou no planejamento dos laboratórios do Hospital das Clínicas de Recife.
     Quando, em 1933, teve Octavio de Carvalho a iniciativa de fundar em São Paulo uma segunda faculdade de ensino médico, Marcos Lindenberg com ele colaborou decididamente e desde os primeiros passos para a realização do projeto. Fundada a primeiro de junho de 1933 a Escola Paulista de Medicina, a ela dedicou sempre acendrado amor e o melhor de seus esforços; regeu a cadeira de Patologia Geral, que assumira como professor fundador, até outubro de 1964, quando se aposentou; foi membro do Conselho Técnico Administrativo em vários períodos; em 1959 foi nomeado diretor da Escola, cargo para o qual foi reconduzido em 1962 e que spo deixou em janeiro de 1964; integrou bancas examinadoras de concursos para professor catedrático nas universidades de Belém do Pará, do Recife, de Belo Horizonte, da Bahia e de Curitiba. Em 1963, por delegação do Ministério da Educação, participou dos trabalhos para a instalação em São Paulo de uma universidade federal; este empreendimento, que vinha de encontro a uma legítima aspiração da Escola Paulista de Medicina, qual seja a de integrar uma organização universitária, foi interrompido pelos acontecimentos políticos de março de 1964. Decorrido mais de um decênio [anos 1970] desde aquela época prenhe de incompreensões e radicalismos é forçoso reconhecer a elevação de propósitos no empenho de conseguir integrar a Escola Paulista de Medicina numa Universidade Federal em São Paulo. Esta aspiração, infelizmente, não pôde ainda ser concretizada.
     A formação científica e profissional de Marcos Lindenberg fez-se com base em cuidadosa preparação geral e humanística, desenvolvida desde a juventude pelo contato permanente que manteve com o meio intelectual e artístico de São Paulo, que frequentou assiduamente como membro de suas mais expressivas associações culturais e das quais se aproximou através de seus estudos de piano, iniciados aos 13 anos de idade.
     Dedicou-se também à escultura sendo de sua autoria dois trabalhos em bronze, que doou à Escola: uma efígie de Álvaro Lemos Torres e o primoroso busto de Octavio de Carvalho, que compõe o monumento ao fundador da instituição e que se encontra em seu pátio interno [atualmente encontra-se à entrada do Edifício Octavio de Carvalho da Escola Paulista de Medicina].
     Refletiram-se marcadamente em sua atuação como educador os ensinamentos humanísticos com que assim enriquecera e completara sua formação para além dos campos da medicina. Insurge-se, por isso, contra o ensino e a prática dessa nobre profissão quando, a favor de uma tecnologia que aproveita apenas ao organismo físico, é esquecida a pessoa humana que nele vive, sente e sofre; e propõe que os cursos médicos condicionem e mesmo estimulem a cultura geral do futuro profissional que, assim preparado e sensibilizado, não deixará de oferecer ao bem estar físico, espiritual e social de seus semelhantes os cuidados e o amparo que dele são esperados.
     Eis as principais realizações de Marcos Lindenberg como diretor da Escola: construção, instalação, organização e desenvolvimento da biblioteca, hoje [nos anos 1970] Biblioteca Regional de Medicina-BIREME [atualmente não está mais na EPM]; melhoria e ampliação das condições de ensino e pesquisa nas disciplinas básicas e construção de um prédio de 6 pavimentos para laboratórios; construção do Instituto de Medicina Preventiva, o primeiro do Brasil, e, sob orientação de Walter Leser, implantação de seu ensino ao longo de todo o curso médico, com extensão ao âmbito domiciliar  e à comunidade; expansão e desenvolvimento do ensino clínico em ambulatório, programa para o qual deixou pronto e detalhado o projeto de um edifício de cerca de 14.000 m2 de área, já parcialmente construído e em funcionamento à Rua Pedro de Toledo; construção de uma pequena praça de esportes; promoção de cursos e conferências de extensão cultural; estímulo e colaboração para instalação pelos estudantes de uma sala acústica para audição de música gravada; estímulo e colaboração para organização pelo Centro Acadêmico Pereira Barreto de exposições de pintura e escultura com obras de autoria de médicos e estudantes da Escola; com a colaboração de A. Bernardes de Oliveira, apresentação de raridades bibliográficas médicas.
     Publicou em 1920, edição Weisflog Irmãos, “Lições de Mecânica Elementar” para estudantes de curso secundário, e deixou contribuições em patologia hepática e da esquistossomose, da moléstia de Chagas, das duodenites e colecistites e da hematologia.
     Encerradas suas atividades na Escola Paulista de Medicina, Marcos Lindenberg dirigiu, de março de 1966 a junho de 1975, o Serviço Social da Indústria da Construção e do Mobiliário do Estado de São Paulo, entidade sem fins lucrativos que preta assistência médica, odontológica e social aos empregados de empresas de construção civil.

Fonte bibliográfica: “Marcos Lindenberg”, por Silvio J. Pinto Borges in A Escola Paulista de Medicina – Dados Comemorativos de seu 40º Aniversário (1933-1973) e Anotações Recentes. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, São Paulo, 1977, págs. 116-120.      


quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Biografia de Jairo Ramos


Baseada em texto do Prof. Dr. Octavio Ribeiro Ratto

Este texto do Professor Octavio Ribeiro (com alguns poucos acréscimos explicativos), além dos dados biográficos propriamente ditos, expressa também como os seguidores de Jairo Ramos o admiravam.

     Jairo de Almeida Ramos nasceu em 24 de abril de 1900, em Marquês de Valença, descendendo de tradicional família do Estado do Rio de Janeiro. Com poucos anos de idade veio com sua família para o Estado de São Paulo, inicialmente morando em Avaré, e posteriormente na Capital. Na cidade de São Paulo fez o seu curso secundário no Ginásio do Estado, matriculando-se a seguir na então denominada Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, onde se diplomou em 1923.
     Não é fácil sumarizar uma vida tão intensamente vivida como a do Professor Ramos. Ele foi educador, líder de classe, médico por excelência, chefe de família exemplar, pai dedicado e amigo sincero. Lutou durante toda a sua existência pelo bem coletivo, empenhando-se profundamente no desempenho das tarefas que lhe foram confiadas. Nunca se envaideceu das honrarias recebidas, sabendo sempre suportar o sofrimento com humildade e resignação. A ambição não foi a sua meta, tendo pautado a sua vida pelo amor ao trabalho e pelo culto à verdade.
     Nos últimos anos do curso médico ligou-se à 2ª Medicina de Homens da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, onde funcionava o Serviço de Rubião Meira, trabalhando sob a orientação de Lemos Torres. Nesta enfermaria, que se tornou célebre pelo número de mestres que produziu, começou a formar o seu tirocínio clínico, com grandes sacrifícios de ordem pessoal, já que durante todo o tempo de estudante teve necessidade de trabalhar para prover a sua existência e ajudar a de seus familiares. Uma vez graduado defendeu tese de doutoramento (nessa ocasião todo formando era obrigado a fazer essa tese que era similar a um trabalho de conclusão de curso), escolhendo como assunto a propedêutica dos derrames pleurais. Na 2ª Medicina de Homens, diariamente, pela manhã, ia adentrando os campos mais variados da medicina interna, com interesse mais particular pela cardiologia. Ao final da tarde voltava à enfermaria, onde ministrava cursos particulares de semiologia para pequenos grupos de alunos.
     Trabalhando com afinco, em poucos anos de profissão, tornou-se respeitado pelo apuro com que inquiria os doentes, pelo virtuosismo de sua propedêutica, pelo raciocínio lógico que utilizava na discussão de casos, pela vontade obstinada em transmitir os conhecimentos adquiridos. Ao lado de intensa atividade clínica e didática, ainda lhe sobrava tempo para a investigação clínica e experimental, como bem demonstra o excelente trabalho feito em colaboração com Oria, no qual estuda os plexos nervosos do coração no megaesôfago.
     Com o seu espírito de devotamento às grandes causas, participou da fundação da Associação Paulista de Medicina, em 1930, e do Movimento Constitucionalista de 1932.
     Em 1933, juntamente com uma plêiade de jovens entusiastas, engaja-se de corpo e alma, na fundação da Escola Paulista de Medicina, instituição que foi a menina de seus olhos e da qual nunca mais de afastou até a morte.
     Com Alípio Corrêa Netto escreveu um manual de propedêutica do abdome, e logo após, em 1935, o livro “Lições de Eletrocardiografia”. Neste mesmo ano presta concurso de livre docência na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
     Dotado de invulgar espírito de curiosidade realizou investigações clínicas no terreno da cardiologia, pneumologia, gastroenterologia, nefrologia, hematologia e moléstias infecciosas, fruto de paciente pesquisa e análise de abundante material que manuseou trabalhando na 2ª Medicina de Homens, no Hospital São Paulo, na Clínica Obstétrica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e no Hospital de Tuberculose São Luiz Gonzaga, de Jaçanã.
     O seu interesse não ficou só na medicina, voltou-se também para os médicos e, assim, em 1939, assume a Presidência da então Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje Academia de Medicina de São Paulo. De 1945 a 1952 e de 1955 a 1956, dirigiu os destinos da Associação Paulista de Medicina.
     Na Associação Paulista de Medicina trabalhou arduamente, transformando a organização que era limitada à Capital, em poderosa e harmônica entidade de âmbito estadual. Conseguiu a doação do terreno e a seguir o financiamento para a construção da sede da Associação, inaugurada sob a sua presidência em 1952.
     O alargamento dos horizontes da Associação Paulista de Medicina ensejou a criação da Associação Médica Brasileira, na qual a sua participação foi marcante e decisiva.
     Emprestou apoio, colaborou ativamente, foi membro ou dirigiu a Sociedade Brasileira de Cardiologia, os Arquivos Brasileiros de Cardiologia, o Conselho Regional de Medicina, o Conselho Federal de Medicina, a Associação Paulista de Hospitais, a Associação Médica Brasileira, e tantos outros organismos que seria fastidioso enumerar.
     A vida de Jairo Ramos se confunde com a da própria Escola Paulista de Medicina. A esta casa, que idolatrava, deu o melhor de si. Conheci-o aqui, em 1939 (palavras do professor Ratto). Ao relacionamento professor-aluno associou-se profunda amizade, o que me permitiu convívio íntimo e continuado durante 33 anos, com esta figura singular que nos recônditos de sua alma era todo bondade, amizade, afeto e dedicação. Com a sua convivência percebi logo as suas três grandes preocupações: o lar, a Escola Paulista de Medicina, os médicos.
     Foi professor de Propedêutica, dirigindo pequena enfermaria, a princípio no Pavilhão Maria Tereza, depois no Hospital São Paulo, primeiro hospital de clínicas do Brasil. Com número reduzido de leitos e com modesto laboratório anexo, conseguia dar um curso dos melhores para a época. Criador de escola foi preparando um grupo de assistentes sempre crescente, para muitos dos quais conseguia bolsas de estudo no exterior, com a finalidade de se aprimorarem em campos específicos. Em 1951, contando com pessoal especializado em número suficiente, defendeu a ideia plenamente acatada pela Congregação da Escola Paulista de Medicina da instalação do Departamento de Medicina, do qual foi seu Diretor até 31 de dezembro de 1965.
     Com a criação do Departamento procedeu a inúmeras modificações no ensino, aprimorando o aprendizado, como o noviciado, os seminários, a enfermaria geral, as reuniões clínico-patológicas e anátomo-propedêuticas.
     Na Escola não se plantou cômoda e egoisticamente no seu Departamento, foi mais adiante. Sempre alerta, batalhou, incentivou, ajudou e prestigiou toda e qualquer iniciativa que trouxesse melhoria ao padrão de serviços que a instituição presta à coletividade. Assim aconteceu quando do auxílio da Fundação Rockfeller, na modificação do exame vestibular, de que acabou resultando o CESCEM, na criação do Departamento de Medicina Preventiva. Além de professor, pertenceu, praticamente a todos os conselhos e comissões da Escola, foi seu Diretor e Presidente da Sociedade Paulista para o Desenvolvimento da Medicina, sociedade mantenedora do Hospital São Paulo.
     Aos 31 de dezembro de 1965, mal saído de grave doença, é aposentado compulsoriamente pela entrada em vigor do Estatuto do Magistério Superior Federal. A recondução que era permitida por lei não ocorreu. Jairo Ramos nunca se conformou com o acontecido e guardou consigo essa mágoa, porém não deixou de frequentar e amar a Escola até sua morte ocorrida em 27 de setembro de 1972.
     Jairo Ramos foi homem dotado de personalidade marcante e por isso, muitas vezes, não foi muito bem compreendido. Passou pela vida terrena com a predestinação de servir e servir bem. Atingiu a eternidade com a paz de espírito que é o privilégio daqueles que bem cumpriram o seu dever e sua missão. 

Referência bibliográfica: Ratto, O. R. - "Jairo de Almeida Ramos" in A Escola Paulista de Medicina - dados comemorativos de seu 40º aniversário (1933-1973) e anotações recentes. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, pgs. 92 a 95, 1977. 

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Biografia de Octavio de Carvalho


Este texto sobre Octavio de Carvalho foi escrito pelo Prof. Dr. Jair Xavier Guimarães, aluno da primeira turma da Escola Paulista de Medicina em 1933, texto esse para o livro comemorativo dos 40 anos da EPM. Assim, o Prof. Jair escreveu uma biografia com bastante ênfase no papel crucial do Prof. Dr. Octavio de Carvalho na fundação da Escola Paulista de Medicina e não tanto em outros aspectos da vida deste. Este texto também vale pelo testemunho pessoal do Prof. Jair, já que os alunos da primeira turma da EPM podem ser considerados “cofundadores” da Escola.

Octavio de Carvalho
Fundador da Escola Paulista de Medicina
(1891-1973)
Por Jair Xavier Guimarães (publicação de 1977)

     O ano de 1933 encontrara o povo de São Paulo profundamente insatisfeito e inconformado com o desfecho da Revolução Constitucionalista. Ainda conservamos intactas as recordações daqueles quatro meses de 1932, vividos e sobrevividos pelo milagre da união em torno de um ideal. Restauração da liberdade democrática, sob a égide de uma Constituição que realmente unisse os brasileiros e os proclamasse iguais perante a Lei, usufruindo dos mesmos direitos e cumprindo os mesmos deveres. Estavam completamente enganados os que julgavam ter aquebrantado nossa fé e minado nossa esperança. O ânimo dos paulistas sobrevivera inquebrantável. Retornamos ao trabalho honesto e produtivo. Todos: os paulistas que aqui nasceram; os imigrantes que aqui encontraram sua terra e construíram seu lar; os irmãos brasileiros de outros Estados que ombro a ombro colocavam o seu tijolo, ajudando a erigir o edifício da Pátria comum. Tínhamos ainda muito que construir. Sem ódio ou ressentimento que nada constroem, mas com muito amor e trabalho perseverante.
     Havia, por exemplo, muito por fazer no campo da educação médica e da assistência médico-hospitalar. A única Escola Médica existente em São Paulo, oficial, oferecia exíguo número de vagas em relação à demanda dos jovens capazes e ávidos de estudar medicina. Milhares de moços se deslocavam anualmente e, longe de seus lares, iam estudar no Rio de Janeiro, Curitiba, Recife e Salvador. Outros, menos afortunados, eram obrigados a desistir. A carência de leitos hospitalares para indigentes constituía outro aflitivo problema social.
     Estes problemas, naturalmente, constituíam preocupação mais constante de um grupo de médicos paulistas categorizados pelo seu conceito profissional e já encaminhados na carreira do magistério superior. Quis o determinismo histórico que, dentre eles, um se destacasse pelos seus autênticos atributos de líder: Octavio de Carvalho.
     Ainda moço. Mas já tendo alcançado êxito em sua atividade profissional particular, bem situado no exercício da Clínica Médica de São Paulo, trazia excelente lastro de aprendizado e experiência médica e de ensino, pois estagiara nos melhores centros médicos científicos da época: Estados Unidos, França, Inglaterra, Alemanha e Áustria. Dedicara seis anos e meio de sua vida na realização desses estágios.
     Em fevereiro de 1933, teve ciência de que 119 moços haviam prestado exame vestibular na Faculdade de Medicina de São Paulo e, embora aprovados, não haviam conseguido vaga. Estavam condenados a aguardar mais um ano para nova tentativa ou tentar a sorte em outras paragens. A acuidade mental de Octavio de Carvalho determinou que era chegada a hora da realização do sonho há tanto tempo acalentado. Era imperioso por à prova seus atributos de líder. E ele o fez. Reuniu colegas e os convenceu pela argumentação e pelo entusiasmo. Conseguiu aglutinar a elite da geração moça de médicos de São Paulo. O tempo viria comprovar este fato.
     De outro lado, convocou os 119 moços que se encontravam na aflitiva situação já referida. Sou testemunha viva daquelas memoráveis reuniões realizadas no Trianon, da Avenida Paulista. A exposição que ele fazia da situação e dos fatos era franca, honesta e convincente. Assumimos com ele um pacto de honra. Cada um de nós passou a ser seu soldado, na luta pela nobre causa. Amadurecida a ideia, urgia pô-la em prática. Octavio de Carvalho já conseguira excelente Corpo Docente e contava com a adesão e o compromisso dos futuros alunos. O prédio para o funcionamento adequado da nova Escola foi alugado – Rua Oscar Porto, no bairro do Paraíso. O exame vestibular, tão rigoroso quanto o da Faculdade oficial, foi realizado e assim selecionados 83 moços que iriam constituir a 1ª turma. E a Escola foi batizada: Escola Paulista de Medicina.
     A 1º de junho de 1933, os fundadores da nova Escola se congregam em Sociedade Civil de fim não lucrativo e comunicam ao povo de São Paulo, através de memorável Manifesto sua decisão e sua firmeza de propósitos.
     Octavio de Carvalho foi eleito pelos seus pares para o primeiro Diretor da nóvel Instituição. E, aí começou o ingente esforço para implantação e sobrevivência desta tão ousada iniciativa. Obstáculos de toda ordem se antepunham – incredulidade de muitos, resistência de outros, dificuldades econômicas para manutenção de pessoal e aquisição de equipamento indispensável; a tenacidade de Octavio de Carvalho enfrentava e vencia a tudo e a todos. Cada dificuldade constituía um estímulo à sua vontade de lutar, afinal era por um ideal que estava lutando.
     Dois anos após, valendo-se de financiamento da Caixa Econômica Federal de São Paulo, foi adquirido o imóvel e terreno para a sede definitiva da Escola, propiciando inclusive área para construção do Hospital de ensino. Aos 30 de setembro de 1936 era lançada a estaca fundamental do Hospital São Paulo. Essa conquista foi possível graças às gestões e o prestígio de Octavio de Carvalho junto ao presidente da Caixa Econômica Federal, Dr. Samuel Ribeiro.
     E outros empreendimentos e outras vitórias, a tenacidade e o idealismo de Octavio de Carvalho conquistaram: a cessão das Enfermarias do Hospital Humberto Primo para o ensino da Propedêutica Médica, a construção do Pavilhão Maria Teresa Nogueira de Azevedo – sede provisória do Hospital São Paulo, o concurso do eminente professor alemão Walter Büngeler para ensinar Anatomia Patológica, a concessão das amostras de café feita pelo Departamento Nacional do Café com apreciável renda para o Hospital São Paulo e, finalmente, o reconhecimento oficial da Escola pelo Conselho Federal de Educação em 1938. Em fevereiro deste ano deixou a direção da Escola, continuando, desde então, a exercer as atribuições da Cátedra da 1ª Clínica Médica, até 9 de julho de 1961, data da sua aposentadoria compulsória.
     Em 22 de setembro de 1961, a Congregação resolveu prestar uma homenagem a Octavio de Carvalho, inaugurando um monumento erigido no Pátio Interno da Escola. De acordo com manifestação do Prof. Marcos Lindenberg, Diretor àquela época, esta iniciativa foi tomada “reconhecendo o serviço relevantíssimo à coletividade, por motivo do afastamento que a lei lhe impôs, no trabalho desta casa, que ele idealizou, fundou e amou”.
     Octavio de Carvalho nasceu aos 9 de julho de 1891, filho do Dr. Theodoro Dias de Carvalho Junior e de Da. Zulmira de Carvalho e diplomou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1915, após curso brilhante em que se destacou como um dos melhores alunos de sua turma. Depois de estágios de aperfeiçoamento na América do Norte e na Europa regressou a São Paulo, sua terra natal, onde, especialista em Clínica Médica, inicia as suas atividades profissionais. Aposentado, passa a residir no Rio de Janeiro, onde faleceu a 25 de julho de 1973.
     Octavio de Carvalho, Homem, Médico e Professor – Líder de uma geração. Mais do que uma palavra ou do que todas as palavras, a verdade é que a Obra que ele idealizou, fundou e amou aí está – firme, imperecível, plena de frutos.
     A ele o reconhecimento e a gratidão de todos quantos viveram ou vivem sob o teto da Escola Paulista de Medicina.
                                                    
Fonte bibliográfica: Guimarães, Jair Xavier – Octavio de Carvalho: fundador da Escola Paulista de Medicina in A Escola Paulista de Medicina – dados comemorativos de seu 40º aniversário (1933-1973) e anotações recentes. José Ribeiro do Valle. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, São Paulo, 1977, pag. 125-129.  

sábado, 17 de dezembro de 2016

Lemos Torres - Sessão de Homenagem - 1942


Homenagem à memória do professor Lemos Torres

(Texto do jornal "O Estado de São Paulo", 20 de fevereiro de 1942)

Homenagem à memória do professor Lemos Torres

A sessão solene ontem realizada pela Escola Paulista de Medicina, em homenagem à memória do professor Álvaro de Lemos Torres – Palavras dos professores José Inácio Lobo e Alípio Correia Neto e do acadêmico José Salvador Julianelli.
     Revestiu-se de excepcional significação a homenagem ontem prestada pela Escola Paulista de Medicina à memória de seu saudoso diretor, prof. Álvaro de Lemos Torres, vítima de um acidente, há cerca de um mês.
     Presentes todos os membros da congregação da Escola, representantes oficiais e inúmeros médicos, estudantes, amigos e admiradores daquele mestre, teve início a sessão solene, cujos trabalhos foram abertos pelo prof. Álvaro Guimarães, vice-diretor do mesmo estabelecimento de ensino. Depois de referir-se à obra realizada pelo prof. Lemos Torres, cuja personalidade enalteceu, pediu ao prof. Jorge Americano, reitor da Universidade de São Paulo, para assumir a presidência da sessão, o que foi feito sob palmas.

Discurso do Professor José Inácio Lobo

     Depois de agradecer a indicação do seu nome para a presidência da sessão, o professor Jorge Americano deu a palavra ao orador oficial da congregação, professor José Inácio Lobo, que proferiu um discurso do qual destacamos alguns tópicos.
     Disse inicialmente:
     “Diante do desaparecimento dessa figura extraordinária que foi Álvaro de Lemos Torres, mais caberia uma atitude de recolhimento que de exteriorização”.
     “Mas as coletividades, como os indivíduos, quando acometidos por uma desgraça, buscam, no desabafo dos seus sentimentos, um sedativo para suas aflições”.
     “E por isso aqui hoje nos reunimos, ainda sob a impressão dolorosa da morte de nosso Mestre e Diretor, para prestar à sua memória o tributo da nossa homenagem, do nosso reconhecimento, da nossa amizade”.
     “A morte de per si não engrandece – disse ele certa vez, pois fiel a esse conceito, que é verdadeiro, atenho-me, para traçar-lhe o panegírico, a enumeração singela dos atos de sua vida de médico, professor e cidadão”.
     Traçando ligeira biografia do ilustre extinto, assim se exprimiu o professor Inácio Lobo:
     “Possuindo decidida vocação o magistério, aqui viveu a vida da nossa então incipiente Faculdade de Medicina, acompanhou o seu desenvolvimento, renovou voluntariamente todo o seu aprendizado médico, tomando parte integrante nos cursos das disciplinas fundamentais, a várias das quais emprestou aliás a sua ajuda, como as de Anatomia, Histologia, Anatomia Patológica, Parasitologia”.
     “Todos estes estudos e trabalhos realizava-os para alicerçar os conhecimentos da Clínica Médica, que sempre cultivou com entusiasmo”.
     “Com seu ingresso no Serviço do Prof. Rubião Meira em 1916, começa, por assim dizer, a fase brilhante de sua carreira de médico e professor”.
     “Graças ao espírito liberal que sempre norteou aquela cátedra, pôde Lemos Torres revelar sua capacidade de trabalho e seus dotes de pesquisador”.
     “Convencido de que a Propedêutica é a base de todo o conhecimento clínico, passava as manhãs inteiras na enfermaria, onde examinava cada doente, com apuro e minúcias, procurando, em cada caso, concatenar logicamente os resultados de seu exame, para, de acordo com os dados da Patologia, chegar a uma conclusão segura. O diagnóstico de uma doença é consequência do exame objetivo do próprio doente; por isso, Lemos Torres gostava de repetir que “mais vale errar tendo examinado, do que acertar por mera impressão”.
     “Datam desses tempos memoráveis discussões sobre casos clínicos difíceis, que ele levou às sociedades médicas, expondo-as às críticas de seus pares”.
     “Ele foi sempre a negação do dogmatismo. Podia ter sido rude diante de um raciocínio ilógico e, certamente, agressivo, diante de um subterfúgio ou da sonegação da verdade, mas nunca recusou a crítica honesta, e sempre acatou o parecer que se demonstrasse acertado, partisse embora de um principiante”.
     “Sua perseverança no trabalho e no estudo e a excelência da orientação que imprimia ao ensino, logo lhe grangearam renome entre os que se dedicaram à medicina. Não tardou que um grupo de estudantes dele se acercasse, cujo número sempre foi crescendo, e que se chama a escola de Lemos Torres. Sobretudo, por isso, foi ele um homem eficiente, porque deixou discípulos, aos legou uma certa maneira de encarar as coisas, processos de estudo e de exames clínicos, hábitos de crítica e discussão franca, visando somente a verdade e sem preocupação de encobrir o que ignoram”.
     Depois de historiar os acontecimentos científicos mais importantes da vida do professor Lemos Torres, disse o orador:
     “Com uma vida tão intensa, Lemos Torres ainda pode publicar uma série de trabalhos originais do mais alto valor, atinentes a diversos assuntos de medicina interna. Não vou enumerá-los, já que de todos vós são conhecidos; mas, não me furto a dizer que, todos eles, o que trata de ‘novo sinal de derrame pleural’, é de fato qualquer coisa de notável, pois é descoberta sua, fruto do seu poder de observação e de sua capacidade interpretativa”.
     “Os homens de merecimento, enquanto não galgam posição de destaque ou enquanto não têm um renome consolidado, são sempre alvo de hostilidade, silenciosa ou declarada, do meio ambiente. Lemos Torres não foi poupado a esta contingência. Mas, dotado de têmpera invulgar, lutou bravamente, e, por seu próprio valor, conquistou a admiração e o respeito de seus semelhantes”.
     “Tudo quanto foi, e quanto grangeou, deve-o, exclusivamente, aos seus méritos, nunca a recursos excusos ou sequer vulgares”.
     “Esta probidade era a mesma em toda a parte e em todos os aspectos de sua vida, probo no trato individual, probo no exercício profissional, como probo na discussão do assunto científico”.
     “A sua tenacidade no estudo, no trabalho e nos princípios de conduta, valeu-lhe, por fim, o reconhecimento formal de seus colegas quando da criação desta Escola, Lemos Torres foi, por consenso unânime, escolhido para reger uma das cátedras de Clínica Médica; e, quando mais tarde, se buscou, para dirigir esta instituição, um nome que fosse um penhor dos mais elevados propósitos, não se esquivou ele, pouco afeito a encargos desta natureza, em aceitar a responsabilidade de uma tarefa árdua”.
     “O sucesso integral de sua admiração provou que Lemos Torres não era apenas um devotado ao saber, mas era capaz de obras do mais dilatado alcance coletivo”.
     E foram estas as palavras com que o professor José Inácio Lobo encerrou o seu expressivo discurso:
     “Mestre e amigo:
     Quando hoje os teus discípulos, os teus colegas e companheiros relembram os teus feitos e deploram a tua morte, sabes bem que não o fazem pelo formalismo vão que detestavas. A homenagem que à tua memória prestamos deriva do reconhecimento dos teus méritos e da amizade que te votamos e que nós mesmos não sabíamos ser tão grande!”
     A tua obra não foi improfíqua, porque os frutos que já durante a tua vida produziu, se multiplicarão nos anos de tua ausência terrena.
     Os homens glorificarão  a tua lembrança: que a Providência se amercie do teu espírito.

Palavras do acadêmico José Salvador Julianelli[1]

     Seguiu-se com a palavra o acadêmico José Salvador Julianelli, presidente do Centro Acadêmico “Pereira Barreto”, que, depois de falar da obra e da personalidade do prof. Lemos Torres, disse que os estudantes da Escola não poderiam ficar à margem daquela merecida homenagem ao pranteado diretor da Escola Paulista de Medicina, que eles tanto admiravam.
     “Lemos Torres era um moço – disse – e como tal, um ardente defensor dos ideais da mocidade. Evoco compungido pela dor da separação a figura inigualável do mestre que soube conquistar os corações dos moços pela finura de seu caráter, pela simplicidade de seus atos e pela prodigalidade de seu saber”.
     “Com a constância de seu esforço e com o poder absoluto da vontade em que acreditava e a exercia, galgou a escada da fama. O seu nome é universalmente conhecido e imortalizado pelas inúmeras contribuições que ofertou à ciência de Hipócrates”.
     E, concluindo, declarou o orador:
     “Rendemos a Lemos Torres as homenagens que por direito lhe pertencem como homem, como mestre e como amigo”.

Discurso do Professor Alípio Correia Neto

     Proferiu um discurso, a seguir, o professor Alípio Correia Neto, que disse, inicialmente:
     “O corpo clínico e administrativo do Hospital São Luiz Gonzaga incumbiu-me de representá-lo nesta sessão em que se presta homenagem póstuma ao prof. Álvaro de Lemos Torres, no trigésimo dia de seu infausto falecimento. Os motivos que induziram a Escola Paulista de Medicina a reverenciar chorosa e agradecida o seu falecido diretor correspondem às razões de proceder de forma idêntica os médicos e funcionários do Hospital do Jaçanã”.
     “A Santa Casa de São Paulo teve sempre para resolver um problema sério; sério do ponto de vista social; sério quando humanitariamente encarado. Entram, para as enfermarias dessa benemérita entidade de assistência hospitalar, numerosos casos de doentes atacados de tuberculose pulmonar. Na totalidade são falhos de recursos econômicos e na maioria desesperados de cura. Não podem ser tratados no Sanatório que a Santa Casa mantém em São José dos Campos, porque para ali são enviados aqueles cujo grau de doença é compatível com a assistência senatorial; nas enfermarias gerais, também não poderiam permanecer porque infectariam outros doentes aí recolhidos. Para contemporizar esta situação aflitiva, delineada aqui em traços rápidos, fundou, a Santa Casa, o Hospital de São Luiz Gonzaga, retirado da cidade, mais com o objetivo de permitir aos desafortunados, atacados da peste branca em estado clínico avançado, encontrar na paz bucólica de Jaçanã um pouco de conforto e de consolo em seus últimos dias. Conforto das instalações materiais e consolo instilado nas suas almas pela suave filosofia cristã, que os ampara nesse último reduto da vida".
     “Não venho aqui – continuou o orador – fazer a biografia de Lemos Torres. O que acabo de relatar demonstra a sua alta compreensão da vida. Encarava a sua profissão na mais elevada significação e dava todo o seu esforço para enobrecê-la cada vez mais. A complexa atividade do médico não se atém ao trato dos clientes, neste sacerdócio de que se fala tanto; ele se alevanta nos seus compromissos sociais e espirituais na afanosa luta de melhorar o homem dos sofrimentos físicos e morais. O alcance social e humanístico da atividade do médico se desdobra em apreciáveis resultados positivos quando tem a guiá-la a inteligência e o caráter”.
     “Alma batida dos frios sopros da desventura e acostumada a triunfar destas tempestades por meio de esforço moral obstinado, a alma de Lemos Torres foi temperada de energia, de fortaleza e de cordura. Condenava intransigentemente a má fé, não apoiava o erro, não bajulava o portentado, mas era suave com o infortúnio e melancólico com o sofrimento alheio. Há razões para prestarmos nossa homenagem nesta sessão ao professor Álvaro de Lemos Torres e nós o fazemos comovidos e ainda não de todo refeitos do transe que nos abalou pela sua morte, relembrando esta obra magnífica de ciência e solidariedade humana que é o Hospital do Jaçanã”.
     Usaram ainda da palavra os srs. Jairo Cavalheiro Dias e Décio Fleury da Silveira, ambos evocando episódios da vida de Lemos Torres.
     Por fim, encerrando a sessão, falou o prof. Jorge Americano para se associar, em nome da Universidade de São Paulo, à justa homenagem que estava sendo tributada à memória do diretor da Escola Paulista de Medicina, prof. Lemos Torres, cuja obra e cuja personalidade fora tão dignamente rememorada naquele momento.  





[1] José Salvador Julianelli nasceu na cidade de São Paulo em 29 de março de 1917, filho de Emílio Julianelli e de Conceição Julianelli. Estudou no Colégio Rio Branco. Ingressou na Escola Paulista de Medicina em 1937, onde foi sucessivamente secretário, vice-presidente e presidente do centro acadêmico Pereira Barreto. Em setembro de 1942, durante o 5º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), foi eleito primeiro vice-presidente dessa entidade, na chapa encabeçada por Hélio de Almeida, para o mandato de um ano.
Formou-se em medicina em 1942. Cursou Ciências Sociais na Faculdade de Filosofia de São Bento, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Durante este curso, foi presidente do centro acadêmico da faculdade e da Federação dos Centros Acadêmicos das Escolas Católicas do Estado de São Paulo. Nesse período também fundou e dirigiu o jornal O Bíceps, da Escola Paulista de Medicina, e uma revista científica.
Em 1954, foi nomeado diretor da divisão de educação extra-escolar do Ministério da Educação e Cultura (MEC). A partir de 1955, no mesmo ministério, exerceu as funções de diretor-geral substituto do Departamento Nacional de Educação e de primeiro-superintendente da Campanha Nacional de Merenda Escolar, da qual foi o criador. Em 1956, tornou-se membro da comissão nacional da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, a Food and Agriculture Organization (FAO), e foi delegado do Brasil na 4ª Conferência Latino-Americana de Nutrição, promovida por essa organização na Guatemala. Em 1957, chefiou a delegação brasileira no I Seminário Sul-Americano de Alimentação Escolar, em Bogotá. Em 1958, foi nomeado primeiro diretor-executivo da Campanha de Assistência ao Estudante, do MEC, deixando o cargo que exercia na Campanha Nacional de Merenda Escolar. No mesmo ano participou da reunião da Junta Executiva do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em Genebra, Suíça.
Em 1960, encerrou suas atividades na comissão nacional da FAO, quando chefiou a delegação do Brasil às Jornadas Latino-Americanas de Educação e Cultura Popular, em Buenos Aires. Em 1961 fez o curso da Escola Superior de Guerra e, cessando suas atividades como médico, ocupou, a partir desse ano, a presidência do conselho estadual da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade em São Paulo.
Em outubro de 1962, elegeu-se suplente de deputado estadual, pelo Partido Republicano (PR), com o apoio da Aliança Eleitoral pela Família, associação civil de âmbito nacional que mobilizava o eleitorado católico em torno dos candidatos comprometidos com os princípios sociais da Igreja, entre os quais a defesa da propriedade privada e da família, o combate ao divórcio e o repúdio aos extremismos de esquerda e de direita. Nesse ano deixou a função de diretor-substituto do departamento nacional de educação do MEC.
Em 1963, assumiu o mandato na Assembléia Legislativa paulista, exonerando-se da diretoria da divisão de educação extra-escolar do MEC e da diretoria executiva da Campanha de Assistência ao Estudante. Ainda nesse ano afastou-se da Assembléia para exercer até 1964 o cargo de secretário de Saúde e Assistência Social do Estado de São Paulo, no governo de Ademar de Barros (1963-1966).
Após o movimento político-militar de 31 de março de 1964, que depôs o presidente João Goulart (1961-1964) e a extinção dos partidos políticos pelo Ato Institucional nº 2, de 27 de outubro de 1965, seguida da instauração do bipartidarismo, filiou-se à Aliança Renovadora Nacional (Arena), agremiação política de apoio ao regime militar, criada em princípios de 1966. Nesse ano, afastou-se novamente da Assembléia para ocupar o cargo de chefe do Gabinete Civil do governador paulista Laudo Natel (1966-1967) e passou também a fazer parte do Conselho Estadual de Educação.
Em novembro de 1966, elegeu-se deputado estadual, assumindo o mandato em fevereiro de 1967. Reelegeu-se em novembro de 1970 e presidiu o diretório regional da Arena de 1971 a 1972. Neste último ano exonerou-se da presidência do conselho estadual da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade e, nos anos de 1973 e 1974, foi vice-presidente da Assembléia. Durante seus mandatos, exerceu ainda a presidência da Comissão Especial de Tecnologia, Pesquisa e Ciência e participou da Comissão de Saúde e Turismo.
Em novembro de 1974 elegeu-se deputado federal. Deixando a Assembléia em janeiro de 1975, assumiu seu novo mandato em fevereiro seguinte. Foi presidente da Comissão de Educação e Cultura, suplente da Comissão de Saúde e relator parcial da Comissão Especial de Defesa da Estabilidade da Família Brasileira na Câmara. Nesse mesmo período, foi presidente do Seminário sobre Ensino Superior, realizado em São Paulo, em 1977. Reelegeu-se em novembro de 1978, ainda na legenda arenista, e tornou-se membro do diretório nacional do partido. Com a extinção do bipartidarismo, em novembro de 1979, e a consequente reformulação partidária, filiou-se ao Partido Democrático Social (PDS), agremiação sucessora da Arena. Em outubro de 1981, o Congresso Nacional aprovou sua proposta de emenda constitucional, que permitia às assembleias legislativas dos estados fixarem a remuneração dos deputados estaduais. Ainda nessa legislatura foi membro da Comissão de Educação e Cultura, suplente da Comissão de Saúde e presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre Contaminação de Alimentos. Foi reeleito em novembro de 1982.
Na sessão da Câmara de 25 de abril de 1984, faltou à votação da emenda Dante de Oliveira, que propôs o restabelecimento das eleições diretas para presidente da República em novembro daquele ano. Como a emenda não obteve o número de votos indispensáveis à sua aprovação no Colégio Eleitoral, reunido em 15 de janeiro de 1985 — faltaram 22 para que o projeto pudesse ser encaminhado à apreciação pelo Senado Federal —, Julianelli votou em Paulo Maluf, derrotado pelo candidato oposicionista Tancredo Neves, eleito novo presidente da República pela Aliança Democrática, uma união do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) com a dissidência do PDS abrigada na Frente Liberal. Por motivo de doença, Tancredo Neves não chegou a ser empossado na presidência, falecendo em 21 de abril de 1985. Seu substituto no cargo foi o vice José Sarney, que já vinha exercendo interinamente o cargo, desde 15 de março deste ano.
Julianelli deixou a Câmara em janeiro de 1986, ao final da legislatura.
Foi presidente do conselho estadual da Campanha Nacional de Educandários Gratuitos, diretor da Fundação Educacional Leonídio Alegretti, diretor-tesoureiro e vice-presidente da empresa editora do jornal Correio Paulistano e primeiro-secretário da Associação dos Profissionais de Imprensa de São Paulo. Lecionou problemas brasileiros na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São Caetano do Sul (SP).
Faleceu no dia 26 de junho de 1990.
Era casado com Maria Aparecida Machado Julianelli, com quem teve três filhos.

 O texto deste apêndice foi embasado no site:
http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/julianelli-salvador
Esse site citou as fontes referidas abaixo:
FONTES: CÂM. DEP. Deputados; CÂM. DEP. Deputados brasileirosRepertório (1975-1979 e 1979-1983); Estado de S. Paulo (5 e 23/9/62); Globo (6/1/79, 26/4/84 e 16/1/85); Jornal de Brasília (13/3/77); Jornal do Brasil (22/10/81); NÉRI, S. 16Perfil (1980); POERNER, A. Poder; SOC. BRAS. EXPANSÃO COMERCIAL. Quem; TRIB. SUP. ELEIT. Dados (6, 8 e 9); Veja (4/7/90); Who’s who in Brazil (1969).